o termo promoção da Saúde ressurgiu nas últimas três décadas em países industrializados particularmente no Canadá uma das origens importantes desse ressurgimento foi o questionamento da eficiência da assistência médica curativa de alta tecnologia partindo da necessidade de controlar o custos crescentes do modelo biomédico abriu-se espaço para criticar o estreitamento progressivo Que tal modelo produziu na racionalidade sanitária e no resgate do pensamento médico social que em meados do século XIX enfatizava relações mais amplas entre saúde e sociedade promoção da Saúde conceitos reflexões tendências é o livro do ciênci e letras de hoje um programa resultado da parceria
entre o canal saúde e a editora chio Cruz conversam comigo no estúdio do canal saúde Tina ceresia Doutora em saúde pública e uma das autoras e organizadoras do livro e luí David Castiel também Doutor de saúde pública e um dos autores do livro A gente Abre o programa falando que é um conceito que Ressurge nas últimas três décadas Ressurge porque em algum momento já se falou mais sobre saúde e sociedade né Eh se falou bastante sobre saúde sociedade até que o modelo biomédico veio e começou a ser soberano É isso mesmo dentro do conceito há
um resgate de conceitos que já foram amplamente divulgados e discutidos em outra em outras épocas é é um resgate de um pensamento médico social inclusive que no século XIX a gente pode dizer que ele ele era assim mais mais radical né ele tinha um eh um compromisso mais estreito com as condições de vida dos dos dos trabalhadores pensando que no processo da Revolução Industrial é o início também todo todo o surgimento do movimento marxista né e de médicos que estavam muito muito ligados a esse a esse processo e que denunciavam as condições de vida dos
trabalhadores e relacionavam essas condições com as doenças aí depo um pensamento biomédico veio e se fez soberano se afastou um pouco a gente se afastou um pouco desses conceitos é com a especificidade que se construiu naquele momento da do conhecimento das doenças transmissíveis relacionando elas agentes microbiológicos isso criou todo uma um um como fosse uma cunha eh de especificidade da da Medicina no século XX as tecnologias e eh proliferando de uma maneira muito crescente a biologia molecular a partir da da segunda metade do século XX e todo as técnicas também a medicação a Indústria Farmacêutica
toda a construção de um modelo que se baseou num conhecimento mais específico que trou avanços inegáveis né a gente não não não quer destruir isso de forma alguma né mas troue também um certo eh ranço digamos assim da da ciência como uma consultora de verdades que num determinado momento também é é bom a gente questionar é a ciência tem essa característica né de se apresentar como o tribunal final que julga Qual é a melhor verdade para orientar as nossas vidas e ela acabou criando essa dimensão para promoção de saúde mas parece que ela existe sozinha
no mundo e e não é isso tem uma certa ideologia da ciên que se casa muito bem com esse ambiente individualista neoliberal e que acaba a promoção de saúde também reproduzindo esses aspectos então tem diga não que você falou assim a promoção de saúde porque são conceitos que segundo as ideologias também podem ser vistos de formas diferentes né exatamente então acontece um fato curioso por exemplo a palavra malhar que se tornou uma das práticas de promoção de saúde de um certo grupo social que vai às academias para modelar e atingir mais saúde pro seu corpo
a origem da palavra é de um instrumento dos Operários que era O Malho e O Malho era a Marreta que os operários usavam para arrebentar várias a gente tem até hoje aliação de Judas também né que vem aí que é é um instrumento para destruir né E aí ele acaba virando oo para construir um corpo o malhar acaba virando o que os operários faziam e tinham uns corpos malhados por trabalho não por atividade fora do trabalho como faz as pessoas que se dirigem as academias né a partir diso que você falou os dois capítulos eles
fazem eh uma reflexão sobre conceitos sobre palavras e conceitos né sobre a fragilidade que há por trás de conceitos que muitas vezes a gente não percebe né quando a gente fala de promoção eh qual a importância da gente Estar atento a esses conceitos né da gente não ficar a mercê dos conceitos também como como algo que esteja finalizado né que a gente pede com isso a mobilidade do conhecimento né É porque o conceito é uma definição que vai expressar características de um acontecimento de um evento e e e possibilita uma utilização Operativa em relação a
esse acontecimento como por exemplo a doença só que o Abec por exemplo ele é muito mais complexo do que um conceito pode definir quer dizer a realidade A vida sempre é muito maior do que o conceito uma discussão que tá no no no livro é essa essa necessidade de fazer o uso do conceito dentro do limite da pertinência dele então esse é o problema né dos conceitos possa avançar com o conhecimento eles não dão conta né não dão conta muitas vezes inclusive da subjetividade humana especialmente no adoecimento como você falou né É porque o adoecimento
o adoecer é algo que acontece na vida numa na singularidade da vida das pessoas o conceito é uma generalização que busca definir mas de uma forma muito genérica ele nunca se cola que nemhum selo a aquela realidade aquele acontecer da vida de cada um e os conceitos são muito bons mas eles não impedem as coisas de acontecerem uma outra história de um autor de risco muito conhecido que é o nmar de Almeida Filho que ele conta que nas luas de Salvador houve uma época que se construiu muro e se pintou de branco e Lá também
tem problemas de pichação EA noite aconteceu um episódio de que alguém pegou uma tinta preta e passou em to o muro e escreveu embaixo correndo o risco Que ótimo porque tava ao mesmo tempo correndo o risco dis pego e o risco correr através Doo branco mas outra aqui que vocês fazem também e ambos fazem a a que passa por esses e por essa coisa da verdade e essa generalização que o conceito traz para poder dar conta de de de algumas e construir algumas teorias era medicina baseada em evidências que acaba fazendo com que o ser
humano eh não é matemático tem que responder por essa média né E como é que a promoção ela vem para não substituir mas para dar conta dessas dessas lacunas dessas dessas diferenças e dessas insuficiências dos conceitos que a promoção pode trazer um caminho para que a gente possa ser mais eh humano na percepção das humanidades bem o conceito de promoção ele pode ser o utilizado em diferentes perspectivas né Na definição na definição da carta de otaa né que é o Marco da da construção desse dessa ID 1986 eh a o promoção aparece como uma a
capacidade de das dos dos sujeitos dos indivíduos e das Comunidades eh gerirem e terem uma responsabilidade sobre a sua saúde e isso pode se traduzir tanto no sentido de exigir políticas sociais favoráveis à saúde e aí no caso essas políticas sociais elas não são restritas à assistência né ao modelo da assistência então a exigência de de de políticas eh favoráveis à saúde no sentido do bem-estar né habitação transporte educação Como pode também se produzindo uma responsabilização do indivíduo para gerir a sua saúde Então essas esses diferentes enfoques do do que é promoção acabam em políticas
e posturas extremamente diferentes então um conceito ele tem um discurso que é que é polissêmico né que tem vários sentidos vários usos e de acordo com quem trabalha o conceito ele pode servir a interesses muito distintos né os conceitos como a gente já falou eles tem uma propriedade de uma certa fluidez ou líquida eles podem adquirir a forma do recipiente que os contém a mesma palavra como promoção de saúde estilo de vida empoderamento e por aí vai vulnerabilidade vulnerabilidade ela pode ser referida a uma dimensão totalmente individualista e respondendo a certos dites de produção consumo
modos de se viver ou uma dimensão coletiva e que sai desse padrão e procura criticar o padrão individualista então nós temos mesmas palavras querendo e podendo dizer coisas completamente diferentes isso eu acho algo que tem que tá bastante atento É pode ser bastante perigoso né palavras são perigosas palavras são perigosas né no próximo bloco A gente vai falar um pouco mais sobre risco a gente já falou aqui sobre risco mas aprofundar a discussão de risco e entender que promoção não é o mesmo que prevenção não sai daí a gente volta já promoção da Saúde conceitos
reflexões tendências é o livro dos ciên letas de hoje comigo no estúdio do canal saúde Dina ceresia e Luiz David castial o conceito de prevenção ele já é muito mais assimilado pelas pessoas né como é que a gente pode diferenciar para que se entenda que são conceitos diferentes prevenção diz respeito a uma antecipação né de algo que se conhece a prevenção em saúde ela diz respeito assim ao ao que se conhece a respeito de doenças conceitos de doença e o e uma série de práticas específicas que vão Então preveni-las né no caso eh da a
de diarreia infantil Então se se sabe que ela está relacionada a a a problemas de não amamentação uma série de outras questões relacionadas ao saneamento básico às condições de de de vida e de e de hidratação de crianças então uma série de procedimentos como a a a a formas de hidratação de tratamento preventivo inicial em relação a algum problema que possa acontecer então a prevenção é a imunização por exemplo é e já promoção ela caminha mais em direção à saúde não tanto à doença a promoção então é fomentar condições gerais de vida não específicas e
que não dizem respeito a nenhuma doença específica Por que que você recorreu ao mito de Dédalo para falar sobre riscos implicância eu acho que existe um certo Frenesi das evidências da Medicina Bas evidências da promoção de saúde baseada em evidências e as evidências elas parecem que podem responder a tudo e se esquece que o mito ele tem uma função organizadora ordenadora e de uma forma de nos permitir lidar com esses enigmas que essa vida que se leva e muita coisa que inclusive não tem resposta né Eu acho interessante que os os ambos os capítulos eles
deixam questões pro leitor né eles abrem perguntas eles propõem reflexões né esses conceitos reflexões e tendências né e o mito ele ele ele responde mas ele também não responde né ele responde mas ele te faz questionar na verdade a gente inventa a resposta Estamos todos aqui inventando respostas todo o tempo até porque os enigmas não cessam de aparecer eu queria comentar uma coisa sobre essa diferença entre promoção prevenção que a Dina faz muito bem ela tem texto conhecido sobre isso é que a gente tá vivendo hoje em dia uma espécie de somatório de questões que
incluem promoção prevenção precaução proteção proteção sobretudo em medidas de segurança que a gente é constantemente invadido você compra um aparelho eletrônico você tem que ler o manual para saber que tem lugares que você não pode botar o dedo senão você corre riscos de vários tipos e eu acho que hoje em dia a gente vai entrando no ambiente que eu tô chamando de Hiper prevenção em que se junta a prevenção baseada em conhecimentos prévios sobre coisas que nos ameaçam mas há a precaução também sobre coisas que a gente não sabe muito t bem se elas são
não nocivas por exemplo os alimentos transgênicos e mais proteção isso vai criando um ambiente em que é impossível se viver sem adotar medidas de prevenção precaução proteção todo o tempo eu vou falar de um exemplo Sem querer abusar é o tabagismo tabagismo é inegável que há evidências da epidemiologia que mostram os malefícios os danos que que o hábito de de fumar traz então houve uma espécie de acúmulo de evidências da epidemiologia indiscutíveis mas houve sobretudo Além disso um movimento de política transnacional de estados comandado pela OMS que criou um quadre contra o tabagismo chamado convenção
quadro Se não me engano tornou o tabagismo demonis como é atualmente tem uma autora que eu gosto muito a m James Pink que fala que nós saímos do direito à saúde passamos ao dever de saúde e agora estamos no desejo de saúde que chega às vezes a raia de uma certa compulsividade né a vida ela é acho que basicamente é a questão da da escolha é uma das questões mais fundamentais e constante ver é E essas escolhas elas se dão em vários vários níveis né os níveis da aqueles que são conscientes que nós temos um
poder de de de gestão sobre eles e aqueles riscos que são além de nós quer dizer que nos constrangem por uma sociedade né ou aqueles riscos que fazem parte da gente mas são inconscientes porque não há uma elaboração interna de Sub idade em relação a esses riscos é como se houvesse constrangimentos internos e e nós tivéssemos a nossa subjetividade muito pouco construída muito pouco conectada Então os o que seriam que a gente poderia chamar assim de um projetos de realização de emancipação ou De felicidade ou qualquer coisa desse gênero então a gente acaba se constrangendo
em relação aos nossos Às nossas PR PR recursos e tudo fica mais complexo porque é tudo em nome da saúde que a princípio é um é um bem né que é é sempre defensável tem uma coisa que você fala no seu livro que é muito interessante que é que é a experiência do barbeck né que é o a a fazer sexo sem proteção inclusive com pessoas que podem estar ou não infectadas né como é que esse exemplo extremo eh pode nos ajudar aqui na discussão né Eh uma prática arriscada por pessoas que sabem que podem
podem ser contaminadas elas querem correr esse risco inclusive provavelmente isso é traz algum tipo de de excitação maior continuando o que de certa maneira din tava introduzindo é que há uma ideia que procura predominar de que a nossa subjetividade ela tem que ser controlada nesse lado Dark que existe no ser humano né a gente não pode ser considerado agentes Racionais todo tempo então você pode ser autônomo ter livre escolha eh direito de decidir desde que o desde que significa você tem que estar bem informado saber de com clareza dos riscos e sobretudo saber tomar as
decisões razoáveis nem sempre lamentavelmente para quem não sabe nós estamos longe de sermos seres razoáveis então há uma espécie assim você tem essa esse quintal para brincar mas depois da cerca você não pode pular não eu acho que o berbe é uma espécie de movimento evidentemente transgressor que procura checar esse essa essa esse jeito de organizar as coisas Ou seja eu quero levar minha autonomia ao limite que eu quiser podendo inclusive trazer ameaças sérias a minha vida o suicdio é um crime você não pode se suicidar então eu não tô fazendo apologia Apologia nada são
discussões né são discussões então você pode se divertir Desde que não saia do Play Que livro você trouxe pra gente Dina eu trouxe é um livro do Thomas Man as cabeças trocadas thas sempre lembrado por mortin Veneza né que acho um livro Barb você não conhece é Montanha Mágica também é um livro dele que maravilhoso esse é um livro que é uma história que se passa na Índia e que uma mulher que se que ela ela ama dois homens de formas diferent um amor é um amor e o outro um amor erótico né E por
uma circunstância eh também de de fabulação Acontece uma uma troca né onde esse homem ideal que tinha o corpo e a cabeça que ela desejava se quer dizer com a troca de cabeças desses dois homens se construiu um corpo ideal né do um que tinha o corpo e outro que tinha a cabeça risco a ciência e a política do Medo Você realmente é obsecado por riscos eu eu não queria demonstrar claramente que Mas eu sou um tipo de neurótico que a gente pode chamar de um risc cótica ristico porque me interesse tanto por essas questões
e o que aparece sobre o tema eu procuro me interar e esse livro é um livro jornalístico de leitura fácil que discute de que maneira em nome do Risco se constrói uma certa política do medo que atende a vários interesses seja de consumo seja políticos e não de risco várias medidas são tomadas inclusive restritivas que não precisam chegar nem sempre a choques de ordem que estão na moda mas todas envolvem algo desse tipo tem um controle sempre por trás né uma tentativa controle por trás e a bandeira do Risco se levanta mais do que deveria
nas escolas de samba da vida é E aí fica sempre essa essa essa coisa delicada né de de realmente compreender dentro desse universo todo o que que eu devo o que que eu posso o que que eu quero né mas permanecer com a identidade subjetividade apostos de ter as próprias escolhas sem que isso possa ser severamente criticado o que você falou eu acho assim fundamental é que o risco Ele também é um vetor que constrói cada vez mais a nossa identidade subjetividade ao longo do dia sem querer Nós pensamos em risco desde a hora que
nos levantamos se vamos ou não fazer exercícios físicos o tipo de alimentação tipo de maneira de conduzir o carro maneira de conduzir o carro relações sexuais entra na nossa contabilidade di Ária e que acaba fazendo parte da nossa identidade tem pessoas que se definem identitariamente pelo risco né pessoas que fazem esportes radicais por exemplo é que tem esse prazer assim ass eh porque a transão a transgressão ela é necessária também de alguma forma né porque senão quem seremos né porque também é o risco Aventura né Há o risco da montanha russa existe também de várias
montanhas russas que é o risco da economia o prazer que dá você fazer um investimento de risco e ter bom resultado ou não recentemente se mostrou que o bicho pegou né Ou seja concluímos que viver é arriscado né Portanto acho que é realmente a a promoção ela é fundamental mas tem que ter cuidado como esse conceito é usado né Para que não seja mais uma forma de manipulação também de controle queria agradecer muitíssimo a presença de vocês aqui conosco hoje també o programa cias da fundação Cruz é resultado de uma parceria entre o canal saúde
e editora fio Cruz se você quiser entrar em contato mandar sua crítica ou sugestão de leitura nosso telefone é 08701 8122 a gente se vê no próximo programa [Música] lá contato com a editora Fiocruz acesse www.fiocruz.br bar Editora ou ligue 21 3882 [Música] 9007 he i