Sobre o filme CONCLAVE

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Bruna Torlay
Trajetória e cursos de Filosofia: https://brunatorlay.com.br/ 1. Filme "O Conclave", de 2006: https...
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Olá, pessoal! Tudo bem? Sejam todos bem-vindos.
Eu sou Bruna Torlai, professora de filosofia, editora-chefe da revista Esmeril, e hoje vou conversar com vocês a respeito do filme "O Conclave", que está em cartaz e anda sendo muito comentado por aí. Esse filme merece receber uma comparação com o filme "O Conclave" de 2006, que já foi analisado neste canal do YouTube por Jonathan Godói. Eu assisti ao filme, ele também; a gente conversou sobre o filme, mas a análise foi feita principalmente por ele, tá?
Eu vou deixar na descrição se vocês não conhecem o filme "O Conclave" de 2006 e queiram assistir. E assim, já aviso que nessa minha resenha, nesse meu comentário, eu vou contar o final do filme, então esta resenha contém spoiler. Se você ainda não assistiu "O Conclave" com Ralph Fiennes, esse filme que ainda tá nos cinemas, vai ver o filme primeiro e depois você volta aqui para assistir ao meu comentário.
[Música] Primeiro lugar, eu gostaria de começar pela parte técnica, elogiando muito a atuação do Ralph Fiennes. Ele é um dos meus atores favoritos, assim, desde muito tempo, e eu só assisti ao filme porque ele estrelava. Eu já tinha visto algumas resenhas, né, e eu tinha tido a impressão pelo trailer de que era um filme tipicamente herdeiro desse hábito iluminista de sempre apresentar a igreja sob uma ótica negativa, mostrando o que os homens fazem com a igreja e não o que a igreja faz pelos homens.
Eu já esperava isso do filme; já fui assistir a um filme sabendo que provavelmente seria algo como um romance religioso do diretor, né, que na verdade é uma espécie de elogio à alma pura de uma cristã, feito para satirizar a vida nos conventos, né? Então, esse tipo de estratégia retórica que foi usada na novela iluminista é muito presente em toda a cinematografia de Hollywood, que fala sobre a Igreja Católica, seus escândalos, desvios e horrores, e acabam pintando sempre o que nós, homens, fazemos dentro da igreja, esquecendo que a igreja pode fazer por nós, né? O que já nos coloca diante de uma perspectiva claramente propagandística.
Agora, para além disso, eu gostaria de deixar claro que cinema é propaganda e, quando a gente está diante de um filme, não adianta a gente esperar ter algo diferente de propaganda. Cinema, em geral, contém imagens para veicular mensagens subliminares, tá? Isso é muito típico do romance do século XVII, muito típico da arte que flerta com esses grandes cortes que nos levam a conclusões rápidas a respeito de assuntos complexos, tá?
Então, primeiro lugar, cinema é propaganda. Não é para ninguém se assustar que esse filme retrate a igreja de uma forma bem deturpada, porque evidentemente o filme não é sobre o que a igreja faz por nós, mas sobre o que os homens têm feito à igreja e não de forma a mostrar o risco ou, o que é mais interessante ainda, o fato de a igreja resistir a todos os danos que os homens fazem a ela, mas muito mais a colocar em cheque a sacralidade da igreja. Então, esse é o aspecto geral do filme.
O filme começa de uma maneira bem pesada com a morte do Papa, então em exercício, do Papa vigente. E a maneira como é mostrada a retirada dele do leito e o envio para um hospital já dá o tom do filme. Foi nessa primeira cena que eu percebi que era justamente um filme para dar aquela pedrada, né?
Aquela pedradinha de leve na Igreja Católica, né? Que é uma coisa muito comum em Hollywood. Então, ah, o Papa é colocado num saco mortuário, ele é amarrado a uma maca, colocado numa ambulância e levado para um hospital.
Quer dizer, não é tratada com reverência a morte de um Papa; ressalta-se que ali já é um corpo sem vida que deixa a instituição que está no Vaticano, um problema que é colocar outra pessoa na cadeira. Então, só essa primeira imagem do filme já é muito significativa a respeito da visão que o autor do romance, provavelmente, que gerou o livro, tem da igreja. A igreja é vista no filme como uma instituição humana.
Eu assisti ao "Chave Católica" do Centro Dom Bosco com o Luciano Pires, e ele procurou responder à seguinte pergunta: "O Conclave é um filme católico? " E evidentemente que não é. Mas acho que qualquer pessoa, mesmo inculta a respeito da cultura católica, como eu, que tenho pouquíssima cultura, evidentemente ali na análise do Centro Dom Bosco, existe um rigor super e requintado.
Inclusive, é interessante que os católicos que querem entender por que esse filme fere realmente a ortodoxia, vale a pena assistir a esse episódio do "Chave Católica", porque, de agora, qualquer pessoa percebe por essa primeira cena, é uma cena que devassa a santidade do summo pontífice. Você já percebe que a abordagem do filme é claramente secular, tá? A visão de quem escreveu essa história é a visão de que a igreja não é sagrada.
As primeiras cenas do filme, com a saída do corpo do Papa para o hospital num saco, assim, numa ambulância, já dá para perceber que a perspectiva é uma perspectiva que coloca em cheque a sacralidade da igreja. Mas ali no "Chave Católica", o Luciano Pires, com aquela erudição que é próprio do pessoal da CDB, ele vai explicando ponto por ponto, dando muita ênfase para a humilhação inicial do conclave, a todos os aspectos, né, que nos permitem perceber que realmente o filme não é católico. Mas eu acho que mesmo pessoas sem tanta instrução conseguem perceber.
Por isso, eu discordo de que o filme só possa ser visto por quem tem um pouco mais de instrução e tal, e afirme na fé. Eu acho que qualquer pessoa que assista ao filme, tendo um mínimo de discernimento, consegue perceber. Ah, você conta que o filme não é católico.
Tá, o filme, tecnicamente, é um filme ótimo sobre dramas humanos próprios da vida política. O problema real do filme é que, supostamente, o objeto é a Igreja, mas não é da Igreja que você está falando ali; é de política, entende? Então, o cardeal é um cardeal que é bom porque ele percebe que ele não é nem digno de estar ali dirigindo o conclave.
Ah, os demais estão todos desesperados numa busca por poder, os principais candidatos, os escândalos a respeito de cada um deles vêm à tona, e, no final das contas, surge uma figura virtuosa. E essa figura virtuosa é uma coisa terrivelmente caricata, porque é uma pessoa sentimentalista que, no final das contas, é uma mulher. É uma mulher porque é o tal do intersexo, que não dá nem para dizer se é hermafrodita, porque é a pessoa que tem o aspecto masculino, foi criada como menino, mas ela tem ovário e útero.
Tem ovário e útero, meu filho, não importa, não tem essa de hermafrodita; não tem. Ovário e útero é, tá? E, evidentemente, o sacramento da ordem, mulher, não pode ser ordenada.
Se mulher não pode ser ordenada e, no filme, essa figura pura, maravilhosa, inocente, que surge como uma voz de moderação no final do conclave e acaba sendo eleita, essa figura. . .
se essa figura foi ordenada, isso foi um erro que, evidentemente, nem o Papa ia fechar os olhos para isso. Então, por tudo isso, o filme é tão fantasioso no que diz respeito ao que é a Igreja, mas é tão fantasioso que eu acho que ninguém precisa ter tanta cultura assim para perceber que o filme tem ali uma história que prende a sua atenção, atuações magistrais por parte de vários artistas britânicos em especial. São três, tem três ali atores fantásticos, né?
Ah, três papéis importantes: a pessoa que faz o que acaba virando Papa, né? Que, assim, o conclave tem o intersexo que vira Papa. É, o filme claramente é anticlerical, pelo amor de Deus, né?
E a mensagem do filme é o seguinte: imagina uma pessoa que ou é católico, de berço, que o católico de berço não assiste ao CDB, entende? Não entende muito, né? Não assiste nada, na verdade, só se declara.
A qualquer pessoa que não saiba quem é e assistir a esse filme e acreditar que a Igreja é aquilo que eles estão mostrando. . .
qual a conclusão que a pessoa vai chegar? Que é. .
. qual é a mensagem que o filme realmente procura transmitir? Que, no atual estado de crise profunda da Igreja, das instituições e desse ambiente belicoso de luta por poder que acontece dentro do Vaticano, talvez a voz moderadora e sensível de alguém que seja uma mulher traga algum tipo de ordem para a Igreja.
Então, assim, é uma mensagem bem bizarra, porque é uma mensagem que diz aquilo que não tem nada a ver com a tradição da Igreja. É o que pode salvar a Igreja, então é a mensagem tipicamente iluminista, que é o seguinte: para que a Igreja seja salva, ela deve ser destruída, tá? Então, essa é a mensagem do filme.
Agora, por que essa é a mensagem do filme? O filme é ruim de assistir? É claro que não!
O filme é ótimo de assistir. Por quê? Porque essa é a visão, ahã, que muitas pessoas realmente têm, que na Igreja as pessoas entendem que Deus é legal e a Igreja é um problema.
Só que a Igreja foi justamente aquilo que Deus deixou para que nós cuidássemos, para nos lembrar do que Ele nos ensinou. E é óbvio que, por nós sermos falíveis, pecadores etc. , a gente vai levar nossas besteiras para o interior da Igreja, mas porque foi o próprio Deus que instituiu.
Ela é sagrada. Então, por mais que a gente tente, a gente não consegue destruí-la. A gente não consegue destruir, entendeu?
Que é o que mostra o filme "O Conclave" de 2006, que é muito legal porque ele mostra, na verdade, um filme histórico que retrata o conclave de 1458, que aconteceu cinco anos depois da queda de Constantinopla, que foi um momento muito crítico para a Igreja, ali no miolo do Renascimento. É o primeiro conclave de que participa o Pedro Luiz Borja, que viria a ser papa no futuro. É uma figura bem controversa, né?
Mas o que a gente percebe naquele conclave é que uma série de homens, todos eles repletos de pecados, estão realmente preocupados em manter viva a Igreja em nome de Deus. Então, assim, todos aqueles homens também têm problemas, alguns daqueles homens têm ambição, alguns daqueles homens são profundamente inexperientes e estão ali com um pé no carreirismo e um pé no. .
. Putz, devo tentar fazer a coisa certa. E o que se mostra no filme "O Conclave" de 2006 é o drama pessoal do homem de fé, dos homens de Deus, diante da hercúlea tarefa de, apesar dos seus pecados, todos serem fiéis à missão que eles procuram desempenhar.
Então, é sobre o drama humano envolvido em ser alguém que cuida da Igreja, que é algo. . .
é uma tarefa. Não existe homem que esteja à altura dessa tarefa. Vocês entendem?
Os homens tentam, e por isso que no conclave se espera a intercessão de Deus. Porque, olha, a gente vai fazer besteira. Os seres humanos tendem a fazer besteira.
Espírito Santo, por favor, nos ilumine, né? E tudo isso é demonstrado no filme "O Conclave" de 2006, que é um filme em que aquilo que realmente é próprio da Igreja está muito bem demonstrado, né? Ali, nesse filme sobre o conclave de 1458, você tem figuras terríveis, pecadores ali de primeira ordem, como no filme de agora.
Mas o drama que eles vivem é o drama que apenas o homem de fé vive. Agora, neste filme, ah, que até merece. As indicações para o Oscar porque o Ralph Fiennes é um ator fantástico, né?
Esse filme, qual é o interesse de assisti-lo? Neste filme de agora, o conclave de agora, a gente percebe a visão que todas as pessoas que estão fora da Igreja e que não entendem o que é a Igreja procuram passar a respeito do que seja a Igreja. Então, esse é o interesse de ver o filme.
Entendeu? E eu acho que os católicos deveriam assistir ao filme para eles entenderem de que forma aqueles que claramente não são católicos acreditam que seja a Igreja. Algumas pessoas, basta você ter bom senso para perceber que o final do filme é uma forçação de barra, e é um negócio bem agenda, né?
Ai, puxa, teremos uma mulher Papa! Ai, como eu fui provocativo! E assim, por que que a figura que é eleita como Papa, que é esse homem-mulher, mulher-homem, etc.
, é um sujeito completamente despreparado, jovem demais, que acabou de entrar? Foi o primeiro conclave dele; em nenhuma circunstância na Igreja, um perfil como aquele seria eleito, entende? Com uma trajetória pouco conhecida.
Então, não é assim que a coisa funciona, porque os homens que participam de conclaves, não importa o quão crítico seja o momento da Igreja, sabem a responsabilidade que é. E, por mais que todos eles vivam dramas profundos, como é bem expresso no filme de 2006, ninguém é tão leviano como as personagens inventadas pelo romancista que deu origem ao filme. Então, é um filme que vai te divertir.
É um filme, assim, um entretenimento com um final que vai te levar a umas risadas, né? Dá até pena porque você vê o Ralph Fiennes atuando brilhantemente para ter aquele final bocó. Mas, apesar disso, o filme nos permite ter uma visão bem clara da percepção que as pessoas que não têm a menor ideia do que seja a Igreja fazem da Igreja.
Então, eu acho que, justamente, os católicos vão ter uma capacidade de entender melhor o filme, porque é claro que eu não acho que o filme seja um ataque à Igreja, mas o filme é a expressão da incompreensão profunda a respeito do que seja uma pessoa de fé. Nenhum daqueles personagens está à altura de homens de fé comuns com os quais a gente convive no nosso dia a dia. São todas figuras, é como se você pegasse pessoas que não têm nada a ver com a Igreja, que não têm formação religiosa, que não têm cultura nenhuma em termos de entender o que é a imitação de Cristo, colocasse elas no Vaticano e dissesse: façam uma votação para o Papa.
O filme é isso, entende? Então, mostra o quão fantasiosa é a visão que as pessoas de fora da Igreja têm da Igreja. E é isso que a gente vive hoje, né?
Eu vou deixar na descrição um livro que é interessante para vocês, se vocês quiserem ler, aproveitando que minha livraria tem promoção. É, na verdade, um livro chamado "Falso testemunho", que saiu há alguns anos e que eu já indiquei nesse canal. É um livro que mostra todas as fabricações a respeito da Igreja Católica.
Uma série de coisas foram inventadas a respeito da Igreja nos últimos dois séculos e essas coisas que foram fabricadas, hoje nós as tomamos por verdadeiras. Assim, as pessoas, em geral, tomam por verdadeiras. Então, os professores de história nas escolas partem da ideia de que elas sejam verdadeiras.
As pessoas conversam como se elas fossem verdadeiras e esse livro "Falso testemunho" mostra em que momento elas foram criadas e por quais autores. Então, eu acho que, assim, ler esse livro e assistir ao filme "O Conclave" nos permite ter uma ideia da ficção que é posta, que é representada, como se fosse a Igreja, sendo que a Igreja é algo totalmente diferente, tá? Então, se você quiser entender o que é a Igreja, evidentemente você precisa assistir ao filme "O Conclave", de 2006, e se você quiser entender como as pessoas que não sabem o que é a Igreja acham que ela é, assista ao filme "O Conclave", estrelado pelo magnífico Ralph Fiennes, que faz ali honra ao seu papel, né?
Como também o que faz o Cardeal Trembley, aquele ator fantástico também, em inglês, que está maravilhoso no filme, né? Então, é isso, esse é o meu comentário a respeito do filme. É um filme, assim, do qual eu vou esquecer daqui a algumas semanas, mas que vale pelas atuações, pela fotografia, por ser uma expressão da visão deturpada que as pessoas que querem falar sobre a Igreja têm a respeito do que ela é, de fato.
Então, é um filme, assim, do ponto de vista de nós termos capacidade de analisar a nossa cultura, em que pé está a nossa cultura, é interessante assistir, sim. E olha, não precisa ser muito firme na fé para perceber que é uma ficção do começo ao fim, tá? Porque é evidente que ali não tem absolutamente nada do que a gente encontra num filme que fala sobre o drama dos homens de Deus, que é o homem de fé, que é sobre a vida de São Nectário, que é até um filme meio chato de assistir.
Diferentemente do "O Conclave", que é muito gostoso, passa rápido, né? Aquele filme bem montado, roteiro perfeito, direção impecável, atuações incríveis, né? Bem Hollywood, pô, entretenimento da melhor qualidade.
Agora, o filme sobre São Nectário já é parado. Mas por quê? Porque aquele filme sobre São Nectário, assim como esse "O Conclave", de 2006, é realmente um filme sobre as tensões entre a espiritualidade católica, no caso é católica ortodoxa, que São Nectário é um santo da Igreja do Oriente.
Católica do Oriente sobre a ação entre a espiritualidade mais pura possível e de que forma ela é confrontada pelos problemas institucionais que se devem ao fato de caber aos homens cuidar da Igreja, que é de Deus. Tarefa da qual ninguém está à altura, a não ser os mais santos, que acabam muitas vezes tendo desvantagens na Instituição. Então, São Nectário sim fala do que é a Igreja, porque o próprio São Nectário soube honrar a imitação de Cristo, né?
E aí a gente tem ali o contraste: na Igreja, há homens que honram e homens que não honram. Quem serão aqueles dignos de ser lembrados e que sempre serão exemplos para nós? Evidentemente, os santos, aqueles que honram.
E isso é a Igreja, tá? Você vai assistir ao filme "O Conclave", mas pode assistir sem medo, que enfim, só para aquele final, e dificilmente você vai ser contaminado pela mensagem secularista. Tá?
É um filme feito por uma cabeça secular iluminista para pessoas que já estão convencidas da mensagem secular iluminista. Quem sabe que a Igreja, mesmo ou pelo menos está tentando descobrir, vai perceber que, sei lá, vale como entretenimento. Obrigada pela companhia!
Links de tudo que eu mencionei, inclusive o filme São Nectário, estão aqui na descrição. E até a próxima!
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