A Bagaceira (José Américo de Almeida)

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Rodrigo Gurgel
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Video Transcript:
E aí oi oi tudo bem meus caros é um prazer estar aqui com vocês para este novo vídeo e hoje vou falar respeito do romance A bagaceira de José Américo de homem com esse romance que é publicado em 1928 abri-la com uma série de epígrafes ou de aforismos reunidos sob o título de antes que me falem é uma espécie de Prefácio em que as ideias do autor alguns insights dele são ali reunidos em o e dentre esses trechos a uma afirmação que é assim no mínimo estranha o José Américo diz assim o regionalismo é o
pé do fogo da literatura mas a dor é universal porque é uma expressão de humanidade e nossa ficção incipiente não pode competir com os sistemas cultivados por uma inteligência mais requintada só interessará por suas revelações pela originalidade de seus aspectos desse percebi porque é que essa afirmação é é polêmica é estranha você não deixa de ser irónico que esse romance considerado aí o Marco do romance social nordestino se coloque desde o início de forma tão submissa Tô aceitando antecipadamente um posto Medíocre oposto de quem não pode competir com formas de inteligência mais requintadas e aceite
aí a posição de ser importante só pelo seu caráter exótico então vejam que as próprias aspirações do romancista São acanhadas E é claro que esse acanhamento essa timidez vai cobrar um alto preço do escritor não vai permitir que ele crie um romance que trate de questões locais sim mas que dialogue com o Universal A seca é o pano de fundo da trama em que Aí surge o típico o senhor de Engenho o Dagoberto Marçal o filho dele o Lúcio e uma jovem retirante que é a sólida é uma vez o que a história na maioria
dos Capítulos com ela não consegue ultrapassar a condição de um ramalhão sem excluídas formado aí por cena justapostas e que raramente se interpenetram palhaço não é conhecido entrevista o próprio José Américo reconhece ele tentou fazer lá uma coisa diferente fiquei a estrutura do livro ficou a um negócio seu aí arbitrário né onde tudo é salteado o porquê inclusive ele disse que não estava preocupado com ação com o enredo clássico agora esse tipo de desculpa até parece interessante no primeiro momento porque ele também diz na mesma entrevista aqui tentou fazer uma narrativa que fosse mais o
cinematografo mas é aquela história não arruma desculpa nem sempre torna o resultado do seu trabalho melhor não não não basta uma boa desculpa para justificar o resultado cadeira e ao que acontece no romance bagaça então vejam por exemplo lá o capítulo festa da Ressurreição ali tem lá o sertanejo pirunga que é um irmão adotivo da sua verdade e ele diz afoga suas mágoas de amor né cantando lá ao anoitecer e o narrador disse que a cantoria dele é um grito doloroso depois ele tá lá encostado na porteira do Curral e o seu canto se transforma
num burro de desespero Mensageiro da expressão eu queria uma cena que não convém quer dizer se alguém tá orando de desespero no meio da noite fatalmente vai chamar a atenção de todos os moradores do lugar mas não é o que acontece ninguém acorda igual Mas o problema da cena não para aí além do exagero a sua verdade que nesse nesse trecho já tá vivendo com mulher do Senhor de engenho de repente ela surgida de um lado do cantor apaixonado ele é apaixonado por ela mas surge de repente mesmo como se ela assim desse tem k
ser a cera e o narrador Que bom não está nem um pouco preocupado com essas falhas de continuidade né ou ele já coloca a moça ali tapando a boca do Piranga com as mãos os trechos desse tipo em que os personagens ficam como que escondidos nos bastidores Na coxia do teatro mas sempre prontos a dar um salto dar um pulo e entrar no palco bastante o que o narrador aí Tales dedos cenas assim estão espalhados por todo o livro e o José Américo de Almeida não parece preocupado com a inverossimilhança de tudo na no caso
dessa cena que eu acabei de contar o narrador e ele não eu não explica por que que a sua verdade não está no meio da noite lá na casa grande dormindo com o droga e nem como Aquela chegou até o coral né E também não explica como é que ninguém mais acorda com a barulheira do Cantador nem mesmo Dagoberto Acorda ele que é o típico o senhor de Engenho dominado por mais vejam também o capítulo uma história que se reta alguns personagens estão lá a conversando de repente tem um Haroldo é o teto da estrebaria
que veio abaixo na linha seguinte bom o grupo já se deslocou até o local mas ninguém explica por leitor onde eles estavam é que distância ele se percorrer nada não e não tem nenhuma informação você salta uma linha aqui o pirunga que faz parte desse grupo já tá conversando com o Dagoberto aqui também foi inserido na sendo abruptamente bom eu me lembro quando eu ia o romance que é essas aparições súbitas dos personagens bom elas me faziam dá muita risada porque para mim parecia que assim que eles tinham sido lá teletransportados não é da da
nave Estelar enterprise Lda Tá bom quem sabe José Américo de Almeida se estivesse vivo poderia ir até ser roteirista né da série Star Trek quem sabe móveis confiram também o capítulo mauritur at Liberty o que que acontece lá o feitor reclama que faz muito tempo que não tem um forró na Fazenda Bom Dagoberto fica meio indeciso mas não tinha de concordar E aí o que acontece bom na linha seguinte a festa já tá a toda é música Dança comida é como se tudo surgisse lá num passe de mágica outra coisa incrível é que ali no
meio daquela seca formidável várias mulheres na festa se enfeitam com cravos vermelhos Então se é claro que o leitor atento fica assim tá dando de onde vieram as flores fazer essa talvez seja quem sabe uma outra impressão do Américo de Almeida né um tipo lá de estufa que ali né apesar da seca permite que as flores ficar sem lá miraculosamente preservada então vejam que como eu disse quer dizer o que o que ressalta em todo Livro essa narrativa e sistemática que se desenvolve aos solavancos sempre de maneira rústica e convincente e o rio também está
recheado de Dinho congruência o personagem pirunga por exemplo e ele passa páginas e páginas e páginas vigiando a Soledade e o Lúcio no período lá em que a Soledade ainda tentava seduzir de todas as maneiras o Lúcio que é quero filho do Dagoberto ou não tem um só lugar em que estando casal também não esteja presente a sombra ciumenta do Peru muito bem mas quando se trata de impedir que a Soledade seja seduzida pelo Dagoberto que ao senhor no engenho aí a vigilância tão eficiente desaparece sem nenhuma explicação o José Américo de Almeida também se
mostra aí negligente quando se trata da psicologia da psicologia do supervisor o Lúcio para sempre só conhece O que quer dizer no início do romance ele é o pessimista que vive lá não há uma introspecção doentia e depois quando é assediado pela Soledade ele fica como que assexuado e experimenta o que o narrador chama a em a rádio um um amor sem carro dali dar bom mais é uma ausência de carnalidade a extrair cima porque assim se tem uma coisa que a Soledade sabe fazer essa insistente com o rapaz vai bem 7.1 bom e o
que acontece depois que ela acaba ficando com o Dagoberto futebol aí aí o Lúcio acorda e lá vai ele com um punhal para matar a sua vida quer dizer a história tem essas características de dragão Como eu faço a e é claro que assim não acontece nada né porque o luxo não passa de um covarde um covarde em todos assim ó é mas esses comportamentos extremos dos personagens essas mudanças abruptas de comportamento sem nenhuma justificativa isso acontece também com o próprio Dagoberto no começo ou ele é o déspota lá que o milha menos pesa torturo
filhos empregados ou depois quando ele já seduziu a Soledade que na verdade até sobrinha dele de repente o cara vira uma criança indefesa e desse ponto em diante a personalidade dele se apaga sem nenhuma explicação verifica lá com um boneco desse para o vídeo de vontade nas mãos do peruca 1 o ou seja os personagens Na verdade são são autômatos e bonecos fantoche controlados por um narrador e não domina a arte de contar uma bolsa mas é importante falar também aqui da linguagem né do do estilo do José Américo de Almeida a influência do do
Euclides da Cunha no estilo dele ele mas o José Américo de Almeida tem tá muito longe né de ter aquela eufonia que o Euclides constrói em vários trechos do certo ainda está muito longe daquela assonância que que emerge dos grandes períodos que a gente vê no sertão é uma Márcio lance aqui muitas vezes é hipnotiza o Lê com a ponta da gente não se preocupar com o Real sentido das palavras mas o bagaceira tem alguns bons três eu vou inclusive um dele o primeiro capítulo quando o autor descreve os retina era o Êxodo da seca
de 1898 uma Ressureição de cemitérios antigos esqueletos redivivos com aspecto terroso e o fedor das escolas públicas os Fantasmas E estropiados como que iam dançando ditam trôpegos e cremos num passo arrastado de quem leva as pernas em vez de ser levado com elas e andavam devagar olhando para trás como quem quer voltar não tinham pressa em chegar porque não sabiam algum dia expulsos do seu paraíso por estados de fogo iam ao acaso um desses caminhos no arrastão dos maus bocados fugiam do sol e o sol guiavam-se nesse forçado nomadismo adelgaçados na madeireira cômica crescia com
o ciumento se levantar e os braços afinados de Sião e os joelhos e mãos à venda em e não trecho muito bom o preço bom em termos de e escolha das palavras já em termos aí de ampliar a tragédia um tom aí usando um tom que chega a ser o lírico é mais que também é também é grotesco acontece que trechos assim são raríssimos novos Às vezes a gente também encontra algumas frases algumas frases isoladas e são muito boas né então por exemplo quando ele quando ele descreve o efeito Implacável do Sol o que que
ele disse um incêndio creio que ardia de cima para baixo nuvens vermelhas Como chama estimulassem o maioria de ouro sobre as igrejas bebês vão esse outro trecho 1 e em que ele consegue ali ao clima a uma força quase quase maligna que que ele disse um derrame de luz exaltada que parecia o sol fulminante derretido nos seus atores dental não era o vento pontual da boca da noite todo sujo de pó como uma criança traquina eram só pro do inferno que alterando-se parecia querer rasgar as leis para acender a fogueira Amém tá bem trouxa um
trecho interessante né agora um beijo não são outro triste o outro texto bom triste quando ele diz assim um silêncio inquietador como o sono prolongado de um doente dar é uma frase simples sem grandes enfeites mas que faz ao preço o silêncio transbordar duas Mas acontece que infelizmente o que vai prevalecer a é a Record é o uso aí de um discurso enfático pomposo ornamentado com exagero fazer o José Américo de Almeida também tem lá a mania de repetir uma estrutura frasal em que um substantivo precisa sempre corresponder a um adjetivo e claro que a
repetição dessa forma banaliza o estica então vejam como começa casa que tem o mesmo ritmo eles aparecem todas feitas na mesma minha forma agónica concentração de vitalidade fascante flutuavam e sentimentos em completos no troféu da alma desarmônico os calores Morais na Charneca seus muita ou essa outra frase aqui que é um pouquinho maior é mas é maior só por um motivo que ela amplia o esquematismo dessa forma reflorescimento o Deserta roubado nesse surto miraculoso da seiva Explosiva então assim é o típico discurso gordo de palavras e Pobre de ideias como diziam algum outro problema do
romance é o naturalismo Todas aquelas características que nós vimos aqui nas últimas semanas lá na os seus vídeos em que eu falo primeiro do Cortiço O Aluísio Azevedo a e depois é o vídeo mais recente em que eu analiso em Canaã a Dudu Graça Aranha Todas aquelas características estão lá no pagar Sei fazer o José Américo de Almeida se mostra um sociólogo adeptos do determinismo pronto a mostrar os pobre não só como como escravos do Meio em Teresina Mas também como escravos da hereditariedade então assim é uma ideia usada repetidas vezes no dia o homem
diz várias vezes que os pobres são vítimas de uma enterrado organização do trabalho assim a frase perfeita para estar no Tratado de sociologia mas não não há outras formas de descrever tão os pobres a durante o plantio curvados né eles demonstram atitude o plural de servilismo hereditário dizer inclusive os preconceitos as desconfianças que existem entre o sertanejo segundo o Américo de Almeida São provocados pelo clima pelo reino mas vou ler um trecho para você tá um trecho aí que é camuflado é por um estilo muito semelhante ao do Euclides da Cunha mas percebam que as
ideias trazem no substrato o pior do Aloísio a z Então veja só passavam as lavadeiras ser vistas de longe como Monstros macrocephalus com uma trouxa na cabeça e outra trouxa da barriga enchiam as peças já que não podiam encher os estômatos e mulheres extraordinários fiavam uma e não raro duas vezes por ano Engenho dragão cinco Prazeres fugazes eternidades de Sofrimento os apetites com que a natureza caprichosa hein Cadê a Vaz gerações de zero dadas era uma série de sacrifícios irresistíveis amplexos e porcos bonitos procriações desastrados fábrica de anjos a fecundidade frustrada pela miséria e pela
morbidez em geral Olha ela coisa horrível né então assim não se trata só do estilo hiperbólico retórico recheado de adjetivação Inútil né mas se trata também daquele terrível biologismo e que eu já falei a uma conclusão importante a percebam que dois anos depois desse livro iria surgir uma linguagem absolutamente nova no romance social nordestina 1930 a Raquel de Queiroz lança o Kim a respeito do qual eu também já falei aqui no carro tá um romance belíssimo e rompe ontem não só com todo esse ranço naturalista mas também rompe com toda essa linguagem empolada e massa
é isso nas Carlos Olha tem um um ótimo final de semana e tudo de bom para vocês
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