Todos nós sentimos dor. Olhe para essa dor. Olhe atentamente para a dor que você experimenta agora, ou que você experimentou no passado.
Podemos observar que a dor que experimentamos em nossa vida – seja a que nós experimentamos no passado ou que vamos experimentar no futuro – está relacionada a uma única causa. Esta causa é a mesma para todos, e é chamado “dak dzin”, que é a mente auto-apegada, o ego. Observe sua dor.
Lá no fundo dessa dor, há uma sensação de “eu”. Existe um “eu” que é fortemente identificado com uma função específica. Ele é muito especificamente identificado com o que você faz, ou deseja fazer, ou com um sentido do que você quer ser, um ideal, um senso de si.
Quem é este “eu”? Então, enquanto falo, eu quero que todos vocês não apenas ouçam intelectualmente ou tentem analisar o que digo, ou, pior ainda, julguem o que eu estou dizendo. Em vez disso, concentre-se dentro de si mesmo para ver o que isto significa para você.
Lá no fundo de sua dor, há uma sensação de “eu” esperando para ser visto, à espera de ser despertado, esperando para ser iluminado, esperando para ser guiado, um senso de “eu” que sente a necessidade de ser totalmente livre de sua própria prisão de dor. Você pode estar ciente disto neste momento? Basta Ser Consciente.
Tenzin Wangyal Rinpoche. Seja de forma individual ou coletiva – eu sinto dor, nós dois sentimos dor, todos nós sentimos dor. Olhe para essa dor.
No fundo dessa dor, há uma sensação de “eu”. Você também pode se referir a ele como a “identidade de dor”, porque você se identifica com a dor. Seja qual for sua identidade de dor, neste momento, reconheça que ela está causando a dor dentro de você.
Olhe para essa dor. Qual é a sua identidade de dor? Qual foi a sua identidade de dor?
Quanto sofrimento essa identidade de dor já lhe causou dentro de você? Vou usar três categorias em relação a este senso de identidade: Na primeira categoria, uma pessoa se identifica tanto com a dor que muitas vezes ela destrói a si mesma e aos outros. É ao mesmo tempo destrutivo no sentido individual e coletivo.
Isso acontece porque elas nunca podem descobrir como sair da sua super identificação, e as coisas vão longe demais. Evidentemente, é sempre possível sair disso, mas, em alguns casos, a pessoa perde a oportunidade, e o resultado é a destruição coletiva. A segunda categoria é quando a pessoa se identifica fortemente com um papel.
Se este for o seu caso, você pode sentir muitos conflitos dentro de si mesmo, na sua situação de vida ou com as pessoas com quem convive, em qualquer papel que você esteja convivendo com eles. Isso acontece porque mais uma vez você está se identificando bastante com o seu papel. A terceira categoria, é ter menos identidade com um determinado papel.
É claro que, por estar no samsara, estar neste mundo, não há nenhuma maneira de não se identificar com a dor. A definição de samsara é aquele que possui desconforto ou dor, como resultado de uma mente que se agarra. Todo sofrimento é o resultado ou fruição da mente que se agarra.
Mas quando você tem um mínimo disso, você sente menos dor e conflito e mais espaço, mais fluxo, mais consciência dentro de si mesmo. Você sente menos dor com o seu trabalho, com quem você está trabalhando e com quem você está em um relacionamento. Você sente menos dor com seus familiares.
Isso é assim porque você não está se identificando muito com a dor ou com esse papel. Então a grande questão é: Por que nos identificamos com o nosso papel, com a nossa dor e com alguém que não somos? A resposta é muito simples.
Não percebemos outra opção. Porque se não somos capazes de ter consciência de quem somos, então a única opção é se identificar com quem não somos. Não percebemos uma outra escolha.
Nós não somos nem mesmo conscientes de que estamos fazendo isso. A cada segundo, a cada momento, a cada situação, a cada relacionamento – até mesmo nossos relacionamentos sagrados, nosso relacionamento com Deus, com as divindades, com professores, com guias espirituais – nós nos identificamos com a nossa própria dor e necessidades, e estragamos algumas dessas relações muito especiais. Então, como podemos superar isso?
Quando somos capazes de ter consciência de quem somos – mesmo estando mais perto dessa experiência por apenas um momento – algo dentro de nós começa a mudar. Como isso pode acontecer? Basta estar consciente.
Quando quer que você sinta que seu corpo de dor está ativo, quando quer que você esteja sentindo uma sensação dessa identidade de dor – uma dor profunda, que está claramente relacionada com um sentimento de identidade específica, simplesmente reconheça isso. Reconheça quando a fala de dor está ativa. Reconheça quando você está reclamando sobre seus entes queridos.
Perceba que não tem nada a ver com eles ou com a situação; é apenas a expressão descontrolada de sua própria dor desperta que está sendo expressa inconscientemente naquele momento através de seu discurso. Quando minha identidade de dor está ativa, eu não planejei isso. Eu não escolhi esse vocabulário ou aquele tom de voz.
Eu não escolhi falar tão alto ou trêmulo, ou falar dessa maneira infundada. Eu fiz isso porque meu discurso de dor foi despertado. Quando minha mente de dor é despertada, não estou escolhendo ter esses pensamentos loucos.
“Estou contente que ninguém está vendo meus pensamentos. Estou feliz que a maioria das pessoas não sabe o que eu estou pensando. Fico feliz porque esta pessoa que me odeia, não sabe o que estou pensando nesse momento.
Mas, mesmo eu não sei por que eu estou pensando, o que eu estou pensando; eu só estou pensando”. A imaginação da mente de dor é ativa e descontrolada. O que você faz neste momento?
Basta estar consciente. Esteja consciente de que seus pensamentos são loucos. “Esses pensamentos não são realmente meus pensamentos; eles estão vindo da minha mente de dor interior.
Essas vozes estão vindo de meu discurso de dor; essas dores estão vindo do meu corpo de dor”. Apenas esteja consciente disso. E tente descansar.
Neste momento, se algum de vocês estiver sentindo um ativo corpo de dor, fala ou mente, perceba que não tem nada a ver com uma dada situação; está apenas ativo. Neste momento, fique consciente. Fique quieto.
Fique em silêncio. Fique aberto. E permita o que você está experimentando.
Permita como uma mãe que é aberta, sábia, bondosa e compassiva. Quando uma criança está expressando dor ao pular ou gritar, e sua imaginação está ficando louca, o que a mãe faz? A mãe não fica louca como a criança, mas, em vez disso, abriga o filho, dá o espaço à criança.
Dá proteção à criança e dá reconhecimento, uma sensação de presença sagrada. Essas manifestações loucas sentem o espaço, a presença sagrada, a bondade, a consciência, e, gradualmente, essas manifestações se esgotam nesse espaço puro, elas se dissolvem nesse silêncio absoluto, nesse puro espaço do coração. No final, há um sentido muito genuíno e natural de quietude e silêncio que é experimentado.
Naquele momento você mudou sua identidade de dor ou corpo de dor em quietude, o seu discurso de dor em silêncio, sua mente de dor ou imaginação em amplitude. Está livre, calmo, conectado e sentindo paz, sentindo tranquilidade. Está sentindo uma profunda cura interior.
Então, esteja consciente. A cada momento em que você encontrar o seu próprio sofrimento interior, sua identidade de dor, apenas esteja consciente. Esteja diretamente consciente.
Reconheça que isso não tem nada a ver com a outra pessoa ou a situação. Isso é simplesmente ativado por sua própria dor. Sempre que você estiver em conflito com alguém, sempre que você sentir dor profunda dentro de si mesmo, imediatamente pergunte a si mesmo: “De onde isso está vindo?
” A melhor resposta à emoção negativa é permitir que ela se autolibere, ao permanecer na consciência não-dual, livre do apego e aversão. Criamos toda e cada dor. Cada momento que você reconhece que você é o criador de sua dor, você tem a oportunidade de não criar mais dor para si mesmo ou para os outros.
Se pudermos fazer isto, a emoção passa através de nós como um pássaro voando através do espaço; nenhum traço da sua passagem permanece. A emoção surge e então espontaneamente dissolve-se no vazio. Basta ser consciente.
E finalmente, descanse. Descanse na consciência não-dual. Se você quiser encontrar alguém, deixe a solidão descansar.
Se você quiser encontrar o amor, deixe a raiva descansar. Se você quiser encontrar a confiança, deixe o medo descansar. Se você quiser ter uma boa noite de sono, deixe a agitação descansar.
Se você quiser ter uma mente criativa, deixe a dúvida descansar. Descansar profundamente dará nascimento a tudo o que você precisar, em qualquer momento da sua vida. Você pode confiar nisso.