Como Guerra do Iraque espalhou violência pelo mundo | 21 notícias que marcaram o século 21

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BBC News Brasil
Em março de 2003, forças dos Estados Unidos e do Reino Unido iniciaram a Guerra do Iraque com um pri...
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Essa fala foi um aparente  ato falho do ex-presidente americano George W. Bush durante um discurso em que criticou a Rússia de Vladimir Putin pela guerra na Ucrânia. Mas o que ele justificou como sendo uma gafe por conta da idade avançada, arrancando risos da plateia, para muita gente foi um lembrete dos horrores de uma guerra que também foi considerada por muitos críticos como brutal e injustificada.
Eu sou Camilla Veras Mota, da BBC News Brasil, e este é mais um capítulo da nossa série especial 21 notícias que marcaram o século 21. Hoje, vou explicar como a Guerra do Iraque mexeu com todo o Oriente Médio e a relação entre o mundo islâmico e o chamado mundo ocidental. Em março de 2003, tropas dos Estados Unidos e do Reino Unido deram início ao que chamaram de Operação de Liberdade Iraquiana, com um principal objetivo declarado: tomar e destruir armas de destruição em massa do regime de Saddam Hussein.
Depois de bombardearem o Iraque, os dois países ocuparam o território iraquiano. Mas as armas de destruição em massa nunca apareceram. Não existiam.
A Guerra do Iraque foi determinante neste século 21, e por vários motivos. Ela envolveu duas grandes potências mundiais contra um influente país árabe, apesar da resistência de outros países influentes e de parte da opinião pública. O conflito durou oito anos, entre a invasão em 2003 e a saída das últimas tropas de combate dos Estados Unidos, em 2011.
A guerra facilitou o fortalecimento ou surgimento de grupos armados considerados como terroristas por países ocidentais e gerou grande ressentimento em boa parte das populações árabe e muçulmana. Também deixou uma marca na política externa americana. Mas, se não havia armas de destruição em massa, o que explica a Guerra do Iraque?
Para entender, é preciso voltar aos anos 1980. Entre 1980 e 1988, os vizinhos Irã e Iraque disputaram uma guerra que deixou estimados 2 milhões de mortos. Nela, o governo iraquiano, que já era comandado com mão de ferro por Saddam Hussein, recebeu o apoio de potências ocidentais e de países árabes sunitas, interessados em enfraquecer a república islâmica xiita do Irã.
A guerra terminou sem vencedor e custou caro, tanto em termos econômicos quanto humanos, e acirrou tensões entre o Iraque e outros países árabes. Essas tensões levaram à invasão do Kuwait pelo Iraque, em 1990, e à reação externa no ano seguinte. Em 1991, na Guerra do Golfo, as tropas iraquianas foram expulsas do Kuwait por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos.
Saddam, porém, continuou no poder em Bagdá. Como ele havia desenvolvido armas químicas no passado – e usado os gases sarin e mostarda contra cidadãos iraquianos xiitas e curdos – a comunidade internacional passou a pressionar o regime iraquiano para que  permitisse a verificação de seu arsenal. Foram anos de pressão política via resoluções do Conselho de Segurança da ONU, sanções econômicas e até mesmo um violento bombardeio americano em 1998.
Uma parte dos analistas acreditava que  sim, essas armas existiam, e temia que Saddam pudesse utilizá-las.  Outros argumentavam que suas armas químicas haviam sido destruídas ou simplesmente ficado obsoletas. Depois dos atentados de 11 de Setembro de 2001, o governo americano passou a argumentar que as possíveis armas iraquianas poderiam não apenas ser usadas pelo Iraque, mas também cair nas mãos de grupos armados internacionais, como a al-Qaeda.
Saddam Hussein ainda negava ainda manter armas químicas ou mesmo um programa nuclear, e analistas apontavam para o fato de que o regime secular iraquiano era inimigo de militantes islamistas como Osama bin Laden. Isso não impediu que grande parte da população americana acreditasse em alguma ligação entre o líder iraquiano e o 11 de Setembro. Segundo uma pesquisa, 53% dos americanos achavam que Saddam estava "pessoalmente envolvido" nos ataques.
Em 22 de novembro de 2002, o Conselho de Segurança das Nações Unidas adotou a resolução 1441, que elevava a pressão sobre Saddam Hussein. A medida dizia que o Iraque não havia "fornecido uma revelação precisa, total, final e completa" de todos os seus "programas para desenvolver armas de destruição em massa e mísseis balísticos" de grande alcance. Naquele final de 2002, o então presidente americano, George W.
Bush, e o primeiro-ministro britânico, o trabalhista Tony Blair, formaram uma aliança por uma política agressiva contra Saddam Hussein. Bush e Blair defendiam que, caso o líder iraquiano não provasse ter destruído todo seu arsenal, uma ofensiva militar para derrubá-lo seria necessária. Para Washington e Londres, o Iraque passou a integrar os objetivos do que ambos os governos chamavam de "guerra ao terrorismo".
As duas potências tentaram compor uma coalizão internacional ampla, como a que participava, desde 2001, da guerra no Afeganistão contra o Talebã. Essa aliança seria feita em torno de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que autorizaria uma ofensiva militar contra o Iraque. Mas existia um problema: no início de 2003, o chefe da agência da ONU responsável por inspecionar o Iraque, o sueco Hans Blix, dizia que o Iraque estava colaborando com o trabalho de seus inspetores.
Sua equipe trabalhava em território iraquiano buscando indícios da existência de armas de destruição em massa, mas não tinha encontrado nenhum. Blix afirmava precisar de mais tempo para uma avaliação definitiva, enquanto os Estados Unidos e o Reino Unido já posicionavam suas tropas para uma invasão. Em 14 de fevereiro, manifestações pacíficas levaram milhões de pessoas às ruas em diversos países e continentes em protesto contra a possibilidade de um novo conflito militar.
No mês seguinte, o secretário de Estado americano, Colin Powell, fez uma dramática apresentação no Conselho de Segurança mostrando imagens e relatando informações que, segundo ele, provavam que o regime de Saddam Hussein tinha armas químicas e biológicas. Mas duas potências, a França e a Rússia, ameaçaram usar seu poder de veto no Conselho contra uma resolução que desse aval à invasão. No fim, mesmo sem a chancela do Conselho de Segurança, em 19 de março de 2003, Bush anunciou o início do bombardeio.
Meus compatriotas, neste  momento, tropas americanas e de coalizão estão no estágio inicial de uma operação militar para desarmar o Iraque, libertar seu povo e defender o mundo de um grande perigo Cerca de 150 mil soldados americanos foram enviados ao Iraque no primeiro mês. Menos de 30 dias depois do início da guerra, os americanos tomaram Bagdá. Outras cidades importantes, como Tikrit, Falluja e Ramadi, na região central, e Kirkut, ao norte, no Curdistão, foram tomadas pelas forças de ocupação.
Em 1º de maio de 2003, a bordo do porta-aviões USS Abraham Lincoln, Bush fez um discurso em que declarou que, "na batalha do Iraque, os Estados Unidos e nossos aliados prevaleceram". Atrás dele, uma faixa dizia "Missão Cumprida". Já naquele momento a guerra tinha  imposto um alto custo humano ao Iraque: calcula-se que entre 10 mil  e 15 mil iraquianos foram mortos nas semanas da invasão, sendo um terço deles civis.
Saddam Hussein ainda não tinha sido encontrado, mas seu regime havia, na prática, acabado. Um símbolo marcante dessa queda foi a cena de iraquianos derrubando uma estátua de Saddam na praça do Paraíso, em Bagdá. Este homem, Khadim al-Jabbouri, foi fotografado dando marretadas na estátua.
Sua foto correu o mundo, transformando-o no rosto da esperança de parte dos iraquianos com um futuro livre do regime autoritário de Saddam Hussein. uarde o nome de Khadim, porque ele vai voltar a aparecer mais pra frente. Com o fim do regime, começou a ocupação americana.
Os Estados Unidos deram ao diplomata Paul Bremer o papel de “administrador do Iraque”. No dia em que ele desembarcou na capital, a BBC News noticiou: "Vários bairros de Bagdá ainda estão sem eletricidade e água corrente, lixo se acumula nas ruas e muitos comerciantes têm medo de reabrir seus negócios por causa de saqueadores". E os problemas estavam só começando.
John Simpson, editor de assuntos internacionais da BBC, explica que os desdobramentos políticos após a invasão foram marcados pelo descuido e desinteresse da Casa Branca. Relatos publicados depois da guerra dão conta de que Bush não sabia, por exemplo, que os muçulmanos iraquianos se dividiam entre rivais xiitas e sunitas - uma informação vital para entender a complexa realidade social e política do país. A frustração dos iraquianos provocou ressentimento contra a ocupação americana, especialmente em cidades sunitas, como Tikrit e Fallujah, historicamente próximas de Saddam Hussein.
Episódios de violência das forças de ocupação contra a população civil - como a  morte de pelo menos 13 iraquianos durante um protesto diante de uma escola em Falluja em abril - fizeram muitos moradores se voltarem contra as tropas estrangeiras. Em maio, Bremer anunciou uma decisão que agravou a já delicada situação de segurança: demitiu todos os soldados e funcionários públicos que fossem membros do Partido Ba'ath, o grupo político de Saddam que antes dominava todos os aspectos da vida no Iraque. A medida deixou dezenas de milhares de pessoas  sem emprego ou função – um enorme contingente, do qual uma parte viria a engrossar a futura reação armada contra as forças americanas.
Ao longo de 2003, aumentou a insatisfação entre os iraquianos, que era cada vez mais demonstrada de forma violenta, com um número crescente de ataques contra soldados americanos em patrulha pelo país. Ao mesmo tempo, eram denunciados abusos das forças de ocupação. Em junho de 2003, um relatório da Anistia Internacional chamou atenção para a situação de "mais de 2 mil iraquianos" detidos pelo país e as condições na prisão de Abu Ghraib, próximo a Bagdá.
A deterioração da situação levou a dois fenômenos que marcaram o período a partir de 2004: uma violenta insurgência contra a ocupação estrangeira e disputas sectárias entre as comunidades muçulmanas xiita - cerca de metade da população - e sunita - que era de cerca de 40% e que dominava o país no regime de Saddam Hussein. Em março de 2004, um novo episódio reforçou a posição de Falluja, parte do chamado Triângulo Sunita, como o centro da resistência à ocupação. Um comboio de veículos foi  atacado por insurgentes, que mataram quatro agentes de segurança americanos privados da empresa Blackwater.
Seus corpos foram queimados e pendurados numa ponte sobre o rio Eufrates. Em resposta, tropas dos Estados Unidos lançaram um ataque pesado contra a cidade ao longo de todo o mês de abril, mas o controle americano sobre Falluja só seria retomado numa nova sangrenta campanha contra a cidade no fim de 2004. Também em abril, fotos mostrando situações  de tortura e humilhação de prisioneiros iraquianos, muitos deles nus, na prisão de Abu Ghraib chegaram à imprensa.
"Uma desumanização como essa é inaceitável em qualquer cultura, mas especialmente no Mundo Árabe", escreveu o autor da reportagem da revista New Yorker, Seymour Hersh. Em 28 de junho de 2004, os Estados Unidos devolveram o controle político e administrativo do país aos iraquianos, encerrando 1 ano e 3 meses de governo americano no país. Paul Bremer deixou o cargo de administrador do Iraque, que passou a ser governado pelo primeiro-ministro interino Iyad Allawi, um representante da comunidade xiita.
A parte sunita da população, que perdeu a posição dominante desfrutada durante o regime de Saddam Hussein, se sentiu discriminada pela nova ordem. Tal sentimento e a crescente percepção de que o novo governo iraquiano era altamente corrupto foram combustível para a eclosão de uma guerra civil entre sunitas e xiitas. Em 30 de janeiro de 2005, os iraquianos foram às urnas na primeira eleição geral desde a derrubada de Saddam Hussein.
O pleito, que elegeu os 275 membros da Assembleia Nacional provisória, foi considerado histórico por iniciar o processo democrático no Iraque, mas também reforçou a divisão entre xiitas e sunitas. Sem confiança no novo regime, grande parte da população sunita boicotou a eleição - ou não votou por questões de segurança. O resultado consolidou o poder nas mãos dos xiitas, e uma nova Constituição foi escrita.
Uma nova estrutura política do Iraque estava formada. O país conseguiria realizar também uma segunda eleição e criar um novo sistema político, baseado em consultas populares. Mas a violência só aumentou.
Veja os dados de civis mortos levantados pela entidade Iraq Body Count: Os impactos começaram a ser sentidos também fora do Iraque. Um ano depois da invasão americana, em 11 de março de 2004, uma série de explosões atingiu quatro trens de passageiros em Madri, capital da Espanha. Os ataques, que mataram 191 pessoas e deixaram quase 2 mil feridos, foram atribuídos à organização al-Qaeda, como vingança pela participação da Espanha na ocupação do Iraque.
Depois disso, viriam anos de sangrentos atentados islâmicos em grandes cidades europeias. Em Londres, em julho de 2005, quatro britânicos muçulmanos provocaram quatro explosões suicidas – três delas em trens do metrô e uma em um ônibus. Além dos autores do atentado, 52 pessoas foram mortas, e cerca de 800 ficaram feridas.
Parceiro de Bush na invasão e ocupação do Iraque, o premiê Tony Blair foi acusado por muitos de ter mentido sobre as  verdadeiras razões para a guerra. Com o país em estado de  alerta máximo para atentados, o brasileiro Jean Charles de Menezes foi  confundido com um suspeito pela polícia londrina e morto a tiros por policiais dentro de um vagão do metrô. Blair negava que a invasão do Iraque tivesse levado aos atentados, mas muitos analistas acham que o ocorrido no Iraque enfraqueceu seu governo e sua popularidade.
Em junho de 2007, após dez anos como primeiro-ministro, Blair renunciou ao cargo. As reverberações políticas também chegaram aos Estados Unidos. Em 2006, ano em que o número de soldados americanos mortos no Iraque atingiu 3 mil, cresceu a insatisfação da população americana com o conflito.
A CNN informou, em 13 de junho de 2006, que 54% acreditavam que a guerra ia "muito mal" ou "moderadamente mal". A pesquisa mostrava ainda que, para 55% dos americanos, a invasão do Iraque tinha sido um erro. Em entrevistas em 2006, Bush falou publicamente sobre Saddam não ter nem os armamentos nem relação alguma com os ataques em solo americano.
O presidente, porém, tentou justificar a guerra em outros termos. “Eu nunca disse que Saddam Hussein deu ordens para atacar no 11 de Setembro. O que eu disse, depois do 11 de Setembro, é que, quando você vê uma ameaça, você tem que levá-la a sério, e eu vi uma ameaça em Saddam Hussein.
Eu acredito firmemente que o mundo está melhor sem Saddam Hussein. ” Saddam Hussein havia sido detido pelas forças de ocupação em dezembro de 2003, num esconderijo subterrâneo próximo a Tikrit, sua região natal. Ele foi entregue às autoridades locais para ser julgado por inúmeros crimes que cometeu contra a população iraquiana enquanto estava no poder, processo iniciado no segundo semestre de 2004.
O julgamento foi transmitido ao vivo pela televisão. Saddam disse que seu julgamento era ilegítimo e que os juízes iraquianos estavam sendo manipulados pelas forças de ocupação. Após ser declarado culpado, ele foi condenado à morte.
Em 30 de dezembro de 2006, Saddam foi executado por enforcamento, numa cena gravada em vídeo e exibida no mundo todo. Sua morte, no entanto, assim como sua captura três anos antes, não resultou em  avanços na situação de segurança. No início de 2007, o conflito sectário no  Iraque vivia seus piores momentos, com uma série de atentados a bomba - muitos suicidas, vários usando carros-bomba -, geralmente matando dezenas de civis, especialmente em Bagdá.
Mercados da comunidade xiita foram alvos de ataques organizados pelo grupo Al-Qaeda no Iraque. Milícias xiitas, por sua vez, realizavam sequestros e assassinatos de membros da população sunita. O caminho escolhido pelo governo Bush foi o envio de 30 mil soldados adicionais, a maioria para Bagdá e região, o que ganhou o nome de "surge" - em português, "escalada".
Com o reforço, o tamanho do efetivo americano voltou aos níveis da invasão de 2003, cerca de 150 mil soldados - e 2007 foi um dos mais sangrentos períodos da guerra. Segundo o Brookings Institute, foi o ano com o maior número de soldados americanos mortos durante a ocupação: 904. O número de civis iraquianos que perderam a vida, 26.
112, só ficou abaixo dos 29. 526 de 2006. Só em 2008 a violência começou a diminuir.
Naquele ano, os eleitores foram novamente às urnas nos Estados Unidos, dessa vez para escolher o sucessor de George W. Bush. Desgastado pelos anos de guerra no Iraque, o Partido Republicano foi tirado do poder.
Em sua última visita ao Iraque, Bush deu uma entrevista coletiva ao lado do premiê iraquiano Nouri al-Maliki e defendeu que a guerra, prolongada muito além do esperado, era necessária à “paz mundial”. Nesse momento, um jornalista local arremessou seu sapato contra ele, gritando em árabe que o gesto era um “presente dos iraquianos” em retribuição às viúvas, aos órfãos e a todos os iraquianos mortos na guerra. A cena viraria mais um símbolo do polêmico legado da guerra.
Na política americana, o senador democrata Barack Obama, um crítico da guerra no Iraque, foi eleito presidente com a promessa de acabar com o conflito. Em abril de 2009, os últimos soldados britânicos saíram do Iraque. Em 2010, os Estados Unidos encerraram sua participação em operações de combate, reduzindo o efetivo militar no país a cerca de 50 mil soldados.
Apenas cerca de 150 soldados americanos ficaram no país, em funções de treinamento das forças locais. O total de vidas perdidas durante a guerra foi estimado em pelo menos 200 mil, entre civis e militares, e o custo para os cofres americanos, em pelo menos US$ 800 bilhões. E o Iraque saiu desse período como um país semi-destruído.
Em 2013, dez anos depois do início da guerra, John Simpson, editor de assuntos internacionais da BBC, apontou que poucas  das premissas levantadas em 2003 se provaram verdadeiras. O Iraque não se tornou um aliado americano no Oriente Médio, como previa o governo Bush. Nem se tornou um fornecedor  de petróleo particularmente importante para os Estados Unidos.
Simultaneamente à guerra no Afeganistão, o conflito no Iraque inflamou o sentimento antiocidente em grande parte do mundo muçulmano. Para o Iraque, o processo de pacificação - tanto de suas cidades como da política - seria lento e de resultado incerto. As lideranças xiitas haviam consolidado seu poder, mas parte dessa autoridade precisava ser compartilhada com curdos e sunitas, segundo a Constituição - e a convivência raramente era tranquila.
Militantes sunitas islamistas continuavam em operação e, anos depois, voltariam a ameaçar o país sob a bandeira do grupo autodenominado Estado Islâmico, que espalhou terror e inspirou extremistas pelo mundo. O Estado Islâmico, aliás, é visto por muitos como fruto, entre outras coisas, do caos no Iraque. E as disputas sectárias iraquianas continuam latentes até hoje.
Lembra do Khadim al-Jabbouri, que tinha ajudado a derrubar a estátua de Saddam? Anos mais tarde, ele contou à BBC que a espiral de violência e instabilidade política fez ele se arrepender daquele dia. Os jornalistas da BBC que acompanharam de perto o conflito dizem que essa insatisfação se deve ao fato de que os iraquianos não tiveram nem um dia sequer de paz desde a queda do regime.
A Guerra do Iraque havia acabado, mas o Iraque continuaria em guerra. Com isso eu fico por aqui. Você pode ver os demais vídeos da série 21 Notícias que marcaram o século 21 no nosso canal do YouTube.
Tem uma playlist com todos eles lá. Obrigada e até a próxima.
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