[Música] Olá, boa noite. Sejam todos muito bem-vindos ao Roda Viva. Nós estamos ao vivo para todo o Brasil pela TV Cultura e suas emissoras afiliadas. Também é possível assistir a este e a outros programas a qualquer tempo, de qualquer lugar do mundo, por meio das principais plataformas digitais e do Cultura Play. Ela já tinha se tornado uma porta-voz da libertação feminina das amarras dos padrões de beleza, quando, mais linda do que nunca, desfilou por muitos anos um corpo curvilino e pleno de si como a mais celebrada e comentada rainha de bateria do carnaval brasileiro, até
que sentiu a necessidade de novos desafios e se despediu da avenida para se entregar de corpo e alma a um personagem icônico da teledramaturgia nacional, a Heleninha de Vale Tudo. Com a mesma coragem com que deu de ombros para quem cobrava que ela replicasse a magreza excessiva que ainda hoje domina a moda e a publicidade, ela topou numa atacada só entrar na discussão de um tema sensível como o alcoolismo e se submeter de novo às inevitáveis comparações, desta vez com a interpretação de Renata Sorrá. Aos 43 anos recém-completados, esse é o jeito de essa paulistana
encarar a vida sempre de peito aberto, seja no carnaval, na TV ou no figurino, escolhido para ir ao show da Lady Gaga. Para falar sobre a liberdade conquistada com a maturidade e a coragem de desafiar os manuais, recebemos pela primeira vez no centro do Roda Viva a atriz Paola Oliveira. Caroline Paolo Oliveira da Silva nasceu em 14 de abril de 1982 em São Paulo. É formado em fisioterapia com especialização em reeducação postural global RPG. Começou na carreira artística como assistente de palco no SBT. A primeira novela vem em 2004, Metamorfoses da Record. No ano seguinte
foi chamada pela Globo para viver Giovana em Belíssima. De lá para cá foram diversos papéis em filmes, séries, teatro e novelas, como falou macuri de amor à vida. Meu irmão, que eu amei minha vida inteira. Como é que você teve coragem de fazer isso comigo, seu desgraçado? Em 2009, venceu a Dança dos Famosos e em 2021 foi a campeã da super dança dos famosos que reunia finalistas do quadro. Po, [Música] está de volta ao horário nobre no papel de Heleninhaman de Vale tudo. Eu quero participar da conversa. Eu faço ou não faço parte dessa família?
Ou não faço? Ah, vamos falar dos móveis. Para entrevistar a Paolo Oliveira, a nossa bancada de hoje é composta por Chico Barne, colunista e apresentador do Splash Wall, Carolina Moran, apresentadora da rádio CBN, Paola Deodoro, jornalista, Márcia de Zitzer, repórter da revista Ela do jornal O Globo e Nilson Xavier, crítico de TV. Voltamos ainda com os desenhos em tempo real do nosso Luciano Veroni. Paola, obrigada. Finalmente deu certo. Faz tempo que a gente tá tentando, né, esse encontro. Tô muito feliz de estar aqui. Você não sabe o desafio que é. Aliás, acho que todo mundo
que tá me assistindo nem sabe. Uma pessoa que não respondia chamada na escola porque tinha vergonha, fazia só assim. Agora tá aqui nessa roda viva, literalmente. Tudo, todos os novos spoilers. Muito bom. Tô muito feliz. Obrigada, viu? Obrigada a você. E eu queria começar falando de Heleninha. Você batalhou por esse personagem. A gente já sabe que as primeiras sondagens que você recebeu era para fazer um outro personagem. Quem sabe você conta pra gente qual. Mas você brigou para ser Heleninha, foi nas reuniões do AA, se empenhou, se jogou de corpo e alma nesse personagem. Por
que esse e em que sentido a realidade de estar vivendo esse personagem superou a sua expectativa? Eu quis muito esse personagem. Eu acho que já já seria o suficiente de ser uma um grande trabalho, né? Uma grande novela, um grande remake e ser uma personagem que foi eternizada por uma grande atriz, uma atriz que eu admiro demais e o Brasil admira, que é a Renata Sorrá. Acho que já bastaria, mas aí tinha mais. Teve um, eu sinto, foi um chamado assim, eu queria, eu desejava, achava que não era possível, mas aquilo ainda ficou dentro de
mim por bastante tempo. Eh, a Heleninha, para mim, na minha cabeça, como eu não assisti a primeira vez, o que eu tenho dela é que a gente passou rapidamente. A gente tem a a ideia dela quase como um estereótipo, a mulher da crise, a mulher do escândalo, a bêbada. A gente tem essa mulher eh esse estereótipo dessa mulher. Eu acho que para mim ela é mais, para mim é mais porque é muito interessante, para mim é um me interessa desafiar os estereótipos. Então, quando eu penso que essa mulher é é mais é uma mais do
que uma mulher em crise, é uma mulher com tantas camadas, com tantos desafios, com tantos conflitos, é uma mulher que por conta dessa condição, dessa doença, porque o alcoolismo é uma considerada uma doença mental, ela se afasta da família, ela se afasta de quem ela ama, ela não tem uma relação boa com o filho, ela não consegue se sentir amada. Então, acho que a gente tem que aprofundar um pouco mais. Talvez seja um momento e talvez isso tenha me esse desafio de de ir para além dos estereótipos, de falar mais sobre essa mulher que tá
o tempo inteiro tentando se autorredefinir, sobreviver a isso. E eu acho que o Brasil tem condições da gente falar sobre esses vazios, esse esse vazio que por muitas vezes durante o meu estudo eu ouvi todos eles falando, todas as pessoas que são portadores dessa condição falaram desse vazio. que o Brasil consegue hoje a gente consegue discutir já sabendo que é uma doença e tudo mais. Muito bom, Paola para Paola. E aí, Xará? Charará. Bom te ver. Bom, o seguinte, a gente tá super querendo mesmo saber da Heleninha e tal. A gente tá inclusive aqui perdendo
a novela, mas maravilhosa. Eu quero falar sobre uma coisa que eu acho muito sensível e eu acho que muito em relação à tua projeção como artista, independentemente do qual personagem você tá interpretando, que é a sua relação com o carnaval. Uhum. Que é uma das coisas mais lindas, né, que a gente vê, ã, de tanto esteticamente como de entrega mesmo. É muito bonito te ver no carnaval. E mas eu eu já eu procurei, eu não encontrei nada, nenhum lugar onde dissesse a tua relação primeira com samba, com carnaval, que a gente te vê tão à
vontade. E eu não sei quando começou essa relação, então gostaria de saber se foi a partir do convite de ser rainha de bateria ou se você tem uma relação anterior a isso. E eu também gostaria de saber a tua opinião sobre as mulheres ã que tem projeção, que são famosas, que são celebridades, que são artistas, que não sabem sambar e que estão, que a gente vê, né, não é nenhuma constatação impossível, mas que estão ocupando esses lugares que também não são da comunidade. Como você percebe esse esse acontecimento? Vamos lá. O carnaval realmente é uma
coisa, sabe, que às vezes eu tenho dificuldade. Muita das coisas que eu aprendi a falar foi porque eu tive perguntas e aí fui pensar sobre isso. Carnaval é uma festa incrível culturalmente, historicamente e eu me sinto feliz agora, agora eu tenho consciência disso. Mas onde é que ele nasceu? Acho que eu aprendi a samba, na verdade, v na televisão, foi vendo com beleza, sabe que nem faz parte mais. De repente não faz não faria nem sentido se a gente fosse pensar direitinho, né? Mas foi assim que eu aprendi, olhando como uma coisa muito distante. Então
eu tenho carnaval nesse lugar muito especial. O carnaval ainda se tornou maior para mim, porque eu tive que batalhar por ele também. O carnaval era dito para mim, não, eu já tava na televisão, o carnaval era assim, não, não vai para pro carnaval, o carnaval vai te engavetar, vai te paralisar. Mal eu sabia que eu já tava paralisada por tantas outras coisas. Então o carnaval acabou agora no, né, agora nesses últimos, nessas últimas vezes virando um lugar de libertação do corpo, sabe? Libertação da Paola. libertação de de várias coisas. Então, além de gostar, eu ainda
me sentia essa mulher mais poderosa ali. E acho que a gente ainda vê ainda mais uma personalidade, né, uma pessoa pública, uma atriz. Nesse lugar ainda é visto com muito moralismo. Eu acho que deveria ser visto como uma mulher ali na frente, meio exposta, que seja, com pouca roupa, do jeito que ela quiser, deveria ser vista como liberdade, como ancestralidade, como qualquer coisa que não fosse um olhar moralista. Então, fiquei muito feliz com os últimos passos que eu tive no carnaval. Agora, sobre as mulheres, sabe o que eu acho? Hum. Eu acho que tem espaço
para todo mundo. Não sou eu que vou questionar, não sou eu que vou que vou apontar, né, para ninguém. Acho que o carnaval ele ele tem um um lugar que suporta e comporta todo mundo. Agora, o lugar onde essas mulheres são colocadas, onde elas aceitam estar, talvez sejam, né, elas estão muito expostas a julgamentos. Então vai do que a pessoa tá afim de fazer. Eu também já fiz várias coisas onde eu fui super julgada e tava mais feliz do que o julgamento poderia me desestabilizar. Então acho que depende delas, o quanto elas estão felizes para
estar ali, sabe? Eu sou muito perguntada sobre as mulheres também. da comunidade, se deveria ser, se deveria ser uma pessoa, eh, nessas pessoas conhecidas deveriam estar ali. E agora que eu saí, né, que o posto tá lá, eu sou muito perguntada sobre isso. Então, eu acho que deveria ser uma pessoa da comunidade, uma menina preta. Eu acho que mesmo você não sendo da comunidade, você se envolve, né? Outras rainhas também se envolvem, mas tem pessoas que vivem à margem, aí a gente fica com pouco de dúv. É, eu acho que deveria ser. Elas merecem muito
e eu e eh não tem a ver com eu acho que muito do prestígio que eu tive lá, do carinho que eu tive deles, foi por conta de eu estar perto da comunidade, foi por eu fazer essa ponte, por eu reverenciar essas mulheres com muito prazer aprender com elas. Então, acho que seria muito bacana ter uma mulher da comunidade lá, mas eu acho que a gente deveria também reverenciar as que já estão no posto. Acho que a gente esquece disso. Já tem mulher, já temos mulheres pretas nesse lugar, mulheres da comunidade e a gente esquece
de bater palma para elas e saber que elas existem, que elas estão. Chico Barb, o Brasil de 88 mudou bastante, ou pelo menos espera-se que mudou algumas coisas pro Brasil de 2025, mas acho que mudou ainda mais o jeito de consumir conteúdo, consumir dramaturgia, consumir novela. Acho que é um momento muito diferente da comunicação. Uhum. eh a senhora como uma das principais atrizes de novela do Brasil hoje inserida nessa nesse remake de uma novela tão importante. Queria entender como que eh eh vocês discutem isso entre vocês, assim, esse momento de transformação da mídia. Olha, eh
é inevitável fazer um remake, né, e que passou em 88, com tantos anos atrás, e não pensar na transformação do Brasil de lá para cá. Eh, mudou muita coisa, avançamos em tantas coisas. A gente fala lá de de da democracia tá sendo, né, estabelecida, tantos direitos civis, tantas coisas aconteceram de lá para cá, eh, tantos altos e baixos. E a gente agora vive basicamente um momento de novo, né, onde teve tanta eh repressão, onde a arte também foi considerada uma coisa menor, uma coisa não bem quista, não bem vista. E a gente vive de novo
esse momento de de andar pra frente. Acho que a novela é super eh atual. Não sei se isso é mais assustador ou ou melhor, mas é muito atual. As perguntas que são feitas lá, ética, moral, é tudo faz muito sentido. Isso é um pouco assustador, mas acho que é válido a gente rever, revisitar isso. Agora, quando a gente fala dos novos conteúdos, das novas plataformas, é inevitável dizer que a televisão precisou, tá ainda passando por essa mudança, né? Tanto é que a gente vê de números, a gente fala sobre tantas coisas que não necessariamente tem
a ver com a televisão e com a novela, com o jeito como a gente faz, mas as várias plataformas, as várias maneiras de assistir a mesma programação, por exemplo, né? A novela hoje em dia é assistida no do do celular, na internet, pelo Instagram, inclusive. Então, acho que a gente tem que debater. Acho que muito se fala que a televisão aberta morreu. Não acredito nisso. Acho que os números ainda são gigantes. Acho que o Brasil ainda consome a nossa novela, ainda consome na TV aberta. E que bom que a gente pode consumir em outras plataformas
também. Acho que é uma discussão que não vai eh parar tão cedo. A gente tem agora inteligência artificial, a gente tem novos formatos, novas formas de fazer. Mas no que eu posso dizer que a novela, que é o meu grande palco, eu considero que ainda tem muito chão pra novela e para remakes, para histórias recontadas, grandes histórias, grandes personagens e será vista tanto na TV aberta quanto em outros lugares e conteúdos a partir desse primeiro trabalho que é a novela. Márci, tô gostando de virar aqui. Paolo, um prazer estar com você de novo. Eh, há
cerca, mais ou menos de um mês, a gente teve uma longa conversa pra capa da revista e a gente falou, e eu vou falar aqui de novo muito sobre Heleninha, né? Uhum. Você lembrou que em 88 a personagem ela, as pessoas riam dela no sentido de ser brilhantemente interpretada pela Renata Sorrá, mas o tema não era assim levado tão a sério e que nessa dessa vez você gostaria que fosse aberto um debate sobre o alcoolismo. E eu queria saber sobre o alcoolismo feminino, né, na composição da Heleninha, que que você descobriu sobre esse tema? O
alcoolismo é mais perverso com as mulheres? É perverso. E eu em nada tem a ver com a Renata, tá? Eu acho que a gente quando fala sobre essa eh de a possibilidade de ter um debate diferente, dá a impressão que é sobre a, né, a atriz em de forma nenhuma. É, mas é sobre o Brasil mesmo, é sobre a escuta, é sobre o público. E eu acho que só a condição da gente eh só da gente saber que que é uma doença hoje a gente já coloca uma pauta diferente. A gente já não falava de
saúde mental, a gente já não falava de doença. Então hoje ter uma doença que é considerada um transtorno mental sendo falado, né, mesmo que seja com a mesma história, a gente já tem um novo um novo Sim. A consciência mudou de lá para cá, o Brasil mudou, né? Eu procurei muito sobre as mudanças do alcoolismo de lá para cá, né? Procurei eh psiquiatras, procurei o próprio a conversas com com pessoas que que tão nessa condição. E então eu vejo que mudou, mudou bastante, mas algumas estigmas continuam. Os estigmas são basicamente os mesmos, o estigma de
inclusive de recortes. Então a a pessoa que sofre disso, ela vai sempre ser apontada. É a bêbada, ela não sabe porque ela não quer. É parece que é uma uma falta de força de vontade, às vezes é misturado com com falta de caráter. Eh, se for uma mulher, com certeza ela vai ser bêbada, não sabe porque que é a moral é muito aplicada pra mulher. Se for mãe, então eu vi muitas mães lá no no a falando sobre isso e o quanto isso dói ainda nelas, o quanto todo que um homem passaria, por exemplo, as
mulheres sofrem muito mais. Eh, e se for um homem também, ou se for pobre, por exemplo, vai ter um outro recorte, provavelmente vai parar num num PS, vão ter a os sintomas tratados, mas no outro dia vão ter que trabalhar, vão ter que trabalhar, vão ter que aturar a sua moral também sendo sendo atingida, vão ter que passar pela vergonha, elas vão ter um não vão ter o privilégio, por exemplo, que tem a Heleninha, apesar de mulher, ela tem uma condição de privilégio, ela é internada, ela volta para casa, ela sai do quarto quando ela
quiser. Então, acho que a gente precisa revisitar esse tema eh com a grandiosidade que ele tem, com a importância que ele tem. E eu faço um paralelo que antigamente a gente falava que, que, por exemplo, ir no psiquiatra era coisa de maluco. A gente não pode pensar mais isso, que é coisa de bêbado ou que é coisa de falta de caráter ou de moral, né? Ou acusar só por esse lado. Acho que a gente tem que revisitar esse tema. Eu espero a minha contribuição, o meu estudo, todo o meu empenho é para que isso aconteça
nesses novos tempos. Acho que a gente consegue aprofundar um pouco isso para além dessa primeira camada, assim eu espero. Perfeito. Obrigada, amor. Oi, Paola. Queria seguir falando de Heleninha. A personagem tem dois grandes algozes na novela, que são o Marco Aurélio e Odet. Uhum. que são personagens que caíram no gosto do povo. Marco Aurélio sobretudo vira meme e cortes na internet. As pessoas acham muito engraçados aquelas aqueles absurdos do texto da novela. Queria te perguntar como é que você vê o fato das pessoas acharem graça naquelas falas completamente absurdas desses vilões e se muda alguma
coisa na construção da Heleninha, porque é um personagem muito dramático, né? esses vilões e sobretudo Marco Aurélio acaba sendo um vilão quase cômico. Isso muda alguma coisa na construção da da sua personagem na relação com esses algozes na novela? Hum, não muda. Acho que eu nunca pensei sobre isso, mas não muda. Não muda porque eu acho que a Heleninha tem um uma trajetória muito particular, muito particular. Acho que o entorno dela faz isso ficar mais adensado, essa mãe, a falta de carinho, falta de amor, essa complicação com o relacionamento. Mas eu até respondi, acho que
foi pra Vera, sobre essa dificuldade que ela tem com as relações. Acho que essa dificuldade vem de um de uma coisa anterior, trauma, né? É, é. E e é esse e essa condição mesmo que acompanha. A gente já não sabe quando foi que ela começou, né, a beber, quando ela identificou isso, mas a gente sabe que ela tem, por exemplo, nove internações, se eu não me engano, posso estar sendo, mas em algum momento ali da da do meu estudo do texto tem isso. Não fica explícito, mas é, ela sai agora de uma de mais uma
internação. Eu acho que o caminho dela é muito particular, ela tem uma profundidade dela, dificuldade das relações. Eu acho que o casamento com Marco Aurélio serviu, foi estabelecido, sabe, por um tempo. Não acredito que as relações dela também sejam tão superficiais a ponto, né, de não existir. E a Odet é uma mulher opressora. Eu acho que o humor, o humor tem essa característica. O humor dá uma suavizada em tudo que às vezes é bom e às vezes ela tira a característica principal. E eu acho interessante ver como é que o público vai reagir à atrocidades
que são faladas pela Odet e que são faladas pelo Marco Aurélio, mas com humor. Será que o humor vai conseguir tirar tudo? Será que vai conseguir fazer essas atrocidades virarem coisas OK e plausíveis? Eu não acho não. Eu acho que isso não tira o não tira a densidade da Elini em nada nessas relações. Pelo contrário, acho que só aumentam essa essa condição deles de serem horríveis e trazerem todas essas coisas, né? a misogenia, o machismo, o racismo que a Odet traz, tudo que que eles falam, essas atrocidades vão fazer a Heleninha ficar cada vez mais
composta de uma maneira que faça sentido. Nilson, Paula, você estreou na Globo há 20 anos e desde então 20 anos os holofotes estão todos em você, né? Porque acho que desde o seu segundo papel em novela você já ganhou uma protagonista, né? e várias protagonistas vieram depois. E você sempre foi muito cobrada, né? Muito cobrada, muito criticada pelo teu trabalho, por padrões de beleza, etc, etc. E de uns anos para de uns anos de um alguns bons anos para cá, você de repente emerge como uma deusa da beleza, uma mulher com com um posicionamento muito
forte, uma mulher que serve de exemplo para para outras mulheres, uma mulher com voz e uma voz doce, uma mulher calma. Em que momento que houve essa mudança de chave? Porque a partir desse momento você passou a ser admirada de uma maneira que talvez você não era admirada antes. Em que momento que aconteceu isso? Foi uma foi uma virada, foi uma mudança de chave? O que que aconteceu? Teve isso? Menino, acho que a coisa mais difícil que tem aqui é a gente conseguir responder e sercinta, né? Porque os assuntos são tão bons. Não sei. Não
foi, não foi. Não seja sucinta. Fala, fala. Vocês estão com tempo? tá acontece. Eh, foi uma virada de chave, mas foi uma virada de chave bem demorada, bem longa, bem vivida por mim. Assim, já passei alguns, alguns, como é que eu vou dizer, perrengues, mas é que tudo que a gente passa também é pra gente aprimorar quem a gente é e conseguir emergir de nós mesmas. Então eu fico feliz de te ouvir falar assim com o meu trabalho. Eu nem sei se eu fui tão criticada assim. Eu tenho a sensação de que eu sou pró
trabalho. Então assim, se eu tô fazendo um trabalho e existem críticas e tudo mais, é obviamente que eu não sou blindada e e era menos ainda, mas eu sempre fui pró trabalho. Acho que o trabalho é que vence. Então o meu eh eh eu ter chegado até aqui com certeza foi eu ser aplicada e o trabalho em si. Agora, emergir como essa mulher que tem uma voz mais potente foi bem difícil. Eu tive uma relação muito complicada com a internet, muito complicada com a imprensa, muito complicada. Eu não entendia. Eu comecei a a a ouvir
sobre mim, a passar a responder sobre mim com as perguntas já existindo. Quem é você? Quem era você na adolescência? O que que você gosta? O que que você não gosta? o que que você mudaria no seu corpo. Aquilo me enlouqueceu um pouco. Então, eu tive vários avanços e vários vários retrocessos por conta disso. Eu reneguei internet, por exemplo, eu não conseguia ser uma mulher que conseguia ter posicionamentos, eu não conseguia falar, eu não entendia. Tem um abismo geracional entre, né, na no na minha geração, principalmente com a internet. O que que é internet? O
que que é esse lugar onde a gente precisa se posicionar? Mas a gente, cada coisa que a gente fala, a gente toma uma onda de, né, de pressão, de boessão. E a gente tinha que, mas ao mesmo tempo, a gente tinha que que sobreviver eh falando e sendo interessante por nós mesmos, porque afinal de contas a gente tomou as rédias da nossa da narrativa da nossa vida, né? Então, eu sou fruto desse lugar que eu fui me descobrindo ao longo do caminho e as críticas ao meu corpo para mim eram absolutamente corretas. Eu é que
era errada. E aí eu parto desse princípio que eu passei muito tempo achando que eu é que tava errada. Agora tem uma coisa maravilhosa que eu virei a a, né, uma uma batalhadora, uma sobrevivente aí do do corpo real, que eu nem gosto dessa expressão corpo real. Acho que não faz sentido o corpo real de todos nós que estamos aqui. Mas isso vem muito de um lugar de aprendizado, de quando eu comecei a a a dar as entrevistas e tudo, era assim que você emagreceu para fazer a novela quantos quilos? Não era só meu personagem,
era quantos quilos você emagreceu? Você vai mudar o que no seu corpo? Qual parte do seu corpo que você não gosta? Eu percebi que eu tava me empurrando para um lugar onde eu não cabia. Uhum. A forma era pequena para mim, mas eu achava ainda que a errada era eu. Por muito tempo. Eu achei que a forma que a errada era eu. E vou só fazer uma parte para dizer que eu sou de longe. Não posso ser a a mulher que leva, que é a única a falar disso ou a principal ou nada disso. Tem
outras mulheres aí gritando, estão gritando até hoje sobre isso, provavelmente mais invisibilizadas e com problemas mais graves que o meu. Mas eu me via nessa roupa, nessa roupa que não cabia, nessa forma pequena. Então eu precisei arrumar um lugar de libertação. Eu precisei encontrar para mim um espaço que fosse confortável pro meu corpo, que já existia, pra minha coxa grossa, pro meu braço, que às vezes era chamada de, ah, não sei direito, é biscoiteira, bolacheira, sei lá, eram uns nomes horrorosos e aquilo me pegava de uma maneira estranha. Quando eu me libertei disso, aí eu
consegui entender que não era sobre mim, era sobre um lugar que a maioria das mulheres são empurradas. São empurradas para fazer, para caber, para servir. Percebi que esse mesmo corpo, que às vezes era um um capital social que me levava pros lugares, que me fazia ser desejada e que me fazia chegar a alguns lugares, era o mesmo que fechava portas para mim, era o mesmo que falava: "Não, aqui você não entra, nessa marca de luxo você não entra. A gente não te quer aqui". Eh, era a mesma que falava assim: "Você é boa para isso,
mas aqui a gente tem que te retocar. Aqui a gente vai retocar o teu corpo, aqui vão, a gente vai afinar sua perna." E eu caía nesse golpe de deixar de de inclusive permitir isso. Então, a libertação vem nesse lugar. A libertação foi de aprender que a beleza pode ser aprendida. Eu aprendi a me gostar, aprendi que a minha beleza é possível, aprendi a reparar em outras mulheres também com outras belezas possíveis. E eu acho que o que eu luto hoje é basicamente para existir e querer que as pessoas existam à minha volta com a
beleza que elas tiverem. E se elas não se mostrarem, a gente nunca vai ter familiaridade com esses corpos novos diferentes, com outras mulheres, com outros discursos. E a gente não vai poder gostar, nem achar bonito e nem se libertar. E você fez as fases com a internet? Fez. Isso aí é um outro assunto. Próxima pergunta. Vamos. Fí. A gente agora vai para um pequeno intervalo. Vocês viram que o papo tá bom, todo mundo aqui querendo emendar pergunta, mas a gente volta já já com mais. Paola Oliveira no Roda [Música] Viva. Cultura que aproxima. [Música] Bradesco.
Estamos de volta com Roda Viva que hoje recebe a atriz Paola Oliveira. Na resposta pro Nilson, você falou muito sobre autoestima no fim das contas, como você precisou encontrar a sua para entender que você cabia fora das formas e podia ser feliz ao seu modo. A autoestima parece ser uma coisa que falta muito ao seu personagem, nessas outras camadas de dor que você identifica nela. E essa necessidade de ter um homem eh no qual projetar a felicidade era uma característica da Elininha de 88. que a gente já viu pelas primeiras cenas dela com Ivan que
vai se repetir essa ideia de que precisa ter um homem para ter a sua felicidade. Você acha que passaram-se todos esses anos e muitas mulheres ainda estão nessa condição de só enxergar a sua possibilidade de felicidade em outros homens? E essa discussão ainda é importante? Nossa, é importante sim. Eu acho que a Elelinha tem ali uma condição que ela é obsessiva mesmo. Ela pega um assunto e segue naquele assunto fixamente. Eu fiz uma cena linda depois da dessa primeira eh dessa primeira recaída dela, onde ela diz isso. Eu preciso ter alguma coisa para me apegar.
Eu tô muito solta. É como se a sensação dela não ter uma uma meta deixasse ela mais vulnerável. Então assim, nem vejo que seja com homem. Talvez, talvez eu posso até revisitar isso, mas eu vejo que é qualquer coisa que deixe ela eh fixa, ela menos vulnerável à vida, as condições. Tanto é que ela se apaixona muito pelo pelo Ivan. Eh, e ela esquece os assuntos em volta. AT não perturba mais ela. Ela fica realmente blindada ali. É uma espécie de fuga. Então, mas em relação a outras mulheres, eu acho que um que bom. que
que as coisas mudaram, né, que as mulheres podem eh ter que ter a sua autoestima eh focada e e e galgar isso por outros lados, podem se fixar em outras coisas, porque até a profissão dela fica meio condicionada, né, a essa relação. Ela ela até volta a pintar porque conheceu o Ivan, mas então logo se relaciona com ele. Gente, isso não é spoiler, né? A novela tem 37 anos. É. Então logo se casa com ele, deixa de novo de pintar para ficar em função dele, né? Deixa. Eu acho que isso é uma discussão importante também
sobre machismo, sobre o lugar da mulher nas relações. Sim. E sobre como a gente não pode se abandonar. Eu acho que temos várias vertentes. A vida é um é uma multiplicidade de caminhos. Se a gente deixa, inclusive o relacionamento para mim é isso, tem que ser uma soma, não pode ser uma divisão. A gente não pode estar pautado no relacionamento pelas faltas que eles que eles trazem. Tem que ser pela soma, eh, né, pelo que um agrega na vida do outro. E aí não faz sentido nenhum você abandonar o que você faz, as coisas que
você gosta ou quem você é, ou sua autoestima por ninguém. E se fizer isso é para mim tá errado. Eh, fazendo um paralelo com Heleninha, né? Eu acho que a coisa dela parar de pintar, ao mesmo tempo que ela se motiva por essa paixão, ela se abandona por ele, né? Ela vai ter spoiler, ela vai ter recaída, obviamente ela vai ter recaídas por conta disso. Sim, Marcia, oi. Oi. Então, você falou sobre essa pressão estética, né, que você sofreu ao longo dos anos, até que um dia você falou: "Um belo dia resolvi mudar". Uhum. E
eu vou falar sobre outra pressão que também recai sobre você, que a gente também conversou, né, pra entrevista da revista Ela, que é que é a maternidade, né, essa cobrança que você falou, me cobravam, começaram a me cobrar aos 20, continuaram me cobrando aos 30 e seguem me cobrando agora aos 40. E também na entrevista você falou que considera uma vida sem filhos, né, hoje e que você consegue falar sobre isso, que até um tempo você não conseguia, você ficava cheio de dedos para falar sobre esse assunto. Eu queria saber por que que a sua
opinião, por que que você acha que uma mulher sem filhos, que não quer ser mãe, incomoda tanto a sociedade? Não sei, menina. Eu ainda tô eh construindo essa resposta, mas o que eu posso te dizer é que eu não tenho mais vergonha. Eu tinha vergonha, eu inventava várias coisas, eu inventava coisas e respostas, a mesma do que que da pessoa que me perguntava que que eu não gostava e me inventava coisas. Aí fui, né, você vai achando que realmente o problema é você. Então eu não tenho mais vergonha de dizer que realmente eu considero, considero
para mim é uma escolha agora. Acho que a maternidade é uma coisa tão linda, tão grandiosa, é tão especial para uma mulher que tem que ser uma uma decisão, tem que ser uma escolha. escolha de ter, a escolha de não ter, a escolha de escolher eh eh escolher ter dúvida, escolher, por exemplo, ter depois, que é como, por exemplo, eu que congelei óvulos, eu tenho a eu me dei a possibilidade de escolha, que acho que nem todas as mulheres têm essa possibilidade. Eu acho um, uma dureza assim, um, não vou nem falar retrocesso, porque a
gente já não tá voltando, né? a gente vive isso ainda um pouco. Eh, a gente achar que a vida da mulher e é menor, o papel dela na sociedade é menor, é menos importante, por ela não ter um filho, tá condicionada a um órgão reprodutor, ao quanto ela ela reproduz ou não, né, ou uma condição até do casamento, como ela tava falando. Acho muito injusto. Que bom. E eu descobri que os números são grandes porque quando eu tinha vergonha de falar, eu achava que eram poucas mulheres. 37%, né? por isso. Então assim, é uma escolha
genuína, né? E e tomara que outras mulheres tenham a condição condição assim como eu tive de de escolher. E as mulheres começaram a falar sobre isso com você também. Começaram a falar, começaram a me parar e falar: "Cara, eu também achava que eu era estranha, que eu é que eu era menos mulher, porque assim, eu já fui julgada de ser desde sensibilidade, né? é uma mulher insensível, uma mulher dura, amarga, eh menos mulher, me sentia menos mulher, me sentia menos familiar. Teve uma publicidade que que, enfim, eu tava ali, né, quase para para acontecer e
falaram que era melhor não me escolher porque eu era menos família. Eu falei: "Como assim menos família, gente? Uma família, eu vivo pra minha família, eu aprendi ass só só aqui nessa conversa informal nossa, eu falei mil vezes, meu pai, minha mãe, como é a vida eh em família?" Então assim, era, eu me sentia muito a parte, sabe, muito estranha quando falava sobre isso. Que bom que as coisas mudaram, que bom que a gente pode rever isso e falar com mais tranquilidade sobre as nossas escolhas. É uma escolha da mulher. É isso. Aola, queria falar
um pouco mais sobre essa questão eh de diversidade e de beleza real. A gente teve alguns anos de evolução desse movimento, né, dos corpos reais nas passarelas e nas campanhas. E a gente tem uma onda no mundo conservador e disserciamento de políticas de diversidade e inclusão em várias áreas e que evidentemente afeta também a área da moda e da beleza. Queria saber se isso te preocupa e se afeta a sua relação com marcas, se essa onda já chegou até você de alguma forma. essa onda do retrocesso dessa coisa que caminhou e voltou. É, eu acho
que a gente percebe dificilmente a gente não percebe e difícil quem se torna a pessoa que o Nilson, né, eh, começou ali a a me fazer falar ou a pessoa que aprende a se posicionar na internet ou que tá minimamente no jogo, é difícil da gente não ver essa essa coisa acontecer, esse retrocesso. A e é difícil a gente também não se posicionar eh com marcas. Eu faço assim, não uso algumas marcas. Às vezes a gente comete erros, às vezes a gente não não sabe, não passa batido em alguma coisa, mas o que eu posso
me posicionar, o que o que eu tenho consciência, eu me afasto e me posiciono sim na vida. E acho um retrocesso horroroso. A gente demorou tanto tempo para conseguir e assim, o pouco que eu consegui é pouco diante do que as mulheres ainda estão batalhando, né? Porque é fácil a gente, as pessoas dizem que eu falo muito sobre isso, sabia? Eu já vi, ah, mas vem ela de novo com esse assunto. A gente tem que falar, magra tá aí de volta, né? A gente tem que falar. A gente falando, as pessoas estão me mudando no
no nos Photoshop, a gente falando, as mulheres ainda falam para mim, como aconteceu uma vez até no carnaval e ela falou: "Ah, mulher tem que usar". Tava com a câmera ligada e ela falou: "A gente tem que ser quem a gente quiser". Eu acho isso. Deu uma frase bonita, um conceito bonito. A hora que desliguei a câmera, ela falou assim: "Eh, só eu, só eu que não, porque eu tô gorda eu catei ela assim, eu não sei, me emocionei, eu falei: "Não, você não pode falar isso". Então, você, a gente tem que falar. Quando a
gente sai das nossas bolhas, a gente vê que a gente tem que falar. quem tem a possibilidade de de, né, de reverberar um pouquinho, tem que continuar falando para que isso não seja esquecido ou abafado por um retrocesso eh na moda, em desfile ou qualquer coisa que seja. Eu acho que o dia a dia ainda de quem consegue alcançar um pouco mais e sair das nossas pequenas bolhas ainda é muito válido, que depender de mim vai ser feito. Paula, eh, o seu contrato fixo com a Globo terminou em dezembro de 2023, né? Acho que é
você foi tão certeira pesquisa assim. Eh, antes de Vale tudo, no primeiro semestre de 2024, você foi confirmada para fazer uma série na Netflix, né, Mar Branco, né? Mar Branco. Mar Branco. Eu demorei um pouco a reconhecer o nome porque eu conheço como rabo de peixe. Rabo de peixe também chamado. E aí veio Valeudo. Você abriu mão de uma série internacional na Netflix para fazer a novela. de um contrato milionário. Como é que foi isso? Foi por causa da novela? Nossa, não. Foi, tá um pouco confuso, mas suas informações estão certas. Eu fiz rabo de
peixe, era uma participação pequena, eu fui para lá, eu fiz em em junho do ano passado. Ela deve estrear por agora. Inclusive, esse meu contrato tá contando que eu vá para lá para para fazer essa esse esse lançamento, mas foi uma participação, adorei ter feito, adorei ter voltado a Portugal, porque eu tinha tido uma experiência com filme lá, tinha sido um pouco conturbada. Adorei voltar, adorei ter tendo o meu primeiro movimento de liberdade, né, depois de 18 anos com a TV Globo, era momento que eu tava tentando arriscar quem eu quero ser como artista, né?
Eí apareceu, eu falei: "Vou fazer". Eh, era um personagem interessante, uma dona do tráfego, assim, eu achei interessante. Fui, então tá feita, mas era realmente uma participação bem esse novo relacionamento de trabalho que gerou até alguns memes na própria festa de 60 anos na Globo, quem é por obra pronta, quem é não sei o quê, tal? Muita brincadeira. Como tá sendo para você? Também libertador ou ainda te causa uma certa estranheza não ter aquele vinco? Acho que causou em todo mundo que teve que mudar. Todo mundo causou. Mas também ao mesmo tempo a gente tá
falando tanto sobre liberdade, né? Que que eu vou fazer com a minha liberdade? Quem sou eu? Já que eu tenho a possibilidade de invés de de ter que acatar alguma alguma coisa que seja em pró emissora e e eu fiz isso durante muito tempo, fiz com todo prazer. Mas quem sou eu como artista? O que que eu quero agora? Inclusive, eu tava, eu ia só completar porque eu tava realmente falando com o streaming para fazer uma outra personagem muito importante numa série que eu gostaria muito de fazer quando veio Heleninha. Na verdade, quando veio a
resposta, eu já tinha ido lá buscar o meu teste e tudo mais, então quando veio a resposta e eu achei justo voltar. Qual sério? Qual? Olha ele, olha ele. Apareceu ele. Uma voz daqui. Eu acho que não sei se devo falar, mas eu já volto aí. Mas, ó, eh, eu fiquei muito feliz de voltar pra TV aberta, mesmo tendo a opção de sair, de rever de de novos ares, eu queria me rever como artista. E eu tive a possibilidade de ir atrás de Heleninha. Na hora que ele neminha apareceu, eu falei: "É nesse lugar, é
no lugar onde foi meu grande palco, né, que foi fazendo as novelas na TV aberta para esse grande público. É nesse lugar que eu quero me rever. São essas pessoas que eu quero que elas que elas vejam a Paula em outro lugar e com outras camadas e com esse desafio gigante que ia fazer essa mulher. Então, voltei muito feliz. Foi estratégico também profissionalmente para você fazer a Heleninha. Não diria estratégico, diria afetivo. Eu quis essa mulher muito. É que as coisas, como elas apareceram, vieram um pouco no meio do caminho. Veio uma, outra, veio uma
resposta e obviamente teve uma escolha. Uhum. As escolhas às vezes são doídas, mas são boas. Eu eu eu li também que você falou que você na sua saída do carnaval ali e algumas outras coisas que você acabou abrindo mão e que você tá nos contando agora. Achei que era que eu andei falando, já falar o que que eu falei em função do papel da Heleninha. Ã, porque você tava em busca, você precisava resgatar a Paola atriz. Hum. Eu li essa, eu li essa frase para mim, enfim, você nunca deixou de ser atriz, mas me chamou
atenção porque hoje em dia, eh, os artistas são multitalentos, fazem muitas coisas ser uma dessas pessoas que trabalha em várias frentes. E aí eu queria entender se você eh sente que essa multiplicidade enfraquece um pouco as tuas pontas e você tava se sentindo eh se distanciando um pouco. Você também nunca parou de atuar. Mas que que o que que te fez eh se blindar completamente? É o peso da Heleninha ou você tava de fato se sentindo um pouco mais fragilizada ã na atuação? Enfim, como atriz? Eh, eh, eu acho que que são coisas diferentes. Eu
sempre fiz muita coisa. Eu tenho energia para fazer muitas coisas e fiz isso durante um bom período da minha vida e acho que eu consegui ter êxito nelas, né? Perfeição, nunca teremos, unanimidade nunca teremos, mas eu eu fui bem, eu me considero muito dedicada em tudo que eu faço. O carnaval eu me dedico assim, então não saberia ser de outra maneira, mas eu acho que eu precisava viver isso de uma maneira que fosse intensa para que se alguma coisa não saísse como eu espero, eu não achasse que era por isso, sabe? Talvez fosse foi uma
escolha de me dedicar eh de uma maneira como eu não me dedicava há há bastante tempo, mas isso não quer dizer que eu fui menos nos outros. E nem que eu precisava, é o maior, eu conseguisse levar, entende? Mas eu não quis pagar para ver, a Eleninha é forte, é o teu maior desafio e eu desejei ela. É o maior desafio. O maior desafio é sempre o que a gente tem agora. Eu sempre falo isso, né? É sempre. E a minha carreira foi assim, ela foi ela foi me trazendo novos desafios desde uma mocinha onde
eu tive que substituir uma atriz que eu não sabia, não tava esperando e parar no horário das 9, né, num substituição, pegar 30 capítulos, lei e faz até chegar aqui com a Heleninha. E a Heleninha eu desejei, fui atrás dela, eu bati na porta e falei: "Eu eu posso, eu consigo, deixa eu mostrar". Então assim, acho que eu nem tinha total confiança de que seria, mas eu eu fui atrás. Então, justo que eu me entregasse de uma maneira que eu achasse que era completo, mas em maneira nenhuma eu acho que o que eu fiz foi
menos, teve menos entrega. Nesse assunto da multiplicidade, também da relação com a internet, a gente fala, discute-se muito a questão do influenciador que vira atriz, ator, mas também tem um movimento que eu acho bem capitalismo tardio, que é o ator, atriz, que se torna um criador de conteúdo. E acho que a senhora é um dos eh, né, linha de ataque nesse sentido de ser muito bem estruturado, com pilares de conteúdo, de um negócio que parece, pelo menos, para o amigo internauta aqui, um negócio muito para o senhor internauta, muito bem pensado. Eh, eu queria saber
o espaço que isso ocupa na tua agenda, o tamanho dessa estratégia e o tamanho até se a senhora tiver valores do quanto que isso é por mês, assim de de do tamanho da eh é maior que a Paola Oliveira atriz hoje. A Paola Oliveira internauta. Menino, você foi longe. Pera aí, calma aí. de ganho. É, eu entendi que ele tá falando em de g não de ganho e de persona, porque hoje a senhora é uma influenciadora digital, criadora de conteúdo, talvez tão relevante ou tão importante quanto a Paula atriz ou estão enganado? Não, acho que
é, acho que eu aprendi a ser, você sabe, né, que eu aprendi a ser, não sabe? acompanha. Não, eu vou contar aqui uma coisa, mas é porque Viv Guedes, olha menina, eu já até sabia um pouco quando Viv Guedes chegou, mas tudo era mato, né? Eu lembro que que inclusive eu era considerada uma pessoa muito apática na internet, né? O senhor mesmo me considerou uma pessoa muito apática na internet há um tempo atrás. Difícil ter dito isso. Hum. Vamos rever. Traz o VAR. Não, mentira. Eh, mas grande parte do que eu sou hoje foi por
críticas. Foi por críticas. E eu falava: "O que que tá errado? Tá errado para mim. Tá desconfortável para mim. Eu preciso se eu sou maior, se eu tenho as minhas opiniões e tenho as minhas vontades, os meus desejos, não sabia ainda que era criar conteúdo, mas mas sabia que eu tava incomodada com isso e desconfortável, isso tinha que aparecer em algum lugar. E uma hora eu saí dessa casca, esse desconforto todo, esse desalinhamento comigo mesmo, uma hora apareceu e eu descobri que era que era realmente usar melhor as armas que eu tinha, inclusive a internet
e tiveram algumas, tiveram algumas. Uma delas foi agora, sei lá, há três, 4 anos atrás, eu acho que eu, mas aí foi mais a libertação da coisa do corpo que as pessoas me deram. Eu acho que eu já vinha falando há muito tempo, mas as pessoas passaram a me ouvir. Agora, em relação à internet, foi um aprendizado de um de um longo tempo. A internet foi criada em 2000. A internet é ótima, né? Internet não, mas o Instagram principalmente foi criado em 2010, se eu não me engano. Eu fiz um Instagram em 2011. Em 2012
foi meu primeiro post. Demorei um ano para fazer um primeiro post. E o primeiro, os primeiros posts eram comida. Era comida, não era, era sempre comida, selfie, era assim, todo mundo. Então assim, eu tive uma dificuldade gigante de aprender, de aprender sobre isso, de de me aprender quem eu era nesse lugar. E nesse meio do caminho eu fui descobrindo quem a Paola era, quais eram as fragilidades, o que que eu queria ser. Caí em muitas ciladas, fiz várias coisas que são gafes na internet hoje, mas hoje em dia eu vejo que eu não tinha ferramentas
para saber o que que era, sabe? Eu não tinha ferramentas, eu não conseguia ter aprofundamento nessa coisa que era tão nova e ficou nova pra gente durante muito tempo. A hora que eu entendi, isso só leva tempo, precisa, a gente precisa de tempo. Não adianta a gente ter essa agilidade que, né, que esse pessoal que nasce fazendo assim no nos iPads da vida, não adianta. Eu precisei de tempo. Eu precisei de tempo para descobrir quem eu era, aonde eu queria chegar e usar as ferramentas que eu tinha. Internet é uma ferramenta, uma grande ferramenta. Tem
uma coisa meio de culpa cristã em ganhar dinheiro. As pessoas acham que é menos nobre fazer uma coisa para Tem. Com certeza. Eu acho que tem a ver com a sua pergunta. Eh, eu acho que eu me tornei um meio do caminho. Eu me tornei uma uma não consideram uma criadora de conteúdo, né, que fala sobre a Paola, mas fala sobre a Paola artista. Eu ganho dinheiro. Ganho dinheiro. Não tenho nenhuma vergonha com isso, porque eu ganho eh honestamente com com conteúdos que eu acredito. Então tá tudo certo. Isso não diminui a atriz que eu
sou, porque a atriz também tá ali, né? A atriz tá a atriz tá abrindo mão de coisas para poder ser uma atriz mais entregue, mais entendendo o tamanho dos desafios. Então eu acho que essa mulher tomou um espaço na minha vida. Sim, e eu cuido dela com muito, muito orgulho, porque eu demorei muito tempo para me firmar nela. Então eu tenho orgulho das conquistas que eu fiz e que agora eu posso dizer que elas estão, um pouco delas estão ali na internet para as pessoas verem os posicionamentos e tudo mais e ao mesmo tempo dá
com tanto carinho um pedaço de mim pra minha pra minha atriz, pra minha doce Heleninha. Cabe mais uma rapidinha. Cabe mais uma. Ainda pegando esse gancho. Você é uma atriz que virou é influenciadora, né? Mas a gente vê hoje o caminho inverso, gente que tem milhões de seguidores na internet e isso acaba abrindo portas na dramaturgia. Eh, você acha que isso é um problema? É um problema? Seria um problema? Eu sou muito, é, não vejo como de gente que não tem grande experiência eh como atriz ou enfim, e acaba ganhando papéis e exposição por ter
uma um número de seguidores muito grande na internet. Mais uma vez, eu acho que quem aceita fazer tem que saber o risco que tá correndo. E e também acho que atuar na internet, as coisas passam um pouco mais de de facilidade. Agora a gente tem aqui pessoas que entendem, né, muito de televisão, que acompanha, a gente tá falando de um remake que foi feito lá atrás e que ainda tem tanto vigor, as interpretações e tudo. Então assim, não acho que seja uma profissão fácil. Eu sou muito, eu aprendi, eu estudei assim, eu tenho um apreço
muito grande por essa profissão, essa profissão que inclusive me salva, me cura todos os dias. A gente estava falando um pouco disso, né? Mas acho que tem professores que fazem isso. Eu acho que é muito grandiosa pra pessoa achar que consegue fazer assim. Então, acho que é um risco das duas partes e eu acho que é uma profissão que precisa de de muito mais estofo, vivência, dedicação e eh estudo e que talvez essas pessoas, uma das duas partes vai se frustrar, se não as duas. Com isso, então a gente faz mais um rápido intervalo e
volta já já com mais reflexões com a Paula Oliveira aqui no Rodav. [Música] Cultura que aproxima [Música] Bradesco. Estamos de volta com o Roda Viva, que hoje recebe a atriz Paula Oliveira. Agora aqui nos no intervalo, a gente estava discutindo uma outra camada de preconceito que a novela aborda também, que é a questão do etarismo, né? Com a chegada da Odet, a gente tem essa mulher na faixa dos seus 60 anos, que é uma figura ali autoritária em relação à família, mas que é dona do próprio desejo e vive eh o sexo de uma maneira
muito aberta. E a Manu, a autora Manu, ela Dias, pelo jeito, resolveu escancarar essa sensualidade da Odet, que com a Beatriz era muito mais velada e muito mais criticada. As pessoas tinham a impressão que a Beatriz era muito mais velha do que a Déboré. E elas têm rigorosamente a mesma idade, fazendo a mesma personagem. Você acha que essa questão eh da possibilidade de mulheres de 50, 60, 70 terem uma vida sexual ativa? Isso pelo menos melhorou desde a década de 80? Espero que sim. Espero que sim. Eu gostei da Manuela ter escancarado. Eu acho que
tem algumas coisas lá, né, que que foram mostradas lá atrás que eram super modernas. uma uma mulher alcista, né? Uma alcoolista mulher, eu acho que era um um uma, né? Uma uma coisa diferente. A Odete também tem relações e tal, mesmo que seja velada, mas agora acho que tem que ser escancarada mesmo. Já a gente não quer levantar, não é ser, não é revisitar, é justo que não seja eh abafado ou ou passar por cima. Isso acho ótimo. E falar sobre etarismo, acho que tem, você falou eh tantas camadas sobre esse assunto, né, que é
sobre a mulher ter uma vida sexual ativa depois do dos 60 existir, porque a mulher depois dos 40 não existe, já tem 43, eu não sei nem o que eu tô fazendo aqui no caso, né? Seria isso, não? Então, e as pessoas já falam, já falam para mim falar para eu falar sobre etarismo. Então, eu fico pensando se 43 tô falando eh sobre etarismo, será que é justo com com pensamento tão jovem, né, uma mulher ativa? Mas acho que é quando a gente pensa que com 40 anos a gente já não existia, as mulheres eram
totalmente invisibilizadas, que tinha a ver com ter filhos ou não, que tinha a ver com outras questões para esse abafamento, né, para esse apagamento da mulher. Então eu acho que é justo a gente falar e falar de de é que você falou etarismo me veio na cabeça tudo isso e como a gente usa essas palavras. Eu acho que a gente vai criando familiaridade com as coisas e vai tirando elas um pouco do contexto. Etismo é pra gente falar sobre a condição da mulher com uma certa idade ou é pra gente ficar liberando ela para para
pintar ou não o cabelo? Se ela fica bonita com cabelo branco ou não, sabe? Eu acho que a gente acaba levando para esse lado quase como se fosse novamente uma permissão pra gente poder envelhecer. Eu acho que depois do corpo, que a gente acabou falando um pouco, depois do corpo, a próxima coisa é a gente envelhecer. Ainda bem, né? E eu quero, eu espero que eu também consiga envelhecer tendo uma vida sexual ativa, podendo existir, podendo, para além da minha idade ser uma mulher. Márcia Paula, eh, você também declarou, né, eh, sobre a questão da
que você ia parar nesse ano de fazer publicidade para bebidas alcoólicas, né, que é uma coisa que você vinha fazendo normalmente, mas que por conta da Heleninha você ia dar essa pausa. Que que te levou a essa decisão? E você acredita que depois, Heleninha, você vai voltar a fazer do mesmo jeito? Tenho pensado bastante sobre isso. Eu já fiz algumas campanhas, né? Eh, rei meus contratos. Eu acho que não vale eh eu ser vilada de nenhuma maneira por conta de já ter feito, que as pessoas às vezes fazem isso. Acho que não tem porqu disso
acontecer. Mas o meu o meu olhar para isso tá mudando, tá? O meu crio de agora em diante com certeza será diferente. E o que eu escolhi escolhi nesse período não fazer publicidade, no período da novela Paola, Paola artista, Paola que tá atravessada por essa personagem, que tá atravessada por essa problemática, escolhe não fazer eh publicidade desse tipo. Mas sem dúvida, meu querido vai mudar para o que vem depois. Acho que a consciência da publicidade eh nesse sentido também deve ser revista. Meu desejo é que fosse revista. Não tenho nenhuma pretensão de de mudar de
mudar nenhum de mudar de que as pessoas não bebam mais, né? Pelo amor de Deus. Claro, mas eu acho que revisitar o nosso consumo do álcool, revisitar as publicidades de bebida para além do beba com moderação, já que é uma droga que é tão socialmente aceita, tão socialmente, não só aceita, mas requisitada. A gente a todo tempo, a hipocrisia da nossa parte dizer que a gente não recorre a bebida o tempo todo para para se livrar da da pressão da da vida, das pedradas da vida, do desconforto da vida. E assim, é uma coisa que
tu encontra ali em qualquer lugar na banca de jornal. Então, acho justo. Acho que a proibição talvez não fosse uma coisa eh a melhor coisa. O cigarro foi proibido e as pessoas continuam fumando. Eu acho que a conscientização e das pessoas que eu falei que são também portadores dessa condição, eles falam: "A conscientização já ia ajudar muito a gente conscientizar que essa tranquilidade com que a gente consome talvez seja tão não é o melhor caminho, com certeza. Paola, tem você tem uma característica em relação a isso que não agora vivendo essa questão do alcoolismo, mas
quando você também começou a trabalhar com uma marca de beleza, trabalhando beleza natural, você também parou de usar a intervenção em suas fotos e tanto as suas como exigia que não fossem feitas, né, por terceiros. Passar elas e achei, tá? Começou a já. Uhum. É, então é difícil, é uma batalha difícil, mas é sempre você se posiciona quando você tá em algum lugar de destaque, você vai lá, independentemente do tema e você toma esse esse esse lugar de de levar inclusive pra sua vida pessoal. E eu queria saber o que que isso diz sobre a
importância do do artista e da pessoa pública nas discussões sociais, né, de e o quanto isso tem se perdido hoje em dia com talvez uma geração de artistas que não consigam entender esse lugar ou não levem isso a sério ou se é uma característica muito sua da sua geração, talvez. Não sei que que que diz sobre a classe artística hoje em dia. Só você que faz isso? Não, as pessoas, eu acho que as pessoas fazem, eu acho que tem várias coisas envolvidas. Eu acho que eu passei por um processo grande para me entender. Precisei de
ajuda, precisei de tempo, como eu tava falando, para entender quais eram esses posicionamentos, o que que eu ia eh levar no peito, as coisas que eu ia ter que deixar de fazer, que eu ia eh realmente levar mais duro e levar pra minha vida, levar pros conceitos da minha vida, levar para uma foto, né, com Photoshop, falar: "Não quero, não quero". ou às vezes ser julgada por tá falando várias vezes sobre o mesmo assunto. Então eu acho que eu não sei se eu diria que que a classe artística falta posicionamento, mas eu diria talvez que
tem um excesso de posicionamento. É difícil a gente se posicionar sobretudo. É difícil a gente tá em todas as pautas com coerência, com Acho que a internet também faz isso. Ao mesmo tempo que a internet faz a gente usar as armas de de uma maneira legal, ela faz a gente se perder nos posicionamentos. É que para além, né, do posicionamento, é, é absorver isso pra vida mesmo, né? Acho que é aí que a gente tem a fronteira, tem muito sobre o que eu falei ali, né, sobre a essa moça que falou para mim, falou: "Não,
menos eu que sou gorda". Então, assim, eh, a gente precisa ir para além dos conceitos e às vezes a gente precisa renunciar a coisas. É uma escolha. O tempo inteiro é uma escolha. As escolhas não são fáceis. Às vezes a gente precisa para você poder encarar coisa do corpo real, você precisa se ver e se sentir, se sentir bem. imperfeita, você precisa trazer para além. Eu acho que tem isso, tem tudo a ver com da beleza real, dos filtros, que eu falei muito dos filtros e não tem a ver com o fato de não me
cuidar, tem a ver, mas isso tudo tá na minha vida, você tem toda a razão. Quando a gente passa dos conceitos para uma vivência, para uma experiência, fica mais fácil da gente se posicionar. Se a gente não resolve escolher se posicionar com tudo, eu acho que fica mais fácil da gente ser coerente. Não que a gente tem que ser coerente o tempo inteiro, mas faz parte a gente ter pelo menos uma linha de raciocínio. É isso que eu tento manter. Tento existir com mínimo de coerência. Diga, Carol. Carola, aproveitando esse gancho, né, da defesa da
beleza real, muita gente que vocaliza sobre isso acaba sendo alvo de uma patrulha contrária. Se a pessoa emagrece ou faz algum procedimento estético, o tribunal da internet, mas não era você que tava defendendo, né, o corpo real. Você já se viu nessa armadilha de pensar duas vezes antes de fazer alguma coisa em relação à sua aparência por causa dessa patrulha? A armadilha tá aí, né? Eu acho que a mesma pessoa que falava que eu era bolacheira, biscoitos. Não sei qual é o nome, esqueci. Essa mesma pessoa é a que fala: "É, mas agora ela emagreceu,
mas agora ela engordou e agora ela não tá bem e agora ela envelheceu. Hum, ela fez alguma coisa". Eu acho que a patrulha, pois é, essa patrulha da insuficiência, né, que fica sempre nos colocando nesse lugar, ela tá ativa. Eu f eu tenho sempre a impressão de que quem julga fala muito mais sobre eles do que do que outra coisa. Eh, tenho sempre essa impressão quando a gente quer olhar a foto da pessoa que tá falando, né? Mas mas acho também que a gente não pode se pautar por isso, por essa patrulha. Eu acho que
o que faz a gente ser verdadeira, eh, e conseguir caminhar dentro de um propósito é isso. Eu nunca falei que não ia me cuidar, nunca falei, nunca falei que não ia usar a o benefício da da medicina, da estética a meu favor. Eu sempre me cuidei, sempre fiz isso. Sempre fui julgada por ser eh porque tava gorda ou com celulite ou com a, sei lá, com uma anca grande. Então agora eu não posso me pautar pelo oposto, senão eu vou me perder de mim, sabe? Mas é justo que a gente fique atenta e não se
mudar demais, acho que a gente não pode perder o controle das coisas, mas de maneira nenhuma não usar e não se sentir bem por conta de uma patrulha ou de outra. Olá, ainda sobre a patrulha, mas no outro ponto, lá na época em que você era criticada na internet, eu não lembro exatamente qual foi a situação, você fez uma retrospectiva da sua carreira e deixou de citar a novela Metamorfoses. Isso foi muito criticado na internet. Como assim? Ela esqueceu a a a vida que ela tinha antes da Globo, da Record. Tá escondendo. Horrorosa. É, escondendo.
Exatamente. Fale um pouquinho então sobre metamorfoses, o que é que você lembra? O ou faça aí a sua o seu meia culpa. Sim, ó, vou fazer meia culpa, mas eu falei bastante de metamorfose. Chegou uma hora, eu parei de falar porque as pessoas elas criticavam mais ao invés ao invés de falar: "Pô, legal você fez." Elas foi uma novela, foi a primeira novela que eu fiz. Eu passei do passo repassa, que para tudo isso eu fiz teste, porque as pessoas me perguntam muito sobre o teste de Heleninha. Para tudo isso eu fiz teste. Fiz teste
para Passo Repassa. E meu trampolim para dramaturgia foi essa novela Metamorfose na Record. E eu fiquei tão feliz, eu era tão estudiosa, tão aplicada. Foi uma novela que acabou meio do nada, meio sem jeito, não me lembro nem muito bem o motivo. E acabou que minha primeira experiência mesmo do início ao fim com as pessoas identificando que eu tinha feito aquela novela foi em 2005 com belíssimo. Então eu acho que mais do que do que esconder para baixo do tapete, uma coisa que nossa, tem muito, inclusive eu comecei aqui falando isso, né, falando sobre acho
que metamorfose, se eu não me engano. Eh, é dizer que eu tenho muito orgulho do que eu passei. Tem gente que fala até que eu não que eu não digo que não venho nem da Penha. Você imagina que contigo? Eh, tem uma patrulha aproveitando a onda da patrulha aí. Esse é o bloco da patrulha. foco da patrulha, que é a patrulha da turma que fica comparando cena a cena, take a take, inclusive dos personagens, de um que tá mais parecido, esse que tá mais tal ou mais diferente. Eh, como que a senhora eh vê essas
reações e essas comparações, principalmente no seu caso específico com a atuação de Renata Sorrá e aquele esquema cena a cena, porque eh eh tem muitas comparações, inevitavelmente. Eu já sabia que viria. Acho muito difícil a gente fugir das comparações. Até o que não tem comparações comparam. Então se você tem uma novela que é basicamente a mesma história, você não comparar, eu já sabia que viria. Me chama um pouco atenção ser assim: "Ah, mas tá muito parecida, não gostei, tá muito diferente, não gostei." Falta de consenso. É, é isso me chama um pouco a atenção. Então
assim, eu fico muito atenta. Eu eu vejo as comparações, né? Não sou blindada, não vou ver nada. Claro que eu vejo. Acho que virou um grande esporte, né? É igual futebol, o povo gosta de comentar novela. Que bom. Eu acho que quem tá assistindo, quem tá comentando, vê. Não é possível que a pessoa foi lá buscar uma cena lá, né, atrás e ela não assistiu. Então eu acho que tudo isso gira em torno da novela Sercesso. Eu acho que ela não pode nem ser medida por Ibope. Acho que essa opção é um sucesso. Agora as
críticas que vem a partir daí, eu acho que elas são um pouco frágeis. Eu acho que elas partem de um de um lugar de comparação muito na forma da coisa. Por exemplo, uma das maiores, uma das maiores críticas que tiveram agora foi a cena da recaída. A cena da recaída é uma cena que dá um espaço gigante para as pessoas compararem e para elas gostarem ou não gostarem delas apontarem. Imagina a o bêbado não é um estado alterado. Então assim, um estado alterado pode ser alterado de uma maneira para você, de uma maneira para você,
de uma maneira para para todas as pessoas de uma maneira diferente. A forma da alteração, eu posso beber, levantar o copo, posso beber, baixar, eu posso falar mais baixinho, eu posso ficar quietinha, sentar. A forma é essa, né? E assim, a Renata tinha uma forma. Agora, se isso é preenchido com alguma coisa, e é isso que a gente tá atrás, são das camadas que eu falei aqui, se isso tá preenchido, como isso tá preenchido, eu vou ficar muito feliz quando as pessoas pararem de ser, fazendo aqui uma analogia do da nossa dança dos famosos, quando
elas pararem de ser jurado técnico e pararem e forem jurado artístico, entende? Porque aí você vica, você vai no afeto. Essa mulher bebeu, caramba, ela tá me causando um desconforto. Elen é um personagem desconfortável, ela era em 88, agora ela é também um personagem desconfortável. Então sabe o que eu quero que as pessoas fiquem desconfortáveis mesmo? Porque tem essa expectativa de algumas pessoas que seja quase um lips battle ali, né? Que seja só um dubl, gente. Mas aí é outra coisa, né? Aí é i, né? Só inteligência artificial. É isso. A gente faz mais uma
pausa, vai para um rápido intervalo, você bebe uma água, a gente também e a gente volta já já com mais Heleninha, Paula, Hitman Oliveira. [Música] Cultura que aproxima [Música] Bradesco. Estamos de volta com Roda Viva hoje com a Paula Oliveira. Você falou uma coisa numa das suas respostas. que tá no meu texto de encerramento também, tão dando um breve spoiler, que é essa coisa de teve aberta a novela ainda serem ali os grandes catalisadores das conversas nas redes. Todo mundo aqui tá em algum grupo de WhatsApp comentando a novela. Manuela Dias disse que tá vindo
para um grupo de discussão da novela agora a pouco, um canal eh um streaming internacional que é a Max apostou num novelão e fez sucesso. Beleza, fatal. Eh, você acha que essa lenha que a novela ainda demonstrou ter para queimar era uma coisa absolutamente eh fora da curva, contrainttuitiva? E a que se deve essa longevidade, essa permanência da novela como um formato, um gênero ainda mobilizador das paixões do Brasil? Muitas paixões, né? Eu sou uma apaixonada por novela e encontrei algumas pessoas aqui que também são. Eu também. As pessoas duvidam, acham que eu gosto de
política que nada, eu gosto de nov, tem espaço para tudo no nosso coração. Eu acho que as pessoas também são um pouco extremistas quando elas dizem: "A gente ouviu, ah, novela morreu, não teremos mais". Eu acho que tudo é muito rápido. Eu não acredito nessas coisas assim. Eu acredito em transformação. Acho que a TV aberta, as novelas estão arrumando uma nova maneira de fazer. inclusive quando de serem feitas, inclusive quando a gente fala sobre o remake, ah, deveria fazer, não deveria fazer, por que não? Por que não recontar uma grande história? E eu acho, eu
acredito na arte como um todo, eh, como uma grande arma transformadora. E por que não na novela, aonde chegam tantas pessoas, aonde tem a possibilidade de levantar questões tão profundas, mas de uma maneira que o brasileiro recebe bem, porque o brasileiro consome novela, né? a gente tem os números que são altíssimos e bizarros que vêm dessa dessa TV. Então, acho que vem desse lugar, do brasileiro ainda consumir em transformação, em transformação com esses vários canais de possibilidade, né, e com várias coisas sendo produzidas, mas ainda um canal gigante que chega em lugares e para pessoas
que as outras coisas ainda não tm a possibilidade de chegar. E com essa com esse lado afetivo que as pessoas a hora que elas com as coisas, algumas coisas, inclusive política que a nossa novela tem nas entrelinhas, eu acho que que é válido, que tem muita lenha para queimar, seja no streaming ou na TV aberta, mas esse formato ainda tem muito que existir. Paola, pode ver. Oi, eh, você se tornou símbolo de liberdade feminina, se fala com milhões de mulheres. Uhum. uma referência, né, para nós mulheres. E quando a gente fala sobre corpo, sobre poder
de escolha, sobre querer ou não querer filhos, a gente esbarra na questão do aborto. Eu queria saber como você se posiciona sobre esse tema, diante desse tema e se você é a favor da legalização. Acho que toda vez que a gente fala sobre as questões femininas, tem sempre um entorno que leva a gente a se aprisionar, as decisões não serem só nossas, as escolhas não serem só nossas. Então, acho que parte tudo do mesmo lugar da gente ter o corpo que a gente quer, da se sentir bonita da maneira que a gente é, escolher ter
filhos, escolher fazer um aborto. Eu acho que isso é uma escolha da mulher. Eu sou a favor. Eu acho que isso tem que ser com todas as o que deve ser visto e revisto em relação ao que tem a ver com leis, mas é uma decisão da mulher, tem que ser. Acho que a gente tem que rever, acho um grande retrocesso a gente não pensar nisso como uma possibilidade. Paula, você já disse não muitas vezes em sua carreira, na sua vida? Disse menos do que eu poderia, do que eu queria. Hoje você diz mais. Eu
aprendi a dizer. Aprendi a dizer. Eu achava que isso também faz parte de tudo que a gente falou aqui. A construção para mim sempre foi uma construção. Você Isso é familiar. Inclusive meu pai falava, eu aprendi isso. Não tem nada a ver sobre ele. Foi a possibilidade que ele que ele me deu, né? Mas era: "Você não deve opinar. Ninguém pediu sua opinião. Se não fui feita para opinar, não foi feita para dizer não. Eu fui basicamente eh eh tive uma uma criação de base que era para agradar. Não diz não quem quer agradar, né?
A gente faz, a gente submete, a gente pensa, questiona, mas não diz. Então eu gostaria, acho que eu poderia ter dito, eh poderia ter questionado mais. Eu nem sei se seriam nãos eh absolutos, mas eu poderia ter questionado mais. E profissionalmente, profissionalmente eu fiz escolhas que o mundo questionou, mas eu fiz o melhor que eu podia dentro da consciência que eu tinha naquele momento. Eram as escolhas que eu tinha. Por exemplo, falou-se muito sobre a questão do corpo, que fazia cenas eh de sexo ou de nudez. Eu fiz um filme eh com com o Janquin
e me falaram muito sobre isso, como se tivesse me vilanizando por isso, sendo que eu tava com o corpo a minha eh a serviço do meu trabalho, que também é uma vertente, é uma vertente da mulher, é uma vertente do trabalho, mas era apenas uma vertente. Então eu tenho plena consciência de que eu fiz as escolhas necessárias e as melhores que eu pude dentro do do que me foi permitido. E eu tenho muito orgulho de ter chegado até aqui e poder, inclusive ter mudado a minha imagem em relação a isso. A hora que eu vi
que tava ficando que tudo em relação ao meu externo era mais importante ou que eu vestia ou o meu corpo em si ou se o corpo estava sendo usado ou não para uma cena de nudez e que as pessoas achavam um absurdo. Eu fiz questão de mudar a minha imagem em relação a isso para que as pessoas pudessem mudar também a delas em relação ao meu trabalho. nesses 20 anos, né, de de Globo, eh, o que que a senhora analisa que mudou para melhor e para pior lá e no mercado? Você fala senhora até me
[Risadas] perco. Que que mudou dentro da Globo, da emissora para melhor e paraa pior. Poxa, é difícil essa para mim. Eu eu nem sabia que eu tinha uma carreira, né, e para desenvolver, que eu ia conquistar essa carreira, que eu ia trabalhar 18 anos lá em Interruptos, que eu ia depois de sair durante um ano, eu ia voltar com um personagem que talvez eu diga que é o personagem mais emblemático da minha vida e um que eu desejei muito. Então assim, eu para mim, eu sou muito grata a essa emissora. Acho que essa emissora, ela
é gigante ainda, com todas as mudanças, com todas as reformulações que devem que estão sendo feitas lá dentro, ela ainda é gigante. Aí eu acho que ela tá passando por coisas que continuarão sendo importantes, mas como todo mundo a gente tem que rever. São 20 anos para emissora são, a gente comemorou agora 60, então nada mais normal e justo que ela que ela seja revista. Quando a gente vê atrizes, atores darem entrevista, parece que tem uma necessidade de buscar uma validação como eh atores e atrizes dizendo que vem do teatro, que são crias do teatro
e você desde o começo colocou que você é uma cria da tela, da TV, eh, e sem vergonha disso também. Nisso você é transgressora, você acha e não tem essa necessidade de dizer que a sua origem de atriz, que onde você se alimenta, etc, é na no palco? Pior é que eu me alimento do palco. Pior não, melhor é que eu me alimento. Eu acho que o teatro é a base, é a primeira arte. Eu sou uma fã de cinema, mas eu já tive vergonha de dizer que a minha formação, minha primeira formação, eu sou
formada em fisioterapia, trabalhei um ano com isso, eu trabalhei em hospital, trabalhei com pediatria, enfim, mas a minha formação de base é outra. Então, quando eu cheguei, o meu respeito é tão grande com a televisão, com a atuação, que eu tinha sentia vergonha. falava, eu devia ter estudado mais, eu devia ter feito mais, talvez eu não tenha merecimento de estar aqui. A impostora sempre bate da impostora mora na gente, né, infelizmente. Mas a gente dá um jeito de de sair dela. É, então por muito tempo eu me senti dessa maneira, mas aí eu percebo que
o empenho, o trabalho, os resultados, os não resultados, quando a gente tá atenta, e eu estudei, eu me lembro quando eu fiz belíssima, eu fugia do meu estúdio quando dia que eu não estava gravando e eu ia assistir as atrizes, eu ia, eu trabalhava com a Glória Pires, eu não trabalhava de eh de contracenar, mas elas estavam em outros estúdios, a Glória Pires, a dona Fernanda. Então eu cheguei a a o Tony Ramos, né, e tantos outros, eu ia assistir e isso eu tô falando em uma das coisas do meu desejo de aprender, de saber
mais sobre esse ofício. E eu saí, eu fiz tudo, eu tinha, eu sempre tive acompanhamento de uma pessoa próxima de mim, que pudesse me dar um feedback, pudesse fazer eu eu caminhar nesse ofício. Nunca achei que era o suficiente. Então, o meu respeito é tanto que hoje eu consigo falar com todas. E realmente foi meu grande palco. Eu fui para outros lugares, mas as minhas oportunidades desses 20 anos, como ele falou, estão, né, eh, não só na televisão, como nessa emissora. Então, eu sou muito grata e continuo achando que eu tenho muita coisa para aprender.
Por isso é que eu falo sem vergonha. Bom, você, a gente falou que algumas vezes que você tem a vida bastante exposta, não só por ser famosa, mas por também ser bastante ativa em redes sociais, por ser casada com um cara que também é famoso. Então, acho que tem uma uma amplitude na tua persona ali, né? Todo mundo tem muita curiosidade. Ã, e aí para além da tua privacidade, você foi vítima de stalking, né, de perseguidores assim, né? Acho que mais de uma vez. Uma fã, inclusive foi trabalhar de figurante na Globo para ficar próxima
de você. Tem gente que quer ser marmita da tua família. Isso te assusta? Eu eu amo essa história. Isso te assusta de alguma maneira? te priva de algumas coisas para além da tua fama, porque uma atriz em horário nobre normalmente não fica ainda no supermercado mesmo. Mas isso te, então era isso que eu queria saber, que isso te te você vai à praia, tipo, põe um biquíni no chinelo, vai e realmente não se importa com isso, não só pelo assédio, pela selfie, pela pelo pelo pela conversa lá de, mas também por medo de alguma pessoa
ser perigosa. Eu acho que são, você falou de várias coisas, amor. Eu não sabia nem que eu podia fazer nada disso. Eu nem sabia que eu tinha a possibilidade de ter uma carreira desse tamanho. E hoje eu não consigo ser outra coisa da minha vida. Eu não consigo, não me vejo sendo mais nada. Então, eu tenho um amor tão grande, eu faço, eu a primeira novela que eu fiz, eu eu fui reconhecida no aeroporto e eu achava que eu tava com a roupa errada, que tinha acontecido alguma coisa, as pessoas só estavam me vendo na
televisão. Então, assim, hoje em dia eu não tenho problema nenhum com assédio. Talvez, talvez não seja tão fácil para todo mundo, mas para mim é assim que funciona. Eu recebo todo mundo, eu falo com todo mundo, talvez acho até demais. Não uma foto comigo. Mentira. Mas eh eu eu tenho esse essa relação com o assédium. O problema não é sobre isso. O problema são pessoas que realmente acho que tem um elas passam eh de um limite. E aí eu acho que é é doentil. Eu tive uma pessoa que foi deportada, veio de Portugal para cá,
foi deportada, tentou invadir minha casa, tentou brigar com o Diogo. Foi uma coisa bem Ele tinha feito um boletim de ocorrência no meu nome dizendo que eu tinha roubado coisas dele. Foi uma coisa horrível. Então assim, esse passou do lugar, não é um fã. Essa outra e eh também se apresentou como fã e eu recebi ela durante muito tempo, mas era tão insuficiente. Ela brigava comigo, ela falava: "Você não me dá atenção, você não me dá atenção". Falei: "Eu não sei mais o que fazer". Então eu só eu só demorei um tempo para entender que
aquilo tava passando do limite. Então em nada isso tem a ver com fã, sabe? Eu inclusive eu nunca imaginei ter fã. Eu amo cada um de vocês. Pronto, falei aqui. Eh, mas eu acho que é isso. E o mundo eh nos causa medo, né? Infelizmente. Então, eu acho que esse, eu lido com esse medo na no mesmo lugar. Eu acho que são coisas que a gente tá suscetíveis, suscetível a passar, que tem que tomar cuidado, mas bem separado as coisas. E a praia eu não ia por causa da da do corpo. Eu não ia, não
ia, tinha medo, tinha vergonha. Agora eu vou. E daí dizem várias coisas que eu tenho e amor, cada hora uma uma patia diferente e eu continuo a praia com meu chinelinho. Linda, maravilhosa. E assim, né, Paolo Oliveira, essa deusa não ir à praia por causa do corpo, né? Vocês imaginam todas outras nós mortais, né? A gente vai para mais um intervalo e volta já já com o encerramento desse programa tão necessário. [Música] Cultura que aproxima [Música] Bradesco. Roda Viva tá de volta e quem pergunta agora pra Paola é a Carolina Morena. Queria voltar a falar
de Heleninha. Eh, novela é uma obra aberta, né? Em geral, o próprio ator às vezes se surpreende com o roteiro que recebe, mas a gente tá falando de um remake, né? Apesar do jovem não gostar de spoiler, a novela já aconteceu e todo mundo sabe, pois é o que acontece. Mas às vezes surpreende. Por exemplo, eu e sei que outras pessoas aqui da bancada também acharam que Ivan teve mais química com Heleninha do que com Raquel, pedindo licença aí a Thaís. Eh, você acha que tem espaço para alguma mudança? E você, no fundo, torce um
pouquinho quando você recebe ali o episódio pela Heleninha? Episódio não, capítulo. Capítulo. Tem muito Jan. Ela tá muito geraçãozinha. Muito Jzi. É porque eu comento com dois grupos, tem as coroas e os Janz dos meus grupos de zap da novela. Eu nunca pensei que pudesse ser uma possibilidade eh essa de mudança, porque o trabalho tão fechado na minha cabeça, né, que existe e ao mesmo tempo é tão legal a gente fazer uma coisa, é muito diferente, né? Não é como receber um roteiro fechado de de um cinema, por exemplo. É como você você tem que
seguir aquilo que tá ali que as pessoas estão esperando. Mas não sei, a Manuela tá fazendo bastante mudanças no personagem da Heleninha. Tem bastante e são mudanças muito interessantes porque ela teve que trazer a consciência sobre o alcoolismo, né? Então ela traz desde a primeira cena, ela traz a sensação que os familiares em volta têm que ter, como a gente deve se portar, que eu devo não encontrar os amigos, né? Toda uma toda uma cartilha para isso que ela tá aplicando ali devagarzinho com várias cenas. Então assim, a mudança tá feita, não teria como não
ser não fazer. Agora essa de par, né? Acabaria com outro para romântico. Eu já não sei. Acho que é muito grande. Não. Ou você matar o dete. Aí eu acho ai não. Deixa o det vivo. É, ó. Deixa o det viv. Tá vendo? São muitas vertentes. A gente tem essa nova geração de autores, né? Da qual a Manuela é uma expoente, mas você tem outros. Tem a Rosane que tá fazendo faixa das sete, tem Rafael Montes que fez beleza fatal, tem Lucas Paraíso, enfim, são nomes novos para essa arte que a gente acabou de falar,
é já antiga e muito consolidada no Brasil e que bebe de várias fontes, da internet, das redes sociais, bebe das séries. Eh, como você vê essa renovação também na dramaturgia? Eu acho que a renovação é necessária, né? Você só, a gente só vai ter um novo público se a gente renovar esse público. E essa esse é o trabalho que a internet, por exemplo, faz colocando a novela de em várias plataformas, a mesma da TV aberta, né, da antiga TV aberta, em vários lugares. Eu acho que é a tentativa da gente formar um novo público. Acho
que também é justo que que quem cria, quem quem crie seja renovado também. os olhares são diferentes. A gente tava falando de uma forma de falar que é diferente num grupo e no outro, né? Então, acho super bem bem bem-vinda. Acho necessária que os temas sejam abordados de outras de outras maneiras e será a nova geração vai trazer de outra maneira. Então, eu acho necessário e bem-vinda. Tá aberto? Vamos lá. Eu tenho uma uma questão eh também em relação ao corpo, mas não em relação à estética, em relação à força. Você tem, você já interpretou
uma lutadora, uma policial, você tem essa coisa de ser uma mulher forte, fisicamente forte. Ã, e eu acho que é uma preocupação muito contemporânea, assim, eu, enfim, eu tenho uma filha de 5 anos que magrelinha quer ser forte. Hã, e eu vejo que tem essa essa necessidade, essa esse essa vontade de força física de mulher, porque a gente muito tempo foi caracterizada como mais ou menos feminina por ser mais frágil ou mais forte. Enfim, agora você tá vendo a Helena que é um pouco mais frágil, mas você sempre teve esse punch de mulher forte, você
se sente uma pessoa fisicamente forte, você trabalha para isso e você acha isso importante? Nossa, que delícia de pergunta. Eu sou muito física. Eu normalmente eu eu parto do os meus personagens da a criação deles pelo físico. Eu faço uma aula de dança, faço uma aula de luta. Eu dancei o estileto, por exemplo, para criar Vivig Guedes, que era uma mulher que eu achava que a energia dela era uma energia superior. Eu fiz luta de verdade, graduei faixa e tudo para fazer a Jeisa. Então assim, eu eu nasço corpo. Então é muito importante para mim.
Então você falar que eu sou uma mulher forte, me chamou atenção. Eu falei forte como antes de você explicar o a minha força antigamente era chamada de gordura e era péssima. Então é acho que tem essa ressignificação também. Pois é. É uma coisa eh doida, né? Como como a gente consegue ressignificar e agora aparecer uma força física, né? De um corpo que é que se mostra assim. Eu eu não sei se as pessoas têm preocupação com isso. É engraçado porque as minhas entrevistas de antigamente eu sempre adorava falar que eu era forte. Não, a minha
personagem é muito forte. Personagem forte. É a personagem eu. Eu não, eu sou uma mulher forte. É engraçado, né? A a relação com força que não era física. Eu queria achar achar que a minha força, mesmo que seja para os personagens, era uma coisa importante. E agora eu vejo que não tem nada a ver com isso, né? Tem nada a ver com o tema. música tema da Helena original fala do tempo da delicadeza e a sua interpretação é muito contida. Na verdade, você falou que você sempre busca o físico, mas agora parece que você tá
muito na contenção do gesto, muito no olhar. Foi difícil encontrar essa coisa mais contida, essa coisa mais para dentro. Eu acho que grande parte das da dessa estranheza que as pessoas vem em Apaola fazer é porque eu sou muito solar. Eu sou solar, eu fiz personagens solares, eu fiz a eh eu tenho essa coisa da força física, dessa dessa presença física e da explosão também. Tem carnaval, tem tudo que me leva para ser num outro lugar. Então, uma das primeiras coisas é como é que eu vou fazer essa mulher, porque eu enxergo ela assim, melancólica,
pequena, sem tantos gestos e ao mesmo tempo eu preciso que essa mulher extravaze esses gestos de algum lugar, né? Extravaze uma energia. Então, várias pessoas falaram de uma coisa física, mas que aparece em alguns momentos. Então, assim, é muito delicada a construção da Heleninha mesmo. É delicada porque ela precisa ser contida, ela precisa estar muito mais no olhar, essa melancolia, essa tristeza, essa vulnerabilidade. Mas ela extravaza isso em determinados momentos. E ela extravaza muito quando ela tem as recaídas. E as recaídas me parece estranho para essa mulher que tá ali tão contida, né? As pessoas
falam: "Ah, mas aí ela deu show". Falei: "Poxa, mas aí se ela se ela não der show nesse espaço? a gente não conseguir ver a explosão dessa mulher saindo dessa coisa contida e que claramente ela tá se controlando para isso. Aí a gente quase não conta essa história como ela tem que ser. Então fico feliz de est conseguindo construir ela de uma maneira bastante diferente de mim. Olá, me disseram que você escreve muito bem. Quem falou isso? Você tem vontade de escrever alguma coisa assim, algum livro, alguma coisa nesse sentido ou isso não passa pela
sua cabeça? Menina, eu não tenho vontade de escrever. Eu tenho tenho muitos pensamentos, muitos desejos. comecei a fazer, aliás, uma das faculdades que eu comecei a fazer foi de comunicação. Eu parei falei: "Ah, é muito eh muito pensamento e pouco pouca efetividade para colocar isso no papel. Mas eu acho que escrever faz parte então nossa arte. Eu vou continuar escrevendo coisas para mim, mas nunca nada. Agora, um livro chegou a passar pela minha cabeça, eh, porque eu fui revisitar nessas grandes descobertas que eu fiz sobre mim, eu fui revisitar e aí eu cheguei em lugares
tão interessantes da minha mãe, que eu cito muito meu pai, mas eu sinto pouco a minha mãe, que é uma mulher também de uma vida bastante complexa, difícil. Então assim, eu fui, fui fui na minha avó, que era a mãe do meu pai, queria ser atriz e acabou não sendo. E como ela olhava pras minhas novelas, ela sentava de costa pra televisão. Então, ou seja, você parece ter vontade de escrever, mas parece que a impostora tá dominando aí. Bom, eu acho que o livro talvez não fosse pelas minhas mãos, talvez com ajuda. Isso eu tenho,
né, a tranquilidade para falar, mas mais sobre a história e sobre os achados disso, dessa grande busca dentro de mim mesmo e da minha história, do que a necessidade da Paola mesmo colocar isso no papel. OK. Diga, Márcia. Ô, Paola, você eh tu falou do seu pai, da sua mãe e a gente sabe que para você se tornar atriz fácil, né? você enfrentou o seu pai, né, que você teve uma criação rígida bastante, enfim, você não não teve muito incentivo, digamos assim, você fez por você, você foi à luta e e foi, né? Eh, e
agora você com a Heleninha, você foi lá, correu atrás do papel, cavou o teste e tá aqui brilhando como Heleninha. Me fala um pouco desse traço da sua personalidade, que é de ir atrás, é de não aceitar aquilo que só aquilo que te dão, né? Você vai além. Você sabe que eu achava que não era assim. Eu agora consigo olhar para trás e ver que eu sempre batalhei pelas minhas coisas, sempre tava desafiando. As primeiras pessoas que a gente desafia sempre a nossa família, né, basicamente. Então desafiei, desafiei no melhor sentido, né? Eu fui ousada
de falar pro meu pai que eu queria fazer uma coisa diferente, mas eu me formei na faculdade, entende? existe um uma ousadia e um desafio que eu tentava lá atrás meio sem jeito. Eu digo que a minha carreira veio muito no no estilo sobrevivência. Então eu cheguei, eu tive a minha grande oportunidade, não tirando a nossa querida metamorfose, mas a minha primeira grande papel e que, né, e que as pessoas tavam ali e eh querendo saber e e eu tive essa sensação de da importância que tinha em belíssima, [Música] eu não imaginava que ia ter
a carreira que tive, sabe? Mas eu também não sabia, não esperava que eu ia ter que batalhar por cada coisa, por cada virada dessas na minha vida. E eu fui fazendo, foi estilo sobrevivência mesmo. Quando eu tive essa oportunidade belíssima, eu tive que eu tinha oportunidade, eu tive que aprender coisas, não é que eu cheguei pronta para uma oportunidade, eu tive que aprender coisas sobre aquela oportunidade. Então eu corria, fazia, estudava. Eu acho agora eu falo com mais certeza e com mais clareza de que eu eu não quero aceitar só o que me dão. Heleninha
vem dessa liberdade que eu conquistei. A El Heleninha vem de uma liberdade de uma possibilidade eh real de que a Paula podia fazer esse personagem. Se ia acontecer ou não é outra coisa. Agora, a minha tentativa é real, minha tentativa era válida. Assim como eu fiz com justiça, assim como eu fiz com eh af eh felizes para sempre, foi tudo uma busca minha, uma busca de uma virada. Então eu fiz isso lá atrás sem nem saber que era, mas agora eu vejo eu vejo como uma tomada das rédias da minha vida e que a gente
tem que fazer em algum momento, no âmbito que for. A gente tá a um minuto de terminar e eu não queria deixar de eh deixar o programa terminar sem saber se a sua despedida da Sapucaí foi para valer ou se o ano que vem você vai voltar lá e vai quebrar tudo de novo. Você provavelmente vai me ver pular fora de lá votar de rainha. Não sei. Eu só é como rainha eu levo muito a sério. A gente falou aqui um pouco, levo muito a sério. Eu sou muito apaixonada por aquele lugar, apaixonada por aquela
escola. Eu jamais deixaria eles nessa saia justa de ser ou não ser, vai ou não vai. Mas eu sou deles, estarei lá. Vou até aprender a tocar um instrumento ali, vou dar um trabalho para eles. Maravilhoso. Obrigada pela entrevista. Obrigada a vocês, de verdade. É isso, gente. Nosso tempo chegou ao fim. Agradeço também aos colegas que conduziram essa conversa comigo, Carolina Amoran, Chico Barne, Márcia de Zitzer, Nilson Xavier, Paola Deodoro e Luciano Veronesi. Obrigada a você pela companhia a cada semana navegando pelos mais diferentes temas. Uma das grandes expectativas para esse remake de Vale Tudo,
talvez a mais celebrada novela já exibida, é a escolha para, e ela foi também, né, escolhida para comemorar os 60 anos da TV Globo, era em relação a como algumas discussões seriam atualizadas. E a gente falou bastante sobre isso hoje. O alcoolismo em 1988 não era uma doença tão estudada como é hoje. Doente alcoólico era na época ainda mais estigmatizado do que ainda é hoje. Mas passados 37 anos, o álcool segue uma droga mais socialmente aceita, o que torna muito mais difícil o caminho pro alcoolista se livrar do vício. O sucesso da nova versão do
clássico texto de Gilberto Braga, Leonor Baceres e Agnaldo Silva, agora sob a batuta da Manuela Dias, mostra que esse e outros temas continuam na ordem do dia e que a velha e boa novela segue imbatível como uma paixão nacional. Roda Viva volta na próxima segunda-feira, como sempre às 10 da noite. Eu espero você. Até lá. [Música] [Música] Cultura que aproxima Bradesco. [Música]