Olá, tudo bem com vocês? Hoje eu vou contar vários causos mais impressionantes que já apareceram aqui no canal. Então já deixa aquele joinha para fortalecer, porque essas histórias merecem.
Esse é um caos antigo que aconteceu aqui na minha região. Para quem não conhece, moro num lugar muito perto de aldeias indígenas, no Mato Grosso. As mais conhecidas por aqui são as dos Chavantes e Bororós.
Esse caso aconteceu do lado da reserva indígena dos Bororós. O rapaz que envolveu esse caso se chamava Pedro Afonso. Era um jovem que tinha herdado uma fazenda do avô, que tinha uma estima muito grande por ele.
A fazenda tinha 150 haares, era uma área de baixadão. E Pedro, que era zootecnista, começou a mexer com a cria e recria de gado Nelore. Com o tempo, ele foi fazendo um bom dinheiro.
No começo, ele morava lá sozinho com a ajuda do primo e ficou fazendo a rotina de cuidar dos animais. Quando chegava aquele período de pouca atividade, depois da vacinação e da marcação, o gado ficava mais solto e ele só dava uma olhada diária para ver se não tinha nada de errado. Um dia, Pedro e o Primo saíram cedo para olhar um lote de gado que tinha umas garrotas.
Quando chegaram lá, encontraram sete garrotas mortas, todas debaixo de um pé de manga. Tinha chovido na noite anterior. E o primo do Pedro logo comentou: "Uai, será que foi raio?
" Mas ao olhar na árvore, não havia nenhuma marca de raio, coisa que aconteceria se o raio tivesse atingido a árvore. Eles foram investigar mais a fundo e, ao olhar as cabeças das garrotas, descobriram um pequeno furo em cada testa, algo como um furinho de bala. O primo de Pedro ficou perplexo e, ao abrir a boca de uma das garrotas, notaram que todas estavam sem língua.
Pedro então começou a se perguntar: "Mas que bicho seria capaz de fazer isso? Seria algum índio? Estamos ao lado da reserva dos Bororós.
" Mas ninguém sabia de nada. O primo sugeriu que eles deixassem mais alguns animais no mesmo local para ver o que aconteceria. Separaram três garrotas e as colocaram no mesmo pasto.
Uma semana depois, ao ir olhar, as três estavam mortas do mesmo jeito, com os mesmos furos na testa e sem as línguas. Pedro então decidiu esperar o bicho. Ele amarrou um garrote debaixo do pé de manga e ficou em cima de uma árvore esperando.
Lá pelas 9 da noite, ele escutou algo se aproximando. Ouviu os passos pesados, diferentes de qualquer animal que já tivesse ouvido. Quando o bicho chegou perto do garrote, o animal começou a berrar.
Pedro, assustado, olhou para o garrote e viu uma criatura grande, parecida com um urso ao lado do animal. Ele descreveu o bicho como sendo muito grande, do tamanho de três garrotes juntos. Com medo de ser visto, Pedro apagou a lanterna, continuou observando de cima da árvore, até que o garrote parou de berrar.
Então Pedro decidiu que não deixaria o bicho escapar e atirou nele. O tiro pegou na parte das costas do bicho, perto do coração. O animal, muito estranho, correu para o mato.
Pedro ficou com medo de descer e ficar lá até o amanhecer. Quando desceu, viu o garrote com o furo na testa e sem língua, igual às outras garrotes. Não havia sangue, nada.
Ele ficou apavorado e contou o que havia acontecido, mas ninguém acreditou. Achavam que ele estava inventando uma história. Passada uma semana, Pedro soube que o cacique da aldeia dos Bororós tinha morrido de um tiro nas costas.
Na cultura indígena, dizem que quando um índio fica muito velho, ele se transforma em um bicho para fazer fusarca nas fazendas. Pedro, ao saber disso, não tinha mais dúvida do que realmente aconteceu. É impressionante o jeito que ele conta essa história.
E, por mais que pareça algo inacreditável, há muito mistério nessa relação entre os índios e a terra. Eu acredito e repasso essa história para aqueles que gostam de [Música] ouvir. Era um rapaz que trabalhava no fazendão.
Aí disseram que ele morreu. O rapaz ficou doente, tinha uns 30 e poucos anos e era solteiro. A família dele não sabia.
Ele tinha vindo do norte, nessa fazenda que era em Mineiros ali em Goiás. A família falou mal, né? E naquela época enterrava-se na própria fazenda.
O rapaz morreu e foi enterrado ao lado do pai, num cemitério bem antigo. Rapaz, ele foi a primeira pessoa a morrer ali depois de mais de 50 anos. Eles fizeram uma missa bem tranquila, porque o fazendeiro era bem religioso.
Ele fez questão de fazer a missa para ele. Aí, beleza, o terror passou. Três dias depois, um outro rapaz que trabalhava lá, ele era bem cismado, sabe?
Ele via nervosia, lobisomem, boitatá, mão de cobra, tudo que ninguém via, só ele. Ele falava para as pessoas, dizia: "Eu vi isso, vi aquilo". E o povo ficava todo bagunçado.
Aí, um dia, os mantimentos dele acabaram. Ele morava num ranchinho perto do curral. A sede principal estava fechada.
Ninguém estava lá, só ele. O povo da fazenda estava na folia de reis, numa outra fazenda. Então ele ficou sozinho por ali.
Ele pensou: "Vou ficar aqui mesmo, tranquilo". Chegou de tardezinha depois de trabalhar, foi fazer um arroz para comer, mas não tinha nada. Não tinha arroz, café, feijão, carne, nada.
A fazenda estava vazia. Ele pensou: "Agora o que eu faço? Mato uma galinha para comer?
" Não, o patrão não gosta dessas coisas sem pedir. Aí pensou: "Vou lá no vizinho pedir mantimento. " O vizinho também não gostava de festa, então ele pensou que talvez ele estivesse lá bebendo com o povo.
Ele foi a pé, uns 2 kilone. Chegando lá, jantou, conversaram e quando terminou de jantar, começou uma chuva daquelas de matar, com ventania e tudo. Aí ele falou: "Muito obrigado pela janta.
Amanhã cedo vou na vilinha comprar os mantimentos. Muito obrigado. Tava morrendo de fome.
" Ele foi embora no meio daquela tempestade e quando estava passando perto do cemitério onde o rapaz tinha sido enterrado, viu uma bola de fogo vermelha vindo em sua direção. Na hora ele pensou: "É o boitatá? É isso mesmo.
Ele vai me matar. Tô sozinho nesse lugar. Ele ficou apavorado, deu um pulo, pegou a estrada de volta pro vizinho.
Chegando lá, falou: "Comadre, comadre, me ajuda! Vi o boitatá vindo atrás de mim. Ele vai me matar.
Não posso ficar sozinho naquela fazenda. Me leva lá. " O fazendeiro ficou meio desconfiado, mas pegou a espingarda e entregou outra para ele.
Juntos foram em direção ao cemitério, onde ele tinha visto a bola de fogo. Chegaram perto com medo, apontaram as armas e gritaram: "Quem é aí? " Ninguém respondeu e a bola de fogo continuou vindo.
Quando chegaram bem perto, o fazendeiro que estava com a espingarda, falou: "Não atira não". Quando ele olhou de perto, era um outro peão que tinha bebido demais na noite anterior e com a chuva dormiu dentro do paiol. Ele tinha feito uma tocha com pano e veio vindo em direção à outra fazenda.
Os dois se assustaram, achando que era assombração, mas não era nada disso, só o peão perdido na chuva. Imagina a bagunça, né? Como é que pode?
O negócio é que quando se bebe demais, qualquer coisa vira assombração. E é isso, rapaz. Não se arruma confusão onde não tem.
Havia um casalzinho de velhinho, já era casado há 60 anos. Disse que no primeiro dia de casamento, lá quando saíram da igreja, já ganharam a terra do pai da moça. Na época moça.
Aí viveram lá 60 anos. quatro filhos tiveram. Os filhos já estavam tudo encaminhado, vivendo suas vidas na cidade e os dois lá.
Aí tinham tudo, as criação e tudo, mas tinham mais aquele vigor. É claro. Os dois já passavam de 80 anos, mas trabalhavam ali, tiravam um leitinho, vai.
Tirava leite, tratava de porco, galinha. Eles moravam assim na frente da rodagem, o curral de frente com a rua, com a estrada, a casa também. Do outro lado tinha uns vizinhos.
Aí quando era serviço demais para eles, gritava o vizinho. O vizinho vinha ajudar. Era uma vizinhança assim, muito boa.
Aí, rapaz, o ruim ali só era o velho, coitado. A velha ainda tinha um vigor a mais. O velho estava mais judiado.
Ele, como a vida toda, trabalhou no pesado. Era diabetes, era isso, era aquilo, já estava mais judiado. E as vacas, mesmo sendo vaca gersolanda, uma vaca bacana de tirar, mansa, já tinha levado uns pisão de vaca.
Ele tinha um pé quebrado e, por conta da diabetes avançada, não sarava. Aí ficava meio infeccionado e virava aquele trem todo. Aí num dia daqueles rapaz deu uma ruinzeira nele.
Acordou meio arruinado. Tiveram que levar ele pro hospital à pressa. Ele falou que não queria de jeito nenhum.
Me leva não, que eu quero morrer no meu chão. Mais antigo tem disso, de ter esse apego com o chão, com a terra dele. Aí levaram lá no médico, dois, três dias faleceu.
Aí foi aquela tristeza, os quatro filhos ali e tal, aquela coisa. Aí os quatro filhos pensaram: "Agora vamos tirar mamãe de lá. Mamãe sozinha naquela terra lá não serve de nada.
Como é que vai ficar? " Chegaram na velha para falar. A velha foi a mesma coisa que xingar ela todinha.
Não saio de jeito nenhum. Eu vou morrer aqui. E se precisar de eu ir pro hospital, eu não vou também.
Eu morro aqui. Isso aqui é a minha terra, onde eu criei os meus filhos, fiz minha vida. Não saio.
Foi redutível, rapaz. Não saiu mesmo não. Eles ainda tentaram tirar a força, moço, mas a velha já catou quase uma faca ali.
Não saio não, de jeito nenhum. Aí, rapaz, ela ficou. Eles tiveram que falar pros vizinhos.
Qualquer coisa aí vocês ligam pra gente. Vocês puderem dar um auxílio pra mamãe. Ela não quer sair de jeito nenhum.
Ela quer ficar aí. Aí foi ficando, foi ficando, foi ficando. E volta e meia, quando eles iam lá visitar ela, rapaz, ela sempre lembrava: "Eu tô para morrer, eu tô sentindo que eu vou morrer.
E eu vou avisar vocês: não vende essa terra. Essa terra é herança nossa, da nossa família. Eu e seu pai aqui fizemos de um tudo para criar vocês aqui, vivendo nossas vidas aqui.
Isso aqui tem que ficar com vocês, com a nossa família. Depois que vende, acaba com tudo. Vocês também adquirem outra terra.
Tem um pouco disso. Hoje em dia, os herdeiros vende e depois nunca mais adquire nada. A maioria é assim.
Vende para ir pra cidade e aí, cadê? Nunca mais vai conseguir adquirir uma terra dessa, que terra só encarece cada vez mais. E ela falava: "Não vende nada".
Aí durou um pouco, rapaz. Disse que os vizinhos, como era a casa uma do lado da outra, assim, do lado de cada estrada e a casa do lado de lá, sempre viam ela. Ela acordava muito cedo, punha o café, ficava estelando ali as folhas, mexendo.
Pessoa de mais idade tem a rotina bem estabelecida. todo dia a mesma coisinha. Aí, num dia daquele cedo, não viram ela lá no quintal nem nada, luz acesa, coisa que ela apagava durante o dia.
Aí, quando foi meio-dia, aquele sol quente, aquele calor, começaram a ver, moço, quiseram entrar pela janelinha do banheiro, aquela janelinha de tramelinha. Aí ligaram pro filho dela. Tem alguma coisa estranha?
Sua mãe não acordou hoje. Foram lá abrir a porta. A mulher tá falecida em riba da cama.
A tristeza toda daquele negócio em terra, aquele trem todo e tal. Passou o luto, reuniu os quatro irmãos. E agora como é que nós faz?
Nós vem de a terra. Como é que faz? Aí dois dos irmãos falaram: "Não, não vai vender.
Nós não assina para vender de jeito nenhum, porque mamãe falou que não é para vender. " Aí começou a confusão, rapaz. A terra ficou na família, mas só depois de muito trem esquisito acontecendo com comprador, cobra, prego e até um boi atacando gente.
Rapaz, diz a lenda, que era a alma da velha de sentinela, protegendo aquilo tudo. E eu te falo, viu? Tem coisa que é melhor não mexer, que a terra tem dono vivo ou [Música] morto.
Rapaz, o cabôlo tinha lá a fazendinha dele. Vivia uma vidinha muito farturenta. Moço forte dele lá era o gado, gado mestiço, bom de leite, bom de corte.
Não é que nem esse nelore que tão moçado hoje em dia, que é só mais de corte, um gado que dá pouco leite. Malemá para bezerro. Ele vivia lá naquela vidinha.
Devia ter o quê? Uns 70 anos, mais ou menos. Já tem um bom tempo já.
Aí, rapaz, o cabôclo vivia lá com a mulher e o menino de 12 anos. Esse menino dele era um ouro, rapaz. Sabe aquele negócio do pai viver tranquilo porque sabe que tem um herdeiro bem estabelecido que vai seguir o legado dele?
Era esse menino, rapaz. O cabôlo tinha esse menino dentro de casa e o menino fazia de tudo. Gostava de ajudar o pai, lidava com o gado, assim como quem nasceu para coisa.
Aí, rapaz, diz que saiu os primeiro trator. Esse cabôlo ficou encucado. Rapaz, mas eu tenho que comprar um trator que isso vai avançar muito o serviço na fazenda.
Ele já tinha um dinheirinho e falou: "Não, eu vou precisar vender umas vacas. " Juntou 15 vacas das melhor parida, com os bezerrão já bem apuradinho, deixou loteadinha ali caçando o comprador lá na propriedade dele, coisa de uns 1000 m da serra. Do outro lado tinha um fazendeirão comprando terra em tudo quanto é banda.
Aí chegou um funcionário desse fazendeiro lá na porta dele para olhar esse gado. O homem olhou e falou: "Ó, esse gado aí é do gosto do patrão". Aí já conhecia o sistema desse fazendeirão rico.
O funcionário dele falou: "Você sabe como é que é. O patrão não vem olhar. Tem que levar para ele lá.
Eu sei que ele vai gostar, mas é bom sair comigo. O senhor manda esse menino seu lá. Ele paga em espécie e pronto.
Vou pela serra que dá uns 8 km, é mais ligeiro e eu preciso que um dos seis vá, porque o gado não me conhece. Se uma dessas vacas ou um bezerro cismar, eu sozinho fica difícil. Cabôclo não podia levar o gado, mas o menino, ah, o menino ia.
Combinaram o dia certinho. De manhã cedo, o funcionário do fazendeirão chegou lá. O menino já tá com o cavalo arriado, o gado no curral.
Tocaram os bichos, chegaram no pé da serra e começaram a subir. Diz que era assombrada, tanto de dia quanto de noite. O povo via um lajedão de pedra numa curva, e do nada aparecia um caixãozão preto, esquisito, de dia ou de noite.
O povo já estava acostumado a ver aquilo, mas naquele dia não viram nada. Desceram à serra, chegaram num grotãozinho e de repente o gado espirrou. Não se sabe se sentiram uma onça ou o quê.
O gado manso daquele jeito desviou. E moço, foi uma luta. Bezerro para cá, vaca para lá.
Só os dois gritando para juntar o gado. Sem almoçar, sem nada, brigaram com esse gado até umas 4 da tarde. Levaram pro curral do fazendeirão, que dava uns 3 km.
Chegaram lá umas 5 da tarde. Pensa numa luta. O fazendeiro gostou, pagou certinho.
Aí o menino já foi montando no cavalo, já tava escurecendo, mas era dia de lua cheia. O fazendeiro falou: "Não vai não, moço. Dorme aqui.
Vai que acontece alguma coisa. " Mas o menino não quis saber. A lua tá clara.
Eu vou pela serra e em meia horinha tô lá. foi cruzou aquele espaço e quando chegou no pé da serra lembrou do caixão. Virgem Maria, sozinho, quase de noite.
Nunca andei de noite nessa serra. Já mandou o sinal da cruz e foi a galope. Quando chegou no lagedão, o cavalo empacou.
Meu Deus do céu, o trem tá lá, pensou. Eu vou dar uma esporada violenta nesse cavalo. Ele vai disparar e eu nem vejo o que tem ali.
E foi o que fez. Esporou, chicoteou e o cavalo disparou. Só deu tempo dele olhar de rabo de olho e ver o vulto do caixão.
E aí, meu amigo? Foi mais espora ainda. O cavalo desceu a serra que nem alma penada.
O menino perdeu o cabresto, abraçou o pescoço do cavalo e foi com Deus. Sorte que a porteirinha da casa tá aberta. O cavalo entrou no terreiro e só não invadiu a casa porque tinha um degrau.
Bateu no degrau, o menino voou e caiu de cambota para dentro da área. A mãe veio correndo, o pai também. Menino, o que que você fez com esse cavalo?
Você tá doido? E o menino branco igual cera. Pai, pelo amor de Deus, deixa eu quieto.
Amanhã eu te explico. No outro dia contou tudo. Pai, eu vi o caixão.
O cavalo disparou e foi Deus que me trouxe. E esse causo ficou na história. Rapaz, o caboclinho trabalhava numa farinheira todo dia mexendo com essa farinha.
Aquele trabalho árduo, né? levava o menino dele de 6 anos para ficar brincando ali por perto com uns carrinhos de pau que ele mesmo tinha feito. Isso lá no Amazonas, na beira da mata.
A farinheira de um lado, a casa deles ali de banda. O menino sempre ficava ali olhando o pai trabalhar, brincando com os carrinhos e o pai, atarefado, não dava muita atenção. Nisso, o menino lá brincando, o pai ocupado, e de repente ele começou a escutar um passarinho.
Diz que o canto desse passarinho entrava dentro dele. Parecia que chamava ele para dentro da mata. Ele olhou pra beira do mato e viu o passarinho.
Mas não era passarinho comum, não. Era um bicho grande, azul, com umas plumagens diferente, coisa que ninguém nunca viu por aquelas bandas. Bonito que só vendo e cantava chamando.
O menino encantado largou os carrinhos e foi atrás. O pai, ocupado no trabalho nem viu. O passarinho ia cantando, pulando de galho em galho, e o menino foi indo, foi indo cada vez mais para dentro do mato.
Quando deu por si, o bicho sumiu, o canto cessou e ele estava lá rodeado de mato para todo lado. E quem já andou em mata fechada sabe. Você entra 100 m sem referência, já era.
Não volta mais, não. Se não tiver alguém gritando para te dar direção, pode se perder fácil. O menino começou a gritar: "Pai, mãe".
Mas dentro do mato um grito não é nada, né? Ninguém escutou. Escureceu e o menino chorou.
Chorou, mas aí entendeu. Eu tenho que me abrigar. No Amazonas a mata é alta.
Aquelas árvores de 50 a 60 m com umas raizonas que sai para fora da terra. Ele deitou debaixo de uma dessas raízes e dormiu. Mosquito para todo lado, aquela coisa.
Diz que sonhou muito, só sonho bom. Quando acordou, pensou que tinha sonhado que tinha se perdido, mas olhou pros lados e viu que era real. E bateu o desespero de novo.
Começou a andar, gritando: "Pai, mãe, de novo, mais nada! E quem se perde no mato quando começa a andar sem rumo, só piora a situação. O certo é achar água, fruta e ficar parado para esperar alguém achar.
Mas o menino não sabia disso, né? Foi andando, andando e se embrenhando mais ainda. Passou nove dias dentro do mato.
Dias. Um menino de 6 anos, pesando uns 20, 25 kg, foi definhando. Água tinha bastante e erapoca de jatobá, então tinha muito jatobá pelo mato.
Ele comia aquilo, umas frutinhas do mato, mas isso não sustenta ninguém, né? Segura a fome, mas não dá força. No nono dia, o menino estava tão fraco que nem andar mais conseguia.
Ficava encostado num pé de pau, dormindo para conservar energia. Diz que nesses momentos o corpo sabe o que fazer, né? Quase todo mundo que se perde no mato faz isso sem nem pensar.
Aí, fraco que só encostado no pé de pau, o menino sentiu alguém pegar no ombro dele. Menino, você tá perdido? Tá precisando de ajuda?
Ele abriu os olhos, nem acreditou, achando que era mais um sonho. Mas não era não. O homem tava ali mesmo.
O menino já se agarrou nele. Tô perdido! Gritei meu pai, gritei minha mãe, fui atrás de um passarinho e me perdi.
O homem pegou ele no colo, botou no ombro e começou a andar. foi conversando com o menino, perguntando o nome, idade, se estudava, quem era o pai. O menino ia respondendo e nisso nem 20 minutos de caminhada e já estavam na porta da farinheira.
O homem baixou ele no chão e deu as costas. O menino olhou e viu a casa, o pai ali desesperado, que já tinha dado o menino como morto. Nove dias era muito tempo, já tinham perdido a esperança.
Quando ouviram o menino gritar: "Pai! " Correram, abraçaram ele, mãe chorando, os irmãos tudo alegre, aquela coisa. E o menino, ainda com a cabeça funcionando direitinho, olhou para trás para agradecer o homem.
Mas cadê o homem? sumiu. Contou pro pai e pra mãe que tinha seguido um passarinho e que um homem ajudou ele.
Tentou explicar como era o homem, mas ninguém conhecia, nunca tinham visto por ali. O tempo passou, esse menino cresceu, virou pastor e com o tempo ele entendeu o que tinha acontecido. Aquele passarinho lindo, maravilhoso, que ninguém nunca viu, era o capeta, levando ele pro mato para ele morrer lá dentro.
E aquele homem que apareceu para salvar ele era Deus, era Jesus, que veio dizer: "Não, o capeta não vai te levar, não, você não vai morrer aqui". E olha, eu facilmente interpreto essa história desse jeito também. Lá no Amazonas tem muito caso assim.
Teve até aquele menino, o Nilson. que sumiu no mato também, ficou dias perdido e depois apareceu do nada. Isso acontece muito.
Tem coisa que a gente tenta entender, mas não consegue. Só sabe que tem algo maior por trás dessas [Música] histórias. A gente conta muito caos aqui daquele camarada que leva a gaia da mulher e vai lá lavar a honra, né?
Tem disso hoje em dia? Tem também sempre vai ter. O mundo é desse jeito mesmo, né?
Não tem o que fazer. Mas não tem só esse tipo de camarada. Tem outros tipos, outras qualidades de corno, não é verdade?
E eu vou contar uma outra qualidade aqui para vocês. Vocês vão assuntar aí. Olha só isso.
Tinha um camarada molecão assim de 19 para 20 anos. Ele morava na fazenda com os pais ainda, porque o pai dele trabalhava na fazenda. Ele não trabalhava de verdade na fazenda, era tipo ajudante do pai e o pai dava umas gorjetas para ele e tal.
Só que aconteceu não sei o que lá, que o pai dele e a mãe dele tiveram que ir pra cidade. Não sei se foi por causa de doença ou outra coisa, mas tiveram que ir. Aí o rapazinho falou: "Não, pai, mãe, eu vou ficar aqui na fazenda.
Eu já sei tudo que o pai faz. Vou conversar com o patrão, mostrar que sei fazer as coisas e fico morando na casa da fazenda". O pai e a mãe deixaram, conversou com o patrão e ele passou a ganhar o mesmo que o pai ganhava.
E nisso, rapaz, ele trabalhava a semana toda. Quando dava no sábado de tardezinha, ele ia pra cidade visitar os pais e festar na cidade, mexer e virar, né? E aí que vem o caso.
A mãe dele morava num bairro mais periférico e tinha uma vizinha, mulher solteira, com uma filha muito bonita. Essa vizinha viu ele e chegou pra mãe dele. Ah, mas você tem um filho?
Eu tenho uma filha da mesma idade dele. Aí apresentou os dois. Dali engatou um negócio.
Começaram a sair, conhecer, namorar. E então o rapaz, a mocinha brigou com a mãe e foi se queixar com ele. A gente já namora há tanto tempo.
Eu brigo muito com minha mãe. Você podia alugar uma casa aqui e morar junto comigo? Ele falou: "Não posso.
Não saio da fazenda por nada. Gosto demais do meu serviço. Mas fez o seguinte, alugou uma casa para ela, mobiliou tudo, ajeitou e botou ela para morar lá e seguiu a rotina.
Semana na fazenda, final de semana na cidade. Só que a mãe dele começou a notar uns movimentos esquisitos na casa. Ela chamou ele.
Meu filho, essa mulher é sua? Não quero fazer fofoca, mas tô vendo uns movimentos esquisitos lá. Ele não acreditou.
esnobou a mãe. Mas o tempo passou e a moça engravidou. Barriguinha foi crescendo e ele foi desconfiando.
Começou a notar que ela o refogava, né? Não queria mais furunfa. Aí um dia ele resolveu testar.
Em vez de ir pra fazenda na segunda, ficou de tocaia. Ficou o dia todo dentro do carro esperando. De tardezinha, lá paraas 5 e pouco, apareceu um camarada.
Nem bateu palma, nem nada. só abriu o portão e entrou. Ele viu aquilo e falou: "Não é possível, meu Deus do céu.
" Ligou o carro e foi pra fazenda. Não quis nem ver mais nada, já sabia. Passou um tempo e nasceu o menino.
Ele olhou e de bebê não dava para desconfiar. Mas quando o menino foi crescendo, ele começou a anotar e já sabia a cara do camarada que entrava lá. Depois de um tempo, bateu o olho e pensou: "Esse menino não é meu.
" Ficou remoendo aquilo quase dois anos, até que chamou a mulher para conversar. Eu sei que esse filho não é meu. Eu vi tudo.
Aí ela confessou: "Antes de te conhecer, já ficava com ele. " E ele disse: "Não tem problema não. A única coisa que eu quero é que você largue ele.
Esse menino tá no meu nome, é meu filho. E eu quero que você nunca diga que ele não é meu. " E rapaz ficou nesse molde.
O povo fala que essa mulher continua traindo ele até hoje. E ele continua lá criando o menino e fingindo que nada aconteceu. Então assim, existe o corno que lava a honra, mas também existe o corno manso.
Tem todo tipo de corno. Eu só sei desses dois, o manso e o bravo. Esse camarada não tem honra para si mesmo, né?
Feio demais. Eu acho que é quase tão feio quanto o que lava a honra. Deus me livre.
Tem causa demais assim, viu? Tem gente que é doidinha da cabeça. Um cabôclo chamado Tenório.
Rapaz, isso não é nome tão comum no Nordeste, não. O cabra tinha 30 e poucos anos, mas aparentava ter quase 60. Sofri do mesmo daquele jeito.
A pele bem esturricada do sol do sertão, daquelas regiões áridas e secas. Diz que ele morava numa terra cedida. Era uma terra tão ruim que o fazendeiro nem queria.
Então deu para ele. Olha, a terra não dava nada, só feijão. E era isso que ele comia todo dia.
Feijão cozido. Tinha três menino e a mulher magrinha. magrinha de dar dó, a pele seca igual papel.
Os meninos, ele até brincava. Na barriga desses meninos tem mais água do que na cacimba. Era verdade, porque os bichinhos tudo com barriga d'água.
Rapaz, mesmo com senso de humor e tentando levar a vida de um jeito menos triste, ele reclamava. De vez em quando tentava buscar novas oportunidades, mas ali naquela região não tinha serviço, não tinha nada. Aí, um dia desgostoso demais com aquela situação, falou: "Não, eu vou ter que mudar aqui, não tem jeito não.
" O engraçado é que essas pessoas vivem na dificuldade, mas não pensam em sair do lugar, né? É o apego, o apego à terra onde nasceu. Mas ele não.
Ele falou: "Eu vou mudar minha vida, não tem outro jeito". chegou no compadre dele e falou: "Compadre, como é que eu faço para mudar de vida? " O compadre era da cidade grande, tinha uma vida um pouco melhor financeiramente e disse: "Compadre, na sua situação, olha, o único jeito de você mudar de vida é fazendo um trato com coisa ruim.
Olha, esse tenório não tinha escolaridade nenhuma, não tinha religião nenhuma, nem sabia o que era esse tal de coisa ruim. " falou: "O que que é isso, compadre? " E o compadre disse: "Coisa ruim é o capeta, o inimigo de Deus".
Aí Tenório falou: "Se for inimigo de Deus, então não quero não. " Mas o compadre insistiu: "Você quer mudar de vida ou não quer? Porque se quiser tem que fazer esse trato.
" Ele ficou com aquilo na cabeça. Passou a semana, pensou, pensou. Aí um dia ele foi comprar sal, porque na época sal era um trem caro.
Comprou o sal, voltou pro rancho e continuou naquela vida sofrida, mas não parava de pensar no que o compadre disse. E se eu fizer esse trato? Aí lembrou que o compadre tinha explicado como era.
Vai numa encruzilhada de estrada meia-noite com uma vela acesa que ele aparece. Rapaz foi dito e feito. De tanto sofrer, ele foi.
Chegou na encruzilhada meia-noite com a vela acesa. Deu pouca hora, apareceu um homem de chapéu encapuzado num cavalo. Eita, é o coisa ruim.
O coisa ruim olhou para ele e falou: "Não sou coisa ruim, sou coisa boa e tenório. Se é coisa boa, eu preciso fazer um trato. Minha vida é triste, precária.
Quero enricar, quero ter dinheiro, dar comida pros meus filhos, oportunidade para quem precisa". O coisa ruim respondeu: "Fácil. Eu te dou tudo isso, mas em 20 anos venho buscar tua alma".
E Tenório pensou: "20 anos? Tá bom demais", assinou o trato. "Rapaz, foi rápido.
Poucas semanas e a vida dele virou do avesso. Ficou rico. Saiu do Nordeste, foi pro Mato Grosso, comprou fazenda, gado.
Os meninos ficaram fortes. Tudo melhorou. A riqueza só aumentava.
fazia tanto dinheiro que contratava gente para trabalhar para ele. A fazenda cresceu, os tratores aumentando, a vida indo de vento em popa, mas o tempo passa rápido. Faltava uma semana para completar os 20 anos.
E Tenório foi entristecendo. A mulher percebeu e perguntou: "O que foi, marido? Você tá estranho?
" Aí ele contou a verdade. Fiz um trato com coisa ruim e falta uma semana para ele vir buscar minha alma. A mulher esperta pensou numa estratégia.
Vamos enganar ele. Raspa tua cabeça, tira barba, bigode, usa roupa velha, anda de um jeito diferente. Se ele vier, não te reconhece.
E Tenório fez tudo isso. Chegou o dia. Na fazenda tinha uma festa grande e coisa ruim apareceu.
Perguntou pela mulher de Tenório que disse: "Ele foi embora, vendeu tudo. O coisa ruim foi pra festa perguntar pro povo e Tenório lá no meio dançando, disfarçado. O capeta ia de pessoa em pessoa.
Você viu Tenório? E o povo? Não sumiu no mundo.
Até que chegou do lado de Tenório. Olhou bem, deu um sorrisinho e disse: "Ah, entendi. Tá certo.
Mas já que o Tenório sumiu, eu vou levar esse carequinha aqui no lugar dele. " E catou o tenório pelo braço, jogou no cavalo e sumiu no mundo. Rapaz, não adianta tentar enganar o coisa ruim.
Desde o começo, ele já sabia de tudo. E no fim, Tenório foi paraa carruagem do inferno. Deus me livre.
Ah.