Ah! Hoje eu estava afim de cantar aquela música da Dua Lipa! [Don't Start Now-Dua Lipa] Não.
. . ?
Tá bom, vamos de teoria marxista então. [Música Animada] Bom, como você já deve ter visto em algum local desta tela, o tema do vídeo de hoje é: O trabalho, de novo. E a gente meio que gosta de falar disso, né?
Mas é que são os tempos, não é moçadinha? Tempos Modernos, já fica aí a indicação de filme do Charles Chaplin, para que você possa sentir ódio de ser apenas uma peça azeitada na máquina do capital. Bom, para a gente que se entende de base teórica marxista, que se pensa como agente do mundo de forma com a práxis, com uma teoria informando uma prática que re-informa essa teoria.
A gente que tem esse entendimento e essa postura marxista, tem uma perspectiva do trabalho como um distintivo humano, o que nos caracterizaria como seres humanos é essa nossa habilidade e capacidade de trabalhar, e é por isso que a gente prega que quem não trabalha guilhotina neles. Para a história da Filosofia sempre é uma questão que a gente pense "O que nos torna humanos? " Esse sempre é um tema sobre o qual a Filosofia se debruça.
Quando vamos pensar sobre, por exemplo, a Filosofia Medieval, existia ali uma indagação a cerca da alma. [Pessoas antigamente: Os seres humanos teriam alma, os animais não. por isso os seres humanos seriam especiais, etc] Depois, a medida que, as populações da Europa vão saindo de lá e "colonizando" os outros lugares, eles se deparam com um empecilho, que são as populações locais, os povos indígenas, que eles vão matar.
Para justificar porquê estão matando esse povos, eles vão falar que tem que salvá-los os catequizando. O conceito de que o ser humano tem alma já vai passar por uma espécie de transição, e os indígenas tem alma mas, a alma deles precisa ser salva através do contato com a cultura, aqui a religião [voz distorcida: branca e européia] Depois ainda vai ter também a questão da 'escravização da população negra africana' e as igrejas e as filosofias falando que eles não são seres humanos porque eles não tem alma. Se adiantarmos um pouquinho o relógio na história da Filosofia e for para o René Descartes, para a racionalidade, para o começo das Ciências, etc.
O Descartes tem essa frase mundialmente famosa "Penso, logo existo", que se você estivesse sozinho com um gênio, e o gênio tentasse enganar os seus sentidos, a única forma de descobrir se você existe ou não seria pensando. Aqui a gente tem uma guinada na história da Filosofia em que o ser humano se justificando humano através da sua capacidade de pensar, e isso seria um distintivo. A gente também pode, se quiser, enveredar para pensar o 'Holocausto Animal', a condição que os animais hoje, principalmente os animais usados nas indústrias alimentares e cosméticas.
. Eles são submetidos á tudo isso porque lá atrás a gente fundou na Filosofia essa pedra edificante, que, eu penso por isso estou distinto/apartado do resto do mundo, e o resto do mundo pode receber um tipo de tratamento, e eu "pensante", outro tipo. Se a gente avançar na história e for para a Revolução Francesa, os filósofos da revolução, os pré-românticos, os românticos, eles vão inserir aqui uma novidade: o 'liberté', 'egalité' e 'fraternité'.
Lança um novo olhar sobre o conceito de humanidade: o 'sinto, logo existo'. Eu tenho emoções, logo eu existo. O caráter humano se enlarguece, para abarcar todos os seres humanos.
Algumas deram errado. . né.
. o Napoleão. .
. e tal. .
E a revolução foi, apenas um instrumento através do qual a burguesia subiu ao poder. Quando chegamos aqui no "Seu karlinhos", a gente teria então, de novo, outra guinada filosófica para entender o nosso caráter humano, através do trabalho. Inclusive, no "O capital" capítulo 7, tem aquela passagem linda, que adoramos mostrar em sala de aula sobre as aranhas e as abelhas.
Deixa eu ler ela aqui com vocês: "Uma aranha conduz as suas operações, que lembram aquelas de um tecelão e as abelhas envergonham muitos arquitetos ao construírem suas colméias. Mas o que distingue o pior dos arquitetos da melhor das abelhas nisso, é o fato de que o arquiteto edifica uma estrutura primeiro na imaginação, antes de erguê-la na realidade. " No final da atividade do processo de trabalho, o que a gente teria seria que os seres humanos são capazes de primeiro imaginarem seus trabalhos, antes de executá-los, é por isso, que o caráter da 'alienação do trabalho', é tão vilipendiante para o marxismo.
A ideia de que alguém pode tomar de você a sua produção, pode tomar de você o seu trabalho, pode tomar de você o fruto do objeto da sua energia, do seu intelecto, da sua engenhosidade, nos é chocante. Alienar, portanto, um trabalhador da sua produção é roubá-lo da matéria, e também da imaginação da matéria. E um dos pensadores que a gente sempre fala sobre, aqui no canal, 'seu Raimundinho', tem um livro publicado, aliás se esse ano você for comprar apenas um livro, você compre esse, porque vai te ajudar pro resto da sua vida, chamado "Palavras-Chave: Um vocabulário de cultura e sociedade", no qual o Raimundinho vai pegar palavras fundamentais para que a gente pense a nossa vida em sociedade, por exemplo cultura, trabalho, desemprego, arte.
. e o seu Raimundinho vai lançar um olhar sobre a história daquela palavra. Mais ou menos, algo como a 'trajetória da etimologia' daquela palavra: de onde ela veio, o que ela significava e o que aconteceu para que ela mudasse de sentido até o rastreamento mais antigo dentro da língua inglesa.
Quando a gente começa a pensar em trabalho, e a configuração que o trabalho tem hoje nas nossas vidas, de não ser esse caráter emancipatório de materializar os frutos da nossa imaginação, mas sofrimento, a etimologia dá cabo a essa ideia. Ai! Até materializei aqui meu netbook, desde que eu virei marxista mística tenho usado muito este truque!
Então se olhamos a trajetória etimológica das mudanças de sentido dessa palavra, a gente vai chegar, por exemplo o mais longe para atrás, no latim, tanto o clássico, literário, erudito, quanto o latim vulgar, que era falado nas regiões que estavam sob o julgo de Roma na Europa. A palavra trabalho vai estar originada em uma outra palavra, que era "tripalium", algo como 'três paus'. Antes que você, pervertido mais falocêntrico fique animado, O 'tripalium' (A Rochelle, a Rafa ou a Isa estão colocando aqui) era um instrumento de tortura, utilizado durante império romano, composto de três estacas de madeira nas quais alguém era amarrado, torturado, açoitado e tá tá tá tá tá tá.
O que que acontecia moçadinha? O 'tripalium' era um instrumento para o qual as pessoas que não conseguiam pagar impostos iam. Então, desde muito cedo temos aqui uma ideia, já colocada porque já estamos convivendo numa sociedade de classes, que 'trabalha' que 'tripálio' quem não tem como pagar impostos ou quem não domina meios de produção ou quem não tem como pagar para que pessoas trabalhem para essa pessoa (quem não é detentor).
Desse modo, originalmente trabalhar significava ser torturado. Se avançarmos na história quando o latim vai dar origem ao francês, temos a palavra 'travailler' que significa, mais ou menos, sentir dor. E o significado de trabalho ainda está associado com um tipo muito doloroso de sofrimento.
É só no século 14 que a palavra vai começar a ter a acepção que entendemos hoje, da aplicação das habilidades, faculdades físicas e mentais de alguém em um serviço. Aí tem uma coisa bem curiosinha que eu não sei se vocês já pararam para pensar. Essa ideia, essa união de trabalho com sofrimento ela é, inclusive, bíblica e cristã.
Se pararmos para pensar no Jardim do Éden, no Adão e na Eva, quando eles são expulsos do Paraíso o castigo que recai sobre eles, é o castigo do trabalho. Então em Gênesis, capítulo 3, versículo 19 (porque eu sou muito leitora da Bíblia) o Deusinho expulsa eles do Jardim, do parquinho Dele (a bola é minha vocês não brincam), e fala assim: "Do suor do teu rosto comerás o teu pão até que retorne à terra, porque dela foste tomado visto que és pó, e ao pó retornarás. " Então, o que está acontecendo, mais ou menos, aqui é que Deus ao perceber que o homem e a mulher que Ele criou pecaram contra Ele, foram contra suas regras, contra seus mandamentos, comeram a Apple, (inclusive depois iam lançar essa empresa) expulsa eles do parquinho e os castiga a trabalharem.
Então o homem malzinho vai trabalhar, fora do Paraíso. Se tentarmos nos localizar, por exemplo em qualquer sociedade religiosa, aqui vou colocar o feudalismo como exemplo, temos uma estrutura de pirâmide social que reproduz essa crença bíblica do "trabalho=sofrimento". O clero e a nobreza não trabalham, porque eles estão próximos de Deus, podemos lembrar, por exemplo, que para toda a Europa os reis eram representantes de Deus na Terra.
Então essas duas classes superiores da pirâmide estão alijadas do trabalho duro, do trabalho de sofrimento. O resto dos homens, que são descendentes de Adão e Eva, não são descendentes diretos de Deus na Terra vão trabalhar e sofrer. Porque eles descendem de Adão e Eva, dos pecadores originais.
E esses outros, o Rei e o clero descendem diretamente de Deus. Mais ou menos, desde sempre, existe aqui posta uma lógica de que trabalhar é coisa dessa "não-gente". As pessoas boas e nobres não trabalham.
A gente vai acompanhar essa falácia até que precisemos mudar o discurso para 'o trabalho enobrece o homem'. É só importante perguntar qual homem. [som de chicote] Muito desse ideário perpassa as nossas narrativas, imaginações e culturas até os dias de hoje.
Aqui no português do Brasil, temos ditados populares como: "Deus ajuda quem cedo madruga. " A gente tem uma percepção do trabalho e de Deus aliadas a uma ideia protestante, de 'virtude do homem trabalhador'. [voz fina: De que trabalhar é muito legal, Deus fica muito feliz quando você trabalha] É engraçado só pensar que os donos das igrejas não pagam impostos porque, para o Estado, o que eles fazem não é trabalho.
Mas fazem dinheiro, né? Dá uma bela de uma fortuna. Inclusive, vamos colocar aqui um ranking deles, e da fortuna de cada um.
Contar a história do mundo através da história do trabalho, é um jeito muito importante de entender porquê as coisas estão como estão. E a gente vive da forma com a qual a gente vive. Vale lembrar também uma frase famosíssima do 'Seu Karlinhos' na "A Ideologia Alemã" quando ele nos avisa que as ideias dominantes são as ideias da classe dominante, e se hoje acreditamos que [efeito voz fina: o trabalho enobrece o homem, que Deus ajuda quem cedo madruga] é porque as classes que nos dominam precisam que nós acreditemos nisso, para que a gente continue trabalhando pra enriquecê-las.
"Mas Dona Rita, então ninguém devia trabalhar? " A resposta é: Não. A resposta é que TODO MUNDO deveria trabalhar.
E se todo mundo trabalhasse ninguém trabalharia o tanto quanto trabalha. Viveríamos uma dinâmica e uma lógica de trabalho muito diferente das quais estamos submetidos hoje. Existe mais coisa aqui, coisas por exemplo que não conseguimos, pela duração do vídeo, colocar numa discussão, mas lá no nosso último vídeo.
. [ som de máquina antiga carregando ] 'O FUTURO DO TRABALHO' era importante também que a gente se questionasse sobre os trabalhos do futuro. Por que será que não criamos os trabalhos mais bem remunerados como os trabalhos de cuidado humano?
Por que que não criamos os trabalhos mais bem remunerados como os trabalhos que poderiam frear o cataclisma ambiental? Por que que continuamos remunerando bem coisas que destroem o planeta como extração de combustíveis, a extração e queima de combustíveis fósseis, e etc? Para encerrar, eu deixo aqui uma última ideia bem clássica para o marxismo, que é a ideia de que até agora tudo o que vimos foi a pré-história da humanidade, porque tudo que a gente viu foi a história da sociedade de classes, onde alguns poucos exploram outros muitos.
[As Meninas - Xibom Bombom] Uma das linhas principais de se entender e lutar pelo marxismo, é lutar pelo fim da exploração do homem pelo homem. Bom, eu espero que vocês façam um bom uso das referências deixadas aqui, e que vocês se unam a nós na luta pelo amanhecer da história humana onde não haverá mais alienação do nosso trabalho, ou classes que nos exploram com mentirinhas sobre Deus nos ajudar se a gente 'ralar o cú na ostra'. Um beijinho.
Até a próxima! Tchau! ~Increva-se!