Jamais concebi a possibilidade de que minha existência pudesse sofrer uma transformação tão radical em um intervalo tão breve. Chamo-me Lívia e, até o dia anterior, nutria a convicção de que desfrutava de uma união matrimonial inabalável e uma trajetória de vida bem estabelecida. Neste momento, encontro-me aqui, acomodada no ambiente gélido e imaculado de um corredor hospitalar, com o âmago dilacerado e os pensamentos em completo desalinho, empenhando-me em compreender a sequência de eventos que me conduziu a esta circunstância.
Tudo começou com um telefonema. Era uma terça-feira como qualquer outra e eu estava no trabalho, imersa em planilhas e relatórios, quando meu celular tocou. O número era do Hospital Municipal e, imediatamente, senti um frio na barriga.
Atendi com a voz trêmula, temendo o pior. — Senhora Lívia? — A voz do outro lado era grave e profissional.
— Aqui é o Dr Marc. Do Hospital Municipal. Estou ligando a respeito do Senhor Geraldo.
Seu sogro deu entrada na emergência cerca de uma hora atrás, vítima de infarto. Meu mundo parou. Por Geraldo, meu sogro, que teimosamente se negava a deixar a vida, eu não podia ignorar a gravidade da situação.
— Doutor, como ele está? Qual é a situação? — perguntei, tentando manter a calma.
— A situação é crítica, senhora Lívia. Estamos fazendo tudo o que podemos, mas seria prudente que a família viesse ao hospital o quanto antes. A seriedade em sua voz era palpável.
Agradeci ao médico e, assim que desliguei, meus dedos voaram pelo teclado do celular, discando o número de Gabriel, meu marido. O telefone tocou uma, duas, três vezes antes de ele atender. — Gabriel!
— minha voz saiu mais aguda do que o normal. — Seu pai está entre a vida e a morte. Venha agora!
Houve um silêncio do outro lado da linha, tão longo que, por um momento, pensei que a ligação tinha caído. Então, ouvi a voz de Gabriel, estranhamente controlada e distante. — Não posso ir, Lívia.
Fiquei atônita. — Como assim não podia ir? Seu pai estava possivelmente morrendo em um leito de hospital!
Como assim não pode ir? Gabriel, é seu pai! Ele teve um infarto, está na emergência!
O médico disse que a situação é crítica! — Eu ouvi você, Lívia — ele respondeu, sua voz agora com um toque de irritação —, mas estou no meio de uma reunião importante. Não posso simplesmente sair!
Senti meu sangue ferver. Como ele podia ser tão frio? — Gabriel, estamos falando do seu pai!
Que reunião pode ser mais importante do que isso? — Olha, Lívia, você não entende. Este negócio pode mudar nossas vidas.
Vá você ao hospital, cuide das coisas por lá. Eu irei assim que puder. Antes que eu pudesse protestar mais, ele desligou.
Fiquei olhando para o telefone, incrédula. Algo estava terrivelmente errado; eu podia sentir. Este não era o Gabriel que eu conhecia.
O homem com quem me casei há 10 anos. Saí do escritório às pressas, explicando a situação para minha chefe, que foi compreensiva e me liberou imediatamente. Durante o trajeto até o hospital, minha mente vagou para o passado, para o dia em que conheci Gabriel.
Era uma festa de formatura na faculdade de direito. Eu estava lá, acompanhando uma amiga, sem grandes expectativas para a noite. Foi quando o vi pela primeira vez: alto, de ombros largos, com um sorriso que iluminava o ambiente.
Nossos olhares se cruzaram e, como num daqueles filmes românticos, o mundo pareceu parar por um instante. Gabriel se aproximou, charmoso e confiante. — Oi, sou Gabriel.
Não me lembro de ter te visto na faculdade. Você é de qual turma? Eu sorri, um pouco tímida.
— Na verdade, não sou da faculdade. Estou aqui acompanhando uma amiga. — Ah, que sorte a minha, então!
— ele respondeu com um sorriso que fez meu coração acelerar. — Quer dizer que tenho uma chance de te impressionar sem a concorrência dos meus advogados? Rimos juntos e, a partir daquele momento, não nos separamos mais.
A noite foi mágica, cheia de conversas, risos e uma conexão que eu nunca havia sentido antes. Trocamos números e, nos dias seguintes, começamos a nos encontrar com frequência. O namoro evoluiu rapidamente.
Gabriel era atencioso, carinhoso e parecia genuinamente interessado em mim e em minha vida. Ele me fazia sentir especial, valorizada, algo que eu nunca tinha experimentado antes. Cresci em um lar difícil.
Minha mãe morreu quando eu tinha apenas 7 anos, deixando-me aos cuidados de meu pai, um homem amargurado pela perda e viciado em trabalho. Aprendi desde cedo a me virar sozinha, a ser independente e forte. Mas com Gabriel, pela primeira vez, senti que podia baixar minhas defesas, que podia confiar em alguém completamente.
Nosso casamento aconteceu dois anos depois de nos conhecermos. Foi uma cerimônia simples, mas emocionante. Lembro-me de olhar nos olhos de Gabriel enquanto fazíamos nossos votos e pensar que finalmente eu havia encontrado o meu lugar no mundo.
No entanto, nem tudo eram flores. A família de Gabriel, especialmente seu pai, Geraldo, nunca me aceitou completamente. Eles vinham de uma família tradicional e abastada, e eu, com minha origem humilde e sem os contatos certos, era vista como alguém que não estava à altura de seu filho prodígio.
Geraldo, em particular, nunca perdia uma oportunidade de me fazer sentir inferior. Seus comentários, sempre revestidos de uma falsa preocupação, eram como pequenas facadas. — Ah, Lívia!
Que bom que você conseguiu aquele emprego na contabilidade! É bom ter algo para se ocupar, não é mesmo? Afinal, alguém precisa cuidar da casa enquanto Gabriel constrói sua carreira.
Eu engolia o orgulho e sorria, por amor a Gabriel. Ele sempre dizia para não me importar, que seu pai era de outra época e que, com o tempo, ele me aceitaria. Mas os anos se passaram e a aceitação nunca veio.
Apesar disso, eu me esforçava para manter uma relação cordial com meu sogro. Quando ele adoeceu pela primeira vez, há cerca de 5 anos, fui eu quem organizou sua rotina de cuidados, quem acompanhava suas consultas médicas e garantia que ele. .
. Tomasse seus remédios corretamente. Gabriel, sempre ocupado com o trabalho no escritório de advocacia, raramente tinha tempo para cuidar do pai.
"Você é muito melhor nisso do que eu", Lívia, ele costumava dizer. "Papai tem sorte de ter você". E agora, aqui estava eu, correndo para o hospital para cuidar de um homem que nunca me aceitou verdadeiramente, enquanto seu próprio filho se recusava a vê-lo.
Cheguei ao hospital com o coração na mão. A emergência estava um caos: pessoas indo e vindo, o barulho das máquinas e das vozes se misturando num zunido constante. Aproximei-me do balcão de informações, identificando-me como nora de Geraldo.
A enfermeira me olhou com simpatia. "O senhor Geraldo está na UTI, senhora. O Dr Marcelo virá falar com você em breve.
Por favor, aguarde na sala de espera". Sentei-me numa das cadeiras desconfortáveis da sala de espera, minha mente um turbilhão de pensamentos e emoções. A reação fria ao telefone ainda me incomodava profundamente.
Como ele podia ser tão indiferente? Enquanto esperava, meus pensamentos voltaram para o passado, para os primeiros anos de nosso casamento. No início, tudo parecia perfeito.
Gabriel era atencioso, carinhoso, sempre me surpreendendo com pequenos gestos de amor. Compartilhávamos sonhos, fazíamos planos para o futuro, mas pouco a pouco, quase imperceptivelmente, as coisas começaram a mudar. Gabriel ficava cada vez mais absorvido pelo trabalho.
As noites românticas foram sendo substituídas por jantares apressados e conversas superficiais. Quando tentava conversar sobre isso, ele sempre tinha uma desculpa pronta. "É só uma fase, amor", ele dizia.
"Estou trabalhando duro para construir nosso futuro. Logo as coisas vão melhorar". E eu acreditava.
Queria acreditar. Afinal, este era o homem que eu amava, o homem que havia me mostrado o que era ser verdadeiramente amada e valorizada. Como eu poderia duvidar dele?
Mas agora, sentada naquela sala de espera fria e impessoal, com o som das máquinas ao fundo e o cheiro de desinfetante no ar, eu não podia deixar de questionar: Será que eu havia sido cega esse tempo todo? Será que o homem por quem me apaixonei ainda existia? Meus pensamentos foram interrompidos pela chegada do Dr Marcelo.
Seu rosto estava sério e meu coração se apertou. "Senhora Lívia", ele começou, sua voz gentil, mas profissional, "o quadro do senhor Geraldo é grave. Conseguimos estabilizá-lo por enquanto, mas as próximas 24 horas serão cruciais".
Assenti, tentando absorver a informação. "Posso vê-lo, Doutor? " "Sim, mas apenas por alguns minutos.
Ele está sedado e ligado a várias máquinas. Prepare-se; a visão pode ser um pouco chocante". Segui o médico pelos corredores silenciosos da UTI.
O bipe constante dos monitores cardíacos e os ruídos das máquinas de suporte à vida criavam uma atmosfera surreal. Quando chegamos ao leito de Geraldo, tive que segurar um suspiro. Ali, deitado naquela cama de hospital, estava o homem que sempre me pareceu tão forte e intimidador.
Agora ele parecia pequeno e frágil, com tubos e fios por toda a parte. Seu rosto estava pálido, quase da cor dos lençóis. Aproximei-me da cama, hesitante.
Apesar de todos os nossos desentendimentos, de todas as vezes que ele me fez sentir inferior, naquele momento só conseguia sentir compaixão. Peguei sua mão fria entre as minhas. "Senhor Geraldo, rei, o senhor precisa ser forte agora.
Gabriel virá em breve. " As palavras saíram automaticamente, uma mentira piedosa para um homem que talvez nem pudesse me ouvir. Fiquei ali por alguns minutos, observando o movimento rítmico de seu peito subindo e descendo com a ajuda das máquinas.
Quando a enfermeira veio me avisar que o tempo de visita havia terminado, senti uma pontada de culpa por deixá-lo sozinho. De volta à sala de espera, peguei meu celular. Nenhuma chamada perdida, nenhuma mensagem de Gabriel.
A raiva e a frustração que eu havia conseguido conter até então começaram a borbulhar à superfície. Disquei seu número, determinada a fazê-lo entender a gravidade da situação. O telefone tocou várias vezes antes de cair na caixa postal.
Deixei uma mensagem, minha voz trêmula de emoção contida. "Gabriel, seu pai está na UTI. Os médicos dizem que as próximas horas são cruciais.
Por favor, venha para o hospital assim que puder". As horas se arrastaram. Eu alternava entre sentar-me inquieta na sala de espera e caminhar pelos corredores do hospital.
A cada novo médico ou enfermeira que passava, meu coração saltava, esperando notícias. Mas o tempo passava e Gabriel não aparecia. Já passava da meia-noite quando meu celular finalmente tocou.
Era Gabriel. Atendi rapidamente, esperando ouvir sua voz preocupada, talvez até arrependida pela demora. "Lívia", sua voz soava estranha, distante.
"Como está meu pai? " "Ele está na UTI, Gabriel. É grave!
Onde você está? Por que demorou tanto para ligar? " Houve uma pausa do outro lado da linha.
Quando Gabriel falou novamente, sua voz estava carregada de uma emoção que eu não conseguia identificar. "Lívia, precisamos conversar". "Não pelo telefone.
Podemos nos encontrar amanhã? " Senti um frio na barriga. Algo estava errado, muito errado.
"Gabriel, do que você está falando? Seu pai está entre a vida e a morte e você quer marcar uma conversa para amanhã? " "É importante, Lívia.
Por favor, amanhã, no café perto do seu trabalho, às 10 da manhã. Posso contar com você? " Antes que eu pudesse responder, ele desligou.
Fiquei olhando para o telefone, atordoada. O que poderia ser tão importante a ponto de Gabriel ignorar completamente a situação de seu pai? Naquela noite, não dormi.
Fiquei no hospital alternando entre vigílias na sala de espera e breves visitas a Geraldo na UTI. Quando o sol começou a nascer, eu estava exausta física e emocionalmente. Às 9h30 da manhã, relutantemente deixei o hospital.
Eu queria ignorar o pedido de Gabriel, ficar ali e continuar cuidando de seu pai. Mas uma parte que crescia a cada minuto precisava de respostas. Cheguei ao café alguns minutos antes das 10.
O lugar estava quase vazio, com apenas alguns clientes matinais tomando seu café antes de irem para o trabalho. Escolhi uma mesa no canto de. .
. Onde podia ver a entrada, às 10 em ponto, vi Gabriel entrar. Meu coração deu um salto ao vê-lo, como sempre acontecia.
Mas, desta vez, foi acompanhado por uma sensação de apreensão; ele parecia cansado, com olheiras profundas e a barba por fazer. — Oi, Lívia — ele disse, sentando-se à minha frente. Sua voz estava rouca, como se tivesse passado a noite acordado.
— Gabriel, o que está acontecendo? — perguntei, indo direto ao ponto. Ele respirou fundo, passando a mão pelos cabelos despenteados.
Seus olhos, que normalmente brilhavam quando me olhavam, agora pareciam borrados e distantes. — Lívia — ele começou, sua voz baixa e hesitante —, eu não sei como dizer isso. Senti meu coração acelerar; uma sensação de pavor começou a se alastrar pelo meu corpo, como se meu subconsciente já soubesse o que estava por vir, mesmo que minha mente consciente se recusasse a aceitar.
— Apenas diga, Gabriel — insisti, minha voz mais firme do que eu me sentia por dentro. Ele olhou para suas mãos, que estavam entrelaçadas sobre a mesa, os nós dos dedos brancos de tanta força que fazia. Quando finalmente levantou os olhos para mim, vi algo que nunca havia visto antes: culpa.
— Eu estou tendo um caso — ele soltou as palavras, saindo como se fossem arrancadas dele. — Já faz algum tempo. O mundo ao meu redor pareceu desaparecer: o barulho do café, as pessoas ao nosso redor, tudo sumiu.
Só restou o som do meu coração batendo em meus ouvidos e aquelas palavras ecoando em minha mente. — Um caso — repeti, minha voz soando estranha aos meus próprios ouvidos. — O que você quer dizer com "algum tempo"?
Gabriel engoliu em seco. — Seis meses — ele admitiu, baixando os olhos novamente. — Meio ano, enquanto eu cuidava de seu pai doente, enquanto eu me esforçava para manter nosso casamento funcionando.
A raiva começou a substituir o choque inicial. — Quem é ela? — perguntei, minha voz em um tom intenso.
— Isso importa? — Ele respondeu, um toque de irritação em sua voz. — Claro que importa!
— exclamei, mais alto do que pretendia. Algumas pessoas nas mesas próximas olharam em nossa direção. Baixei a voz.
— Claro que importa, Gabriel! Você destruiu nosso casamento; eu mereço saber com quem. Ele suspirou profundamente.
— É a Camila, minha assistente no escritório. — Camila? A jovem e brilhante advogada recém-formada que Gabriel havia contratado há pouco mais de um ano?
Eu a havia conhecido em um dos poucos eventos do escritório que compareci; ela era bonita, inteligente e aparentemente não tinha escrúpulos em se envolver com um homem casado. — Foi tudo que consegui perguntar — minha voz quase um sussurro. Gabriel pareceu desconfortável com a pergunta.
— Eu não sei, Lívia. . .
aconteceu. Nós começamos a trabalhar juntos em um caso importante, passávamos muitas horas no escritório e uma coisa levou a outra. — E o que acontece agora?
— perguntei, temendo a resposta. Ele olhou diretamente nos meus olhos pela primeira vez desde que começou a falar. — Eu quero o divórcio, Lívia.
Vou me casar com Camila. As palavras me atingiram como um golpe violento: divórcio, casamento com outra mulher. Minha mente girava, incapaz de processar completamente o que estava ouvindo.
— Seu pai está no hospital, possivelmente morrendo, e você está me dizendo que quer se divorciar de mim para se casar com sua assistente? — as palavras saíram mais calmas do que eu esperava, considerando o turbilhão de emoções que estava sentindo. Gabriel teve a decência de parecer envergonhado.
— Eu sei que o timing é terrível, mas eu não podia mais continuar vivendo uma mentira. Você merece saber a verdade. — A verdade?
— repeti a palavra, deixando um gosto amargo em minha boca. — A verdade é que enquanto eu cuidava do seu pai doente, enquanto eu me esforçava para ser uma boa esposa, você estava traindo nossa confiança, nosso casamento. — Lívia, eu.
. . — ele começou, mas eu o interrompi.
— Não, Gabriel! Não tente se justificar. Não há justificativa para isso.
Respirei fundo, tentando controlar as lágrimas que ameaçavam cair. — Faça isso, peça o divórcio, case-se com sua amante, mas saiba que o preço será alto. Vi o medo passar pelos olhos de Gabriel; ele sabia tão bem quanto eu que eu não estava falando apenas de dinheiro.
— O que você quer dizer? — ele perguntou, sua voz tremendo ligeiramente. — Você vai descobrir — respondi, levantando-me da mesa.
— Agora, se me der licença, vou voltar para o hospital. Alguém precisa estar lá pelo seu pai. Saí do café sem olhar para trás, deixando Gabriel sentado ali, parecendo menor e mais patético do que eu jamais o havia visto.
Enquanto caminhava de volta para o hospital, as lágrimas que eu havia segurado finalmente começaram a cair: uma década de compromisso matrimonial dissolvida por uma infidelidade de meros seis meses. Minha percepção falhou de maneira tão significativa que não pude discernir a traição ocorrendo em minha própria residência. Chegando ao hospital, fui direto para a UTI.
Geraldo ainda estava inconsciente, seu estado inalterado desde a noite anterior. Sentei-me ao lado de sua cama, observando o movimento rítmico de seu peito subindo e descendo com a ajuda das máquinas. — Seu filho é um idiota, sabia?
— murmurei para Geraldo, mesmo sabendo que ele provavelmente não podia me ouvir. — Mas não se preocupe; eu ainda estou aqui. Não vou abandonar você.
Naquele momento, olhando para o rosto pálido e imóvel de meu sogro, tomei uma decisão: Gabriel queria o divórcio? Ótimo, ele teria seu divórcio, mas eu faria com que ele se arrependesse amargamente de cada momento que passou nos braços daquela mulher. A dor da traição ainda estava lá, pulando em meu peito como uma ferida aberta, mas agora misturada a ela havia uma determinação férrea.
Gabriel havia me subestimado; ele achava que eu simplesmente aceitaria suas desculpas patéticas e seguiria em frente. Bem, ele estava prestes a descobrir o quão errado estava. Os dias que se seguiram à revelação de Gabriel foram um borrão de emoções intensas e decisões difíceis.
Eu alternava entre o hospital, cuidando de Geraldo, e meu apartamento agora vazio e silencioso demais. Gabriel não voltou para casa; ele enviou uma. .
. Mensagem dizendo que ficaria em um hotel até que as coisas se acalmassem, como se houvesse alguma chance de as coisas se acalmarem. Depois do que ele fez na quarta noite, após nossa conversa no café, eu estava sentada na sala de estar, encarando o telefone.
Tinha acabado de voltar do hospital. Geraldo finalmente havia acordado. Seu estado ainda era grave, mas os médicos estavam otimistas.
O telefone tocou, quebrando o silêncio. Era Gabriel. Lívia, sua voz soava hesitante.
— Como está meu pai? Ele acordou hoje? Respondi, minha voz fria: — Os médicos dizem que ele está respondendo bem ao tratamento.
Houve um momento de silêncio do outro lado da linha. — Isso é. .
. Isso é bom. Obrigado por cuidar dele.
Senti a raiva borbulhar dentro de mim. — Não me agradeça, Gabriel. Não estou fazendo isso por você.
— Lívia, eu. . .
Mas o interrompi. — Por que você ligou, Gabriel? O que você quer?
Ele suspirou pesadamente. — Eu queria saber se poderíamos conversar pessoalmente sobre. .
. sobre o divórcio. A palavra ainda doía, mas me forcei a manter a voz firme.
— Tudo bem. Amanhã, no escritório do Dr Renato, às 2 horas da tarde. — O Dr Renato?
Você já procurou um advogado? — Claro que sim, Gabriel. O que você esperava?
Que eu ficasse sentada, chorando, enquanto você destrói nossa vida? Ele ficou em silêncio por um momento. — Tudo bem, estarei lá no dia seguinte.
Cheguei ao escritório do Dr Renato 15 minutos antes do horário marcado. O advogado, um homem de meia idade com grisalhos e olhos perspicazes, me recebeu com um sorriso. — Gentil, senhora Lívia.
Como está se sentindo? Pronta para acabar com isso? — Dr Renato, — respondi, tentando soar mais confiante do que me sentia.
Às duas em ponto, Gabriel entrou na sala. Ele parecia cansado e desconfortável, evitando olhar diretamente para mim. — Bem, já que estamos todos aqui, — começou o Dr Renato, — vamos discutir os termos do divórcio.
As próximas 2 horas foram uma montanha-russa de emoções. Gabriel tentou argumentar que, como ele era o principal provedor da família, deveria ficar com a maior parte dos bens. Eu, por outro lado, insisti que merecia uma compensação justa pelos anos de dedicação ao casamento e à família.
— Ele não pode estar falando sério, Lívia, — Gabriel exclamou em um momento. — Metade de tudo isso é absurdo! — Absurdo é você jogar fora 10 anos de casamento por causa de um caso!
— retruquei, minha voz tremendo de raiva contida. O Dr Renato interveio, sua voz calma e profissional. — Senhores, por favor, vamos manter a discussão civilizada.
Quando finalmente saímos do escritório, nada estava resolvido. Gabriel parecia frustrado e irritado, enquanto eu me sentia esgotada, mas determinada. — Isso não acabou, Lívia, — Gabriel disse, enquanto esperávamos o elevador.
— Você não pode simplesmente tomar metade de tudo que construí. Olhei diretamente nos olhos dele, sentindo uma força que não sabia que tinha. — Nós construímos juntos, Gabriel.
E sim, isso não acabou. Está apenas começando. Alguns dias depois, mergulhei de cabeça no processo de divórcio.
Passei horas revisando documentos, consultando o Dr Renato e preparando minha estratégia. Ao mesmo tempo, continuei visitando Geraldo no hospital diariamente. Foi durante uma dessas visitas, cerca de duas semanas após a reunião no escritório do advogado, que Geraldo finalmente conseguiu falar comigo.
— Lívia, — ele chamou, sua voz fraca, mas clara. — Onde está Gabriel? Senti meu coração apertar.
Como explicar a um homem que quase morreu que seu filho estava ocupado demais traindo a esposa para visitá-lo? — Ele está ocupado com trabalho, senhor Geraldo, — respondi, optando por uma meia-verdade. — Mas não se preocupe, eu estou aqui.
Geraldo me olhou com uma intensidade que eu nunca havia visto antes. — Você sempre esteve, não é mesmo? Quando eu.
. . quando eu não merecia.
Fiquei surpresa com suas palavras. Era a coisa mais próxima de um agradecimento que já havia recebido dele. — Senhor Geraldo, eu não.
. . Ele me interrompeu, sua voz ganhando força.
— Deixe-me falar. Eu fui um tolo, Lívia. Um velho tolo e teimoso.
Você tem sido mais filha para mim do que eu jamais mereci. Senti as lágrimas começarem a se formar em meus olhos. Depois de todos esses anos, ouvir essas palavras de Geraldo era algo que eu nunca esperava.
— Obrigada, senhor Geraldo, — consegui dizer, minha voz embargada. Ele pegou minha mão, seu aperto surpreendentemente forte para alguém que havia passado tanto tempo inconsciente. — Não, Lívia.
Eu é que agradeço. E me perdoe por todos esses anos. Naquele momento, senti algo mudar dentro de mim.
A raiva e a amargura que eu vinha cultivando desde a traição de Gabriel pareceram diminuir, substituídas por uma determinação mais calma e focada. Saí do hospital naquele dia com uma nova resolução. Eu não estava mais lutando apenas por mim, mas também pelo homem que finalmente havia me aceitado como família.
Na manhã seguinte, recebi uma ligação de Gabriel. — Lívia, precisamos conversar, — ele disse, sua voz soando tensa. — Sobre o divórcio e sobre outras coisas.
— Tudo bem, — respondi, surpreendentemente calma. — Nos encontramos no café perto do seu escritório em uma hora. Quando cheguei ao café, Gabriel já estava lá, parecendo nervoso e agitado.
Sentei-me à sua frente, mantendo minha expressão neutra. — O que foi, Gabriel? Ele respirou fundo antes de falar.
— Lívia, eu cometi um erro. Um erro terrível. Eu.
. . eu terminei com Camila.
Senti meu coração dar um salto, mas mantive minha expressão inalterada. — E? — Eu percebi que joguei fora a melhor coisa da minha vida.
Você, Lívia. Nosso casamento. Ele estendeu a mão sobre a mesa, como se fosse tocar a minha, mas eu a afastei.
— Eu quero tentar de novo. Consertar as coisas entre nós. Por um momento, fiquei sem palavras.
Uma parte de mim, a parte que ainda amava o homem sentado à minha frente, queria aceitar, queria acreditar que poderíamos superar isso, reconstruir o que tínhamos. Mas então me lembrei das últimas semanas, da dor da traição, das noites em claro, me lembrei de Geraldo no hospital, sozinho, enquanto seu filho estava ocupado demais traindo a esposa. Não, Gabriel disse finalmente, minha voz firme.
Não há como voltar atrás. Você fez sua escolha, mas Lívia, por favor, ele implorou, o desespero evidente em sua voz. Eu te amo, sempre amei.
Foi um erro, um terrível erro, um erro de seis meses, Gabriel. Um erro que só terminou quando você percebeu que poderia perder tudo no divórcio. Balancei a cabeça, sentindo uma mistura de tristeza e determinação.
Não acabou, me levantei, pronta para sair, mas antes me virei para ele uma última vez. Ah, e Gabriel, seu pai está melhor. Ele perguntou por você, talvez você devesse visitá-lo.
Para variar, saí do café me sentindo estranhamente leve. O caminho à frente ainda era incerto, cheio de desafios emocionais, mas pela primeira vez em semanas eu sentia que estava no controle. Enquanto caminhava de volta para casa, meu telefone tocou.
Era o Dr Renato. — Senhora Lívia, tenho novidades sobre o caso. Acho que a senhora vai querer ouvir isso.
Estou a caminho do seu escritório. — Doutor, respondi, sentindo uma onda de adrenalina. A batalha estava longe de terminar, mas eu estava pronta para enfrentá-la.
Gabriel queria guerra, ele teria guerra. O outono chegou, trazendo consigo uma brisa fria e a promessa de mudanças. Enquanto as folhas amarelam lá fora, eu me via imersa em uma tormenta de emoções e decisões cruciais.
No escritório do Dr Renato, as notícias eram promissoras. — Senhora Lívia, analisei minuciosamente os documentos do seu casamento, ele explicou, ajustando os óculos. Temos uma posição sólida para negociar os termos do divórcio.
Assenti, absorvendo a informação. — E quanto à proposta de Gabriel? O advogado franziu o cenho.
— Insuficiente. Na minha opinião, ele subestima sua contribuição para o patrimônio do casal. — Compreendo, respondi, sentindo uma mistura de determinação e cansaço.
— Como procedemos? — Surgir uma contraproposta firme. Mostraremos que estamos dispostos a lutar pelo que é justo.
Saí do escritório com uma nova estratégia em mente. No caminho para o hospital, onde Geraldo ainda se recuperava, refleti sobre os próximos passos. O quarto de Geraldo estava iluminado pela luz suave do entardecer.
Quando entrei, para minha surpresa Gabriel estava lá, sentado ao lado da cama do pai. — Lívia! — Geraldo sorriu, sua voz mais forte do que nas semanas anteriores.
— Que bom que você veio. Lou, visivelmente desconfortável, disse: — Eu já estava de saída. Murmurou, não intervi, surpreendendo a mim mesma.
— Fique. Precisamos conversar os três. O silêncio que se seguiu foi denso, carregado de palavras não ditas e emoções reprimidas.
Geraldo olhou de um para o outro, a compreensão lentamente se formando em seus olhos. — O que está acontecendo? Gabriel abriu a boca para falar, mas o interrompi.
— Seu filho pediu o divórcio, disse minha voz firme. Ele tem um relacionamento com outra mulher. O choque no rosto de Geraldo foi palpável.
— Gabriel, é verdade? Gabriel baixou os olhos, incapaz de encarar o pai. — Sim, admitiu finalmente, mas eu cometi um erro.
Eu quero consertar as coisas. — Consertar? — Repeti, a incredulidade evidente em minha voz.
— Você destruiu nossa confiança, nosso casamento. Algumas coisas não podem ser consertadas. Geraldo nos observava, seu rosto uma expressão de decepção e tristeza.
— Gabriel, — ele disse finalmente, — eu nunca pensei que você fosse capaz de algo assim. — Pai, eu não. .
. Geraldo o interrompeu. — Você não entende o que fez.
Lívia tem sido mais família para mim nos últimos anos do que você. As palavras de Geraldo pairaram no ar, pesadas e definitivas. Gabriel parecia ter encolhido, o peso da vergonha evidente em seus ombros.
— Eu sinto muito, — ele murmurou, mais para si mesmo do que para nós. — Sentir muito não é o suficiente, — respondi, minha voz surpreendentemente calma. — Suas ações têm consequências, Gabriel, e você terá que lidar com elas.
Geraldo estendeu a mão. — Lívia, o que você precisa de mim? Como posso ajudar?
Senti as lágrimas ameaçarem cair, mas as contive. — Apenas fique bem, Geraldo, é tudo que peço. Nas semanas seguintes, as negociações do divórcio se intensificaram.
Gabriel, pressionado pela desaprovação do pai e pela realidade de suas ações, tornou-se mais cooperativo. Numa tarde particularmente tensa, nos encontramos novamente no escritório do Dr Renato. — Estou disposto a aceitar seus termos, Lívia, — Gabriel disse, sua voz carregada de derrota.
— Você merece bem. Você merece mais do que posso oferecer. — Não se trata de merecer, Gabriel, — respondi, sentindo uma calma estranha me envolver.
— Trata-se de justiça, de respeito. O Dr Renato observava nossa interação com o interesse profissional. — Então podemos proceder com a finalização dos documentos?
Assenti e vi Gabriel fazer o mesmo. Enquanto assinava os papéis que oficialmente encerravam o nosso casamento, senti um misto de tristeza e alívio. Uma década da minha vida chegava ao fim, mas um novo capítulo se abria à minha frente.
— Lívia, — Gabriel chamou quando saímos do escritório. — Eu realmente lamento por tudo. Olhei para ele, o homem que eu havia amado por tanto tempo.
— Um “sinto muito” não é suficiente. Caminhei para longe. — Geraldo para alta, vou para casa hoje, — ele anunciou, um sorriso fraco em seu rosto cansado.
— Isso é ótimo, Geraldo, — respondi, genuinamente feliz por sua recuperação. — Lívia, — ele começou, sua voz séria. — Eu quero que você saiba: você sempre terá um lugar na minha vida, não importa o que aconteça com você e Gabriel.
Senti meu coração se aquecer com suas palavras. — Obrigada, Geraldo. Isso significa muito para mim.
Enquanto ajudava Geraldo a arrumar suas coisas, percebi que, apesar de tudo que havia perdido, eu também havia ganho algo precioso: uma família, não de sangue, mas de escolha. Saímos do hospital juntos, enfrentando o vento frio do outono. O futuro era imprevisível, mas pela primeira vez em meses eu me sentia verdadeiramente livre.
Livre para descobrir quem eu era sem Gabriel, livre para construir uma vida nos meus próprios termos. A jornada seria difícil, eu sabia. Haveria dias de dúvida, de tristeza, de raiva, mas agora eu tinha algo que havia perdido há muito tempo: esperança.
Mim mesma, em minha força, em minha capacidade de superar até mesmo a traição mais dolorosa. Enquanto caminhávamos em direção ao carro, Geraldo, apoiado em meu braço, eu soube que não importava o que o destino reservasse; eu estaria pronta para enfrentá-lo, não como a esposa de, não como a nora de Geraldo, mas como Lívia, simplesmente Lívia. O inverno envolveu a cidade em um manto branco.
Três meses após o divórcio, recebi uma ligação inesperada de Geraldo, num dia de sábado. — Lívia, poderia vir até aqui? Preciso conversar com você.
Intrigada, concordei prontamente. Na mansão, Geraldo me recebeu com uma expressão preocupada. — Camila me visitou ontem à noite — ele disse.
— Conduz-me ao seu escritório. Ela alega estar grávida de Gabriel. A notícia me pegou de surpresa.
— Você acredita nela? — Geraldo suspirou. — Não sei, mas se for verdade, não posso permitir que meu neto cresça sem suporte.
— O que pretende fazer? — Falar com Gabriel, mas queria sua opinião primeiro. Você conhece Camila melhor do que eu.
Respondi honestamente: — Ela sempre pareceu ambiciosa, mas não posso julgar se mentiria sobre isso. Dias depois, Gabriel apareceu no meu escritório. — Lívia, posso falar com você no café ao lado?
Ele confirmou: — Camila está grávida, ela quer que nos casemos. — E o que você quer? — perguntei.
— Queria poder voltar no tempo — ele respondeu, parecendo derrotado. — Não podemos mudar o passado, Gabriel. Só nos resta lidar com o presente.
Nas semanas seguintes, Geraldo me manteve informada. Gabriel decidiu assumir a criança, mas não vai se casar com Camila. Uma noite, encontrei Camila esperando na porta do meu prédio.
— Lívia, podemos conversar em meu apartamento? — ela se desculpou. — Sei que provavelmente não significa nada para você, mas sinto muito de verdade.
— Por que está me dizendo isso agora? — questionei. — Porque estou prestes a me tornar mãe agora.
O quanto minhas ações afetam outras pessoas? As nossas conversas geraram uma estranha sensação de alívio. Não era o início de uma briga.
Na sequência, recebi uma ligação de Geraldo. — Lívia, preciso da sua ajuda. Gabriel está enfrentando dificuldades.
Como posso ajudar? — perguntei, surpresa com o pedido. — Você sempre foi a voz da razão.
Talvez possa conversar com ele. Relutante, concordei em me encontrar com Gabriel no parque da cidade. Sentamos em um banco, observando as crianças brincarem na neve.
— Como você está lidando com tudo isso? — perguntei. Gabriel balançou a cabeça.
— Estou assustado. Não sei se estou pronto para ser pai. — Ninguém está realmente pronto — respondi —, mas você tem que tentar.
Ele me olhou, seus olhos cheios de arrependimento. — Eu estraguei tudo, não é? — Sim — respondi honestamente —, mas agora você tem a chance de fazer a coisa certa.
Nosso encontro terminou com Gabriel parecendo mais determinado. — Obrigado, Lívia, por tudo. Enquanto o observava se afastar, percebi que um capítulo da minha vida havia definitivamente se encerrado.
Era hora de escrever um novo. Na outra semana, marquei uma reunião com minha chefe. — Quero me candidatar a gerente de projetos — anunciei.
Ela sorriu. — Já era hora, Lívia! Estávamos esperando que você desse esse passo.
Saí do escritório com uma nova sensação de propósito. O horizonte era incerto, mas pela primeira vez em muito tempo eu estava ansiosa para descobrir o que ele reservava. A primavera despontava na cidade, trazendo consigo novos começos.
Minha promoção a gerente de projetos foi aprovada e me imersa em novas responsabilidades. Numa tarde ensolarada, recebi uma mensagem inesperada de Gabriel. — O bebê nasceu!
É uma menina. Podemos conversar? Hesitei antes de responder, mas acabei concordando em encontrá-lo no hospital.
No versário, Gabriel estava parado diante de uma pequena incubadora, olhando maravilhado para o bebê dentro dela. — Ela é prematura — explicou ao me ver —, mas os médicos dizem que ficará bem. Observei a pequena criatura, tão frágil e inocente.
— Qual é o nome dela? — Sofia — respondeu Gabriel, sua voz embargada. — Significa sabedoria.
A senti, sentindo uma mistura complexa de emoções. — É um belo nome. Gabriel se virou para mim, seus olhos vermelhos de cansaço e emoção.
— Lívia, eu… eu queria te agradecer por tudo que você fez. Mesmo depois de como eu te tratei. — Não fiz por você, Gabriel — respondi honestamente —, fiz porque era o certo a fazer.
Ele assentiu, compreendendo. — Eu sei, e é por isso que você sempre foi melhor do que eu. Saí do hospital com uma sensação estranha de encerramento.
Era como se um ciclo tivesse se completado. Dias depois, recebi uma ligação de Geraldo. — Lívia, gostaria de conhecer sua neta.
A pergunta me pegou de surpresa. — Geraldo, eu… ela não é minha neta! — Bobagem!
— Ele respondeu firmemente. — Você é mais família para mim do que qualquer um. Por favor, venha.
Relutante, aceitei o convite. Na mansão dos pais de Gabriel, encontrei Geraldo segurando Sofia nos braços, um sorriso radiante em seu rosto. — Olhe para ela, Lívia!
— disse ele, orgulhoso. — Não é a coisa mais linda que você já viu? Observei o bebê, sentindo uma onda inesperada de ternura.
— Ela é adorável. Geraldo me ofereceu o bebê. — Quer segurá-la?
Com cuidado, peguei Sofia nos braços. Ela abriu os olhos, me encarando com uma curiosidade inocente. — Olá, Sofia — sussurrei.
— Bem-vinda ao mundo. Naquele momento, senti algo mudar dentro de mim. Não era arrependimento ou tristeza, mas uma aceitação serena do caminho que a vida havia tomado.
Semanas depois, durante um almoço com colegas de trabalho, Ana me cutucou. — Não olhe agora, mas tem um cara lindo observando você — sussurrou, indicando um homem alto de olhos verdes que sorriu quando nossos olhares se cruzaram. — Vai lá falar com ele — Ana incentivou.
Hesitei por um momento, mas algo dentro de mim me impulsionou. Levantei-me e caminhei até o bar. — Oi — disse o estranho, sorrindo.
— Sou Marcos — apresentou-se. — Lívia — respondi, retribuindo o sorriso. Nossa conversa fluiu naturalmente, e antes que percebêssemos, horas haviam se passado.
— Gostaria de jantar comigo algum dia? — Marcos perguntou quando nos despedimos. — Adoraria — respondi.
Nos meses seguintes, minha vida ganhou um novo ritmo. O trabalho como gerente de projetos. .
. Era desafiador, mas gratificante. Meus encontros com Marcos se tornaram mais frequentes e me peguei sorrindo mais vezes do que podia contar.
Num dia de domingo, recebi uma mensagem de Gabriel: "Sofia deu seus primeiros passos hoje. Pensei que você gostaria. " Sorri para o telefone, sentindo uma alegria genuína pela notícia, e respondi com uma mensagem curta: "Que maravilha!
Ela deve estar encantadora. " Pouco depois, meu telefone tocou novamente. Era Geraldo.
"Lívia querida," sua voz soava animada, "estou organizando uma pequena celebração para o primeiro aniversário de Sofia. Gostaria muito que você viesse. " Hesitei por um momento.
"Claro, Geraldo! Ficarei feliz em ir. " No dia da festa, cheguei à mansão dos pais de Gabriel com um presente para Sofia.
O jardim estava decorado com balões coloridos e o som de risadas infantis preenchia o ar. Gabriel me cumprimentou com um aceno educado, Camila ao seu lado, segurando Sofia. A atenção era palpável, mas todos se esforçavam para manter a civilidade.
Geraldo veio ao meu encontro, abraçando-me calorosamente. "Que bom que você veio, Lívia! " Observei a cena ao meu redor: Gabriel e Camila ainda desconfortáveis um com o outro, mas unidos pelo amor à filha; Geraldo, radiante em seu papel de avô; e Sofia, alheia a toda a complexidade adulta, rindo e brincando com outras crianças.
Naquele momento, senti uma profunda gratidão, não pela dor que havia passado, mas pela força que havia encontrado para superá-la. Meu telefone vibrou no bolso. Era uma mensagem de Marcos: "Espero que esteja tendo um bom dia.
Mal posso esperar para te ver mais tarde. " Sorri, sentindo uma onda de expectativa pelo que o futuro poderia trazer. A vida havia me surpreendido de maneiras que eu jamais poderia ter previsto, mas ali, naquele jardim cheio de risos e novas possibilidades, percebi que estava exatamente onde deveria estar.
O verão chegou e trouxe uma onda de calor que envolvia a cidade. Dois anos haviam se passado desde o divórcio, e minha vida tinha tomado rumos inesperados. Em um sábado, recebi uma ligação de Geraldo: "Lívia querida, preciso da sua ajuda.
" Sua voz soava urgente. "Sofia está doente e Gabriel está fora da cidade a trabalho. Camila está em pânico e eu não sei o que fazer.
" Sem hesitar, respondi: "Estou a caminho. " Cheguei à mansão em tempo recorde. Camila abriu a porta, seu rosto pálido de preocupação.
"Obrigada por vir," ela disse, sua voz trêmula. "A febre não baixa e ela não para de chorar. " Entrei no quarto de Sofia.
Geraldo segurava a menina, tentando acalmá-la. A criança estava vermelha e quente ao toque. "Quanto tempo ela está assim?
" perguntei, assumindo o controle da situação. "Desde ontem à noite," Camila respondeu. "Achamos que ia passar, mas só piorou.
" Examinei Sofia rapidamente: "Precisamos levá-la ao hospital agora. " No pronto-socorro pediátrico, passamos horas angustiantes esperando por notícias. Geraldo andava de um lado para o outro enquanto Camila chorava silenciosamente.
Finalmente, o médico apareceu. "Sofia está com uma infecção urinária grave," ele explicou. "Começamos o tratamento com antibióticos.
Ela ficará bem, mas precisará ficar internada por alguns dias. " O alívio foi palpável. Camila me abraçou espontaneamente, murmurando agradecimentos.
Geraldo apertou minha mão: "Não sei o que faríamos sem você, Lívia. " Naquela noite, enquanto Sofia dormia no quarto do hospital, Camila se virou para mim: "Por que você faz isso? " ela perguntou, curiosidade em sua voz.
"Depois de tudo. . .
" Pensei por um momento antes de responder: "Porque Sofia não tem culpa de nada e porque, no final das contas, somos todos família, de um jeito ou de outro. " Camila assentiu, lágrimas nos olhos: "Obrigada de verdade. " Dias depois, com Sofia recuperada e em casa, recebi uma mensagem de Gabriel: "Lívia, podemos conversar?
" Nos encontramos em um café próximo ao meu trabalho. Gabriel parecia nervoso. "Eu queria te agradecer," ele começou, "por cuidar de Sofia quando eu não pude estar lá.
" A senti, aceitando o agradecimento. "E também," ele continuou, hesitante, "quero te dizer que Camila e eu vamos nos casar. " A notícia me pegou de surpresa, mas não senti a dor que esperava.
"Isso é inesperado," Gabriel sorriu tristemente. "É o certo a se fazer por Sofia. " "Espero que seja por mais do que isso," respondi honestamente.
Ele assentiu, compreendendo: "Estamos tentando, Lívia, de verdade. " Saí do café com uma sensação estranha de encerramento, era como se o último capítulo de uma longa história finalmente tivesse sido escrito. Semanas depois, durante um jantar, ele me surpreendeu com uma pergunta: "Lívia," ele disse, segurando minha mão sobre a mesa, "o que você acha de morarmos juntos?
" Hesitei por um momento antes de responder: "Tem certeza? Com todo o meu passado complicado? " Marcos sorriu, seus olhos cheios de carinho.
"Seu passado é parte de quem você é e eu amo quem você é, complicações e tudo. " Senti meu coração se encher de uma alegria que não esperava sentir novamente. Então, sim, respondi, sorrindo: "Vamos morar juntos.
" O outono chegou, trazendo consigo mudanças e novas aventuras. Mudei-me para o apartamento de Marcos, mesclando nossas vidas e criando um novo lar. Num dia de domingo, recebemos uma visita inesperada.
Era Geraldo, com Sofia nos braços. "Espero não estar atrapalhando," ele disse, sorrindo. "Mas esta mocinha queria muito ver a tia Lívia!
" Sofia correu para meus braços, rindo: "Tia Lívia, olha o que eu aprendi! " Observei maravilhada enquanto ela recitava o alfabeto, tropeçando adoravelmente em algumas letras. Marcos se juntou a nós, encantado com a pequena visitante.
"Ela é adorável," ele comentou, sorrindo para mim. Geraldo nos observava com um brilho nos olhos. "Fico feliz em ver você feliz, Lívia," ele disse baixinho.
Naquela noite, após Geraldo e Sofia terem ido embora, Marcos me abraçou por trás, enquanto eu lavava a louça. "Você é incrível, sabia? " ele murmurou em meu ouvido.
Virei-me em seus braços, sorrindo. "Por quê? " "Por sua capacidade de amar, mesmo depois de tudo.
Por sua força, por ser você. " Beijei suavemente, sentindo uma onda de gratidão por este novo capítulo da minha vida. No dia seguinte, recebi.
. . Um convite inesperado era para o casamento de Gabriel e Camila.
Olhei para o envelope por um longo tempo, pensando em tudo que havia acontecido nos últimos anos. Finalmente, peguei uma caneta e marquei "sim" na opção de presença. Porque, no final das contas, a vida é sobre seguir em frente, sobre perdoar, não necessariamente esquecer, mas aceitar e crescer.
E eu estava pronta para esse novo capítulo, com todas as suas surpresas, desafios e alegrias. Gostou do vídeo? Deixe seu like, se inscreva, ative o sininho e compartilhe.
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