Para nós entendermos esse Evangelho do sinal de Jonas é necessário recordarmos uma frase de Jesus na Última Ceia. No Evangelho de São João, Jesus diz assim: “Eu já não vos chamo servos, porque os servos não conhecem aquilo que o seu senhor pensa, mas Eu vos dei a conhecer tudo o que Eu tinha para conhecer, então, chamo vocês agora de amigos”, ou seja, vocês são meus confidentes, meus amigos íntimos, eu já dei a vocês conhecer todos os meus segredos, tudo o que eu tinha para falar. Acontece, porém, que alguns versículos depois, Jesus diz assim: “Vocês ainda não são capazes de compreender o que Eu disse a vocês, quando vier o Espírito da Verdade, Ele vos ensinará todas as coisas”.
Ora, o que essas duas frases nos ensinam? Primeiro, eu acho que ninguém aqui irá duvidar que Jesus era um bom pedagogo, se tem alguém que sabia falar direito, que sabia convencer as pessoas, que sabia ensinar, se tem alguém que era um show de pedagogia, chama-se Jesus. No entanto, Jesus, que disse tudo o que podia dizer, porque Ele está dizendo aqui: “Não vos chamo servos, chamo-vos amigos, porque Eu dei a conhecer toda a minha intimidade, tudo o que Eu tinha para dizer, tudo o que tinha para falar, não guardei segredo nenhum de vocês, está tudo dito”, no entanto, não adiantou.
Não adiantou a pregação de Jesus, Ele diz: “Vós não sois capazes de compreender, quando vier o Espírito da Verdade, Ele vos ensinará todas as coisas”, então, quer dizer o seguinte: que Jesus, Jonas, Salomão, Padre Paulo, seja lá quem for que esteja ensinando, quem estiver aqui do lado de fora ensinando a você alguma coisa, essa pessoa não será capaz de ensinar nada a você a não ser que dentro do seu coração o Espírito Santo acenda uma luz e você então enxergue. Santo Tomás de Aquino nos ensina isso dizendo que existem duas revelações, uma revelação externa e uma revelação interna. Quem está aqui fora pode ser um grande sinal, o maior de todos, como Cristo pregador ou pode ser um sinal frágil como Jonas, um profeta pateta.
Por que eu digo pateta? Porque Jonas não tinha virtude, pobrezinho do Jonas, ele foi mandado para Nínive, não queria ir, “Não vou”, vai lá, Jonas, eu quero converter aquele povo porque virá um grande castigo, “Ah, é! Vem um grande castigo?
Oba, vou para o outro lado, assim eles se ferram. Eu quero que eles se lasquem”. Deus chegou e disse: “Não, vem cá, seu sem-vergonha!
”, mandou uma tempestade jogar ele no mar, a baleia o engoliu, a baleia andou durante três dias, vomitou ele na praia, na praia de onde? Nínive. Ele disse: “Não tem escapatória.
Para onde irei? Para onde fugirei? Se eu subir aos céus, se eu me jogar no fundo dos abismos, Ele vai me encontrar”.
Então, Jonas, profeta mal destro, chega na cidade de Nínive que era tão grande que ele levava três dias para atravessar a cidade e ele, durante um dia, mal e porcamente sai: “Vocês se convertam! Vai vir o castigo, tomem vergonha na cara”, durante um dia ele pregou sem grande afã, sem grande esforço, sem nada, simplesmente pregou. Aí, terminou o seu dia de trabalho que ele cumpriu legalisticamente, cumpriu só mal e porcamente o que o Senhor tinha lhe dito, ele subiu na montanha, do lado de Nínive, se recostou para assistir na primeira fila do cinema, a destruição de Nínive.
Ele queria ver o show, o espetáculo, o grande castigo e ele seria a única audiência desse maior espetáculo de todos os séculos: a grande cidade de Nínive destruída pela ira de Deus. Mas, Deus fez um milagre, o profeta que pregou do lado de fora como um paspalhão, era um sinal fraco, aqui do lado de fora era somente uma vozinha, no entanto, o Espírito do Senhor tocou os corações dos ninivitas e todos, desde o rei até os animais, se cobriram de cinzas, vestiram sacos, fizeram penitência, fizeram uma quaresma muito mais devota e fervorosa do que a nossa. Milagre dos milagres de Deus!
O Espírito Santo falou ao coração dos ninivitas. Agora nós entendemos o Evangelho de hoje. No Evangelho de hoje, Jesus é um sinal externo maior do que Jonas, maior do que Salomão e, no entanto, se Ele, ressuscitado, lá do céu não mandar, o Ressuscitado não mandar o Espírito Santo no seu coração, não tem ninguém capaz de converter você.
“Convém que Eu vá, porque se Eu não for, não vou enviar o Espírito Santo e se Eu não enviar o Espírito da Verdade vocês não vão entender nada, mas quando Ele vier, Ele vos ensinará todas as coisas”. Ontem eu estava rezando e por uma longa história que não vou aqui explicar, me veio abrir as Obras Completas de Santa Teresinha e abri uma carta, acho que a Carta 147, que ela escreveu para Celina. E Teresinha dizia assim para Celina: “Eu fico feliz, Celina, que as cartas que eu escrevo para você dão fruto espiritual, mas deixa eu dizer para você, nem todos os santos, com todas as suas mensagens e pregações maravilhosas, seriam capazes de surgir no coração de uma pessoa um único ato de amor”, é o Evangelho de hoje.
Ninguém seria capaz de fazer brotar no seu coração um único ato de amor se Aquele que tem, ressuscitado, o poder de mandar o Espírito Santo, não mandar o Espírito Santo a você. Por isso, peça mais fé. O que é pedir a fé?
Pedir a fé é a mesma coisa que pedir o Espírito Santo. Por quê? Porque, claro, o ato de fé só é possível se o Ressuscitado, enviando o Espírito Santo, convidar a sua vontade e iluminar a sua inteligência, a sua vontade disser para a sua inteligência: “Creia!
É Ele que está falando! ”. O Espírito Santo enviado pelo Ressuscitado toca o nosso interior, convida a nossa vontade, você ouve aquilo e vê que é belo, quando você enxerga essa luz, quando enxerga aquela verdade que está sendo pregada mesmo que por Jonas, o paspalhão, mesmo assim uma luz se acende no seu interior, a sua inteligência é iluminada, essa luz afeta a sua vontade e a sua vontade é convidada por essa beleza extraordinária e diz: “Creia, é Ele”.
Mas isso sem o auxílio divino é impossível, nem todas as doutrinas e ensinamentos de todos os santos, nos diz Teresinha, seria capaz de fazer surgir um único ato de amor numa alma. Pode mandar quem você quiser, o débil e fraco sinal de Jonas ou o farol luminoso do Cristo, se você não abrir o seu coração para a graça do Espírito Santo que o Ressuscitado quer enviar, nada acontecerá. Por isso peça a fé, ou seja, peça o Espírito Santo, peça que em você haja abertura, que o seu interior abra os olhos para essa luz, que a sua vontade seja aquecida, que a sua inteligência seja iluminada e você possa dizer “Creio!
”. É isso que nos une a Deus, é a fé que nos une a Deus. “O justo vive pela fé”, assim como o feto vive pelo cordão umbilical.
Se é a fé que nos une a Ele, precisamos desejar a fé mais do que ao ar que respiramos, se é a fé que nos une a Ele, precisamos desejar a fé como o bem mais precioso que nós poderíamos adquirir nessa vida, se é a fé que nos une a Ele, nós deveríamos dançar de alegria de saber que Ele quer nos dar a fé. Nós deveríamos bater no peito, nos penitenciar, jogar cinza na cabeça, vestir as vestes de penitência dos ninivitas ao ver que somos homens e mulheres de pouca fé e, portanto, de pouca união com Ele. Aproximamo-nos desse altar e dizemos: “Eu creio, Senhor, mas a minha fé é tão fraca.
Eu creio, Senhor, ajudai minha falta de fé. Eu creio, aumentai a minha fé! ”.