Meu nome é Bianca e agora vou te contar como descobri a traição do meu marido, Danilo, e arquitetei minha vingança. Tudo começou em uma terça-feira comum, quando notei, pela primeira vez, algo diferente no comportamento dele. Danilo chegou em casa mais tarde do que o habitual. Naquela noite, o relógio da sala marcava 21:47 quando ouvi a chave girando na fechadura. Ele entrou com um sorriso forçado no rosto, evitando meu olhar. — Oi, amor! Desculpe o atraso, o trânsito estava terrível — disse ele, depositando um beijo rápido em minha bochecha. Percebi imediatamente o cheiro de um
perfume diferente em sua camisa; não era o meu nem o dele. Era algo floral e adocicado, definitivamente feminino. Meu coração disparou, mas mantive a compostura. — Tudo bem, querido. O jantar está na geladeira, se você quiser esquentar — respondi casualmente, observando atentamente suas reações. Danilo murmurou algo ininteligível e subiu as escadas apressadamente, alegando precisar de um banho urgente. Fiquei parada no meio da sala, sentindo o mundo desabar ao meu redor. Depois de 15 anos de casamento, seria possível que Danilo estivesse me traindo? Nos dias que se seguiram, comecei a prestar mais atenção aos detalhes. Danilo
passou a chegar cada vez mais tarde do trabalho, sempre com desculpas prontas. Suas camisas tinham manchas de batom discretas que ele tentava esconder. O celular, antes sempre largado pela casa, agora era guardado com zelo excessivo. Uma noite, enquanto ele dormia, não resisti à tentação e verifiquei seu aparelho. Encontrei mensagens deletadas e chamadas para um número não salvo. Meu coração se apertou com a confirmação das minhas suspeitas. Mas o golpe final veio quando ouvi uma conversa entre Danilo e sua mãe, Madalena. Eu estava no quarto quando os dois chegaram em casa falando em tons baixos na
sala. Aproximei-me silenciosamente da porta para escutar. — Filho, você precisa ser mais cuidadoso — dizia Madalena em um tom conspiratório. — Bianca pode ser ingênua, mas não é estúpida. Se continuar assim, ela vai acabar descobrindo sobre Letícia. — Relaxa, mãe — respondeu Danilo com desdém. — Bianca não desconfia de nada. Estou controlando a situação perfeitamente. Naquele momento, algo dentro de mim se quebrou. A dor da traição misturou-se com uma raiva profunda. Como Danilo ousava me trair? E pior, como ele e Madalena podiam me subestimar dessa forma? Foi então que tive uma ideia, uma ideia louca,
arriscada, mas que poderia me dar todas as respostas que eu precisava. Decidi que, em vez de confrontá-los diretamente, eu fingiria estar cega. Assim, poderia observar suas ações livremente, enquanto eles acreditavam que eu estava em defesa. No dia seguinte, marquei uma consulta com um oftalmologista amigo. Expliquei minha situação e pedi sua ajuda. Relutante no início, ele acabou concordando em me fornecer um falso diagnóstico de uma rara doença ocular que poderia levar à cegueira temporária. Armada com esse diagnóstico, voltei para casa e dei a notícia a Danilo. Sua reação foi de choque, mas notei um brilho estranho
em seus olhos. Seria alívio? — Não se preocupe, querida — ele disse, abraçando-me de forma mecânica. — Vamos enfrentar isso juntos. Mal sabia ele que eu já estava enfrentando muito mais do que uma falsa cegueira. Nos meses que se seguiram, aperfeiçoei minha atuação. Aprendi a me movimentar como se realmente não enxergasse, a reagir aos sons e toques de forma convincente. Danilo e Madalena caíram completamente na minha encenação. À medida que se sentiam mais seguros, começaram a agir com mais ousadia. Ouvi conversas ao telefone, combinações de encontros, até mesmo risadas abafadas quando achavam que eu estava
dormindo. Madalena passou a frequentar mais nossa casa, sempre com a desculpa de estar me ajudando. Na verdade, ela estava facilitando os encontros de Danilo com Letícia, sua amante. — Bianca, querida — Madalena dizia com falsa doçura. — Vou levar Danilo para fazer umas compras. Você ficará bem sozinha por algumas horas? — Claro, Madalena — eu respondia com um sorriso forçado. — Não se preocupem comigo. Mal sabiam eles que, assim que saíam, eu me levantava e vasculhava a casa em busca de evidências. Encontrei recibos de restaurantes caros, ingressos de cinema para duas pessoas, até mesmo uma
conta de motel. Cada descoberta era uma punhalada no meu coração, mas também alimentava minha determinação. Um dia, ouvi Danilo comentando com Madalena sobre trazer Letícia para nossa casa. — Mãe, já que Bianca não pode ver, por que não trazer Letícia aqui? Seria mais conveniente e seguro — ele sussurrou, pensando que eu estava no andar de cima. — Ótima ideia, filho — respondeu Madalena com entusiasmo. — Bianca nunca saberá. Naquele momento, decidi que era hora de preparar meu grande final. Eles queriam trazer a amante para minha casa? Ótimo! Seria o cenário perfeito para minha revelação. Durante
semanas, planejei cada detalhe. Observei suas rotinas, memorizei seus horários, preparei-me emocionalmente para o confronto que estava por vir. A raiva e a dor que senti inicialmente se transformaram em uma determinação fria e calculista. Finalmente, chegou o dia em que ouvi Danilo combinar com Madalena de trazer Letícia para um jantar em casa. Eles planejavam tudo nos mínimos detalhes, decidindo o cardápio e até mesmo onde me acomodariam para que eu não atrapalhasse. Pouco sabiam eles que eu ia ser a estrela daquela noite, enquanto aguardava o momento certo. O som da campainha anunciou a chegada de Letícia. Ouvi
as vozes abafadas na sala, as risadas contidas, o tilintar de taças. Meu coração batia forte, mas minha mente estava clara — era a hora do show. Desci as escadas lentamente, usando a bengala que havia se tornado minha companheira nos últimos meses. O silêncio repentino na sala indicou que haviam notado minha presença. — Bianca, querida — a voz de Danilo soou tensa. — Achei que você estivesse descansando. — Estou me sentindo melhor — respondi com um sorriso sereno. — Achei que poderia me juntar a vocês. Não se importam, não é? O silêncio que se seguiu foi
ensurdecedor. Eu podia sentir o pânico emanando deles. Caminhei calmamente até o centro da sala, parando bem. Em frente a onde sabia que Letícia estava sentada, Danilo chamei suavemente: "Você não vai me apresentar nossa convidada?" O silêncio que se seguiu à minha pergunta foi quase palpável; podia sentir a confusão crescendo na sala como uma corda sendo esticada até o ponto de ruptura. "Bianca, querida," a voz de Danilo finalmente quebrou o silêncio, trêmula e hesitante, "esta é uma colega do trabalho, Letícia. Ela veio para discutirmos um projeto importante." Forcei um sorriso amável, estendendo minha mão na direção
onde eu sabia que estava sentada. "É um prazer conhecê-la, Letícia. Espero que não se importe com minha presença. Às vezes me sinto tão isolada aqui em casa." Uma mão fria e trêmula tocou a minha; a voz de Letícia era aguda e nervosa quando respondeu: "O prazer é meu, senhora Bianca. Eu... eu não queria incomodar." "Que bobagem," respondi, mantendo meu tom leve. "Vocês não me incomodam nem um pouco. Na verdade, adoraria me juntar a vocês se não se importarem. Faz tanto tempo que não temos visitas." Ouvi Madalena pigarrear desconfortavelmente antes de falar: "Bianca, querida, talvez seja
melhor você descansar. Sabe como o médico recomendou que evitasse esforços." Ignorei deliberadamente a sugestão de Madalena. "Bobagem! Estou me sentindo ótima hoje. Na verdade, por que não fazemos algo divertido, como um jogo de cartas?" "Cartas?" a voz de Danilo soou estrangulada. "Mas você não pode ver as cartas, Bianca." Deixei escapar uma risada melodiosa. "Ora, Danilo, não seja tolo! Existem cartas em Braille, lembra? Você mesmo as comprou para mim mês passado." O som de copos sendo derrubados ecoou pela sala; aparentemente, Letícia havia se movido abruptamente, derrubando sua bebida. "Ah, me desculpe!" ela exclamou, a voz embargada
de nervosismo. "Não se preocupe, querida," falei, mantendo minha expressão serena. "Acidentes acontecem. Danilo, por que não busca um pano para limpar isso?" Ouvi os passos apressados de Danilo saindo da sala e aproveitei o momento para me aproximar mais de Letícia. "Então, Letícia," comecei, sentando-me ao seu lado no sofá, "conte-me mais sobre esse projeto em que você e Danilo estão trabalhando. Deve ser muito importante para vocês se reunirem fora do horário de expediente." O perfume adocicado que eu havia sentido tantas vezes nas camisas de Danilo agora preenchia minhas narinas; era Letícia, sem sombra de dúvida. "Eu...
bem..." Letícia gaguejou, claramente despreparada para manter a farsa. Madalena interveio rapidamente: "É um projeto muito técnico, Bianca. Tenho certeza de que você acharia terrivelmente entediante." "Pelo contrário," respondi com um sorriso. "Adoro ouvir sobre o trabalho de Danilo; ele costumava me contar tudo, sabe? Antes de eu... bem, antes de eu perder a visão." Nesse momento, Danilo retornou com o pano. Podia ouvir sua respiração pesada, denunciando seu nervosismo. "Aqui está o pano," ele disse, sua voz tensa. "Deixe-me limpar isso para você." "Não, Letícia!" exclamou abruptamente. "Quero dizer, não se preocupe, eu mesma faço isso." O som de
tecido esfregando o chão preencheu o silêncio constrangedor que se seguiu. Decidi pressionar um pouco mais. "Sabe, Letícia," continuei, minha voz carregada de falsa inocência, "é tão bom ter uma nova amiga. Danilo quase nunca traz colegas de trabalho para casa. Você deve ser muito..." O som de Letícia engasgando foi quase cômico. Madalena rapidamente tentou mudar de assunto: "Bianca, amiga, você não gostaria de um chá? Posso preparar para você." "Não, obrigada, Madalena," respondi firmemente. "Prefiro ficar aqui e conhecer melhor nossa convidada. Afinal, não é todo dia que temos visitas tão íntimas." O silêncio que se seguiu foi
ensurdecedor; praticamente ouvi as engrenagens girando na cabeça de Danilo, provavelmente tentando encontrar uma saída para aquela situação. "Bianca," ele finalmente falou, sua voz forçadamente calma, "talvez seja melhor deixarmos a conversa sobre trabalho para outro momento. Letícia provavelmente está cansada." "E nonsens," interrompi, meu tom ainda doce, mas com uma ponta de aço. "A noite é uma criança, e tenho certeza de que Letícia não se importa em ficar um pouco mais, não é mesmo, querida?" O silêncio de Letícia foi resposta suficiente. Decidi dar mais uma volta no parafuso. "Sabe, Letícia," continuei, inclinando-me em sua direção como se
fosse compartilhar um segredo, "desde que perdi a visão, desenvolvi outros sentidos. O olfato, por exemplo, é incrível como consigo distinguir perfumes! Agora, o seu, por exemplo, é simplesmente delicioso, floral e adocicado. Curioso, não?" O som de Danilo engasgando com sua própria saliva ecoou pela sala. Madalena rapidamente interveio: "Bianca, acho que já chega de conversa por hoje. Está ficando tarde." "E tarde?" perguntei, fingindo surpresa. "Mas pensei que ainda fosse cedo. Afinal, Danilo, você disse que ia trabalhar até tarde hoje, não foi? Que horas são agora?" O som do relógio na parede parecia ensurdecedor no silêncio que
se seguiu. "Eram apenas 8:30 da noite." "Eu... eu me enganei," Danilo gaguejou. "O projeto terminou mais cedo." "Ah, que maravilha!" exclamei, batendo palmas de empolgação. "Isso significa que podemos passar mais tempo juntos. Que tal assistirmos a um filme? Ou melhor ainda, por que não jogamos um jogo? Tenho certeza de que Letícia adoraria se juntar a nós." O som de copos tinindo denunciou o tremor nas mãos de alguém, provavelmente Letícia. Na verdade, a voz de Letícia soou estranhamente aguda: "Eu realmente preciso ir. Tenho um... um compromisso amanhã cedo." "Tan cedo?" perguntei, minha voz carregada de falsa
decepção. "Mas a noite mal começou! E tenho tantas perguntas sobre seu trabalho com Danilo, por exemplo, em qual departamento exatamente você trabalha?" O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor; podia praticamente ouvir as mentes deles trabalhando freneticamente para inventar uma resposta plausível: "Marketing, recursos humanos, contabilidade." As três respostas vieram simultaneamente: Danilo, Madalena e Letícia falando ao mesmo tempo. Deixei que o silêncio constrangedor se estendesse por alguns segundos antes de soltar uma risada suave. "Ora, parece que há alguma confusão aqui," comentei, meu tom ainda leve, mas com uma ponta de ironia que não pude conter. "Talvez devêssemos
esclarecer isso, não acham?" O som de passos apressados e uma cadeira sendo arrastada indicou que... Letícia havia se levantado abruptamente. — Eu realmente preciso ir — ela disse, sua voz trêmula. — Foi um prazer conhecer, senhora Bianca. — O prazer foi todo meu, Letícia — respondi, meu sorriso audível na voz. — Espero que possamos nos encontrar novamente em breve. Talvez num ambiente mais apropriado. Ouvi Danilo se levantar também, provavelmente para acompanhar Letícia até a porta. Madalena começou a tagarelar nervosamente sobre como a noite havia sido agradável e como deveríamos todos ir descansar, mas eu não
havia terminado, não ainda. — Danilo! — chamei, minha voz agora perdendo toda a doçura anterior, antes de acompanhar Nossa convidada até à porta. — Por que não me conta mais sobre esse projeto tão importante? Aquele que exige que você trabalhe até tarde quase todas as noites? O silêncio que se seguiu foi pesado, carregado de tensão. Podia praticamente sentir o pânico emanando de Danilo. — Bianca — ele começou, sua voz trêmula —, podemos conversar sobre isso depois. Agora não é o momento. — Pelo contrário, querido — interrompi, minha voz agora fria como gelo. — Acho que
este é exatamente o momento certo. O silêncio que se seguiu às minhas palavras foi perturbador. Podia sentir a tensão no ar como se toda a sala estivesse sustentando a respiração. — Bianca — a voz de Danilo finalmente quebrou o silêncio, trêmula e hesitante. — Não sei do que você está falando. Acho que você está confusa. Levantei-me lentamente do sofá, deixando a bengala de lado; não precisava mais dela. Virei-me na direção de onde vinha a voz de Danilo e fixei meu olhar diretamente nele. — Confusa — repeti, minha voz agora carregada de uma frieza que eu
nunca havia usado antes. — Acho que não, Danilo. Na verdade, estou vendo as coisas com mais clareza do que nunca. O som de algo caindo no chão, provavelmente um copo, ecoou pela sala, a respiração ofegante de alguém, Letícia, presumo, era audível no silêncio tenso. — Do que você está falando? — Madalena interveio, sua voz forçada. — Calma, Bianca, querida. Acho que você precisa descansar. Toda essa... não faz bem para a sua condição. — Minha condição! — interrompi, deixando escapar uma risada amarga. — Ah, Madalena, você está certa, minha condição realmente mudou. Mas não da maneira
que você pensa. Com um movimento rápido, levei as mãos aos olhos e removi os óculos escuros que havia usado por meses. Abri os olhos, piscando algumas vezes para me ajustar à luz da sala, e encarei diretamente o rosto chocado de Danilo. — Surpreso? — perguntei, minha voz transbordando de sarcasmo. — Esperava que sua esposa cega e indefesa continuasse na escuridão enquanto você se divertia. O som de Danilo engasgando foi quase cômico. Letícia soltou um grito abafado e Madalena murmurou algo que soou como uma prece. Mas, como Danilo finalmente conseguiu balbucear, seu rosto pálido como um
fantasma… — Como? — repeti, dando um passo em sua direção. — A pergunta não é como, Danilo. A pergunta é por quê. Por que você achou que poderia me trair, me humilhar e sair impune? Virei-me para Letícia, que estava parada perto da porta, parecendo pronta para fugir a qualquer momento. — E você, Letícia, achou mesmo que poderia entrar na minha casa, deitar na minha cama, e eu nunca descobriria? Letícia começou a gaguejar, lágrimas brotando em seus olhos. — Eu... eu não sabia. — Ele me disse que vocês estavam se separando. — Claro que ele disse!
— respondi, minha voz carregada de desprezo. — E você acreditou? Não é tão conveniente acreditar nas mentiras de um homem casado? Voltei minha atenção para Madalena, que parecia ter envelhecido 10 anos nos últimos minutos. — E você, Madalena, minha querida sogra, sempre tão preocupada com meu bem-estar, não é mesmo? Sempre tão solícita em me ajudar durante minha cegueira... diga-me, foi ideia sua trazer a amante do seu filho para dentro da minha casa? Madalena abriu e fechou a boca várias vezes, parecendo um peixe fora d'água. — Bianca, você não entende, nós só queríamos... — O quê?
— interrompi, minha voz cortante como uma navalha. — Me humilhar? Me fazer de idiota? Bem, parabéns, vocês conseguiram! Por meses, eu fui a esposa cega e tola que vocês queriam que eu fosse, mas agora os papéis se inverteram. Caminhei lentamente pela sala, olhando cada um deles nos olhos. O medo e a culpa estampados em seus rostos eram quase palpáveis. — Vocês acharam que podiam brincar comigo, não é? — continuei, minha voz baixa e perigosa. — Acharam que podiam me enganar, me trair e eu nunca descobriria? Bem, tenham uma surpresa para vocês: eu vi tudo, ouvi
tudo, senti tudo. Parei em frente a Danilo, que parecia ter sido pregado no chão. — Lembra daquela noite, há três meses, quando você chegou tarde em casa cheirando a perfume de mulher? Eu vi você tentando esconder as manchas de batom na sua camisa. Eu vi você deletando mensagens do seu celular furtivamente. Virei-me para Madalena. — E você, Madalena? Lembra quando você veio me fazer companhia enquanto Danilo saía para trabalhar? Eu vi você sorrindo satisfeita enquanto falava ao telefone com ele, combinando os detalhes do encontro com Letícia. Finalmente, encarei Letícia, que agora chorava abertamente. — E
você, Letícia? Eu vi você entrando na minha casa, usando minhas coisas, dormindo na minha cama. Eu ouvi suas risadas, seus suspiros, suas promessas de amor eterno para um homem que não era seu. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Ninguém ousava se mover ou falar. Era como se o tempo tivesse congelado naquele momento de revelação. Mas por quê? Danilo finalmente conseguiu articular sua voz, mal passando de um sussurro. — Por que fingir por tanto tempo? Deixei escapar uma risada. — Por quê? Porque eu queria ver até onde vocês iriam, queria ver quão baixo vocês cairiam.
E devo dizer, vocês superaram todas as minhas expectativas. Caminhei até a estante e peguei uma pasta que havia escondido ali. Abri e comecei a tirar fotos, uma por uma. — Aqui está! Vocês dois saindo do motel na Avenida Principal — disse, jogando uma foto na direção de Danilo e Letícia. — E aqui, naquele restaurante italiano que você jurou que nunca havia ido, Danilo. Continuei tirando. fotos da pasta, cada uma delas uma prova irrefutável da traição, e esta é particularmente interessante. Comentei, mostrando uma foto de Madalena entregando um envelope para Letícia: "Diga-me, Madalena, quanto você pagou
para que Letícia continuasse com esse caso sórdido?" Madalena empalideceu, balbuceando, incoerente. Danilo olhou para a mãe, chocado. "Mãe, você pagou a Letícia?" "Eu... eu só queria o melhor para você, Filho," Madalena finalmente conseguiu dizer. "Bianca nunca foi boa o suficiente para você." "Eu pensei..." "Você pensou errado," interrompi, minha voz cortante. "Vocês todos pensaram errado. Achavam que podiam brincar comigo, me manipular, me trair. Mas eu não sou um peão no jogo de vocês, eu sou a rainha, e agora é cheque-mate." Virei-me para Letícia, que parecia estar à beira de um colapso. "Você pode ir agora, Letícia,
sua presença não é mais necessária aqui. Mas lembre-se, cada vez que olhar no espelho, você verá o rosto de uma mulher que escolheu ser a outra, que escolheu destruir um casamento por dinheiro e promessas vazias." Letícia soluçou e correu para fora da casa, a porta batendo atrás dela com um estrondo que pareceu finalizar aquele capítulo sórdido. Voltei-me à atenção para Danilo e Madalena. "Quanto a vocês dois, temos muito o que discutir, mas não hoje. Hoje eu quero que vocês saiam da minha casa. Amanhã meus advogados entrarão em contato para discutir os termos do divórcio." "Divórcio?"
Danilo repetiu, parecendo finalmente entender a gravidade da situação. "Mas, Bianca, nós podemos conversar sobre isso! Podemos consertar as coisas!" "Consertar?" repeti, incrédula. "Não há nada para consertar, Danilo. Você quebrou tudo: nossa confiança, nosso casamento, nossas promessas. Não há cola no mundo que possa juntar os pedaços." Madalena deu um passo à frente, seu rosto uma máscara de falso arrependimento. "Bianca, querida, vamos conversar. Tenho certeza de que podemos resolver isso como uma família." "Família?" interrompi, minha voz carregada de desprezo. "Que família, Madalena? A família que conspirou pelas minhas costas? A família que me traiu e humilhou? Não,
obrigada! Prefiro ficar sozinha a ter uma família como essa." Caminhei até a porta e a abri, fazendo um gesto para que saíssem. "Vão embora, agora!" Danilo parecia querer dizer algo mais, mas Madalena o pegou pelo braço e o puxou em direção à porta. Quando passaram por mim, não pude deixar de notar o cheiro de derrota que emanava deles. Assim que a porta se fechou atrás deles, senti como se um peso enorme tivesse sido tirado dos meus ombros, mas não havia alívio, não havia catarse, apenas um vazio imenso e uma determinação férrea de seguir em frente.
Caminhei até a janela e observei Danilo e Madalena entrando no carro e partindo. Não havia lágrimas em meus olhos, não havia tremor em minhas mãos; havia apenas a certeza de que eu havia feito o que precisava ser feito. Nos dias que se seguiram, mantive-me ocupada com os preparativos para o divórcio. Meus advogados trabalharam incansavelmente para garantir que eu recebesse tudo o que era meu por direito. Danilo tentou entrar em contato várias vezes, alternando entre desespero e ameaças vazias. Ignorei todas elas. Madalena, por outro lado, parecia ter finalmente entendido a gravidade da situação. Ela tentou uma
última jogada, aparecendo na minha porta com lágrimas nos olhos e promessas de mudança, mas eu não estava mais disposta a ouvir suas mentiras. "Acabou," disse a ela, minha voz firme e decidida. "Não há mais nada a ser dito ou feito. Você e seu filho fizeram suas escolhas; agora vão ter que viver com as consequências." Enquanto havia parte de mim que quis sentir pena, pena da mulher que havia dedicado sua vida a manipular os outros, que havia criado um filho incapaz de honrar seus compromissos, não havia espaço para pena em meu coração, não depois de tudo
o que eles haviam feito. O processo de divórcio foi rápido e discreto. Danilo, percebendo que não tinha como se defender diante das provas que eu havia acumulado, concordou com todos os meus termos. Em questão de semanas, eu estava legalmente solteira novamente. Alguns conhecidos, ao saberem da situação, tentaram me convencer a perdoar e esquecer. Falaram sobre segundas chances, sobre a importância do perdão, mas eu sabia melhor; sabia que algumas traições são imperdoáveis e que algumas feridas são profundas demais para cicatrizar. Não há perdão para quem não se arrepende verdadeiramente, respondia a eles. E mesmo que houvesse,
eu escolho não perdoar; escolho seguir em frente livre do peso da traição e da mentira. À medida que os dias passavam, comecei a reconstruir minha vida. Não foi fácil; havia momentos em que a raiva ameaçava me consumir, momentos em que a dor da traição parecia insuportável. Mas eu me recusava a ser definida por aquilo que haviam feito comigo. Voltei a trabalhar, mergulhando de cabeça em meus projetos. Redesignei a casa, eliminando todos os vestígios da vida que havia compartilhado com Danilo. Cada mudança, cada decisão, era um passo em direção à minha nova realidade. Uma noite, enquanto
organizava alguns papéis, encontrei as fotos que havia usado para confrontar Danilo e os outros. Por um momento, pensei em queimá-las, apagar aquelas evidências dolorosas do passado, mas decidi guardá-las, não como uma âncora me prendendo ao passado, mas como um lembrete. Um lembrete de que eu era mais forte do que eles pensavam, de que eu havia superado sua traição e emergido mais forte. Olhando para aquelas fotos, revivi cada momento da minha vingança: a expressão de choque no rosto de Danilo quando tirei os óculos; o desespero nos olhos de Letícia quando percebeu que havia sido usada; a
máscara de falso arrependimento de Madalena se desfazendo diante da verdade inegável. Não sentia alegria ao relembrar aqueles momentos, não havia satisfação na dor que causei a eles, mas havia uma sensação de justiça, de equilíbrio restaurado. Eles haviam tentado me destruir, me reduzir a uma vítima cega e indefesa; eu havia provado que era muito mais do que isso. Guardei as fotos de volta na... Pasta! E a coloquei em uma gaveta. Aquele capítulo da minha vida estava encerrado. Não havia mais nada a ser dito ou feito. Danilo, Madalena e Letícia teriam que viver com as consequências de
suas ações, assim como eu teria que viver com as minhas. Caminhei até a janela e olhei para a cidade lá fora. As luzes brilhavam na escuridão, um lembrete de que a vida continua, não importa o quão difíceis sejam as provações. Eu havia passado pelo fogo e emergido do outro lado, não intacta, certamente, mas mais forte, mais sábia. Não havia perdão em meu coração para aqueles que haviam me traído, não havia espaço para segundas chances ou reconciliações; havia apenas a determinação de seguir em frente, de construir uma vida em meus próprios termos. Enquanto fechava as cortinas,
pensei em tudo o que havia ocorrido: na traição, na mentira, na vingança. Pensei em como aqueles meses de fingimento haviam me mudado, me ensinado lições duras sobre confiança e lealdade. Não havia arrependimento em mim pelo que fiz; cada ação, cada palavra dura havia sido necessária. Danilo, Madalena e Letícia precisavam entender o peso de suas ações, a profundidade de sua traição. No dia seguinte, recebi uma ligação do meu advogado. Danilo estava tentando contestar alguns termos do acordo de divórcio; aparentemente, ele achava que merecia mais do que havia recebido. "Ele não tem base legal para isso", meu
advogado me assegurou. "Temos todas as provas da infidelidade dele, ele não tem como se defender." "Ótimo", respondi, minha voz firme. "Não vou ceder nenhum centímetro; ele fez sua escolha, agora tem que viver com as consequências." Desliguei o telefone e me permiti um momento de raiva. Como Danilo ousava tentar tirar mais de mim, depois de tudo o que havia feito? Mas logo a raiva passou, substituída por uma determinação fria. Ele não ganharia; não desta vez. Nas semanas que se seguiram, mergulhei de cabeça no trabalho. Meus colegas notaram a mudança em mim; estava mais focada, mais determinada.
Alguns perguntaram se estava tudo bem, se queria conversar. Agradeci a preocupação, mas mantive minha vida pessoal privada; não precisava da pena deles, nem de seus conselhos bem-intencionados, mas mal informados. Uma tarde, enquanto saía do escritório, vi Letícia do outro lado da rua. Nossos olhares se cruzaram por um momento; vi o medo em seus olhos, a culpa. Ela rapidamente desviou o olhar e apressou o passo, claramente querendo evitar um confronto. Por um momento, considerei ir atrás dela, dizer todas as coisas que ainda fervilhavam dentro de mim, mas percebi que não valia a pena. Letícia não era
nada para mim, apenas um instrumento na traição de Danilo. Ela teria que viver com suas próprias escolhas, assim como eu vivia com as minhas. Continuei meu caminho, sentindo um estranho senso de libertação; não precisava mais me preocupar com Letícia, ou com Danilo, ou com Madalena. Eles não tinham mais poder sobre mim. Em casa, encontrei uma carta de Madalena na caixa de correio. Por um momento, considerei jogá-la fora sem ler, mas a curiosidade falou mais alto. Abri o envelope e li suas palavras de arrependimento, suas súplicas por perdão. "Bianca, querida", ela escreveu, "sei que cometemos erros
terríveis, mas família certamente há espaço para perdão." Ri amargamente enquanto rasgava a carta em pedaços. Família? Eles haviam deixado de ser minha família no momento em que decidiram me trair. Não havia perdão possível para o que fizeram. Joguei os pedaços da carta no lixo e me servi de uma taça de vinho. Sentei-me no sofá, olhando para o espaço vazio onde antes ficavam as fotos de meu casamento com Danilo. Não sentia falta delas, não sentia falta dele. O telefone tocou, interrompendo meus pensamentos. Era um número desconhecido. Atendi com cautela. "Bianca", a voz de Danilo soou do
outro lado da linha. "Por favor, não desligue, precisamos conversar." Senti meu corpo enrijecer, minha mão apertando o telefone com força. "Não temos nada para conversar, Danilo; tudo o que precisava ser dito já foi dito." "Mas, Bianca", ele insistiu, sua voz implorando. "Eu mudei, percebi meus erros." "Se você pudesse me dar outra chance... outra chance..." Interrompi, minha voz carregada de desprezo: "Para quê? Para você me trair novamente? Para me fazer de idiota mais uma vez? Não, Danilo, não há segundas chances para traições como a sua." "Mas eu te amo", ele exclamou, sua voz quebrada. "O que
tivemos não significou nada para você." Senti uma onda de raiva me invadir. Como ele ousava falar de amor, depois de tudo o que fez? "Amor", repeti, minha voz fria como gelo, "você não sabe o que é amor, Danilo. Amor é respeito, é lealdade. Você não me amou quando me traiu, não me amou quando trouxe sua amante para nossa casa e, certamente, não me ama agora." "Bianca, por favor", implorou ele. "Sou..." Mas eu o interrompi. "Chega, Danilo. Acabou. Você fez sua escolha, agora viva com ela. Não me ligue novamente." Desliguei o telefone, minha mão tremendo levemente.
Respirei fundo, tentando acalmar meu coração acelerado. Não podia negar que ouvir a voz de Danilo havia mexido comigo, não por saudade ou amor, mas pela raiva que ainda sentia. Peguei minha taça de champanhe e fui para a varanda. A noite estava clara, as estrelas brilhando no céu escuro. Olhei para a cidade abaixo, para as luzes dos carros e das casas. Quantas histórias, como a minha, estavam acontecendo naquele exato momento? Quantas traições, quantas mentiras? Balancei a cabeça, afastando esses pensamentos. Não importava. O que importava era minha história, minha jornada, e eu havia escolhido seguir em frente.
Voltei para dentro, deixando a taça vazia na pia. Passei pelo quarto, agora redecorado e livre de qualquer lembrança de Danilo. Não havia mais seu perfume no ar, suas roupas no armário; era meu espaço agora, só meu. No dia seguinte, senti o silêncio da casa, antes sufocante, agora um conforto. Levantei-me, determinada a enfrentar mais um dia, sem olhar para trás, enquanto me arrumava para... O trabalho. Ouvi o som de uma notificação no meu celular. Era uma mensagem de um número desconhecido. Hesitei por um momento antes de abrir. Espero que esteja feliz; agora você destruiu uma família.
Reconheci imediatamente o Tom venenoso: Letícia, a amante que achava ter o direito de me acusar de destruir uma família. Ri amargamente da ironia e decidi ignorar a mensagem; não valia a pena me rebaixar ao nível dela. Terminei de me arrumar e saí para o trabalho, decidida a não deixar que aquilo arruinasse meu dia. No escritório, mergulhei de cabeça nos projetos pendentes. Meus colegas notaram minha dedicação renovada, mas ninguém ousou fazer perguntas. Talvez o olhar determinado em meu rosto os desencorajasse. Por volta do meio-dia, decidi fazer uma pausa para almoçar. Optei por um restaurante próximo ao
escritório, um lugar tranquilo onde poderia comer em paz. Mal havia me sentado quando entrou Letícia. Ela me viu no mesmo instante, seus olhos se estreitando ao me reconhecer. Por um momento, pensei que ela fosse dar meia-volta e sair, mas não; ela caminhou diretamente para minha mesa, um sorriso falso nos lábios. “Bianca,” ela disse, sua voz doce demais para ser sincera. “Que coincidência te encontrar aqui!” Erguei uma sobrancelha, mantendo minha expressão neutra. “Coincidência? Duvido muito.” Letícia riu, um som agudo e forçado. “Sempre tão desconfiada. Não é à toa que Danilo procurou consolo em outros braços.” Senti
meu sangue ferver, mas mantive a calma. Não daria a ela a satisfação de me ver perder o controle. “Consolo?” repeti, minha voz fria como gelo. “É assim que você chama traição agora?” Letícia sentou-se na cadeira à minha frente, sem ser convidada. “Traição é uma palavra tão feia; prefiro pensar que dei a Danilo o que você não podia.” Inclinei-me para a frente, meus olhos fixos nos dela. “E o que seria isso, Letícia?” “Falta de caráter? Por isso você tem de sobra!” O sorriso de Letícia vacilou por um instante, mas ela se recuperou rapidamente. “Amor, Bianca; dei
a ele amor, algo que você claramente não sabia como fazer!” Ri, um som sem humor. “Amor? É isso que você chama de pular de cama em cama, de destruir um casamento por dinheiro?” Letícia empalideceu. “Do que você está falando?” “Oh, não se faça de desentendida,” respondi, minha voz carregada de desprezo. “Sei muito bem dos pagamentos que Madalena fazia a você. Ou vai me dizer que era tudo por amor?” Letícia abriu a boca para responder, mas eu a interrompi. “Não se dê ao trabalho de negar. Tenho provas: fotos, recibos, tudo. Então me diga, Letícia, quanto vale
seu amor?” Vi o pânico nos olhos dela, a máscara de confiança desmoronando. “Você não entende,” ela gaguejou. “Não foi assim.” “Então me explique. Explique como não foi baixo e desprezível o que você fez; como não foi uma traição, não só a mim, mas a si mesma.” Letícia ficou em silêncio, seus olhos baixos. Por um momento, quase senti pena dela; quase. “Você acha que venceu, não é?” ela disse, finalmente, sua voz trêmula. “Acha que, ao expor tudo, você saiu por cima?” “Não se trata de vencer ou perder, Letícia,” respondi, minha voz firme. “Se trata de verdade,
de integridade, algo que você claramente não conhece.” Letícia levantou abruptamente suas mãos, tremendo. “Você não sabe de nada!” ela sibilou. “Não sabe o que Danilo e eu tínhamos.” “Sei o suficiente,” retruquei, mantendo minha voz calma. “Sei que era baseado em mentiras e traição. Sei que você foi usada tanto quanto tentou me usar. A diferença é que eu não me deixei ser vítima.” Vi as lágrimas se formando nos olhos dela, mas não senti compaixão. Ela havia feito suas escolhas; agora teria que viver com as consequências. “Você é uma mulher amarga, Bianca,” Letícia disse, sua voz embargada.
“Espero que seja feliz sozinha.” Com isso, ela girou nos calcanhares e saiu apressadamente do restaurante. Observei-a ir embora, sentindo uma mistura de emoções que não conseguia nomear. Voltei minha atenção para meu almoço, determinada a não deixar aquele encontro arruinar meu apetite, mas as palavras de Letícia ecoavam em minha mente: amarga, talvez, mas preferia ser amarga e verdadeira do que doce e falsa. O resto do dia passou num borrão de reuniões e telefonemas. Quando finalmente cheguei em casa, estava exausta, tanto física quanto emocionalmente. Mal havia fechado a porta quando meu celular tocou. Era Danilo. Hesitei por
um momento antes de atender. “O que você quer, Danilo?” perguntei, sem me dar ao trabalho de esconder minha irritação. “Bianca, por favor,” sua voz soou desesperada do outro lado da linha. “Precisamos conversar.” “Letícia me contou sobre o encontro de vocês hoje.” Senti minha irritação crescer. “Não há nada para conversarmos, Danilo. Tudo já foi dito.” “Mas você não entende,” ele insistiu. “Letícia... ela não significava nada para mim. Foi um erro, um momento de fraqueza.” Ri amargamente. “Um momento de fraqueza que durou meses, que envolvia pagamentos da sua mãe. Não me faça de idiota, Danilo!” Houve um
longo silêncio do outro lado da linha. Quando Danilo falou novamente, sua voz estava quebrada. “Eu sinto muito, Bianca, mais do que você pode imaginar.” “Sente muito por ter feito ou por ter sido pego?” perguntei, minha voz cortante. Outro silêncio, dessa vez mais longo. “Eu... eu não sei,” ele finalmente admitiu. “Talvez ambos.” Senti uma onda de náusea me atingir. Como pude um dia amar esse homem? “Bem,” Danilo disse, minha voz fria, “espero que sua honestidade tardia lhe traga algum conforto, porque é tudo o que você terá daqui para frente.” “Bian, por favor,” ele implorou. “Não podemos,
ao menos, tentar por tudo o que tivemos?” Senti a raiva crescer dentro de mim. “Tudo o que tivemos? Você destruiu tudo o que tínhamos no momento em que decidiu me trair. Não há mais nada para tentar, Danilo; você acabou com isso!” Desliguei o telefone, bloqueando seu número em seguida. Não queria mais ouvir suas desculpas. Vazias, suas promessas sem valor. Caminhei até a cozinha e servi-me de uma taça de vinho. Enquanto bebia, pensei em como minha vida havia mudado nos últimos meses, como eu havia mudado. A Bianca de antes teria perdoado Danilo, teria acreditado em suas
promessas de mudança, em seu arrependimento. Mas não mais. Essa Bianca havia morrido no momento em que decidi fingir cegueira para descobrir a verdade. Terminei meu vinho e fui para o quarto. Enquanto me preparava para dormir, ouvi o som de uma mensagem chegando no meu celular. Era de um número desconhecido: "Você pode ter ganhado a batalha, mas a guerra não acabou. Danilo ainda me ama, ele voltará para mim e você ficará sozinha." Letícia, novamente ri da audácia dela. Deletei a mensagem sem responder e bloqueei seu número. Deitei-me na cama, sentindo o cansaço do dia pesar sobre
mim. Mas não era um cansaço ruim, era o cansaço de quem lutou e venceu, de quem enfrentou a verdade de frente e saiu mais forte. Fechei os olhos, deixando o sono me levar. Amanhã seria outro dia, um dia sem Danilo, sem Letícia, sem mentiras, um dia só meu. E, pela primeira vez em muito tempo, adormeci sem medo do amanhã. Os dias que se seguiram foram um teste de força e determinação. Cada manhã trazia novos desafios, novas tentativas de Danilo e Letícia de mexer com minha cabeça. Mensagens apareciam em meu celular, algumas implorando por perdão, outras
cheias de acusações amargas. Eu as deletei sem ler, determinada a não deixar que eles tivessem qualquer poder sobre mim. No trabalho, mergulhei de cabeça em novos projetos. Meus colegas notaram a mudança em mim; estava mais focada, mais nada. Alguns perguntaram se estava tudo bem, se queria conversar. Agradeci a preocupação, mas mantive minha vida pessoal privada. Uma tarde, enquanto saía do escritório, vi Madalena do outro lado da rua. Nossos olhares se cruzaram por um momento; vi a culpa em seus olhos, o arrependimento. Ela fez menção de atravessar a rua, provavelmente para tentar falar comigo. Virei as
costas e segui meu caminho; não tinha nada a dizer a ela. Em casa, as noites eram o momento mais difícil. O silêncio às vezes parecia me sufocar, lembrando-me dos momentos que havia compartilhado com o homem que eu pensava me amar. Mas então lembrava de sua traição, de suas mentiras e manipulações, e o silêncio se tornava um conforto. Uma noite, enquanto assistia a um filme, ouvi a campainha tocar. Olhei pelo olho mágico e vi Letícia parada do outro lado da porta. Meu primeiro instinto foi ignorá-la, mas algo me fez abrir a porta. "O que você quer?",
perguntei, minha voz afiada. Letícia me olhou com um sorriso sarcástico, longe da imagem de arrependimento que eu esperava. "Achei que poderia te ver mais de perto. Só para confirmar que ainda está tentando bancar a vítima." Revirei os olhos, cruzando os braços. "Você realmente veio até aqui para me insultar?" Ela deu de ombros, aproximando-se um pouco mais da porta. "Eu já te tirei o que mais importa, Bianca. Agora estou aqui só para te lembrar disso." Senti o sangue ferver. "Você acha que venceu, Letícia? Você e Danilo se merecem." Ela soltou uma risada amarga. "Vencer? Eu nunca
precisei vencer você, Bianca. Você se destruiu sozinha com toda essa pose de superioridade. Enquanto isso, eu aproveitei o que você nunca soube valorizar." A raiva tomou conta de mim. "Você pode se gabar o quanto quiser, Letícia, mas isso não vai apagar o fato de que você foi um joguete nas mãos dele." Letícia ergueu-se sem se abalar. "Mas ainda assim fui a escolha dele, e você, com toda a sua moralidade, acabou sozinha." Engoli em seco, mantendo minha expressão firme. "E ainda assim estou em paz, coisa que você nunca vai conhecer." Ela me encarou por um instante,
um brilho de raiva surgindo em seus olhos, antes de se recompor. "Acha que vai sair vitoriosa disso? Danilo vai fazer você pagar por tudo. Pode esperar." Sem querer prolongar a conversa, dei um passo à frente, minha voz baixa e incisiva. "Pode tentar o que quiser, Letícia, mas eu não vou recuar. Se você acha que vai me intimidar, está muito enganada." Ela deu um sorriso frio. "Veremos, Bianca. Veremos." Fechei a porta com força, sentindo o peso da tensão no ar. Voltei para o sofá, mas minha mente estava longe. O confronto com Letícia reacendeu em mim uma
determinação feroz. Ela não me destruiria, e Danilo não sairia impune. O dia do julgamento chegou com uma claridade implacável. Acordei antes do despertador tocar, meu corpo tenso com a antecipação do que estava por vir. Vesti-me com cuidado, escolhendo um terno preto que me fazia sentir poderosa e controlada. No tribunal, o burburinho cessou quando entrei. Podia sentir os olhares sobre mim; alguns curiosos, outros julgadores. Não me importei; meu foco estava em um único objetivo: a verdade. Danilo já estava lá, sentado ao lado de seu advogado. Nossos olhares se cruzaram por um momento; vi o medo em
seus olhos, a súplica silenciosa. Desviei o olhar, endurecendo meu coração contra qualquer resquício de compaixão. O juiz entrou, e todos se levantaram. Quando nos sentamos novamente, senti uma calma estranha me envolver. Era a hora. O advogado de Danilo foi o primeiro a falar. Suas palavras eram cuidadosamente escolhidas, pintando um quadro de um casamento em crise, de um homem que cometeu um erro e estava arrependido. Ele falou sobre difamação, sobre como eu havia exposto Danilo injustamente, causando danos à sua reputação. Observei o rosto de Danilo enquanto seu advogado falava. Ele mantinha uma expressão de arrependimento, ocasionalmente
baixando os olhos como se estivesse envergonhado. Uma atuação perfeita. Quase acreditei nela. Quase. Quando chegou a vez do meu advogado, senti meu coração acelerar. Era agora; toda a verdade seria exposta. Meu advogado começou calmamente, sua voz firme e clara: "Meritíssimo, o que temos aqui não é um simples caso de infidelidade..." Que temos é um padrão sistemático de engano, manipulação e traição. Ele, então, começou a apresentar as evidências: as fotos de Danilo e Letícia saindo de motéis, os recibos de restaurantes caros e presentes extravagantes, as mensagens de texto explícitas trocadas entre eles. Vi o rosto de
Danilo empalidecer à medida que cada nova evidência era apresentada. Seu advogado tentava objetar, mas o juiz permitia que as evidências fossem mostradas. Então veio o golpe final: meu advogado apresentou os registros bancários mostrando os pagamentos regulares de Madalena para Letícia. "Como podemos ver, meritíssimo," meu advogado concluiu, "isso não foi apenas uma traição conjugal; foi uma conspiração elaborada para enganar e humilhar minha cliente." O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Vi Danilo afundar em sua cadeira, toda pretensão de arrependimento desaparecida de seu rosto. Ele parecia derrotado. O juiz pediu um recesso para revisar todas as evidências.
Enquanto esperávamos, senti os olhares de todos no tribunal sobre mim, alguns com pena, outros com admiração. Ignorei todos eles. Quando o juiz retornou, sua decisão foi rápida e inequívoca: ele rejeitou completamente as alegações de Danilo sobre difamação e determinou que a divisão de bens que eu havia proposto inicialmente fosse mantida. Além disso, o juiz acrescentou, olhando diretamente para Danilo: "Dada a natureza das evidências apresentadas, estou encaminhando este caso para investigação por fraude financeira." Vi Danilo empalidecer ainda mais, se é que isso era possível. Seu advogado imediatamente começou a protestar, mas o juiz silenciou com um
olhar. Quando o martelo bateu, finalizando a sessão, senti como se um peso enorme tivesse sido tirado dos meus ombros. Estava acabado, finalmente acabado. Levantei-me, ignorando os repórteres que se aglomeravam na saída do tribunal. Danilo tentou se aproximar de mim, mas meu advogado o impediu. "Bianca, por favor," ouvi a voz dele, quase um sussurro desesperado. Parei por um momento, virando-me para encará-lo uma última vez. "Acabou, Danilo," disse, minha voz firme e clara. "Você fez suas escolhas; agora viva com elas." Com isso, saí do tribunal, sentindo o sol quente em meu rosto. Pela primeira vez em meses,
senti que podia respirar livremente. Nos dias que se seguiram, meu telefone não parou de tocar: amigos, familiares, até mesmo estranhos querendo expressar seu apoio. Ignorei a maioria das ligações; não queria reviver aquela experiência, não queria ser definida por ela. Uma semana após o julgamento, recebi uma carta de Madalena. Suas palavras eram uma mistura de desculpas e acusações, típico dela. Rasguei a carta sem terminar de ler. Letícia também tentou entrar em contato: uma mensagem de texto implorando perdão, dizendo que estava arrependida. Deletei sem responder. À medida que as semanas passavam, senti uma mudança em mim. A
raiva que havia me consumido por tanto tempo começou a diminuir, substituída por uma sensação de liberdade que eu não sentia há anos. Voltei a me dedicar ao trabalho com renovado entusiasmo. Meus colegas notaram a mudança, comentando como eu parecia mais leve, mais confiante. Em casa, comecei a fazer mudanças, redecorei os cômodos, jogando fora tudo que me lembrava Danilo. Cada mudança era como um passo em direção à minha nova vida. À noite, arrumando alguns papéis antigos, encontrei nossa certidão de casamento. Por um momento, fiquei olhando para aquele pedaço de papel que um dia havia significado tanto.
Então, sem hesitar, rasguei-o em pedaços e joguei no lixo. Naquela noite, sentada na varanda de minha casa recém-reformada, olhando para as estrelas, percebi que não sentia mais nada por Danilo: nem amor, nem ódio, apenas nada. Ele havia sido uma parte importante da minha vida, é verdade, mas agora ele não passava de um capítulo encerrado, um lembrete do que eu havia superado e do quanto eu havia crescido. O telefone tocou, interrompendo meus pensamentos. Era um número desconhecido. Por um momento, considerei não atender, mas algo me fez pegar o telefone. "Alô," disse, minha voz cautelosa. "Bianca," a
voz de Danilo soou do outro lado da linha, baixa e hesitante. "Por favor, não desligue. Eu... eu preciso falar com você." Senti meu corpo enrijecer, mas minha voz permaneceu calma quando respondi: "Não temos mais nada para conversar, Danilo." "Eu sei," ele disse rapidamente. "Eu só... eu queria te dizer que sinto muito, de verdade, por tudo." Fiquei em silêncio por um momento, deixando suas palavras pairarem no ar. Então, com uma calma que me surpreendeu, respondi: "Obrigada por dizer isso, Danilo, mas não muda nada." "Eu sei," ele repetiu, sua voz quebrando. "Eu só queria que você soubesse
que eu entendo agora o quanto te machuquei, o quanto fui idiota." "Sim, você foi," concordei, sem rancor na voz, "mas isso não importa mais; está no passado." Houve um longo silêncio antes de Danilo falar novamente. "Você acha... você acha que um dia poderá me perdoar?" A pergunta pairou entre nós, carregada de esperança e entendimento. Por um momento, considerei mentir, dizer que sim, que um dia poderia perdoá-lo; seria mais fácil, mais gentil. Mas eu havia prometido a mim mesma que nunca mais mentiria, nem para mim nem para os outros. "Não, Danilo," respondi finalmente, minha voz suave,
mas firme. "Não acho que possa te perdoar. Algumas coisas são imperdoáveis." Ouvi sua respiração entrecortada do outro lado da linha. "Entendo," ele disse. "Finalmente, eu eu sinto muito por tudo, Bianca, de verdade." "Eu sei," respondi. "Adeus, Danilo." Desliguei o telefone antes que ele pudesse responder; não havia mais nada a ser dito. Voltei minha atenção para o horizonte, sentindo uma paz que não havia como descrevê-la. Não havia perdão em meu coração para Danilo, é verdade, mas também não havia mais raiva nem amargura. Havia apenas liberdade: liberdade para seguir em frente, para viver minha vida nos meus
próprios termos. E isso era mais do que o suficiente. Levantei-me, pronta para entrar e enfrentar o que quer que a vida e o destino trouxessem, porque agora eu tinha certeza absoluta de que poderia enfrentar qualquer obstáculo. Minha história com Danilo havia terminado, mas minha própria história, essa estava apenas começando. Gostou do vídeo? Deixe seu like, se inscreva, ative o sininho e compartilhe. Obrigada por fazer parte da nossa comunidade! Até o próximo vídeo.