por que NIETZSCHE ficou LOUCO?

661.62k views1523 WordsCopy TextShare
Tinocando TV
por que NIETZSCHE ficou LOUCO? Em seus últimos 10 anos de vídeo, Nietzsche se vê afundado em uma pr...
Video Transcript:
Esse é o último registro que temos  de Nietzsche antes de sua morte. Essas imagens foram feitas em 1899, mas a sua loucura começou 10 anos antes. O filósofo já apresentava alguns  sinais de insanidade mental, mas o seu colapso nervoso  aconteceu nas ruas de Turim.
Nietzsche vivia em um hotel  na Piazza Carlo Alberto, certo dia, andando por lá, sua vida mudou para sempre. Diante dos seus olhos, Nietzsche vê um homem açoitar  covardemente o seu cavalo, que se recusava a trabalhar. Ele corre em direção ao  animal e o abraça em prantos, pouco tempo depois, ele desmaia.
Quando Nietzsche acorda em  um hospital psiquiátrico, sua família descobre que ele  já não era mais a mesma pessoa. Este havia sido o seu último  ato em vida ainda lúcido. Pelos próximos 10 anos, Nietzsche se  vê afundado em uma profunda loucura, mas nenhum médico de sua época  conseguiu explicar com clareza o que estava acontecendo.
Alguns chamam de “sífilis”, outros de “amolecimento do cérebro”, outros ainda, podem jurar que  Nietzsche estava pagando o preço pela sua própria filosofia, já que, segundo ele: “Quando você olha para o abismo, o abismo olha de volta para você. ” Depois de muitas pesquisas, dezenas de relatos da época e  incontáveis versões ouvidas, nós juntamos as peças desse complexo quebra-cabeça para tentar entender: por que Nietzsche ficou louco? Hoje, no Investigando - Cinzas.
Oi, eu sou o Tinôco e nesse caso, a primeira coisa que precisamos fazer é ir atrás do que os médicos  registraram nas raras vezes que Nietzsche foi ao hospital. E aqui, nós encontramos dois documentos  completos, mas, tem um problema: eles são de 1800 e está tudo em alemão. O primeiro documento vem  de um período que Nietzsche passou hospitalizado na Basileia em 1889, pouco depois do cavalo de Turim.
O segundo vem de um hospital  psiquiátrico da cidade de Jena em 1890. Nos dois documentos, os médicos  concordam que Nietzsche sofria com uma “psicose orgânica sifilítica”. E aqui, nós chegamos na primeira possibilidade que pode ter levado Nietzsche  a loucura: a sífilis.
Essa é a resposta mais encontrada pro  caso de Nietzsche e até que faz sentido. A doença, se não tratada, pode levar  à demência e até à paralisia completa. Mas como que ele poderia ter contraído essa DST?
Existem duas possibilidades: a primeira vem de um relato de  que Nietzsche, supostamente, foi em uma casa de entretenimento adulto, mas segundo o próprio Nietzsche,  ele não fez nada lá dentro e apenas arranhou alguns  acordes num piano no canto. Então nós já podemos riscar essa chance. A segunda possibilidade diz respeito  ao tempo em que ele passou no exército.
Doenças sexualmente transmissíveis  sempre foram uma ameaça para os militares ao longo do tempo. Segundo o Jornal da Saúde  dos MIlitares e Veteranos: “as DSTs, durante a Primeira Guerra,  foram o segundo mais comum motivo de incapacidade e ausência do serviço. ” Mas, elas não eram transmitidas dessa  forma que você está pensando aí não.
Na verdade, na maioria das  vezes, os soldados se infectavam através do sangue ou de agulhas contaminadas. Mas aqui, nós chegamos a dois problemas: o primeiro é que Nietzsche  passou pouco tempo no exército e o segundo coloca em cheque  todos esses registros históricos. Em outro documento publicado pela  Biblioteca Nacional de Medicina é dito que “a sífilis só se tornou um fato  científico após a morte de Nietzsche".
Ou seja, os médicos que o diagnosticaram  com uma “psicose orgânica sifilítica”, ainda estavam aprendendo sobre essa doença e não tinham a informação de que, por exemplo, é relativamente raro que uma pessoa  com essas condições não tratadas, vivesse por 12 anos após os sintomas aparecerem, justamente o caso do Nietzsche. Então, a medicina atual considera improvável que Nietzsche tenha ficado  louco por conta da sífilis, já que, possivelmente, os sintomas  diagnosticados no filósofo, na verdade, poderiam derivar de outra doença que pode ter sido passada  para Nietzsche geneticamente. Não existem muitos registros históricos  da família de Nietzsche antes do filósofo, mas quando analisamos sua árvore genealógica, um nome nos chama a atenção: Karl Ludwig Nietzsche, seu pai, que morreu com apenas 36 anos por conta de um problema no cérebro.
O exato motivo do seu falecimento  precoce ainda é uma dúvida, mas o que nós sabemos é que  quase toda a família de Nietzsche por parte de pai, sofria  com algum distúrbio mental. Sua mãe, Franziska, relatou casos  de quando seu pai estava na igreja – pausa para informação de que o pai do  Nietzsche era pastor de uma igreja né? !
O mundo é irônico… Em alguns momentos, Carl parava de  falar abruptamente no meio do discurso e ficava paralizado até alguém acordar ele. Quando consultou o médico, o pai  de Nietzsche foi diagnosticado com “amolecimento cerebral”, ou  melhor, um “Gehirnerweichung”. Quando eu li essa palavra, eu sabia que  já tinha visto ela em algum outro lugar, ela aparece em diversos outros documentos  históricos da época de Nietzsche, que também é diagnosticado com o mesmo problema.
Só que “amolecimento cerebral” pode  representar qualquer doença neurodegenerativa, indo desde neurossífilis até um tumor no cérebro. Depois de analisar os sintomas descritos na época, os médicos de hoje entraram em um consenso de que o que era conhecido  como “amolecimento cerebral”, na verdade, era uma doença chamada de Arteriopatia Cerebral Autossômica Dominante com Infartos Subcorticais e Leucoencefalopatia, que, por motivos óbvios, ficou  conhecida pela sigla CADASIL. Essa doença justificaria os  sintomas que tanto pai quanto filho tiveram durante toda a vida.
Além de ser passada geneticamente, a CADASIL pode estar associada a  “deficiências cognitivas e motoras” e também ao complexo de  superioridade de Nietzsche. Indo mais a fundo no documento, é falado que de 20% a 41% dos casos de CADASIL também são caracterizados  por distúrbios psiquiátricos, podendo levar a transtornos de  personalidade e ao abuso de substâncias. Dois pontos extremamente presentes  na vida e obra de Nietzsche.
Grande parte de seus livros foi  escrito sob o efeito de haxixe, que é basicamente uma resina extraída da maconha. Outra substância muito usada era o cloral, que de forma incorreta era usada  por Nietzsche para tentar dormir. E sobre os transtornos de personalidade, bom, isso aí é claramente visível nas obras dele.
Pouco antes do cavalo de Turim, Nietzsche já estava mais para lá do que para cá. Em sua autobiografia, Ecce Homo, Nietzsche assina como “O  Anticristo” ou “O Crucificado”. Em outros momentos, ele se  autoproclama “Dionísio”, o Deus grego da música e da festa.
Mas aqui, algo peculiar começa  a fazer cada vez mais sentido e essa doença pode estar diretamente  entrelaçada com as obras de Nietzsche. Uma pesquisa feita por esses 4 médicos, intitulada “Friedrich Nietzsche e sua doença: uma abordagem neurofilosófica da introspecção”, sustenta a ideia de que a CADASIL causaria alterações nas redes  cerebrais de recompensa, resultando em um nível elevado  de introspecção e criatividade. E isso, começou a ser notado pelos  amigos e familiares de Nietzsche quando ele se mudou para Turim.
Em uma carta para um amigo, Nietzsche relata que: “Agora (. . .
) é a minha grande  temporada de colheita. ” Essa “temporada de colheita”, se refere  obviamente a sua produção de livros, já que foi nessa cidade que Nietzsche  escreveu 3 de suas obras mais icônicas: “Crepúsculo dos Ídolos”, “O  Anticristo”, e “Ecce Homo”. Mesmo assim, ainda é precipitado presumir que os distúrbios mentais de  Nietzsche o ajudaram criativamente, na verdade, é justamente o contrário.
Segundo o próprio diretor do hospital  psiquiátrico que internou o filósofo, a energia que Nietzsche canalizou em seu trabalho estimulou excessivamente seu sistema nervoso, o que fez com que o seu  cérebro basicamente fritasse. E o próprio Nietzsche acreditava demais nisso. Depois dele passar grande parte de sua vida sofrendo com problemas de saúde, ele escreveu: “O que não me mata, me fortalece.
” Mesmo assim, essa hipótese ainda  apresenta algumas controvérsias, esse artigo científico concluiu, por exemplo, que “Um estilo de vida cognitivamente ativo  (. . .
) pode atrasar o início da demência”. Acredita-se que após o seu  colapso mental na Itália, a demência de Nietzsche  progrediu descontroladamente. Ele passou dias gritando e  cantando o mais alto que podia, além de falar sozinho constantemente  em delírios que duravam dia e noite.
Ele tocava violentamente  o seu piano em seu quarto, dançando nu, em um ritual sagrado para Dionísio. Pouco tempo depois, quando os médicos decidiram que nada mais poderia ser feito, Nietzsche olha para sua mãe  e diz: “eu sou um idiota”, E essas foram as suas últimas palavras, já que ele passou os próximos 10 anos  de sua vida em um completo silêncio até a sua morte em 1900. Bom, esse foi o vídeo, eu espero que você tenha gostado.
Fazer esse tipo de conteúdo dá um trabalho enorme, então, se você puder, cogite enviar um  Valeu Demais para gente aqui embaixo. Me siga nas redes sociais, você pode também assistir esse vídeo e esse vídeo aqui também. Esse foi o Investigando - Cinzas, se  você tiver qualquer sugestão de tema, é só comentar aqui embaixo e é isso.
Muito obrigado pelo seu  acesso e até o próximo vídeo, valeu, falou, um grande  abraço do Tinôco e lembre-se: a existência é passageira. Tchau!
Copyright © 2024. Made with ♥ in London by YTScribe.com