Conheça a ativista digital indígena Alice Pataxó

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DW Brasil
Com humor, sagacidade e ativismo, a influenciadora Alice Pataxó mostra em sua conta no Instagram o q...
Video Transcript:
Nós não somos índios, não somos "das Índias". Nós somos indígenas, somos habitantes naturais de uma terra muito antes de sua colonização. Então, por isso, o termo correto é indígena.
Assim como a gente não usa mais "tribo". Tem muita gente que pergunta isso ainda, gente! Usamos o nome etnia quando a gente se refere ao povo.
Então a minha etnia é pataxó. E me refiro a "aldeia" quando eu falo da minha localidade, da minha comunidade a qual eu vivo. A aldeia Craveiro, entende?
Da etnia, do povo pataxó. Mais ou menos isso. Eu entendo isso como missão.
Ser indígena é uma missão não só de guardar a cultura, de lutar por questões de comunidade, mas principalmente de lembrar que a gente está aqui para manter vivo tudo aquilo que nos proibiram há muito tempo. Mas que eles sempre fizeram isso para guardar, entende? E essa é a minha vez.
Eu não quero mais escutar que indígena é ladrão de terra. Eu não quero mais escutar que nós somos aborígenes, que nós somos pessoas selvagens. Que eu deixo de ser indígena porque eu ando de roupa, porque eu faço faculdade, porque eu sou LGBT, porque eu uso celular.
Tudo que a gente escuta. . .
são as coisas que eu mais detesto ouvir. . .
realmente. Eu atravessava o rio, todo dia, para estudar na minha escola. Quando eu passei para o Ensino Médio já não tinha [escola] do outro lado, pelo menos não de dia.
Então eu tinha que estudar em Scaramussa, um colégio que tem aqui no centro da cidade. Aí todo dia era esse percurso: a gente pegava estrada, pegava a balsa na ida-e-volta para casa. - E quanto tempo demorava?
- Uma hora e meia, duas horas. Em 2015, 2016, não vou lembrar bem da data, sei que foi no final do ano, a gente passou por uma reintegração de posse na aldeia Araticum. Eu morava lá há uns três anos, desde o período de retomada.
Acho que foi o período mais difícil que eu já enfrentei: falando de luta, falando de vida. Porque eu tive que lidar com muitas coisas, como perder a minha casa, perder a minha comunidade, diversos conflitos. Quando criança, quando adolescente, vivenciar a força policial, tirar a gente do nosso lar, é muito difícil.
Passei por um momento muito complicado nesse sentido. Fui a psicólogo, eu precisei muito entender que de alguma maneira aquilo foi importante para mim, porque isso formou muito a Alice que sou hoje. Acho que foi naquele momento que eu entendi que a minha luta era importante, e por isso eu não podia parar; o fato de que não era tão simples o quanto eu achava que seria uma demarcação territorial.
Acho que mudou minha percepção. Eu já era muito engajada em movimentos sociais, no movimento estudantil, no movimento indígena. Mas eu acho que ali surgiu uma força que eu não sabia que eu tinha.
Realmente era uma indignação que eu queria colocar para fora. Acho que a Alice ativista nasceu ali. Eu comecei a usar as redes sociais para falar disso.
Eram redes pessoais: meu Instagram era um blog pessoal e, de repente, as pessoas começaram a me seguir por isso, porque elas queriam conhecer mais da minha realidade. E isso virou um trabalho de fato. Eu criava um conteúdo, eu comecei a me organizar em relação a isso.
Eu comecei a aprender o que é ser um criador de conteúdo na internet. Olha, eu tenho muito desejo de que a juventude se organize para voltar à luta. Eu entendo que tem muita gente lutando, muito jovem que tem se engajado.
Mas acho importante a gente se organizar ainda mais, a gente se levantar e chamar todo mundo para isso. Uma coisa que eu aprendi com o nosso cacique, aqui, é que a gente não pode formar cacique do dia para a noite. Se a gente não aprende na luta, se a gente não convive com isso, a gente nunca vai saber ser uma boa liderança.
Então isso tem que começar cedo. Eu vejo um momento em que a gente tem se colocado à frente das coisas. A gente aparece, agora, nas mídias sociais, a gente aparece nas redes de televisão, e isso é muito importante para a representatividade também.
Acho que as redes sociais se tornaram megafones. E ali a gente se conecta, a gente se conhece, a gente divide experiências e principalmente a gente discute política, a gente ensina muito para as pessoas e aprende também. É um baita canal de encontro.
Eu estou cursando bacharelado interdisciplinar em Humanidades na Universidade Federal do Sul da Bahia. É uma faculdade onde a gente faz todo um primeiro ciclo, a gente trabalha com humanidades, e depois eu escolho o curso específico que vou seguir. Posso escolher Jornalismo, Antropologia, mas eu vou escolher Direito.
Eu entrei na faculdade já pensando nisso. E aí eu vou passar mais alguns anos lá nessa batalha para fazer a formação completa em Direito. Mas daí eu já saio com a licenciatura em Humanidades e o bacharel em Direito.
- De atuação, o que você quer fazer com Direito? - Eu quero defender territórios indígenas. - O galo cantou bem em cima.
. . - Eu quero defender territórios indígenas.
Por conta desse governo ultramachista, a gente não é escutada. A gente já tem um grande diferencial no mercado de trabalho, por exemplo, a gente recebe menos, ocupa menos cargos. Então a gente está falando de uma questão que vai muito além de só ouvir e respeitar os direitos individuais.
Porque são direitos individuais, mas principalmente do direito de viver como pessoa, como mulher. Isso só reforça esse estereótipo e principalmente esse preconceito faz com que as pessoas se apontem diretamente. Eu acho que deixou de ser ilegal.
Na lei isso ainda existe, mas as pessoas não têm mais vergonha de dizer que elas não gostam de preto, que elas não gostam de indígenas, que elas acham ridícula uma pessoa LGBT. Então é justamente isso, o fato de que o governo fale abertamente sobre isso, se posiciona de uma maneira negativa, ajuda muito na influência da sociedade nacional. Eu acho que sofro mais preconceito por ser indígena do que por ser LGBT.
Até porque eu acredito que muita gente tem aquela questão de achar bonito uma mulher que gosta de outra mulher. Então, você ser bi as pessoas acham isso muito legal, muito maneiro, muito festinha, muito baladinha, e não tem nada a ver com isso. Então as pessoas ainda acham "ah, melhor do que um homem beijando outro homem", mas é uma completa ignorância, um preconceito tamanho.
Eu acho que é ainda pior do que gente simplesmente dizer que não gosta. Meu público majoritariamente são pessoas não indígenas. Mas a gente vê uma mudança nesse cenário.
Quando eu morava aqui, por exemplo, cinco anos atrás, era muito mais difícil a gente ter acesso à tecnologia. Até porque em algumas comunidades que não têm energia o sinal não chega, como à minha aldeia. São situações que dificultam muito esse processo, ainda mais agora na pandemia, quando a gente fala que estudar precisa ser pelo celular.
Então pense na realidade em que a gente se encontra. Mas isso tem mudado. Eu vejo cada vez mais gente se conectando e isso é de alguma maneira positivo, né?
Porque a gente começa a ter contato com outras comunidades também, existe uma troca através disso. - Tem sete meses em que eu estou na cidade agora. - E quando você se formar na faculdade?
- Eu volto para casa. Eu volto para a aldeia. - Qual delas?
- Eu não sei ainda. A minha casa agora é a aldeia Craveiro. Mas pode ser que isso mude, né?
Não sei. Eu já morei em tantas aldeias, que é difícil dizer. Mas onde precisar, eu vou.
Eu estou me formando para isso. Onde a gente vive, o território, é o lugar onde a gente se sente em casa, é lá, para o nosso povo. Então onde for território pataxó, a gente está indo.
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