nov nov bem-vinda ao rádio novela apresenta eu sou a Branca Viana eu preciso dizer que tem uma certa dificuldade em resumir a história que você vai ouvir hoje porque são muitas histórias em uma é uma história sobre como uma coisa invisível pode se tornar visível é uma história que tem a ver com o poder do rádio dessas vozes que viajam pelo ar É uma história que toca num momento da história recente brasileira na saída da ditadura e na redemocratização quando tudo parecia possível mas essa história também é uma história de pai e filho quem vai
contar essa história que são essas histórias todas é o idu terena [Música] em meados do século XX uma ideia tava pairando no ar ela era uma ideia antiga Na verdade uma ideia que estava entre uma convicção e uma ameaça a ideia de que os índios no Brasil iam acabar essa é uma ideia que foi pensada que foi falada e que foi até desejada por muita gente inclusive bem antes do século XX mas ela ela chegou a ser articulada até por um grande antropólogo brasileiro o Darcy Ribeiro nos anos 50 o Darc fez uma grande pesquisa
sobre o estado dos povos indígenas no Brasil e ele viu que só nas cinco décadas anteriores mais de 80 etnias tinham desaparecido e esse e chegou à seguinte conclusão que os índios estavam diminuindo e que as identidades específicas estavam cedendo para as identidades genéricas esse que a gente ouviu agora é o Beto Ricardo ele é sócio ambientalista indigenista antropólogo mas o Darc Ribeiro Que fique claro não queria que os indígenas brasileiros acabassem só que era isso que as pesquisas dele estavam indicando Em algum momento não se Sabia quando ia deixar de ter povos indígenas no
plural no Brasil não era só que as populações indígenas estavam declinando que eles ainda estavam sucumbindo a doenças e a ataques mas que com as pressões do avanço da Dita civilização eles estavam perdendo a língua a cultura o modo de vida eles estavam perdendo a identidade e isso é um outro jeito de morrer essa conclusão foi publicada num livro do Darc Ribeiro de 1970 chamado os índios e a civilização e foi bem nessa época que esse cara que a gente está ouvindo o Beto Ricardo estava virando antropólogo era um momento em que as populações indígenas
estavam nessa Ladeira abaixo e também era um momento em que o governo militar estava planejando começar uma série de obras faraônicas pelo interior do país planos faraônicos que eram baseados na ideia de vazio demográfico de que já não tinha gente nesses lugares e havia uma grita com com relação aos impactos que iam gerar essas grandes obras de hidroelétricas de estradas e tal então era absolutamente urgente fazer um levantamento de estado da situação e pudesse acompanhar o que ia acontecer nessas regiões em 1974 o Beto Ricardo se juntou ao centro ecumênico de documentação e informação mas
concio como ced ced era ONG Antes desse termo ONG existir do jeito que a gente US hoje era um grup da sociedade Civic defes dos direitos humanos etiv fres inus na defes pogen quando Beto ced eles estav voltas com uma missão que era ao mesmo tempo muito simples e muito complicada era entender quem e quantos eram Esses povos indígenas os índios estavam invisíveis na cena pública e nós começamos o trabalho de uma maneira muito singela o trabalho era refazer aquela pesquisa do Darc Ribeiro porque os dados dele eram da década de 50 quer dizer já
tinham se passado uns 20 anos então o Beto pegou um caderno com abecedário tipo uma agenda e começou a anotar todas as etnias indígenas de que ele tivesse notícia nome localização população língua a partir daí a ideia era ir a campo para descobrir qual era a situação de cada comunidade e em 1978 o ced conseguiu financiamento para começar esse levantamento para valer era uma tarefa gigantesca Continental e ela ia ser levada a cabo por muita gente primeiro o ced foi mapeando as pessoas que já estavam em campo trabalhando com povos indígenas Brasil aa e eles
iam perguntando Tem alguém que tá indo pra região tal pra aldeia tal então por exemplo o Ricardo médico vai atender uma emergência lá nos os X antes do Dr Ricardo sair para esse atendimento médico o pessoal do ced dava uma ficha para ele a gente criou uma uma ficha padrão que era por etnia nome língua localização população histórico do contato fonte de informação essa ficha tinha 59 perguntas era muita informação chegando de muitos lugares ao mesmo tempo não só das fichas Mas também de outras pesquisas de cobertura de imprensa enfim a nossa rede de colaboradores
chegou a at ter quase 1 pessoas o Beto brinca que o ced inventou a rede social antes do inventar o Facebook eram antropólogos indigenistas linguistas jornalistas agentes de saúde missionários todo mundo correndo contra o tempo para captar uma realidade que se o Darcy tinha razão podia est escorrendo por entre os dedos conforme os dados iam chegando eles iam sistematizando E analisando juntando as peças desse enorme quebra-cabeça quando a gente começou a juntar e formar a primeira imagem com dados AL aos a gente acabou descobrindo que os índios não Estavam desaparecendo estavam [Música] crescendo As populações
indígenas não só não estavam caindo elas estavam crescendo e crescendo mais que a média Nacional o que significava que a presença indígena ia ser cada vez maior o time do projeto ia batendo esses dados com o levantamento do Darc dos anos 50 e eles encontravam aldeias que tinham se multiplicado povos supostamente extintos que estavam reaparecendo e não era só que eles estavam vivos eles estavam reafirmando as identidades deles as culturas deles era como se os povos indígenas no Brasil só tivessem passado um tempo invisíveis hoje eu vejo um debate muito grande sobre invisibilidade e parece
que toda invisibilidade é ruim né Não Não alguma invisibilidade pode ser muito muito muito muito boa para proteger contingentes inteiros de seres que são Discriminados e que a priori seriam aniquilados se dissesse no seu próprio nome Esse é o Ailton krenak acho que ele dispensa apresentações né E para entender isso que o Ailton tá falando a gente tem que recuar um pouco no tempo eu perguntei para ele quando é que ele se deu conta que tinha essa ideia no ar de que os índios iam desaparecer essa ideia ela me afetou de uma maneira gradual digamos
assim quanto mais eu me aproximava do sol mais ele me queimava o Aílton nasceu em 1953 do Rio Doce ou como o povo kenak chama o rio u atu na lembrança dele o primeiro sinal de que o mundo como ele conhecia Estava acabando era um cheiro o cheiro nauseante do caminhão a diesel e da Graxa do caminhão Eu não conhecia esse se odor Ele entrou na floresta como uma peste apavorando a gente eu senun eram outros o o córrego que passava nos lugares onde eu vivia ele começou a sorar agora ele parecia um um Regato
ele tava ficando pobre e eu comecei a perceber que o Mundo ao Meu Redor estava ficando pobre os krenak já viviam confinados numa reserva que tinha sido estabelecida em 1922 agora nem essa terra estava sendo respeitada e aquele cheiro de caminhão e aquelas serrarias chegando e aquela sensação de ser invadido aquilo despertou em mim uma Ira uma espécie assim de fúria era uma Fúria Cega Mas eu tinha uma vontade muito grande de matar os [Música] brancos eu devia estar com 11 anos quando a gente foi pela primeira vez despejado do lugar onde eu nasci a
gente teve que fazer a primeira fuga e eu não tinha ideia se a gente ia voltar eu simplesmente tá vo indo o Aílton e a família dele saíram de Minas pra periferia de São Paulo e depois pro Paraná Eles foram entrando no mundo mais pobre e mais perigoso mas eu vi quando um Guarani Caiuá chamado Marçal de Souza o Tupan I levou um tiro desse tamanho que arrebentou aquele frágil corpo dele para sempre e num tempo em que os seus parentes não podiam nem recolher seu corpo porque os nossos inimigos eram tão ferozes babam ódio
e podiam matar a gente de qualquer [Música] maneira eu venho desse tempo eu fui fojado nesse universo de pessoas que levantavam a voz e desapareciam então eu sabia que a gente tinha que ter uma estratégia que a gente não ia anunciar um movimento indígena de uma hora para outra o Ailton fala na Fundação de um movimento indígena porque ele mesmo faz questão de dizer que movimento indígena no Brasil não é nenhuma novidade em 15535 quando Cemeb juntou vários povos para enfrentar os portugueses no litoral e formou a Confederação dos Tamoios isso já era movimento indígena
ao longo da história desse território povos indígenas se articularam em várias formas de resistência e bem na mesma época em que o cedit estava mapeando povos indígenas pelo país afora tava começando uma mobilização nacional dos próprios povos era uma reação em grande parte a um decreto de emancipação dos índios uma dessas excrescências que vivem assombrando a legislação brasileira e que tem no Marco temporal sua Encarnação mais recente dá para resumir assim com essa emancipação os índios iam deixar de ser índios e portanto iam deixar de ter direito às terras basicamente iam ser emancipados dos seus
direitos o Sime conselho indigenista missionário já vinha apoiando a organização de Assembleia de líderes indígenas país afora mas com essa ameaça da emancipação a mobilização deu uma acelerada e os parentes decidiram uma hora que eles queriam ser a união das Nações Indígenas e não demorou muito tempo do final da década de 70 a meados dos anos 80 a gente já era parentes organizados na União a união das Nações Indígenas foi um Marco a uni não confundir com a uni a união nacional dos Estudantes a uni foi a primeira articulação Pan indígena pluriétnica a nível nacional
e foi também uma refutação muito clara a uma parte daquela pela tese do Darc Ribeiro a de que as identidades indígenas estavam esmaecendo essa pluralidade de línguas de culturas de modo de pensar o mundo cosmovisões eles já tinham dado de barato que isso Acabou que agora a gente tinha era índios aculturados teve um ministro na ditadura que se referiu a Mário juruna dizendo que ele era um aculturado exótico se você não conhece o Mário juruna na década de 70 ele ficou famoso por andar para cima e para baixo em Brasília com gravador para registrar as
falas dos parlamentares e dos funcionários públicos em geral a ideia dele era usar essa tecnologia para gravar o que eles diziam e poder cobrar depois em 82 o Mário juruna se tornou o primeiro deputado federal indígena eleito no Brasil e pouco tempo depois disso o Aílton pegou um gravador também mas não era para gravar brancos era por um motivo totalmente diferente quando se anunciou a reabertura saindo da ditadura para obter eleições Teve uma grande movimentação partidos políticos estavam surgindo os movimentos sociais estavam fervilhando era uma uma atividade social intensa que sugere que se alguém tivesse
ideias potentes e transformadoras tava na hora dela acontecer foram muitas as iniciativas que estavam surgindo foram muitos os momentos que marcaram essa Primavera do movimento indígena Mas tem uma história que eu gosto particularmente a Universidade de São Paulo ela tinha uma emissora a maior parte do dia ela ficava tocando música clássica e o novo reitor decidiu anunciar que ia mudar toda a programação da rádio da Universidade de São Paulo abrindo uma chamada para que instituições públicas e movimento social pudessem propor pautas Eu e meu os colegas falamos tá na hora do movimento indígena se anunciar
a gente não pode ficar escondido o tempo inteiro aí a gente fez uma proposta que eu acho que alguns de nós fez aquela proposta mais por provocação tipo assim vamos ver se cola a gente fez a proposta avançaram as conversações e a gente foi admitido para fazer de graça um programa pra Rádio Universidade de São Paulo foi assim que nasceu o programa de rádio que eu estudei no meu TCC durante 4 anos consecutivos a gente fez o programa de índio esse nome é maravilhoso né a Rádio Universidade de São Paulo apresenta programa de índio e
a gente decidiu que a linha editorial da gente era o seguinte uma entrevista com uma ou mais lideranças indígenas música indígena e algumas notícias so sobre que estava acontecendo ataques violências invasões contra Os territórios indígenas que não saía em lugar nenhum na imprensa brasileira que era uma imprensa que estava drogada pela ditadura continuavam chapados pela ditadura então é éramos nós que tínhamos que gritar inicialmente éramos eu e o Álvaro tucano que deveríamos fazer a a abertura eh no estúdio de todas as entrevistas só que o Álvaro não vivia não parava em São Paulo eu acabei
virando o rosto a voz do programa de índio o Aílton era o apresentador do programa mas a voz dele não era a única Claro e curiosamente né fofoca eu estava no corredor da rádio procurando alguém para fazer essa locução a Rádio Universidade de São Paulo passa o William Bonner que se chamava William boner o jovem bonitinho 20 e Poucos Anos e ele passa no corredor aí eu catei ele e falei vem cá eu tô precisando de alguém para fazer a locução para fazer a chamada do programa de índio senta ali empurrei ele para dentro do
estúdio ele sentou falei o texto é esse aqui e dei o texto para ele então eu brinco Eu costumo dizer que eu dei o primeiro emprego pro William Bonner se vocês abrirem o programa de índia vocês vão ouvir o William B falando e as flautas as flautas lindas são as flautas o ET as flautas surui Eos a gente sa como difíc ter acero de rdio preservado no Brasil que Dirá de rdio independente universit deio tem um Acer im gra Dael papian ela desenvolveu o programa junto com aon eles eram casados na época e a produtora
dela aor guardou e digitalizou muitas das transmissões tem mais de 150 edições no site da Icor hoje um pequeno milagre sonoro então aí vai a aberturinha do programa na voz do boner que eu sei que você tá doido para [Música] ouvir a Rádio USP apresenta [Música] [Aplausos] programa de índio um trabalho do núcleo de cultura da União das Nações Indígenas no meu TCC eu defendi que foi através do programa de índio o primeiro programa de rádio indígena do país que o aon encontrou a voz dele Boa noite esse é ele no programa de estreia em
junho de eu sou aon sou filho de uma pequena nação nação cren que habita a região do Vale do Rio Doce na fronteira do Estado de Minas Gerais com Espírito Santo o programa de índio nasceu como um espaço para vários povos se comunicarem para acomodar e juntar várias culturas num palco Nacional em PR de uma única causa Endo sempre aqui algum parente algum índio que esteja ou de passagem por São Paulo ou através de entrevistas feita nas aldeias trazer um pouco da cultura indígena um pouco da realidade dos povos indígenas para essa população urbana que
tem muito pouca informação sobre o nosso povo é uma tentativa Nossa de nos aproximarmos de diminuir essa distância e de fazer com que nós possamos viver na medida que conhecermos cada um mais a cultura do outro Vivemos em paz Existe algum de largada o acordo que eles fizeram com a Rádio USP era de que eles iam poder falar nos próprios termos deles era para ser um programa de índio mesmo e eles TM todas as rádios deles Nós só temos essa nós somos uma fagulha no meio desse incêndio todo então nós não vamos trazer eles para
cá para ficar falando aqui a rádio era da USP mas o programa não passava só em São Paulo ele era retransmitido também pra rádi Difusora em Campo Grande no Mato Grosso do Sul pra rádi Difusora de Santa Maria no Rio Grande do Sul rádio foi a ferramenta mais próxima que nós nos utilizamos para mobilizar também internamente isso que são índios em movimento nós pegávamos cada programa e reproduzimos o programa inteiro numa fita cassete E chegamos a despachar pelo 600 endereços de aldeias indígenas no Brasil o Nordeste a Amazônia no sudeste no Sul a gente conseguiu
fazer um tremendo barulho com muito pouca ferramenta tinha depoimentos tinha denúncias a situação do Parque do aripan é extremamente absurda apesar do governo contar com recursos vindos do programa Polo noroeste na ordem de 6 Milhões de Dólares essa população está morrendo tinha denúncia com humor também por exemplo eles davam o troféu John Wayne pros maiores ofensores contra os povos indígenas no Brasil o ministro do interior Ronaldo Costa coto é um grande concorrente pro Troféu joh no ano de 1985 É capaz que máo andreasa vai sentir inveja do tempo em que ele era o grande ganhador
desse barbarizando com os índios abrindo Transamazônica botando hidroelétrica fechando hidroelétrica e matando índio adoidado Mas o foco do programa era sempre trazer vozes indígenas ele foi uma experiência também formativa para quem estava por exemplo lá no Rio Solimões eu me lembro dos parentes ticuna devolvendo para mim o sentimento deles com relação a existir um programa de rádio no sudeste que tocava música deles que botava eles no ar falando a língua deles eu recebia gravações que vinha das Aldeias no idioma podia ser des chavante ticuna ou eu tinha já essa coisa de querer botar a diversidade
linguística como pauta falando a da Nação craô e que ele está expressando nessa Fala aí a importância do coir a necessidade de que o coir esteja relacionado com o cotidiano e com a vida no crim o crim é a aldeia craô é o centro da Aldeia é o centro da vida do povo crau o programa de índio entrou no ar em junho de 85 né E no ano seguinte começou a campanha para eleger os deputados constituintes a união das Nações Indígenas propôs que fosse nomeado uma Ban indígena separada que nem precisasse concorrer na campanha geral
M ind entrando nessa constituinte tem um documentário da época chamado da un para em que o aon fala sobre isso então acho o seguinte que é fundamental que índios estejam presentes nessa Assembleia que estejam presentes nessa constitu não Nova República Velha República porque é um direito nosso é um direito nosso que historicamente tem sido desrespeitado nós reivindicamos a um número de cadeiras nessa assembleia nacional constituinte que permita a população indígena estar representada sem concorrer as eleições Gerais porque seria eh injusto exigir que um povo de Cultura diferenciada de estágio político e econômico totalmente diverso do
conjunto da sociedade brasileira viesse concorrer com parlamentares escolados que vão ter aí à sua disposição bilhões de cruzeiro para fazer suas campanhas você vai concorrer com o índio no fim a proposta da Uni Não foi aceita foram oito candidatos indígenas concorrendo no país todo a maior parte pelo PT se encerra essa semana a contagem dos voto nas eleições Gerais e provavelmente nós teremos grande dificuldade de confirmar deputados em indígenas vamos contar portanto com um período difícil de participação e de expressão da vontade das Comunidades indígenas no Congresso Nacional Álvaro Tucano Mário juruna birac aana wá
Reinaldo ticuna ID ruri Carajá Marcos terena Augusto chavante Gilberto macuin nenhum candidato indígena se elegeu Vamos só relembrar o que tava em jogo nesse debate porque era muita coisa na constituinte os direitos indígenas como todos os direitos aliás estavam em Pauta e em perigo e agora sem nenhum representante dá para dizer que toda a legislação até ali compartilhava daquela mesma ideia que eu falei lá no começo nas duas primeiras constituições do Brasil não tinha nenhuma linha sobre as populações indígenas a primeira que tocou no assunto foi só em 1934 e aí ela falava sobre a
incorporação do silvícolas à comunhão Nacional silvícolas aqueles que vem das selvas que deveriam ser incorporados à comunhão nacional ou seja a ideia era que as culturas indígenas iam ser absorvidas e dissolvidas até não existirem mais até não ter mais índio no Brasil e na hora que isso aconte ou na hora em que o estado julgava que isso tivesse acontecido qualquer direito sobre as terras indígenas ia deixar de existir também essa de novo não era uma ideia nova da Constituição de 34 ela tá por trás de todo e qualquer movimento de ocupação do Brasil com origens
lá em Cabral só que na altura da constituinte o ced já tinha descoberto que esse projeto que já tava dado como ganho Fazia tempo não tinha dado Tão certo assim aqui de novo o Beto Ricardo a questão central é o seguinte se os índios vão permanecer não se justifica mais tratá-los como portadores de direitos provisórios as constituições anteriores O que perpassa é a premissa de que os indíos vão desaparecer e se eles vão desaparecer não tem por você consagrar direitos permanentes para uma população que vai desaparecer é tão simples quanto isso o levantamento que começou
naquele abecedário do Beto marcou presença na constituinte naquela altura ela já tinha virado o projeto povos indígenas no Brasil não do Brasil mas no Brasil nós temos aqui o Carlos Alberto Ricardo que é do centro ecumênico de documentação ced que trabalha na coordenação de um programa sobre levantamento de populações indígenas no Brasil estiveram todo o período de 86 acompanhando essa discussão acerca de índios constituinte e vão estar no período de 87 trabalhando na coordenação dessa campanha a gente tem que de alguma maneira cair na real e reconhecer que a composição mesma desse congresso constituinte uma
constituinte francamente conservadora ou seja quem tá contra tá articulado sabe o que quer tem proposta quem tá a favor tem uma simpatia muito genérica porque a questão indígena é uma coisa muito distante eh numa ordem de prioridade subordinada a outras Grandes Questões naonis oio era arular propostas etir ataque na constituinte tir questão indígena de segundo plan e eles estav remando contra Maré bem foreve na sobretudo Noal estado de São pao queou pintar qualquer defesa de Nações Indígenas como uma ameaça à soberania brasileira Teve até uma CPI para investigar o cime que supostamente estaria no meio
de um complô para usar os índios para entregar minério para estrangeiros e ainda teve isso aqui então o Capítulo dos índios de um dia pro outro da noite ele foi suprimido suprimido os caras colaram lá e cortaram E jogaram fora entendeu num dado momento parecia que a novíssima Constituição Brasileira a Constituição da redemocratização a constituição cidadã no que dizia respeito aos indígenas ela ia ter uma redação mais retrógrada do que a Constituição de 34 tinha muitos manifestantes indígenas acampados do lado de fora do Congresso mas nenhum representante dentro só que ainda tinha uma ferramenta que
dava para usar uma Emenda Popular há dois meses nós estamos colhendo assinatura em todo o Brasil do Rio Grande do Sul à Amazônia colhendo a assinatura do povo brasileiro para apresentar ao congresso nacional essa emenda tem a Import Esse é o aon numa gravação especial do programa de índio direto da Praça da Sé em agosto de 1987 a emenda era uma proposta da Uni que ia garantir direitos permanentes pros povos indígenas no Brasil para garantir que eles pudessem continuar sendo povos indígenas no Brasil nós estamos aqui os senhores Estão parados aqui e analisar comigo Se
vocês querem participar dessa luta ou se vocês querem matar índio vocês querem matar índio Tá aí uma faca e esse é um ator de um grupo de teatro de rua que estava ali um tal de cachoeira que colocou a disputa em termos bem dramáticos quem quiser a faca é só pegar com a menina e vir matar índio quem quiser salvar o índio tem que assinar a proposta da constituinte tiver com o título de eleitor aí é só pegar e assinar a proposta que tem no mês seguinte aconteceu uma cena que você deve conhecer e eu
espero não agredir com a minha manifestação o protocolo dessa casa o Aílton tomou A Tribuna como representante da Uni da bancada que foi impedida de estar ali e enquanto ele falava ele ia pintando a cara de preto ens de luto e de luta essa cena ficou famosa e eu já vi muita gente comentando que o que ele passa no rosto era tintura de genipapo mas ali na hora o Ailton não tinha genipapo à mão então no lugar do genipapo o que ele passou foi delineador de maquiagem mesmo de cílio ele me contou que as secretárias
todas do congresso se juntaram para doar e ele juntou tudo num potinho paraa hora da manifestação a imagem é ainda mais impactante porque o Ailton tá vestido um terno branco Impecável no livro de Memórias do Beto Ricardo Ele conta que a gravata branca de crochê era dele e que o palitó era do Márcio santil um dos maiores articuladores das pautas indígenas na constituinte luta também é sobre imagem e so improviso um de pal que dormiras no chão não deve ser identificado de jeito nenhum como um povo que é o inimigo dos interesses do Brasil inimigo
como os interesses da Nação e que coloca em risco qualquer desenvolvimento o povo indígena tem regado com sangue cada hect dos 8 milhões de qum qu do Brasil os senhores diss tem mais um detalhe que eu só sou muito recentemente estava discursando para um Congresso praticamente vazio não tinha quase ninguém vendo aquele protesto ouvindo aquelas palavras enquanto ele falava Mas tinha uma câmera se naquele momento eu falava só para aquela digamos pequena audiência o efeito borboleta daquele momento ele eclodiu aquele auditório a luta não acabou ali Ainda teve muitas Idas e Voltas com articulação de
muitas organizações ao longo de muitos meses mas a imagem que ficou foi essa do Aílton apesar de toda a violência com que o congresso brasileiro O parlamento atua para rasgar aquele Capítulo ele tá lá a história ela não vai ter como fazer sumir desaparecer esse registro de que os povos indígenas cravaram no contrato do estado brasileiro um compromisso onde os direitos não são um pedido Mas eles são uma declaração de direitos e o contrato que os povos indígenas cravaram na Constituição de 88 foi o reconhecimento dos direitos originários dos direitos ancestrais que antecedem o próprio
estado brasileiro uma ideia de direito conceit dinário quer dizer um direito originário que não são eles que nos dão mas que somos nós que declaramos eu me lembro que um grande chefe chavante Aniceto chavante ele tirava do da orelha dele o brinco de madeira e passava ele no lábio assim e falava Essa é minha identidade e botava na orelha de novo quando ele era questionado sobre um documento ele dizia Esse é meu documento então esses ancião com a sua coragem com sua alteridade eles inspiraram a minha geração a falar a mesma coisa com o estado
brasileiro com as instituições eh nacionais e internacionais falar de um lugar onde a autoridade emana da ancestralidade dá para imaginar Claro um mundo em que o resultado dessa luta fosse totalmente diferente os militares iam passar o mandato agora pros paisano e os os paisanos era desde banqueiros até latifundiários e todo tipo de capitalista oportunista essa gente toda que apostou no no no cassino da Democracia eles rodaram a roleta jogaram a ficha e não prestaram atenção que a gente também tava jogando eu creio que foi um um momento raro da história do nosso país em que
a gente conseguiu se inserir não como eh uma carta no baralho da Integração mas como uma reivindicação muito estranha de identidade de diversidade e conseguir Pô isso em letras dentro do capítulo da constituinte auxiliado por muitos parlamentares conservadores hoje a gente sabe que a constituição não resolveu os problemas as ameaças que os povos indígenas enfrentavam e enfrentam até hoje mas a partir da Constituição os termos da disputa eram outros justamente porque aquela crença maligna secular ela saiu da mesa a conversa mudou né antes os índios eram percebidos como uma categoria transitória em extinção portanto uma
categoria em extinção não merece que se reconheça direitos permanentes é uma contradição os índios estavam aí os índios vão ficar V permanecer no futuro do Brasil portanto esse de novo foi o Beto Ricardo e em 1994 quando ced se fragmentou em várias outras instituições o Beto fez parte da fundação de uma delas o Isa o Instituto socioambiental que carregou pra frente esse projeto de mapeamento dos povos indígenas do Brasil que é feito até hoje esse mapeamento é dessas coisas tão fundamentais da nossa identidade como país que a gente nem imagina que elas um dia precisaram
ser criadas Hoje ele tá lá disponível no site do Isa atualizado com frequência para quem precisar consultar mas naquele Caldeirão da redemocratização do Brasil ele dava concretude para uma revolução que estava dando a cara naquele momento tem uma formulação da Ailton que eu acho muito interessante ele diz que teve uma descoberta do Brasil pelos brancos em 1500 e depois uma descoberta do Brasil pelos índios nos anos 70 e 80 nas palavras dele os índios Descobriram que apesar deles serem simbolicamente os donos do Brasil eles não têm lugar nenhum para viver nesse país terão que fazer
esse lugar existir dia a dia expressando sua visão de mundo sua potência como seres humanos sua pluralidade sua vontade de ser e [Música] viver essa história que eu tô contando podia acabar aqui mas eu queria pedir licença para trazer um novo personagem pro que talvez até seja uma outra história mas que corre junto com essa eu lembro do timia o timia Fala Tudo E tudo nada nada vamos fazer agora alô Vitória Régia Ô Maestro tá desafinado aumenta o som desliga o som Cadê o retorno Esse é o Max suara é legal esse nome cadwell e
terena Pantanal do Mato Grosso e o Max suara é o meu pai Bora que que você quer fazer nada hoje meu pai trabalha com plantas medicinais plantas que curam eu faço exposição de produto da Floresta assim Itinerante em praças Eu trabalho com a história eu dou minha palestra compro meu produto quem tem intuição que tá sentindo a minha palestra Eu quero uma vez eu chamei ele de raizeiro E ele disse não sou raizeiro sou um Pajé espiritual da Selva de Pedras e o camarada falou mas tem um apelido que ele aceita você gqu mas eu
sou ouvindo as histórias da vida dele às vezes parece que pelo menos nos anos 80 ele tava em todos os lugares ao mesmo tempo ele estava se reunindo com sarnei e com Davi copena tava brigando junto com rauni num protesto na br80 tava marchando com Chico Mendes logo antes da morte dele e tem o lado do Hollywood também ao longo da nossa entrevista ele conseguiu citar encontros pessoais com três ganhadores do tava com Robert deiro e eu tava com rid Scott que eu conhecia o grande figura pessoalmente o Robin William já já eu te conto
como ele foi virando um Forest Gump o meu pai nasceu em Aquidauana no Mato Grosso do Sul Mas saiu muito novo de lá numa entrevista que ele deu muito tempo atrás ele disse que era fascinado com o trem que passava pela cidade era o Noroeste do BR que ia de Bauru no interior de São Paulo até Corumbá na fronteira com a Bolívia um dia ele resolveu pegar o trem até o final da linha Ele conheceu a Bolívia depois conheceu São Paulo e nunca mais parou de rodar pelo país na verdade eu não sei se foi
bem assim as histórias do meu pai são ótimas Mas elas mudam sempre Talvez para não ficar chato nem para quem escuta nem para ele que tá contando Ele sempre teve esse dom da palavra bom fato é que em algum momento dessas andanças ele chegou no Rio no começo dos anos 80 e não demorou para ele ser chamado para falar na televisão era pro dia do índio daquele ano uma edição especial do programa O Povo na TV no SBT parece que não sobrou quase nenhuma gravação desse programa então não dá para saber o que é que
meu pai falou lá mas depois da gravação um cara chamou ele de lado e eu tenho um programa na rádio chamado show da tarde de 2 a 6 e eu vou convidar você para falar sobre o conhecimento de produtos da floresta chamado medicina m o homem da Medicina da floresta o cara Queria fazer tipo um disque Pajé no programa dele na Rádio Tupi e o meu pai pensou Por que não segundo ele dali em diante a maior parte dos telefonemas do programa viam para ele eu também não tenho como provar porque ao contrário do programa
de índio o acervo do show da tarde não sobreviveu para contar a história mas ele lembra como se fosse hoje aí tinha gente que ligar com dor de dente dor de cabeça com diabete falei [Música] caramba eu tipo assim virei um pai de santo virtual foi nesses trabalhos na Tupi que o meu pai foi conhecendo gente do Meio artístico e nos corredores da Rádio ele recebeu outro convite que acabar mudando o rumo da vida dele a Zezé Mota chamou ele para fazer parte da produção de um filme novo do kakad eges o quilombo e dali
em diante ele virou tipo um consultor pros filmes que tinham personagens indígenas até que um dia ele foi chamado para fazer um papel ele mesmo Aliás foi por indicação da antropóloga Berta Ribeiro esse filme nada por acaso o meu pai não é só um Pajé espiritual da Selva de pedras ele também foi o primeiro ator indígena a estrelar um filme brasileiro bem essa semana nós tivemos aqui em São Paulo o lanamento do filme avaeté Zelito Viana com nosso parente maxar cadel Hugo Carvana Renata sorá e muitos outros atores já assim conhecidos do público brasileiro tá
aí o programa de índio de novo o meu pai e o Aílton se conheceram justamente nesse lançamento em São Paulo e viraram amigos quase que imediatamente quem faz a pergunta aon naquele documentário sobre a uni aliás é ele o movimento indígena tá entrando n nessa constituinte o meu pai passou a aparecer no programa de índio com uma certa frequência [Música] o filme avaeté vocês fizeram parte desse filme na aldeia dos índios Rique Bat no Mato Grosso exatamente a a gente ficou 70 Dias filmando nessa reserva a comunidade ind rque baça e o pessoal é eu
acho que o trabalho ficou mais rico né o trabalho ficou muito ficou muito realista se você for olhar o elenco do filme Além do meu pai só tem peixe grande mas nessa edição do programa de índio em que meu pai foi dar entrevista ele e o Ailton já estavam reclamando sobre a falta de divulgação dele e e ficou em cartaz praticamente 15 dias quer dizer a divulgação foi péssima o trabalho foi assim excelente mas a divulgação foi muito atrasada quer dizer ou seja você provavelmente não ouviu falar do filme avaeté mas ele conta uma história
importante avaeté é um filme que embora seja ficção ele é inteirinho construído sobre um episódio que ocorreu com os nossos parentes cinta larga na região do Mato Grosso a história que inspirou o filme aconteceu no final de 1963 no Noroeste do Mato Grosso naquele tempo os cinta larga estavam sendo encurralados atacados numa tentativa de tomar a terra deles chegou até avião sobrevondo das Aldeias jogando Dinamite e numa investida uma expedição de Pistoleiros matou praticamente uma aldeia inteira esse episódio ficou conhecido como massacre do paralelo 11 o começo do hava eté mostra uma manhã bem tranquila
numa aldeia mães e pais cuidando dos filhos meninos escalando árvores o pessoal cozinhando tecendo conversando tocando música E aí um Vem [Música] vindo primeiro ele jogam explosivos incendiando a [Música] aldeia depois eles sobrev a clareira atirando do avião e os Pistoleiros vão caçando Sobreviventes matando de jeitos cada vez mais cruéis a sequência é muito difícil de assistir vamos mesmo é matar índio e é ainda mais porque ela foi diretamente inspirada em detalhes do massacre do paralelo 11 retirados do relatório Figueiredo um documento produzido pela ditadura que documentou esse e outros crimes contra povos indígenas no
filme só um menino sobrevive a chacina e ele é adotado pelo personagem do Hugo Carvana que era o cozinheiro da expedição e não sabia que o massacre era justamente o obj da expedição você é Magrinho mas é pesado hein menino o menino O Sobrevivente se chama avá e Resumindo bem o filme O avá cresce aprende português e resolve ir pra cidade grande para se vingar o título completo do filme aliás é avaeté semente da vingança e quem faz o avá adulto é o meu pai maxar cadwell no final do filme tem uma sequência de cenas
intercaladas num plano tá a Renata sorá que é uma jornalista que vai pra TV denunciar a violência contra os povos indígenas até quando que as pessoas vão pagar por crimes que não cometeram enquanto os verdadeiros culpados permanecem impunes Até quando até quando meu Deus não corta não corta não segura segura não corta e no outro tá avá que tá indo matar o líder da expedição que massacrou o povo dele [Música] não tem tantos filmes nacionais em que os indígenas são Vingadores acho que é uma ideia que deve assustar porque se fosse olho por olho dente
por dente a coisa ia ficar feia no Brasil na vida real o seringalista que encomendou o ataque a cinta larga no massacre do paralelo 11 morreu de velho e o menininho que seria o avá morreu assassinado [Música] Meu pai disse que quando ele estava filmando aeté ele não entendia que aquilo era baseado na realidade depois eu entendi que o Zelito me deu um livro para ler e mostrou a foto da Índia cortada no meio eu falei Zelito isso não é filme cara você tá falando uma coisa real Acho que nem precisava dizer mas Sacre do
paralelo 11 faz parte daquele contexto do desaparecimento entre aspas dos índios no Brasil nunca foi um fenômeno natural sempre foi um genocídio deliberado um projeto que quando não é perpetrado pelo Estado é feito com a conivência dele é um genocídio contínuo que luta para ser reconhecido o filme O faz parte disso O Zé me disse assim maxar um cinema maior do mundo que eu vi foi Moscou 7000 pessoas de público numa sala de projeção você foi aplaudido em pé na memória do meu pai os aplausos em Moscou estão lado a lado com o dia em
que ele foi visitar uma aldeia Caiapó quando eu decido o avião na aldeia todo o pessoal que me viu chorou criança velho idoso não sei o qu não sei o quê e saíram cantando cantando cantando Eu não entendi nada daquilo é que eles tinham visto o filme e segundo ele estavam muito emocionados de conhecer esse Grande Herói Vingador Meu pai disse que o pessoal ficou procurando no corpo dele a marca do tiro que o avá levou no filme os filmes têm esse poder né uma das histórias que meu pai sempre conta é de como ele
soube que ia ser a estrela de avaeté eu nem conheci zelit Viana eu tava num outro filme que era J Borman flores Esmeraldo estava em Belém do Pará filmando quando José pos Neto que é um grande diretor do teatro ele falou Max suara eu não sabia que você era famoso eu falei P famoso nada tô com fome votou na fila aqui do lancho aí ele abriu o jornal falou você é o ator principal do filme A vai até lei aqui e me dá um abraço parabéns eu não levei a sério não acreditei até hoje tudo
que acontece na minha vida eu não acredito ele contou essa história no programa de indo também Parabéns Max suara você eu falei naquele dia eu não comi mais deu nervoso tava deu uma cólica Danada não conseguia comer mais nada né aí do filme Tudo bem eu fiquei pensando dessa vez eu fico rico artista fica rico então V ficar rico cair do cavalo você ficou rico fiquei rico de dívidas meu pai ficou bem conhecido sobretudo no mundo do cinema mas não ficou famoso nem rico logo depois de avaeté ele fez um papel pequeno em quarup do
Rui guerra contracenando com a Claudia Raia ele fez também um filme dos Trapalhões mas a realidade dessa nova vida acabou pegando ele no contrapé e ele foi se perdendo ele disse para mim uma vez que ele ficou tão deslumbrado com sucesso que ele chegou a esquecer quem ele era oahu é a única pessoa que me tá tentando me entender mas ele não entendeu ainda ele não sabe se eu sou tartaruga ou jabuti eu escrevi o meu TCC sobre o programa de índio mas eu fiz a minha dissertação de Mestrado sobre o meu pai acho que
o senhor é um Talvez o maior personagem não é porque é meu pai eu acho que você é um personagem que a vida fez né que é natureza meus pais se conheceram em 89 numa festinha no Morro da Urca no Rio de Janeiro meu pai já tinha feito aeté já tinha muitos amigos da classe artística e morava no rio minha mãe Isabela ascar tinha acabado de abandonar a carreira de bailarina e tava cursando letras eles tiveram relacionamento curto e ela engravidou de mim e foi ela quem me criou meu pai sugeriu yahu como homenagem ao
URI Carajá um daqueles candidatos indígenas a constituinte amigo dele que nunca cheguei a conhecer Crescendo com esse nome e com o pai que me visitava de vez em quando às vezes eu me pegava imaginando como deviam ser os índios em algum momento fiquei com a vaga impressão de que talvez meu pai fosse um Cacique Eu sabia que ele era ator tinha feito filmes mas eu nunca consegui achar esses filmes para assistir a partir dos meus 13 anos comecei a conhecer ele melhor a passar mais tempo com ele e eu já tinha 18 quando eu conheci
a mãe dele a minha avó Margarida junto com ela eu conheci a nossa aldeia os nossos parentes e o nosso território tradicional do Povo terena no Mato Grosso Dol [Música] essa minha busca pelas minhas raízes e pela minha ancestralidade foi conduzindo o meu caminho mais tarde eu acabei me enveredando pela antropologia e fui convidado também para ser correspondente no Rio de Janeiro da Rádio iand a primeira rádio web indígena do Brasil que foi diretamente inspirada pelo programa de índio eu fui olhando para trás para andar paraa frente para entender de onde eu vim mas a
a minha visão como diz o meu amigo Davi copenal Yanomami eu sou Índio Eu nunca vou deixar de ser índio esse depoimento do meu pai que você tá ouvindo aqui a gente gravou em março de 2024 ele tem feito mais filmes nos últimos anos Sobretudo com o Neville da Almeida mas quando a gente gravou com ele ele tava fazendo a novela das nove Renascer o personagem dele era o Chico das mortes que é uma sombra que ele perambula mas não é nada ele anda perdido assim mas ele é o que ele acha que é pela
primeira vez em quase 40 anos de carreira o meu pai não estava fazendo um personagem indígena esse personagem assim não tem nada a ver com o índio não tem nada a ver da história toda eu acho o Chico é um velho matador que morre do coração logo depois da filha dele se casar com um outro assassino de aluguel você casa com a minha filha com a minha bênção depois que trazer aqui a Cabeça do Maldito que encomendou a alma do se Zé Inocêncio quem fez esse papel na primeira versão da novela foi o grande hotelo
já no fim da vida outro ator que foi Pioneiro no cinema brasileiro e que também sofreu as consequências disso desso eu não quero ouvir mais nada tem cheiro de morte o Chico é um teimoso ele morre na solidão meu pai também é um teimoso pro bem e pro mal tem hora que eu sinto que eu é que tenho que seu pai dele mas nos últimos anos eu tenho me dedicado a entender ele a a construir essa relação a tecer esse tecido entre a gente quando você começa a costurar uma roupa você pega uma agulha pega
a linha Então você tem que entender onde é que começa a ponta e onde é que termina outra tem uma frase bonita do meu pai numa entrevista ao programa de índio logo depois do lançamento do avaeté quem tem uma força de vontade como a gente tem né de sobreviver até 85 Como já não era pra gente restar nenhum índio no mundo aliás no Brasil a gente suportou essa vida então acho que a gente vai suportar correr atrás dessa [Música] luta o programa de índio deixou de ser transmitido em 1990 mas as falas dele continuaram a
ecoar por muito tempo lembra que os programas eram gravados em fitas e mandados paraa Aldeia Brasil afora o Ailton contou que muito anos depois do fim do programa chegou até ele uma história um conhecido dele foi numa aldeia e ele já não lembra quando depois alguém chega numa aldeia a fita cassete tá tocando e a pessoa fala Vocês têm esse programa aí ele fala a gente tem uma fita cassete que vocês mandavam pra gente e a gente guarda Ela tá aqui ó a hora que a gente quer a gente põe ali e toca de novo
olha olha a duração da experiência uma fita cassete que foi mandada em 86 88 87 pra aldeia Tá viva num acervo em algum lugar em alguma Aldeia onde o pessoal toca o programa de índio é tipo assim essa é para tocar no rádio Essa é para tocar no rádio eu acho que ajudou na minha formação Ampla a experiência do programa de índio Mas ele também ajudou a uma constelação de pessoas vivendo em aldeias craô ticuna macuxi Suruí Guarani terena Kang a se espelharem a olhar e dizer tem um programa de rádio que tem a coragem
de se auton nomear programa de Índio Quer dizer a gente tirou essa expressão do lugar pejorativo Ah isso é um programa de Índio Quer ir na praia quando chove sei lá a gente resgatou a poética da expressão diante das mudanças climáticas e dessa desordem ecológica que o planeta vive programa de índio pode ser uma das janelas de percepção de outros mundos programa de índia é a melhor coisa que alguém pode fazer o aon me contou uma história do meu pai que resume um pouco tudo isso que a gente está falando o poucos anos ele derrubava
quarteirão né andava na areia parecia que ele tava na passarela numa dessas ele tava numa manhã dessas por Ipanema e uma uma mamãe tipo Garota de Ipanema andando com o filhinho dá de cara com o mauara na praia aí ela chama a atenção do do filhinho dela e fala assim olha filhinho um índio e os dois vão abordar o mauara e chega perto do maxu e ela fala ele nunca viu um índio aí Oara fala assim oi garotinho aí ele grita assim nossa ele [Música] fala um índio que fala um índio que consegue contar a
própria história nos seus próprios termos quer dizer é gente Ele é gente Ele é uma pessoa [Música] Quero agradecer o Max suara por ter feito aqui esse programa junto comigo obrigado mauara muito obrigado a você obrigado aos ouvintes bye bye e até a próxima né esse foi o ID terena essa história foi produzida com apoio do Instituto sócioambiental oa há 30 anos o Isa trata meio ambiente e pessoas de forma integrada e luta em dos direitos de povos indígenas quilombolas ribeirinhos e comunidades tradicionais nos corredores de Brasília nas aldeias e nas comunidades obrigada por ouvir
mais esse episódio do rádio novelo apresenta você já sabe no site da rádio novelo tem sempre material Extra dos episódios aqui do apresenta e no post desse Episódio tem o link pro Acervo do programa de índio do aon krenak e pro hava Té o filme dirigido pelo Zelito Viana com o Max suara cadwell Lembrando que a gente tá no Instagram e no Twitter no @ radionovela você pode seguir a gente por lá e também na plataforma Onde você tá ouvindo esse episódio dá para deixar um comentário sobre o episódio tanto nas nossas redes quanto na
Apple quanto no Spotify para falar com a gente é só marcar a gente nas redes ou mandar e-mail pro apresenta @ radionovela.com o rádi novelo apresenta é um original da Rádio novelo tem Episódio novo toda quinta-feira a direção criativa é da Paula escarpim e da flora Thomson Dev a produção executiva é da Marcela casaca e a gerência de produto é da Juliana heeger a Natália Silva é editora executiva nossos repórteres e roteiristas são o Vittor Hugo Brandalise a Evely argenta a b a Sara zel a Carol Pires a Bárbara rubira e a Carolina Moraes a
Ashley Calvo é produtora a checagem desse Episódio foi feita pela Ana Rita Cunha a montagem e desenho de som é da Mariana leão a mixagem é da Bia Guimarães e da Júlia Matos nesse Episódio a gente usou música original de Artur CS e também da Blue dot o desenvolvimento de produto e audiência é feito pela Bia Ribeiro o design das nossas peças é do Gustavo Nascimento a nossa analista administrativa e financeira é a tain Nogueira Nossa coordenadora executiva é a Lara Martins e a nossa estagiária é a Isabel de Santana obrigada e até a semana
que [Música] vem Alô al alô baixada fluminense nós estamos aqui nesse bro sua E hoje nós temos pão de queijo e um café maravilhoso também estamos começando o programa deio