Por que alguns países ficaram ricos e outros continuaram pobres? O economista israelense Oded Galor se dedicou a pesquisar como os seres humanos foram capazes de gerar tanta riqueza e desenvolvimento ao longo da história. E, ao mesmo tempo, ele analisou como a distribuição dessa riqueza ocorreu de forma tão desigual.
O resultado foi um livro, recém-lançado no Brasil, que tem sido bastante debatido. Eu sou Shin Suzuki, da BBC News Brasil, e explico em quatro pontos os argumentos do Oded Galor, com quem eu conversei. Ele também é professor universitário e vem sendo apontado como um possível candidato ao Prêmio Nobel de Economia.
Vamos direto ao primeiro ponto. A revolução agrícola, ocorrida cerca de 12 mil anos atrás, tirou o ser humano do estágio de caça e coleta e levou a um ciclo de inovações que representou um imenso avanço tecnológico. Foi uma mudança crucial, mas de consequências nem sempre positivas.
Uma transformação que pode ser considerada favorável foi o surgimento de um grupo seleto de pessoas que, em vez de se dedicar a trabalhos braçais, consegue focar seu tempo no estudo da matemática, das ciências e das linguagens. Por muito tempo, as civilizações em vantagem competitiva estavam no chamado Crescente Fértil – uma faixa que vai do Egito, passa pelo Oriente Médio e chega ao Iraque. Alguns exemplos são os mesopotâmicos, persas, fenícios e os próprios egípcios.
Isso porque essa região foi a primeira a adotar a agricultura e tinha um clima favorável para produzir colheitas mais abundantes. Só que, mais ou menos a partir dos anos 1500, a produção agrícola foi perdendo espaço para a urbanização e para as navegações na geração de riqueza. E aí começa o período de domínio dos europeus, período esse que teve um marco essencial: a Revolução Industrial, 200 anos atrás, tema do próximo ponto.
Aqui, entram em cena não só o acúmulo de riquezas dos europeus com o comércio e a exploração ultramarinos, mas também desdobramentos inesperados de grandes acontecimentos, como uma pandemia iniciada séculos antes. Eu me refiro à Peste Negra, que chegou à Europa em 1347 e aniquilou 40% da população europeia. Isso representou uma queda dramática na força de trabalho, que fez falta em todo o continente, mas sobretudo na Inglaterra, que já tinha um setor urbano relativamente desenvolvido.
Para atrair trabalhadores ao campo, a aristocracia inglesa da época precisou fazer algumas concessões, como dar direito de propriedade de terras a pessoas que não eram aristocratas, abrindo caminho para a ascensão de comerciantes e empresários. Isso, na visão de Oded Galor, ajuda a explicar por que a Inglaterra saiu na frente na Revolução Industrial. Galor explica também que a revolução industrial leva a sociedade a lidar com um ambiente de mudanças muito rápidas, que impactaram muitos aspectos da vida das pessoas.
Eis aqui mais um motivo importante da desigualdade, na visão do economista: os países que começaram mais cedo a investir na educação do seu povo são os que conseguiram acumular mais riquezas. Mas não para por aí. Parte desse enriquecimento se deu à custa da exploração de outros países e de mão de obra escravizada.
O Oded Galor lembra que o colonialismo e a escravidão em países como o Brasil e muitos outros ajudaram a financiar países europeus. O dinheiro extraído das colônias e do comércio de pessoas escravizadas levou, mais tarde, alguns países a se especializarem na produção de bens manufaturados, com mais valor, em vez de se limitar só à produção agrícola. Enquanto isso, as colônias foram forçadas a se concentrarem na produção de matéria-prima e bens agrícolas.
Essa limitação atravancou o desenvolvimento tecnológico, industrial e, segundo a lógica do economista, educacional. Veja só o que o economista fala sobre o colonialismo e sobre o Brasil: “No Brasil, escravidão e colonialismo são importantes porque afetam as instituições hoje, afeta a desigualdade, falta de coesão social, afeta a falta de confiança no governo e entre indivíduos” Aqui, ele aponta uma diferença curiosa em relação à América do Norte: Canadá e Estados Unidos também foram colônias, e também receberam mão de obra escravizada africana. Mas, segundo Galor, predominava nesses países um tipo de agricultura em que não predominaram grandes monoculturas.
Isso talvez tenha diminuído a concentração de terras em um número pequeno de proprietários e, ao mesmo tempo, talvez tenha favorecido gradualmente o surgimento de instituições democráticas. Ou seja, seguindo o raciocínio do Oded Galor, as instituições de Estado podem ser o resultado do tipo das produções agrícolas em diferentes lugares do mundo. Bom, mesmo destacando esses fatores-chave para o acúmulo de riqueza de alguns países, o economista aponta que o crescimento econômico mundial dos últimos 200 anos foi uma etapa de imenso progresso para a humanidade, e não só para os países ricos.
Mesmo em muitos países em desenvolvimento, houve significativos aumentos na renda per capita e a diminuição da mortalidade infantil, para citar alguns parâmetros bastante usados em métricas de desenvolvimento. Galor aponta que, mesmo nos países em que a pobreza ainda é bastante presente, a conjuntura social teve uma melhora sensível na comparação com 100 ou 200 anos atrás. Mas essa mesma ânsia por crescimento que marca o capitalismo moderno a partir da revolução industrial está relacionada também à crise climática que pode levar o planeta à devastação e até mesmo, em condições extremas, à extinção do homo sapiens.
De qualquer modo, o Gaded Galor se mantém otimista. Com isso eu fico por aqui, conta para a gente nos comentários o que você acha de tudo isso. Obrigado pela audiência e até a próxima.