[Legendas geradas automaticamente] Olá, esse é o Filosofia em Comum, nosso canal de filosofia. Toda semana nós temos vídeos aqui sobre diversos temas filosóficos e eu convido vocês a se inscreverem no canal e mandarem as suas perguntas, observações, que nós estaremos todas, todes e todos atentos. O nosso assunto de hoje é patriarcado.
Vamos falar sobre patriarcado, o que essa palavra quer dizer? Patriarcado é um sistema, a gente pode dizer que o sistema é o patriarcado, que o machismo é a sua tecnologia política e que a misoginia é o discurso de ódio que sustenta essa tecnologia política que, por sua vez, sustenta o sistema. Ou seja, não existe patriarcados sem machismo e não existe patriarcado nem machismo sem misoginia e é sobre isso que esse vídeo vai falar hoje.
O patriarcado é o sistema que administra a desigualdade entre os gêneros e que ao mesmo tempo produz a noção de gênero com o objetivo de construir a sua desigualdade. Então o patriarcado é uma espécie de círculo vicioso em que se produz gênero, ou seja, a diferença entre os papéis das pessoas a partir de uma mensuração da condição sexual das pessoas e ao mesmo tempo que o patriarcado faz é inventar o sexo, então ele inventa o gênero, mas ele também inventa o sexo no começo da história. O patriarcado inventou o sexo e naturalizou o sexo.
Depois o que o patriarcado fez foi inventar um gênero e naturalizar essencializar o gênero para que as pessoas acreditassem que os papéis que elas desempenham a partir de uma determinação biológica, que esses papéis seriam absolutamente verdadeiros e que deveriam ser sempre repetidos porque nisso residiria a nova natureza das pessoas. Então o patriarcado é um sistema de opressão, certamente, um sistema de privilégio, mas essa opressão e esse privilégio se organizam a partir do controle dos corpos que se faz a partir de um tipo de construção de ideias, de construção portanto de uma noção de natureza, a ideia de natureza, noção de natureza é absolutamente essencial para que esse sistema possa se estabelecer e ele se organiza justamente interagindo, agindo e essa interação e essa ação são sempre opressões sobre os corpos que devem então corresponder de um ponto de vista estético, de um ponto de vista do comportamento do ponto de vista da definição do que deve ser da maneira de ser de uma determinada de um determinado indivíduo de uma determinada pessoa então controlada dentro do sistema se a gente usar a definição que o Max Weber tinha sobre o capitalismo na qual ele diz naquele famoso livro dele que se chama "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo" ele diz que o capitalismo cria os corpos dos quais ele precisa para se manter como sistema. Ora, o patriarcado faz a mesma coisa, ele cria os corpos dos quais ele precisa para se manter e esses corpos são então os corpos que a gente diz que são generificados, o corpo do homem, o corpo da mulher esses corpos são primeiro naturalizados a partir de uma teoria biológica que é uma teoria da natureza e é também ela é uma teoria naturalizada e depois esse sistema vai criar uma teoria do gênero e nessa teoria do gênero ele vai inventar que mulheres e homens são o que são como se eles não pudessem ser outra coisa além de mulheres e homens.
Então o patriarcado basicamente é um sistema da heteronormatividade orquestrada, organizada e que é lançada sobre os corpos com o objetivo de manter a dominação, manter o poder sobre esses corpos, o controle e também a disciplina sobre esses corpos mas partindo dessas construções que são teóricas, que são epistemológicas que são construções a partir do campo das ideias e tudo Isso evidentemente para sustentar o privilégio de uma determinada classe. Que classe é essa? A classe dos homens que se estratifica dentro dela mesma ou seja na própria classe masculina digamos assim, existem os homens então os homens que dominam e os homens que são dominados mas certamente existe uma outra classe no patriarcado que se chama classe feminina que são as mulheres e essa classe serve a esses homens conforme uma um princípio regulativo que faz com que em cada classe social todas as mulheres sirvam como classe de gênero, como classe de sexualidade a esses sujeitos do privilégio.
Tem uma autora que eu gosto muito que é a Rita Segato que vai dizer que o patriarcado é uma frente, uma frente estatal, uma frente econômica, uma frente religiosa e uma frente cristã, é uma frente midiática e uma frente cristã, e essa frente é organizada e orquestrada para que o sistema funcione sempre baseado também então nesse princípio da dominação, nesse princípio da opressão do controle dos mas tudo isso só funciona também porque o patriarcado depende da força bruta depende da violência para ele conseguir se sustentar isso nós precisamos entender, o patriarcado não existe sem a violência que o institui, que o reproduz e que se dirige sempre para os corpos que devem servir ao sistema, corpos que são produzidos, que são construídos que são linguisticamente programados para servir a esse sistema. O patriarcado é o sistema, o machismo é o mecanismo a partir do qual o sistema funciona. [Michel] Foucault falou que o poder funciona como um dispositivo, ou seja, como uma engrenagem.
Nós podemos dizer que o machismo é o dispositivo do patriarcado e o machismo ele se confunde muitas vezes com a ideologia porque ele parece, ele parece não, ele realmente funciona ora como teoria através da exposição verbal daquilo que por exemplo em [Pierre] Bourdieu seria o poder simbólico e ao mesmo tempo o patriarcado funciona como prática. Então de um lado a teoria de outro como prática. Então essas práticas também envolvem rituais, elas também são simbólicas, elas envolvem rituais, elas envolvem procedimentos, elas envolvem a organização da sociedade e a construção evidentemente de todo um cenário de um texto para que o patriarcado possa sempre ser revitalizado, ser reinstaurado, nesse sentido é como se o machismo fosse então a tecnologia política que permite a instauração e a restauração e a continuidade dessa desse sistema então patriarcal.
A gente pode dizer que é através do machismo que o patriarcado consegue sustentar por exemplo a básica desigualdade entre o sexos é claro que o patriarcado – porque o patriarcado é sempre capitalista também e é sempre racista e é sempre capacitista – é claro que o patriarcado sendo esse sistema organizado ele precisa criar a sua própria ideologia, se organizar como ideologia, criar os discursos, criar as ideias e fazer com que os corpos funcionam conforme essas determinações que em princípio podem soar ideológicas abstratas, epistemológicas que de fato são mais que não funcionam se elas não tiverem um estabelecimento, uma materialização prática. Então o machismo é a tecnologia política que garante que o patriarcado vai continuar existindo e ele funciona na vida cotidiana nas instituições ele funciona na família funciona na escola funciona no mundo do trabalho na esfera pública na Esfera privada seja no contexto que for a gente vê o funcionamento dessa tecnologia política buscando sempre o mesmo objetivo que é a manutenção das mulheres e de todos os corpos que são indesejáveis e que são corpos lançados no projeto de violência de uso e de do patriarcado como sendo corpos meramente úteis e que serão necessariamente descartados quando eles não forem mais úteis então o lugar que é o machismo né é o machismo que vai sustentar esse lugar ao qual as mulheres e todos esses outros corpos estão condenados pelo sistema e esse lugar é o lugar secundário é o lugar da inocencialidade é o lugar onde as mulheres devem se colocar e enfim devem Aceitar ficar na posição de subalternas no patriarcado as mulheres devem não existir elas jamais devem se exigir um lugar melhor elas não podem se contrapor a essa posição na qual elas foram colocadas então exigir direitos exigir respeito exigir dignidade reconhecimento da própria dignidade tudo isso incomoda e irrita essa coisa esse sistema então chamado patriarcado e as práticas de violência que são próprias Então dessa tecnologia política que é o machismo elas são elas são praticadas elas são lançadas sobre as mulheres em níveis de falta de escrúpulo em níveis de violência os mais diversos que vão da violência simbólica a violência física que vão de uma violência verbal até uma violência concreta material no limite no extremo por exemplo o feminicídio então o machismo serve para isso para fazer com que o sistema continue funcionando e sustentado por tanto pelos corpos femininos que são tratados como se eles fossem meramente combustíveis do sistema por isso a posição das mulheres no patriarcado tem muito a ver com a posição das pessoas escravizadas dentro do sistema escravagista e tudo isso claro é dentro de uma histórica, vamos chamar assim, ideologia política que é também ao mesmo tempo uma ideologia, que é ao mesmo tempo uma filosofia política, que é uma teologia política também que tem, por exemplo, nas instituições os seus laboratórios mais especializados. Podemos destacar dentre todas as instituições a instituição familiar que é um laboratório pelo qual se produz a generificação dos corpos um laboratório no qual se produz enfim também a sexualização dos corpos então é a família que inventa o sexo é a família que inventa o gênero lança sobre os corpos mas ao mesmo tempo a família é ela mesma inventada pelo patriarcado e numa sociedade conservadora a família ela também acaba se transformando numa espécie de ideologia.
Por isso nós falamos hoje em dia em família que a ideologia da família e de um tipo de família uma família que é conservadora a família do pater potestas, do poder do macho, do poder do pai, que é a família constituída em cima da ideia de violência do homem, submissão da mulher, da esposa e também submissão dos filhos e das filhas criadas no bojo no contexto desse poder do Pater família. Isso é o machismo atuando sobre as nossas vidas, todas essas questões nós podemos revisar, nós podemos discutir podemos perguntar isso aliás é muito importante de se fazer sempre mas para efeito desse esse vídeo depois vocês vão mandar as perguntas de vocês e a gente vai aproveitar isso mas para efeito desse vídeo agora eu queria falar apenas mais um detalhe o que que é a misoginia a misoginia é uma palavra que significa ódio as mulheres ou medo das mulheres aversão as mulheres aversão ao feminino ora a gente só conhece a genia justamente por conta do machismo e do patriarcado mas a misoginia numa sociedade como a nossa é absolutamente essencial porque a nossa sociedade é discursiva é organizada em cima do texto em cima da palavra e nessas nessas produções de textos de palavras de imagens o que a gente acaba encontrando é o discurso de ódio o ódio como sendo o fator estruturador de um tipo de textualidade que às vezes está por escrito numa Cultura como a nossa que é uma cultura letrada uma cultura do livro mas também está muitas vezes na nossa oralidade é repetido então a gente pode falar que existe uma ventríloquacidade do patriarcado, do machismo como tecnologia política que se exerce através dessa desse discurso de ódio que é a misoginia então a misoginia ela é essencial para sustentação do machismo e do sistema patriarcal e significa basicamente ódio as mulheres o sistema patriarcal que é ao mesmo tempo sistema capitalista é também o sistema racista porque o ódio as pessoas racializadas ele corresponde também a esse ódio as pessoas sexualizadas que são as mulheres aí mulheres trans mulheres das mais diversas raças mulheres inclusive da raça se que criou a racialização mas que não se auto racializa que é a raça branca que pratica aquilo que vem sendo chamado de ideologia da branquitude bom tudo isso é discurso de ódio e o patriarcado capitalista ou aquilo que a gente pode chamar de patri-racial-capacitalismo, esse é o sistema geral que administra todo esse ódio e que não existiria, sem dúvida, sem esse ódio. Então guardaram patriarcado, machismo, misoginia, três palavras que estão associadas.
E espero que vocês possam enviar perguntas, observações, sugestões sobre esses tópicos e vários outros porque toda semana nós estamos fazendo vídeos aqui com o objetivo de divulgar ideias e fazer com que as pessoas possam ter um espaço para mais reflexão nas redes sociais, na internet é tão importante a gente poder perguntar e entender e questionar e sobretudo produzir uma cultura de diálogo que é o que tá faltando também para que a nossa sociedade possa melhorar a sua produção intersubjetiva né ou seja aquilo que nós estamos fazendo uns com os outros e eu convido vocês a se inscreverem no canal a mandar em perguntas acionarem um sininho que avisa vocês quando tem vídeo novo mas toda semana vocês podem contar com o nosso vídeo aqui vai ser um prazer encontrar vocês um grande abraço e até a próxima!