BATISMO E CRISE DE IDENTIDADE - Homilia - Batismo do Senhor (2025 ) noite

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Padre José Eduardo
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Video Transcript:
Queridos irmãos e irmãs, na homilia da manhã eu fiz, como sempre, um sermão um pouco mais expositivo sobre o texto, e aqui eu queria partir para algumas lições espirituais que o texto nos apresenta. Diz em São Lucas que, quando todo o povo estava sendo batizado, Jesus também recebeu o batismo. São Lucas o apresenta como um entre os outros; essa é a posição que Jesus assume, a posição de ser contado entre os pecadores, justamente porque Ele assumiu os nossos pecados e, portanto, assume a posição de penitente em nosso lugar.
Que tantas vezes não somos suficientemente penitentes! Nosso arrependimento é tão superficial, os nossos propósitos são tão pouco duradouros. Mas ele se faz contar entre os pecadores: quando todo o povo estava sendo batizado, Jesus também recebeu o batismo.
Ele recebe o batismo, e aqui São Lucas não descreve a cena propriamente; ele não diz como ele entrou, ele não diz quem foi o batizador. Ele simplesmente foi batizado, simplesmente recebeu o batismo, e enquanto orava, o céu se abriu. São Lucas é o evangelista da oração; ele é aquele que salienta a oração de Jesus de um modo quase contínuo.
Em todos os momentos importantes da vida de Jesus, ele mostra Jesus em oração. Isso é importante porque, vejam, dentre as passagens em São Lucas que mostram Jesus orando, esta é a primeira, logo na sequência do seu batismo. Inclusive, essa manifestação de Deus, essa teofania, é por isso que nós celebramos a festa do batismo do Senhor logo após a Epifania, porque Deus se manifesta.
Aqui, o Espírito Santo vem em forma corpórea sobre Ele, com uma pomba, e a voz do Pai se faz ouvir sobre as águas. Acontece enquanto Ele está. .
. o texto não deixa claro se Jesus foi batizado e, depois, estando em oração, num outro momento ali por perto, aconteceu essa manifestação de Deus. O texto não deixa exatamente claro isso, pois ele quer tão somente fazer a conexão do batismo do Senhor com a sua oração e da sua oração com essa manifestação extraordinária da Santíssima Trindade, que se revela para ratificar a identidade de Cristo antes de que Ele inicie o seu ministério público.
Ora, portanto, é quando Jesus, Deus, está orando que o céu se abre, que o Espírito Santo desce como pomba e que do céu vem uma voz: "Tu és o meu Filho amado; em ti ponho o meu bem querer. " "Tu és o meu Filho muito amado, em quem ponho todo o meu bem querer. " Portanto, queridos irmãos, a primeira coisa que, inclusive de manhã, mencionava e que é importante aqui repetir é que a oração é um prolongamento do nosso batismo, ou seja, nós fomos batizados um dia.
Alguns quando crianças, outros já como adolescentes, jovens, até como adultos, e nós recebemos a vida de Deus em nós. Nós recebemos essa vida sobrenatural, mas, lamentavelmente, a vida sobrenatural muitas vezes se ressecou, muitas vezes se perdeu. Nós morremos espiritualmente, e essa morte espiritual se dá por quê?
Se dá porque, ao invés de mergulharmos em Deus, nós mergulhamos no mundo, nas coisas exteriores. Mas vejam, quem mais perde com isso somos nós mesmos! Quando Jesus é batizado e ora, o céu se abre, o Pai se revela, o Espírito Santo desce, a voz do Pai se faz ouvir, e a identidade do Filho é ratificada pelo Pai.
Quando nós oramos, ocorre algo similar: o céu se abre, a graça do Espírito Santo desce sobre a nossa alma, e a nossa verdadeira identidade é dada por Deus; Ele nos a revela. Um cristão que não ora é um cristão em permanente crise de identidade; ele não sabe o que é, ele não sabe se é cristão ou se é pagão, porque ora ele vive como pagão, tem costumes pagãos, tem comportamentos incompatíveis com a fé. Ora, ele é cristão, obedece aos mandamentos, participa dos sacramentos, professa a fé católica.
Um cristão que não ora não recebe a sua identidade de Deus; recebe a sua identidade de muitos outros fatores. Por exemplo, é alguém que vive se comparando com os outros: "Ah, Fulano é melhor do que eu nisso, eu sou pior do que ele naquilo. " Um cristão que não conhece a sua identidade porque não ora é alguém que vive a vida inteira dependente da validação externa, de uma aprovação.
Alguns de nós, por uma série de circunstâncias da vida, têm uma insegurança no caráter e, ao invés de isso melhorar com a fé, isso piora. Quantos cristãos infantis eu conheço, especialmente nas redes sociais! As pessoas fazem perguntas das mais tolas simplesmente porque elas querem ouvir uma confirmação; elas não se sentem seguras nas coisas mais escabrosas e as coisas mais simples.
Então, por exemplo, uma pessoa que me pergunta: "Padre, na sexta-feira, eu não percebi, comi um pedaço de bacon no ovo; pequei mortalmente? " É óbvio que não, ninguém peca por distração; se não há vontade, não há pecado. Mas a pessoa precisa ouvir de mim ou precisa ouvir do outro porque ela não tem segurança.
Aí começam aquelas coisas: "Padre, se eu rezar o terço, pegar a coroa, o terço e rezar em sentido antihorário, isso é inválido? " Coisas desse tipo. Ou seja, os cristãos se infantilizam porque, ao invés de entenderem que a fé deve curar as nossas inseguranças, eles mesmos acabam usando a fé para reforçar as suas inseguranças.
Não sabem quem são. Quando eu não oro, eu sou simplesmente o produto do meu passado; eu fico a vida inteira replicando e me culpando e fazendo com que a minha mente seja cativa de pensamentos de outrora. Quantas pessoas carregam por anos e anos e anos e anos culpas que elas não conseguem retirar de si simplesmente porque não oram!
Eu acho interessante que existem cristãos que pecam e param de rezar. Eu digo: "Mas por que isso, se Deus é Pai, se Ele é amoroso? " Ele é misericordioso, se Ele é bondoso.
Eu caí, mais do que nunca eu preciso rezar para voltar à graça, mas não como a pessoa que tem uma ideia equivocada de Deus. Então, ela acha: se eu pequei, logo Ele está brigado comigo; logo, enquanto eu não fizer o que eu tenho que fazer, que é me confessar, eu não posso me atrever a chegar à presença d'Ele, senão eu posso tomar uma paulada na cabeça, deve ser. E não tem nada disso!
A graça de Deus é maravilhosa! Quantas vezes, irmãos, a gente cai feio, faz um ato de contrição, pega o terço para rezar e a misericórdia divina se derrama sobre a nossa alma. E talvez nós tenhamos um momento até privilegiado de encontro com o amor de Deus, porque Ele se mostra bondoso justamente com aquele que cai, mas que se humilha.
Aquele que não ora, não conhece Deus; não experimenta da graça, não tem efetivamente um mergulho real na graça divina. Deus é uma informação no catecismo, num livro de teologia dogmática, e eu falo daquilo com uma certeza apodítica, como se eu estivesse falando do teorema de Pitágoras; e, na verdade, eu não experimentei nada, porque Deus não é uma fórmula, Ele é alguém. Ele me trata como alguém.
Há tantas coisas que distorcem a nossa autoimagem; a nossa própria vaidade nos deforma. Quando nós somos narcisistas e ficamos o tempo todo olhando pro espelho e querendo obter uma confirmação, isso nos fragiliza demais. Nós não conseguimos ser objetivos; não olhamos para as limitações do nosso caráter e ficamos como náufragos, levados pelas circunstâncias.
Como o homem moderno é frágil! Isso não é só para os jovens, mas para todas as idades. As pessoas vão aprendendo a se fragilizar.
Essa vez mandaram um vídeo, eu fiquei impressionado. Era uma velhinha, não sei, deve ter uns 90 anos, dizendo, se lamentando, porque ela estava sentada na porta da casa dela, que já não devia estar, porque vai fazer o quê na porta da casa, olhando a rua? Entra para dentro de casa, pelo amor de Deus!
Porque passou um rapazinho que passou a mão debaixo das axilas e botou no nariz dela, e ela se apaixonou pelo rapaz. Resultado: o rapaz roubou tudo que a mulher tinha em casa, ela ficou pobre, coitada; já era pobre, ficou mais pobre ainda. Por quê?
Por que uma pessoa se fragiliza a esse ponto? Por que a carência deixa uma pessoa completamente vulnerável, sem nenhum tipo de fortaleza interior? Como é que os sentimentos são capazes de nos deixar tão intebrados?
É porque nós não sabemos quem nós somos para Deus, e nós não sabemos quem é Deus para nós. Nós estamos numa crise de identidade. Então, eu preciso voltar pro meu batismo.
Eu preciso descer com Jesus às águas e preciso permitir que, pela oração, Deus redirecione o meu pensamento e me faça entender que eu sou filho em Cristo. Ou seja, eu não tenho que me comparar com ninguém, porque eu não sou senão um filho. Eu sou único!
Foi Ele que me fez e Ele me fez exatamente como eu sou, nas circunstâncias em que estou. Portanto, eu tenho que me libertar disso! Eu não quero ficar me comparando com ninguém; eu não preciso ser validado por outros.
Não! Eu tenho um Pai no céu que me ama, que me vê, que me olha, que me contempla com todo o Seu carinho. Eu não preciso ser continuamente afetado pelas minhas culpas do passado, porque em Deus eu estou sendo gerado como filho agora e em todo instante.
É muito interessante que esse versículo final do evangelho de hoje: "Tu és o meu filho amado, em ti ponho o meu bem querer", começa com uma referência ao Salmo 2, quando Davi enxerga Deus falando com o rei e dizendo: "Tu és meu filho; eu hoje te gerei". Este "hoje" é o hoje eterno em que o Verbo é gerado eternamente do Pai em Jesus Cristo. Nós somos enxertados aí, ou seja, Deus está nos gerando como Filho agora, a todo instante.
Isso não é perecível, portanto eu posso ficar livre de todas essas culpas agora mesmo, arrastado pelo Filho para a eternidade da Sua filiação. Eu não tenho por que ficar arrastando nada disso comigo, exatamente porque eu sou filho. Eu posso voltar pros braços do Pai a qualquer momento, porque eu sou filho.
Eu não preciso ser determinado pelos condicionamentos da sociedade, porque eu sou filho. Eu posso confiar em que o Senhor me capacita para tomar as decisões que fazem com que minha vida seja realmente minha, Nele. Ele não é um Pai que nos cerceia; Ele não é o Pai que nos castra, Ele não é o Pai que nos pune, Ele não é um Pai que nos expropria da nossa liberdade.
Uma vez, uma pessoa me disse: "Padre, eu rezei para Deus tirar a minha liberdade, porque eu não aguento mais pecar". Eu lhe disse: "Meu querido, faça essa oração pro diabo, não para Deus! Deus não tira liberdade de ninguém; é Ele que nos liberta.
É Ele que me faz não ser uma vítima das minhas pulsões; é Ele que me permite me erigir sobre as minhas tendências e dizer: 'Olha, quero fazer isso com elas! ' Porque, como filho, eu recebo de Ti o conhecimento, a iluminação, a interpretação da providência, e eu quero direcionar a minha vida de acordo com a Tua vontade. Assim, eu não sou sequestrado pelas minhas próprias inclinações.
Mas eu só descubro isso quando eu oro; eu só descubro isso quando eu mergulho em Deus, porque é na experiência do dia a dia em que nós vamos pedindo e recebendo, em que nós não conseguimos. . .
É um rezo, e de repente, sem saber como, fazemos força e a. . .
" Força está lá, e a força não é nossa. Então, nós percebemos que nós, nós rezamos, e Deus nos deu algo que nós não tínhamos, mas que, de repente, está ali. E isso acontece uma vez, duas, três, quatro mil vezes.
É aí que eu percebo, realmente, que é nele que eu me encontro. É nele, quando eu deixo de ser cabeça dura e passo a rezar: "Pai, me mostra o teu querer. Eu quero perceber a tua vontade.
Vade, me mostra, ensina-me os teus caminhos. Eu quero [Música] conhecer quais são os passos que eu tenho que dar". Quando, ao invés de ter uma vontade obstinada, em que eu pego um objetivo loucamente e saio correndo atrás dele, eu sei colocar a minha vontade um pouco atrás e dizer: "Deus, o Senhor não erra nos seus caminhos.
O Senhor não errou comigo, e tudo que acontece comigo está debaixo do teu amoroso controle, porque me tens como filho e me proteges em toda circunstância". Quantas vezes Deus já nos salvou de nós mesmos, enquanto nós chorávamos como crianças caprichosas, desiludidas diante da não execução da própria vontade? Eu tenho que aprender que, nele, eu sou forte, porque é ele que me fortalece.
Eu tenho que entender que, nele, eu tenho todos os recursos da sabedoria e da graça, e que eu preciso ser humilde para me prostrar e receber dele tudo, absolutamente tudo. Isso nos vem pela oração: recebe o espírito de oração, recebe o espírito de súplica, recebe esse dom do alto com o qual Deus quer te formar. Quando São Paulo diz que os que são conduzidos por Deus são os filhos de Deus, você precisa entender que o Senhor está tanto tempo dizendo: "Eu quero te conduzir", mas você não me escuta, você não mergulha, você não me dá atenção.
Eu estou tentando te mostrar que você é meu filho, mas você não consegue parar um pouco para escutar isso de mim. Você não tem que escutar isso do padre que prega; você tem que escutar isso do Pai no seu espírito. Recebe espírito de revelação, recebe de Deus o dom de uma oração mais profunda.
Mergulha, vai fundo, não tenha medo, e você vai ver que nós servimos a um Deus vivo. Ele realmente fala conosco; ele age, ele faz. Que o Senhor nos leve a um mergulho mais profundo, e então nós descobriremos a identidade de Deus, e, na identidade dele, nossa própria identidade.
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