Olá, meus queridos irmãos, minhas queridas irmãs. Aqui é o Padre Paulo Ricardo. Quero convidar você, mais uma vez, a juntos dedicar os próximos minutos à reflexão do Evangelho deste domingo, que é o primeiro domingo da Quaresma.
Como todo o primeiro domingo da Quaresma, nós refletimos a respeito da Tentação de Cristo no deserto, e o Evangelho é de São Lucas, porque nós estamos no ano dedicado a São Lucas. O Evangelho da Tentação é o capítulo 4, versículos de 1 a 13. Eu gostaria de fazer duas coisas no programa de hoje.
Gostaria de refletir alguns traços que são típicos de São Lucas, mas fazer isso tomando como inspiração a meditação maravilhosa e profunda de Santo Tomás de Aquino na Suma Teológica a respeito do Mistério da Tentação. Se você quiser ler pessoalmente, você que está ouvindo, tem facilidade de estudo, ou é teólogo, ou é padre, etc. , e quer refletir uma coisa muito melhor do que esse meu programinha aqui, vá direto para a Suma Teológica.
Pare de me ouvir, entendeu? Faça alguma coisa e vá lá ler a Suma Teológica. Na questão número 40, trata-se da terceira parte da Suma, que fala da vida de Cristo.
A questão 40 é toda ela dedicada à tentação. Olha, vale a pena você pegar essa questão 40 e meditá-la, primeiro artigo por artigo, depois parágrafo por parágrafo, durante esses 40 dias, porque é de uma riqueza espiritual, é um tesouro. Essa questão 40 da Suma Teológica é dessas questões que quebra as pernas do pessoal que diz que Santo Tomás de Aquino é seco, que Santo Tomás é de uma Escolástica racionalista, etc.
Exatamente o contrário: é um tesouro, pérolas preciosíssimas. Ali, você tem uma mina de ouro para ser explorada. Eu vou só dar algumas sugestões da minha reflexão pessoal, e vocês têm um bom proveito aí de ler diretamente Santo Tomás.
Bom, vamos então começar. A primeira coisa: uma característica de São Lucas. São Lucas, no primeiro versículo, já diz algo que nenhum dos outros evangelistas dizem.
Ele diz: "Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão. " Então, aqui ele está fazendo um link direto com o batismo, não é? E no deserto, era guiado pelo Espírito.
O que quer dizer isso? Ou seja, por que é que Jesus vai para o deserto guiado pelo Espírito Santo? Aqui ele não está falando de demônio.
Ele ainda não falou de tentação. Antes de falar de tentação, que virá no versículo 2, ele fala desse impulso do Espírito Santo, que São Lucas insiste duas vezes. E é interessante que São Lucas é realmente o evangelho do Espírito Santo.
Ele insiste na concepção de Jesus, o anúncio do anjo, cheio do Espírito Santo. Ele insiste em "cheio do Espírito Santo". Ele insiste no profeta Simeão e Ana no templo, cheios do Espírito Santo, e assim por diante.
É o evangelho do Espírito Santo. E aqui Jesus, depois que Ele foi batizado e recebeu o Espírito Santo, enquanto estava em oração. Outra coisa típica de São Lucas: Jesus é apresentado como indo ao deserto guiado pelo Espírito Santo.
Pois bem, por que essa coisa do Espírito Santo? Santo Tomás de Aquino, na Suma Teológica, no artigo 2 da questão 41 que eu citei, faz uma citação maravilhosa de São João Crisóstomo. Ele diz assim: "Não somente Cristo foi conduzido ao deserto pelo Espírito, mas o são também todos os filhos de Deus que têm o Espírito Santo.
" E São João Crisóstomo está dizendo que todo mundo que é filho de Deus é conduzido pelo Espírito Santo ao deserto. O que quer dizer isso? Ou seja, nós, filhos de Deus, não nos contentamos com estar sentados ociosos, mas o Espírito Santo nos urge, nos impele a empreender grandes ações.
E isto, a estar no deserto, sob o ponto de vista do diabo, dado que na boa ação não há injustiça, na qual o diabo se compraz. A boa obra é também deserto, do ponto de vista da carne e do mundo, porque não é segundo a vontade da carne e do mundo. Vamos entender essa citação belíssima.
Vejam só, gente: Jesus, para nós, aqui é modelo. Nós precisamos ser levados pelo Espírito Santo a romper com as obras da carne, romper com a mentalidade mundana. E isto é o que faz o Espírito Santo em nós.
Veja só, vamos lembrar aqui: a nossa alma tem três inimigos. O primeiro inimigo é a carne, ou seja, nós mesmos, seres humanos, que temos dentro de nós uma tendência para o pecado. Essa tendência do pecado vem ou do pecado original de Adão e Eva ou dos nossos pecados pessoais.
Porque, quando você peca, você fica com a tendência de voltar a pecar, ou seja, propensões que estão aí dentro de você; você sente que tem uma inclinação para alguma coisa errada, uma espécie de tara, um desequilíbrio que vai numa direção. Pois bem, isso é a carne. Então, aqui, esse é o nosso primeiro inimigo.
A Quaresma é entrar no deserto e romper com as obras da carne. Então, você começa com o jejum, você começa a fazer sacrifício, você começa a contrariar suas tendências, contrariar aquilo que é a tendência que você tem. Então, quem vai para o deserto é guiado pelo Espírito Santo a fazer isso.
Nós, como igreja, guiados pelo Espírito Santo, rompemos com as obras da carne. Mas não somente isso: você tem que romper com a mentalidade mundana, que é o segundo inimigo. O segundo inimigo da alma é o mundo.
O que é o mundo? Não é o mundo criado por Deus, é o mundo inventado pelo pecado, ou seja, a mentalidade mundana, uma mentalidade contrária a Deus. A palavra "mundo" aqui não quer dizer mundo no sentido normal, assim como a palavra "carne" não quer dizer carne no sentido normal.
Quando a gente diz que as obras da carne, não estamos falando das obras da alcatra, né? Estamos falando das. .
. Obras de uma tendência para o pecado que está dentro de nós. Quando a gente fala da mentalidade mundana, a mentalidade do mundo, não é a mentalidade do mundo criado por Deus; é a mentalidade do sistema pecaminoso criado pelo ser humano.
Então, quando você entra na Quaresma, você é guiado pelo Espírito Santo a romper com a mentalidade do mundo. Então, o que é que a Igreja nos pede na Quaresma? Olha, seja mais recatado quanto a esse negócio de ficar vendo televisão o tempo todo; diminua, se recolha mais em oração.
Não fique usando tanto a internet, não fique usando tanto WhatsApp, Facebook; se recolha um pouco mais. É um período de oração, é um período em que você, levado pelo Espírito Santo, rompe com as coisas que te levam ao pecado. Portanto, as obras da carne e a mentalidade do mundo.
Esses são os dois primeiros inimigos. Se você, guiado pelo Espírito Santo, fez isso, tem um terceiro inimigo que você vai enfrentar. O terceiro inimigo é o diabo.
E isso é claro; ou seja, quando você opta pela virtude. São João Crisóstomo diz assim: qualquer pessoa que decide, guiada pelo Espírito Santo, romper com o pecado está indo para o deserto, e lá vai ser tentada pelo diabo. Isso que São João Crisóstomo diz aqui é a mesma coisa que Santa Teresa d'Ávila diz no "Livro das Moradas".
Vocês sabem que Santa Teresa d'Ávila compara a vida espiritual em sete moradas. Os mais perfeitos, as pessoas mais santas que passaram nesse mundo, são as pessoas que estão na sétima morada. Os iniciantes, ou seja, quem foi batizado e está em estado de graça, está lá na primeira morada.
Como é que você faz para progredir? Bom, você tem que decidir pela vida de perfeição, mas para decidir pela vida de perfeição, você tem que passar por esse gargalo que é a passagem da primeira para a segunda morada. Mas Santa Teresa d'Ávila diz assim: quem entra na segunda morada, ou seja, a pessoa que se decide resolutamente, com uma certa violência, digamos assim, com força de vontade inspirada pelo Espírito Santo, a pessoa se decide a trilhar o caminho da perfeição.
Esta pessoa será atacada pelo demônio. Quem decide entrar na segunda morada será realmente atacado por Satanás. Por quê?
Santa Teresa explica; a explicação é belíssima, porque o diabo sabe que quem decide ser santo nunca vai chegar ao céu sozinho. Quem decide ser santo vai, fatalmente, sem dúvida alguma, levar consigo outras pessoas. Então, o diabo fica desesperado quando vê uma pessoa que entra na Quaresma seriamente.
O diabo fica desesperado. Aí tem gente que diz assim: "Não, então eu vou evitar, né? Vou cair fora.
Imagina, então não vou fazer coisa nenhuma, se o diabo vai vir atrás de mim. " Bom, aqui é que está a escolha. Você não se deu conta, mas a escolha é a seguinte: ou você fica com ele, com o diabo abraçado no inferno, ou então você vai para o deserto e vai ter que brigar com ele.
Você quer ficar em paz com o diabo? Não tem problema. O lugar onde você vai estar em paz com o diabo é quando você optou pelo inferno; ele já está vendo que você está condenado.
Outro dia, conversando com o padre Duarte Lara, que é exorcista lá em Portugal, Diocese de Lamego, padre Duarte dizia assim: "Olha, as pessoas que servem ao demônio, o diabo não mexe com eles, não, porque eles já estão servindo ao diabo e já estão perdidos mesmo; eles vão para o inferno, não tem problema nenhum. " É quando esse servo do demônio rompe com Satanás que o diabo, então, coloca todas as suas forças contra o sujeito. É aí que acontecem muitas vezes possessões, manifestações.
Por quê? Porque é o diabo que esperneia, porque seu servo está indo embora. Claro, por que o diabo vai atormentar uma pessoa que ele já vê que está no caminho do inferno?
O diabo só tem uma finalidade: levar as pessoas para o inferno; se ele já está conseguindo, ele vai deixar quieto. Mas quando ele vê uma pessoa que decide trilhar o caminho da santidade, ele vai brigar. Então, você tem duas escolhas.
A escolha é a seguinte: ou você vai para o inferno, onde irá sofrer eternamente, ou então você assume a luta. Cristo, guiado pelo Espírito Santo, vai para o deserto como um atleta, vai para o deserto como um combatente vitorioso, um atleta vitorioso, um combatente que sabe que irá derrotar Satanás. E isto é muito importante; nós enxergarmos isso.
Jesus vai para o deserto ser tentado por Satanás. Por quê? Porque ele quer nos ajudar no nosso combate.
Todos nós, todos nós que somos filhos de Deus, somos levados pelo Espírito Santo a uma vida melhor, a uma vida de deserto, a uma vida de luta espiritual, a uma vida de buscar a virtude. Então, exatamente por isso o diabo vai vir contra nós. Se você rompeu com as obras da carne, se você rompeu com a mentalidade do mundo, pode ficar tranquilo, o diabo vai vir atrás de você.
Ele vai vir porque ele está vendo que está perdendo você, e uma pessoa que se decide pela virtude não vai chegar no céu sozinha; ela vai levar outras pessoas. Mas, graças a Deus, nós não estamos sozinhos nessa luta. Graças a Deus, nos diz Santo Tomás que nosso Senhor Jesus Cristo foi tentado no deserto para o nosso bem.
Ou seja, o que nós estamos vendo aqui, esse episódio de Jesus tentado por Satanás, é uma realidade redentora. Jesus está sendo tentado no deserto e isso nos redime. Por quê?
Santo Tomás comenta com toda clareza: veja, assim como Jesus, vencendo a morte com a sua morte, nos deu a vida, assim como Jesus venceu a nossa morte vencendo a morte, ele também vence a nossa tentação, vencendo a tentação. Então, Jesus se submete para. .
. Para que haja vitória, Jesus se submeteu à morte para nos livrar da morte. Jesus se submeteu à tentação para nos livrar da tentação.
Então, existe uma força redentora, uma graça redentora nesse mistério. Nós temos que aqui agradecer a Jesus porque Ele fez esta vitória; Ele realizou essa vitória. E o que é interessante aqui não é só nós notarmos que Jesus não venceu o Diabo na sua onipotência divina.
Não, Jesus venceu o Diabo com a sua humanidade. Santo Tomás diz isso com toda clareza: foi Jesus homem quem venceu o Diabo. Jesus, enquanto homem, se Ele não venceu como onipotência, Ele venceu como justiça; seja, Jesus foi o homem na justiça divina.
Ou seja, foi o homem que foi justamente aquilo que Deus queria: o homem sonhado por Deus, o justo. E assim, Satanás foi derrotado. E então, Santo Tomás, citando o São Leão Magno, diz assim: "Com isso, nosso Senhor honrou a humanidade".
Veja que beleza! Jesus honrou a humanidade. Por quê?
Porque foi através da humanidade que Satanás foi derrotado. Isto para a maior confusão, para a maior humilhação, para a maior derrota do demônio! Por que o demônio fosse vencido por Deus diretamente?
Bom, isso não é novidade; Deus é infinito, o demônio é uma criatura finita, por grande que ele seja. Isso não representa uma novidade. Mas que o demoníaco poderoso seja derrotado por um homem, isso lhe é de especial revolta e humilhação.
Jesus, então, ali vence e, vencendo, vence também a nossa batalha. Quando você estiver sendo tentado, lembre-se que você não luta sozinho. Lembre-se que você luta juntamente com o grande atleta, o Cristo, o guerreiro vitorioso.
Nosso Senhor luta juntamente com você. No mesmo Evangelho de São Lucas, nós encontramos, lá na frente, no capítulo 22, um trecho que é típico de São Lucas. Capítulo 22, versículo 31: Jesus diz assim a São Pedro: "Simão, Simão, Satanás pediu permissão para peneirar-vos como se faz com trigo".
Satanás pediu permissão para nos tentar e aqui Jesus nos consola, quando Ele diz: "Eu, porém, orei por ti para que a tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos". Esse fenômeno que eu estou tentando descrever para você e que Santa Teresa descreve de forma maravilhosa é que você vai lá, vai procurar uma vida de virtude, Satanás vai vir tentar você.
Ele vai querer peneirar você como trigo, mas você não está sozinho. O Cristo está com você. Ele é combatente junto com você, Ele reza por você, Ele intercede por você.
Ele fez a vitória para você. Quando você alcançar a vitória sobre as tentações do demônio, confirma os teus irmãos. Ou seja, você não vai sozinho; você não vai para o céu sozinho.
Você tem que levar os outros. Se você está no caminho da virtude, Satanás sabe que você vai constituir uma família espiritual. Se você está no caminho da virtude, Satanás sabe que você está ali gerando uma paternidade espiritual à salvação de outras almas.
Ele se desespera e vem atacar você. Você não vai ser atacado sozinho. Cristo reza por você.
Que consolação saber: "Eu rezei por ti". Consolação saber que Jesus pensou em mim. Que, ali no deserto, sendo tentado por Satanás, Ele pensou em mim.
Ele pensou em mim, Ele pensou nas minhas tentações. Uma das coisas que os teólogos hoje em dia não aceitam é a questão de que Jesus, enquanto homem aqui na Terra, tinha poderes sobre-humanos, mas isso está dentro da tradição da Igreja. O Papa Pio diz com clareza em sua encíclica "M", que Jesus, para realizar a sua missão, precisava receber um poder especial.
Sabe por quê? Porque Ele precisava amar a cada um de nós individualmente. Então, Jesus pensava em mim.
A Igreja sempre acreditou nisso, que Jesus, enquanto sofria essas coisas, não pensava na humanidade genérica. Jesus não amou a humanidade genérica; Jesus amou cada um dos seres humanos e, por isso, Ele recebeu de Deus poderes sobre-humanos para poder amar a cada um pessoalmente. Jesus me via ali no deserto vencendo Satanás.
Jesus via a mim, Paulo Ricardo, e estava pensando em mim e me amando. "Eu vou vencer isso daqui para o padre Paulo, para que ele vença, para que ele se salve". Põe aí o seu nome.
Jesus venceu Satanás e pensou em você. Então, nós precisamos, verdadeiramente, viver essa Quaresma. É uma decisão, uma decisão resoluta.
O reino dos céus é dos violentos, sim, é o Espírito Santo que nos impulsiona. Não é um pelagianismo; é a graça de Deus que nos impulsiona. Mas a graça de Deus não vai nos violentar.
Ou nós fazemos violência a nós mesmos ou a graça de Deus não opera. A graça de Deus não opera com quem não coopera. A Quaresma é esse tempo favorável, esse tempo maravilhoso, em que a Igreja nos convida todos juntos, como comunidade de fé, como corpo místico de Cristo espalhado pelo mundo inteiro.
Os santos no céu intercedem por nós, os anjos nos ajudam. E nós, como um corpo, entramos em Quaresma para mudar de vida. Meu irmão, o convite para você é que esta seja a Quaresma que divide a sua vida no meio.
Que você possa dizer diante de Deus: "A minha vida se divide em dois pedaços porque eu, conduzido pelo Espírito Santo, fui para o deserto com o Cristo, com o Cristo atleta de Deus. Eu fui para enfrentar aquele que me colocava nos grilhões, aquele que me colocava nas correntes do pecado". Com a graça de Cristo, vamos, meus irmãos.
Vamos! Aceitemos esse convite. É a Quaresma definitiva, é a Quaresma que irá mudar a minha vida, a sua vida.
Não é uma Quaresma a mais; é a Quaresma da mudança. Resolutos, vamos para a segunda morada! Resolutos, vamos guiados pelo Espírito Santo para o deserto!
Resolutos, vamos! Buscar a vida de perfeição, resolutos, deixemos a carne e o mundo, mesmo que nós tenhamos que enfrentar as portas do inferno; mas elas não prevalecerão, porque o Cristo rezou por nós. Simão Pedro, eu orei por ti.
Que consolação saber que o Cristo intercede por nós e que nos acompanha nessa Quaresma! Que a Virgem Maria, também Nossa Senhora, aquela cuja descendência esmaga a cabeça da serpente, verdadeiramente aquela que tem inimizade com a serpente, esteja conosco nesse deserto, como está escrito também no Apocalipse: que a mulher foi para o deserto para combater com o restante dos seus filhos. Que ela venha conosco também!
Ela é Nossa capitã, ela é o general desse exército que ainda está aqui nesse mundo, combatendo com a serpente. Meus irmãos, a Quaresma mudará as nossas vidas. Deus abençoe você, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Amém.