Em 2020, foi observada uma quantidade bem alta de ligações para denunciar casos de violência doméstica no Brasil. Como uma grande parte desses casos nunca chega a ser denunciada, isso sugere que a quantidade real de vítimas desse tipo de violência foi muito maior nesse período. Eu sou o André, tenho um doutorado em psicologia e hoje, com a ajuda da amiga e mestra em psicologia Beatriz Cavendish, quero te explicar o que é a violência doméstica, quais são as diferentes formas pelas quais ela pode se apresentar e quais são alguns dos principais fatores de risco para que ela ocorra.
Se você achou o tema de hoje relevante, não deixa de clicar no joinha para nos ajudar, inscreva-se no canal e siga a gente nas redes sociais! A violência doméstica é todo tipo de agressão praticada entre pessoas com vínculo familiar ou afetivo e que convivem em uma mesma residência, mesmo que esporadicamente. Ela pode acontecer entre pais e filhos, marido e esposa e até entre cuidadores e idosos, por exemplo.
A violência doméstica só costuma ser denunciada quando envolve agressão física, até por ser mais fácil de perceber, só que agressões também podem ser de natureza psicológica, sexual, patrimonial e moral. As crianças são vítimas disso quando são usadas como instrumento de chantagem pelos pais ou agredidas diretamente. Quanto a idosos, os casos mais comuns de violência envolvem abandono, negligência, roubo de dinheiro ou agressão física.
Mulheres, crianças e idosos são as vítimas mais comuns de violência doméstica. No Brasil, os idosos correspondem a cerca de 15% e as crianças a 1,4% dos casos. A maioria das vítimas são mulheres, as quais representam 84% de todas as ocorrências, além de serem as vítimas mais comuns das formas mais extremas de violência.
Homens também são vítimas de violência doméstica, embora representem a minoria dos casos. Na maioria das vezes, homens são os autores da violência, especialmente quando a vítima é uma mulher ou menina. Quando um homem é vítima de algum tipo de violência, as chances são grandes de que o autor da agressão seja alguém desconhecido dele; já no caso das mulheres, é bem frequente que o autor seja um parceiro romântico ou alguém do seu convívio.
Considerando que mulheres são as principais vítimas de violência doméstica, leis com o objetivo de protegê-las e ampará-las foram criadas no Brasil e em outros lugares do mundo. A Lei Maria da Penha entrou em vigor no Brasil em 2006 A punição para esse tipo de violência deixou de ser o pagamento de multas ou cestas básicas e passou a ser de 1 a 3 anos de prisão. O nome da lei é uma homenagem à Maria da Penha Maia Fernandes, que ficou paraplégica após ser baleada pelo marido enquanto dormia.
Apesar da violência doméstica conjugal ser um fenômeno que pode se manifestar manifestar de várias formas, ela costuma seguir um ciclo de violência que já é bem conhecido. Existe um momento inicial nesse ciclo que é a fase da tensão, e nela, insultos e ameaças cotidianas vão se acumulando progressivamente. Depois, na fase da agressão, a tensão é trocada por episódios de explosão e violência contra a vítima, seja ela enolvendo agressão psicológica, física ou de outro tipo.
A última fase do ciclo é conhecida como “lua de mel”. Nela, o autor da violência pede perdão, promete mudar de comportamento e demonstra carinho. Em muitos casos, esse ciclo tende a ir se repetindo, sendo que os episódios de violência vão se tornando cada vez mais graves e ocorrem dentro de um intervalo de tempo mais curto.
A não ser que a vítima procure ajuda ou alguém intervenha nessa situação, a tendência é que a escalada de violência vá se tornando cada vez mais perigosa. As consequências psicológicas de passar por esse tipo de coisa podem ser tão graves quanto as lesões físicas. Vítimas de violência doméstica possuem uma chance maior de desenvolver transtornos como a depressão, o transtorno do estresse pós-traumático, transtornos relacionados ao uso de substâncias, ao sono e à alimentação, por exemplo.
Alguns fatores de risco para a ocorrência da violência doméstica são o baixo nível de escolaridade por parte dos pais, o abuso de drogas, o desemprego, a convivência desde a infância com a violência e ter antecedentes criminais. Vítimas e autores de violência doméstica não obedecem a um padrão específico de perfil psicológico ou sócio-econômico. Esse tipo de violência está presente em todas as classes econômicas e tipos de sociedade, incluindo aí aqueles países geralmente considerados "mais desenvolvidos".
Um dos mitos sobre a violência doméstica é o de que os autores dela agem assim por não sabem controlar as próprias emoções. Se isso fosse verdade, eles também seriam violentos com chefes, amigos, outros familiares e desconhecidos. Na prática, eles costumam ser violentos com pessoas bem específicas do seu convívio e não com qualquer um que aparecer na sua frente.
Muitos atribuem comportamentos violentos a genes ou hormônios, principalmente quando o autor é um homem, mas esse tipo de explicação é questionável. A violência é influenciada por diferentes fatores e não apenas por processos biológicos. A história de vida da pessoa e a cultura na qual ela vive, por exemplo, também são de grande influência.
Isso tanto é verdade que os índices desse tipo de violência variam a depender do país analisado e a nossa situação aqui no Brasil, que já não era muito boa, ficou ainda pior com a pandemia. Embora as medidas de isolamento e distanciamento tenham sido necessárias, elas acabaram contribuindo para um aumento na violência doméstica. Esse é o caso do Brasil e algumas coisas contribuíram para isso, como o aumento no desemprego, na instabilidade financeira, no tempo de convívio com os autores de agressão e no estresse durante a pandemia.
Além disso, o maior isolamento também distanciou muitas vítimas daqueles que fazem parte da sua rede de apoio, como familiares e amigos. Dentre as mulheres, as vítimas mais frequentes eram jovens, negras, haviam perdido o emprego ou tido a renda reduzida durante esse período. Em torno de 45% das mulheres que sofreram violência optaram por se manter em silêncio sobre o que ocorreu.
De maneira geral, é comum que vítimas de violência doméstica não façam denúncias e nem falem disso para pessoas próximas. Alguns têm dificuldade de entender como alguém pode se manter em um relacionamento assim por tanto tempo, já que, para quem olha de fora, o mais lógico seria terminá-lo. Situações de violência como essa são muito complexas mesmo.
Uma vítima pode não denunciar a violência por vários motivos, como por receber ameaças, ter medo do que o autor pode fazer ou por ser dependente financeircamente dele, por exemplo. Mesmo quando uma vítima realiza uma denúncia ou fala do que está acontecendo com pessoas próximas, ela ainda pode encontrar outras barreiras para obter o suporte necessário. O seu relato pode ser desacreditado, ignorado ou ela pode até ser culpabilizada pela violência que sofreu.
Caso você esteja vivendo alguma situação assim ou suspeite que alguém esteja vivendo, aqui vão algumas dicas. Dica número 1: saia do silêncio de forma segura. O momento da denúncia ou do término da relação é perigoso, mas é necessário para você recuperar a sua dignidade e autonomia.
Um primeiro passo talvez seja falar sobre tudo o que está acontecendo com uma pessoa em quem você confia bastante e que tem bom senso. Dê preferência a alguém que não tenha vínculo com o autor e que não vá perder a cabeça e querer agredí-lo imediatamente. Dica número 2: ligue para o número 180 para denunciar situações de violência contra mulheres.
Este serviço é gratuito, funciona 24 horas por dia e fornece orientações do que pode ser feito a depender da situação e da região na qual você vive. Também é possível ligar no número 100 para denunciar qualquer situação que envolva a violação dos direitos humanos de alguém ou o 190, caso você testemunhe uma situação de violência explícita onde estiver. Como já explicamos em outro vídeo, a cultura excerce uma grande influência na maneira como desenvolvemos relacionamentos.
Não é por acaso que a maioria dos autores são homens e a maioria das vítimas são mulheres. Para reduzir a violência doméstica no Brasil e em outros países, é preciso que a cultura mude. Também é fundamental que homens e mulheres vítimas de violência doméstica sejam melhor protegidas e acolhidas pelas instituições responsáveis por isso, o que nem sempre ocorre.
O enfrentamento de situações de violência é um assunto bem complexo e delicado que ainda abordaremos mais detalhadamente no futuro. Viver a violência doméstica pode ser algo extremamente confuso, constrangedor e solitário. Algumas pessoas demoram para perceber que estão passando por algo assim, até porque nem sempre é algo tão explícito, especialmente no começo.
Caso suspeite que alguém esteja passando por algo assim, ofereça a sua companhia, mostre-se disponível e tente ajudar da forma que for possível. Fique atento à sua saúde mental também, já que apoiar pessoas passando por esse tipo de coisa pode ser bem desgastante. Se você é a pessoa vivendo isso, é uma ótima ideia procurar ajuda de um profissional da psicologia, tanto para lidar com o sofrimento causado pela situação de violência quanto para ter uma orientação mais individualizada sobre como proceder.
Se esse tipo de assunto te interessa, então confere lá o meu livro que acabou de ser lançado, o Ser humano: Manual do usuário - As origens, os desejos e o sentido da existência humana". Você pode comprá-lo no link que está aqui embaixo, na descrição do vídeo. Dentre os diferentes assuntos que eu abordo no livro, um que está muito conectado ao vídeo de hoje é como conduzir uma DR, famosa discussão de relacionamento.
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No final, demos algumas dicas do que fazer caso você esteja passando por isso ou conheça alguém que está. O que você achou do vídeo de hoje? Deixa a sua opinião aqui embaixo, clique no joinha, inscreva-se no canal e clique no sininho para ficar sabendo dos próximos vídeos!
Um vídeo que é um bom complemento ao de hoje e que você pode assistir agora é o que a gente fez sobre a violência nos relacionamentos.