Olá, meus caros! Sejam muito bem-vindos à nossa conversa do dia de hoje. E, como vocês podem perceber pelo título, nós começaremos agora a falar sobre o Brasil. E por que eu estou dizendo "começaremos"? Porque o mês de abril, especificamente no dia 22 de abril, é o mês em que recordamos a chegada dos portugueses aqui no território brasileiro e o início do processo que nós conhecemos como colonização. A colonização brasileira, é claro, que aqui já existiam vários povos, diversos habitantes espalhados pelo território brasileiro, mas não havia ainda uma unidade territorial. Esta unidade vai começar com
a chegada dos portugueses, com todos os seus pontos positivos, pontos negativos, problemas, dificuldades, dramas, incoerências — como é típico da história. E é sobre isso que a gente vai falar. Mas hoje nós temos aqui um pontapé inicial. Esse vai ser aqui um primeiro diálogo sobre a história do Brasil, mas a ideia é que a gente continue, nas próximas semanas, trabalhando esse tema. Inclusive, depois eu vou falar para vocês sobre algumas fontes de pesquisa bibliográfica que é interessante e importante a gente conhecer. Antes de iniciarmos aqui essa nossa conversa sobre a história do Brasil, vamos fazer
a nossa oração. Vamos pedir a Deus que nos ilumine, nos abençoe nesta noite e, logo em seguida, entramos no nosso tema. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do Vosso amor. Enviai o vosso espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra. Oremos: Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas, segundo o mesmo Espírito, e gozemos sempre da sua Consolação, por Cristo, Senhor
nosso. Amém. Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém. Nossa Senhora Aparecida, rainha e padroeira do Brasil, rogai por nós. O Senhor nos abençoe, nos guarde, nos livre de todo mal. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. Muito bem, meus caros! Se você está chegando agora, seja muito bem-vindo! Hoje nós começaremos aqui uma série de conversas a respeito da história
do Brasil. Esta primeira, esse pontapé inicial aqui, eu nomeei como "O Nascimento do Brasil". Nós vamos falar sobre o surgimento, o amadurecimento de uma ideia de Brasil, uma ideia de nação, que nem sempre existiu, nem sempre foi muito clara. E então vamos falar um pouquinho disso e também, é claro, tentar entender o Brasil a partir das fontes históricas mais antigas. Agora, a gente vai sair um pouco do campo religioso e vamos entrar no campo da história mesmo. É claro que a religião está dentro da história, mas vamos falar de história e vamos falar de fontes
históricas. Vamos analisar aqui alguns documentos que são interessantes, documentos lá do início da história brasileira. Esses documentos certamente nos ajudarão a construir, ao longo deste nosso percurso, um panorama, pelo menos, de como o Brasil começou, se desenvolveu e como que o Brasil chegou onde está hoje. Quais são as incoerências, as inconsistências na história do Brasil? O que foi positivo, o que foi negativo, o que foi avanço, o que foi retrocesso? Enfim, é um pouco disso que a gente vai tentar dar uma pincelada. É claro que falar da história do Brasil são 524 anos de história,
então séculos de história, não é muito fácil falar disso em pouco tempo. A história do Brasil é muito extensa, tem muita coisa. Certamente, isso aqui vocês vão ver que é só uma introdução para despertá-los e trazê-los um pouco mais perto das fontes históricas. A ideia é essa: porque é conhecendo coisas que geralmente a gente não ouve, coisas que geralmente a gente não explora no tempo de escola, no tempo de faculdade, que nós começamos a ter uma visão mais completa, uma visão mais avançada da coisa. Então, essa é a nossa ideia. O que nós iremos analisar?
De quais pontos nós vamos partir aqui para falar da história do Brasil? Então, primeiramente, nessa conversa de hoje, eu vou falar sobre as origens remotas do Brasil. Eu vou falar aqui, muito brevemente, a respeito dos povos indígenas que já viviam aqui. Esses povos indígenas não constituíam uma unidade, eram povos diferentes, eram povos que se matavam entre si, guerreavam, eram tribos diferentes, mas há povos que até cooperavam entre si, sobretudo os povos que tinham o mesmo tronco linguístico e conseguiam se comunicar um pouco mais. Destes povos, principalmente aqueles que eram mais receptivos à presença do estrangeiro,
no caso, aqueles que receberam os portugueses. Desses grupos indígenas, nós herdamos muita coisa na nossa cultura, nos nossos hábitos alimentares, na topografia — os nomes da topografia aqui do Brasil, os nomes de cidades, de morros, de serras, enfim — muita coisa veio dessa origem indígena. Hábitos e também de comportamento foram herdados. Então, há uma contribuição grande desses povos que, embora não formassem uma unidade, acabaram, de algum modo, contribuindo e deixando a sua marca naquilo que hoje nós podemos chamar de cultura brasileira ou de povo brasileiro, que somos nós. Essa mistura de vários elementos. Então, nós
vamos falar, muito brevemente, num primeiro momento, dessas contribuições dos povos indígenas. Depois, vamos falar um pouquinho mais longamente da história de Portugal. Aí você pode perguntar: "Mas o que tem a ver, né?" Nós não vamos falar da história do Brasil, o nascimento do Brasil. Pois é, mas o Brasil, concebido como uma unidade, como um território único, como um território que englobava os povos que já estavam aqui e mais o povo que começou a se formar a partir da fusão do elemento europeu com o elemento indígena e depois com o elemento africano, né? Então, a partir
desta fusão, nós teremos uma ideia de Brasil. Portanto, é por isso que nós falaremos mais rapidamente sobre os povos indígenas; depois eu vou voltar nesse assunto dos povos indígenas, vou falar dos povos africanos mais pra frente um pouquinho, e agora, nessa primeira conversa nossa, a respeito da história de Portugal, para que a gente entenda como os portugueses pensaram, organizaram e fizeram acontecer as grandes navegações e a colonização do Brasil e de outros lugares. Porque o modo de colonização que se deu aqui no Brasil foi repetido por Portugal em outras partes também, né? Com algumas diferenças,
algumas adaptações, mas foi utilizado também. Então, nós vamos falar da história de Portugal para que a gente entenda como o Brasil foi organizado, pensado e tudo mais. Depois, nós vamos olhar para as fontes históricas primitivas. Então, a gente vai falar de alguns documentos, que eu vou comentar aí nas próximas lives. Vamos falar da carta de Pero Vaz de Caminha, que é considerada por muitos como a certidão de nascimento do Brasil, né? Porque foi o primeiro grande documento oficial, muito detalhado, inclusive, que falou a respeito do achamento da terra, que foi nomeada como "Terra de Santa
Cruz". Depois, nós temos a carta do piloto anônimo. A carta do piloto anônimo é um documento interessante porque é um documento que não foi escrito com a mesma poesia. Não é um documento muito rebuscado, muito bonito, tanto quanto a carta de Pero Vaz de Caminha. A carta de Pero Vaz de Caminha dá para ver que é uma pessoa que domina bem a língua; Caminha tem até um tom um pouco poético, né, no modo de descrever as coisas. Então, é muito bonito, até inclusive. Agora, a carta do piloto anônimo é uma carta náutica, descritiva, sem muita
emoção, sem muita subjetividade; é uma visão técnica de uma viagem que partiu de Portugal e chegou aqui, numa terra desconhecida, né? Eles não pensavam que chegariam aqui, mas chegaram. Saíram, a princípio, com o objetivo de ir para a Índia, ou as Índias, né, como eles chamavam. Tanto é que eles vieram para o Brasil e, depois do Brasil, foram para Calecute, na Índia, onde era o objetivo inicial que eles chegassem lá. Então, a carta do piloto anônimo é um documento interessante também; ela coincide com aquilo que Pero Vaz de Caminha disse, mas sem a poesia, né?
Sem o floreio. É uma carta técnica, mas vale muito a pena observar os dados desta carta, né? Então, vamos comentar sobre ela também. E depois eu vou utilizar, né? Eu fiz uma seleção aqui arbitrária, tá? Eu não estou pegando todos os documentos que existem, até porque não dá tempo; isso seria assunto assim para um curso, um aprofundamento. Então, eu peguei a carta de Pero Vaz de Caminha, a carta do piloto anônimo e o diálogo de um europeu com Tupinambá. Esse diálogo foi registrado pelo padre André de Tevé. O padre André de Tevé é um franciscano
francês que veio durante a invasão da França Antártica, né, onde é o Rio de Janeiro hoje. Os franceses chegaram a invadir e implantar uma colônia ali, que depois foi expulsa pelos portugueses, com ajuda dos índios Tamoios. Então, o padre Tevé foi quem rezou a primeira missa ali na França Antártica. É curioso o registro que ele faz; é um dos documentos prediletos, né, pelo menos para mim, dos documentos que eu conheço sobre a história do Brasil. Um dos que eu mais gosto é justamente essa carta do padre André de Tevé, porque ela demonstra o choque, né?
Tem gente que fala muito em choque, mas talvez a melhor palavra seja o encontro de duas culturas, de dois mundos totalmente diferentes: o mundo europeu, que vem com a sua lógica que era incompreensível para o indígena, e o indígena tentando fazer um esforço de captar o que aqueles povos, né, estrangeiros que acabavam de chegar, estavam fazendo aqui no Brasil. Então, é um diálogo interessantíssimo e um diálogo que demonstra uma inteligência, uma perspicácia de raciocínio por parte do indígena, o velho Tupinambá, né, com os questionamentos que ele faz. Inclusive, o padre Tevé, nesse documento, narra que
os Tupinambás tinham uma capacidade infinita de fazer perguntas e querer encontrar respostas para tudo. E aí, o padre Tevé até diz que com eles qualquer assunto poderia se prolongar sem chegar a uma conclusão, né? Porque eram curiosos, né? Tinham essa curiosidade. Então, nós vamos fazer aqui essa sequência. Tá bom? Então, aqui eu estou apresentando o caminho, né, para facilitar a nossa compreensão da coisa. Então, vamos lá. Primeiro ponto: quando nós falamos do nosso território, né, o Brasil, o nosso território não era, né, no início, antes da chegada de Portugal, uma unidade. Como eu disse, né,
aqui no Brasil eram milhares de indígenas espalhados pelo país todo, pelo território todo. Algumas áreas com uma concentração maior, outras áreas quase desocupadas. Temos tribos muito diversas, né? Contando as línguas e os dialetos, existe uma divergência entre os historiadores, mas um dos melhores observadores da realidade indígena foi o padre Jesuíta, o padre Malagrida; ele fala de uma... Estimativa, né, que ele fez de que no Brasil deveriam existir pelo menos 257 línguas diferentes. É contando aí as línguas mesmo e os dialetos que derivaram dessas línguas. Eh, 257. Talvez um pouco mais, talvez um pouquinho menos. Eh,
esse número, mas é um número considerável. Então, nós temos uma variedade linguística muito grande dentro do Brasil e uma variedade de tribos de comportamentos também muito grande. Essas tribos tinham uma compreensão territorial eh totalmente diferente da compreensão territorial que nós temos hoje. Então, hoje em dia a gente pensa em cidade, a gente pensa no estado, a gente pensa eh na região, a gente pensa no país. Muito bem, essa é a clássica divisão territorial europeia. Os europeus pensam o espaço assim, desse jeitinho. E o que acontece quando os europeus chegam aqui? Obviamente, eles enxergam este mundo,
esse novo mundo, como eles chamavam, com a ótica europeia; não podia ser diferente. Então, às vezes a gente olha para eles hoje e fala: "Nossa, eles eram preconceituosos, eles eram xenofóbicos." Eles... Então, na verdade, eles não tinham essas categorias de distinção do diferente que nós temos hoje, e seria um erro, né? Na história, a gente chama de anacronismo você querer julgar pessoas de 300, 400, 500 anos atrás com os critérios de hoje em dia. E não é possível; é um anacronismo, é um erro, é uma injustiça histórica eh fazer esse tipo de coisa, né? Por
quê? Porque você está cobrando de pessoas que viveram há cinco séculos atrás conclusões que nós descobrimos ontem, né? Há pouco tempo. Então, quer dizer, eles não tinham essa visão. Tudo era novo e, obviamente, eles iam enxergar as coisas sobre uma ótica europeia, que era o que eles conheciam. Entendeu? Eh, nós, se estivéssemos no lugar deles há 500 anos, faríamos a mesma coisa, né? Então, eh, não adianta olhar para eles hoje, né? E parece que virou uma moda hoje isso, né? O pessoal querer cancelar eh escritores, autores, personalidades do passado. Pera lá, isso aí é um
anacronismo. Né, pessoas, autores, autoridades, governantes do passado, eles interpretavam a sua realidade a partir daquilo que eles conheciam, a partir daquilo que era eh disponível naquele momento, né, em que eles viviam. Então, eles não tinham como eh ter uma visão diferente. E, obviamente, quando eles olham aqui para os índios, eles vão querer interpretar a coisa eh de um modo europeu. E uma das primeiras dificuldades que eles vão ter é justamente essa questão territorial, porque eles tentaram contato com os índios e tentaram entender como que os eh os indígenas lidavam com essa questão territorial. Porque eles
perceberam que existiam povos diferentes. E aí, eles foram descobrindo que os indígenas tinham seus conflitos também de um povo contra outro povo. E no litoral do Brasil, o grupo indígena que dominava, né, eram os Tupis, né? Os Tupis, os Guaranis e e outros povos ali do mesmo tronco, da mesma raiz linguística, né, n habitavam mais ao litoral. E existiam outros grupos de indígenas que habitavam mais no interior. Então, os portugueses, ao chegarem, eles vão fazer uma primeira classificação arbitrária. Também não é uma classificação exata, né? Mas eles distinguiram assim: os índios do litoral são mais
receptivos, e eram mesmo, eh, então eles são Tupis. E os índios do interior, né, que são mais eh, mais bravos, mais ariscos, mais eh, distantes, pouco dados ao contato, são Tapuias. Então, Tupis e Tapuias. Tupis, mais receptivos, estão em sua maioria no litoral; Tapuias estão mais eh no interior. Então, eles fazem essa primeira distinção, só que é uma distinção que ela também não é exata. Por quê? Porque no litoral existiam outros povos que não eram somente os Tupis e os Guaranis; existiam outros povos também, assim como existiam Tupis e Guaranis no interior, eh, também. Entendeu?
Então, é uma divisão um pouco arbitrária essa que os portugueses fazem, mas também era uma divisão apenas para tentar eh entender, para tentar eh se situar nessa nova realidade na qual de repente eles chegam. E o que que eles vão perceber? Que os povos indígenas eh entendiam como sua terra não a totalidade do Brasil. Então, por exemplo, né, hoje em dia a gente ouve muitas pessoas dizerem assim: "Ah, mas o Brasil era dos índios. O Brasil tinha dono." O mais correto seria dizer o seguinte, né? Pedaços do Brasil tinham dono. Por quê? Porque existia muito
território desocupado e os índios não tinham essa ideia de unidade: "Ah, somos todos povos indígenas, vamos nos unir." Né, indígenas univos, né? Tal, não existia nada disso. É uma categoria eh inexistente para o indígena. Quem é o povo eh dele, né? Ele não tinha... O indígena não tinha essa ideia: "Nós somos um povo originário; nós somos o povo brasileiro, né, originário." Não, não existia isso. O que que ele pensava? Bom, eu sou Tupi. E qual é o meu país? O meu país é o meu território, é o território ocupado pela minha tribo. Essa era a
concepção que eles tinham de país, de território, né? Nem a palavra país existia, né, no vocabulário deles, mas era o território deles. Então, se você perguntasse para um indígena: "Por isso que eu gosto da carta do Tevé, depois mais para a frente eu vou comentá-la, né?" Se você perguntasse pro indígena onde é o seu país, ele diria o quê? "Naquelas árvores ali, termina naquele rio aqui, né? Esse é o meu país, é o meu território." Tanto é que os indígenas não viam problema nenhum, por exemplo, quando os portugueses chegaram e começaram a ocupar a terra
e ocupar terra de outros povos que eram vizinhos deles. Por quê? "Não, é o meu povo, ele não está ocupando o meu território, não é o meu povo." Então, muito bem, inclusive Portugal, né, várias vezes lançou mão disso, lançou mão das inimizades. que existiam entre os grupos indígenas para conseguir ocupar território, se Portugal vinha de um território que achava interessante? Eles faziam o quê? Acordo! Por exemplo, com os Tupis, que não se davam bem com os Tamoios. Então, eles falavam: "Olha, vocês nos ajudam ali a ocupar, e nós ajudamos." Por que o indígena colaboraria com
o português? Uma troca: o português oferecia elementos, né, que é o que ficou conhecido como escambo, né, aqui na história do Brasil. Elementos que o indígena não tinha; metal, por exemplo. Eles não conheciam nada de fundição de metal aqui no Brasil, então era interessantíssimo para eles essa troca, né? E para eles, aquele produto era valioso; tudo que era de metal, porque eles não sabiam beneficiar o metal. Para o português, o território e as matérias-primas, aquilo que eles poderiam tirar, eram valiosos, mas para o índio não tinha tanto valor assim, porque, afinal de contas, esses recursos
estão disponíveis na natureza, tá tudo aí, né? E o indígena sabia muito bem onde achar, como buscar. Então, por isso que eles acabaram admitindo essa possibilidade de colaboração com os portugueses. Essa colaboração, se ela não tivesse ocorrido, a colonização brasileira seria um processo impossível de ocorrer, né? Basta a gente pensar que nas primeiras caravelas chegaram aqui ao Brasil 1.500 homens, só 1.500 homens, e o Brasil todo tinha mais de 10 milhões de indígenas. Então, você tem uma população nativa de mais ou menos uns 10 milhões de habitantes de tribos diferentes, povos diferentes. Como conseguir se
estabelecer num território assim? Tem que ser com a colaboração das tribos dominantes. E é isso que eles faziam: "Ah, vocês estão brigando aí com os Tamoios? Então tá bom, a gente quer o território deles, então a gente se une, oferece para vocês o que vocês querem, vocês nos ajudam a tomar o território." Muito bem, eles colaboravam, e assim foi se dando o avanço nessa ocupação territorial. Os portugueses demoraram bastante tempo para conseguir explicar, né, para os indígenas o que eles queriam saber. Eles queriam saber o nome, né, da totalidade do território. Então, tinham essa curiosidade
a respeito do nome do território, mas para o índio era muito difícil. Por mais que eles perguntassem: "Olha, como que chama esse país, esse território?", era muito difícil. Até que, depois, né, de muito custo, conseguiram explicar para os indígenas o nome daquela faixa de terra, aquele pedaço de terra que Portugal tinha herdado, que era menor do que o Brasil atual, né? Existia o Tratado de Tordesilhas, e então o Tratado de Tordesilhas limitava a ocupação portuguesa praticamente ao litoral do Brasil. Parte do litoral nem era o litoral inteiro, era uma parte do litoral do Brasil e
uma pequena parte do interior do Brasil. Então, era um território pequeno, né? Eram bem menores do que é hoje, né? Depois, Portugal foi avançando, mas era um território relativamente pequeno, né? Mas, diante do tamanho de Portugal, que é um território minúsculo, o Brasil era gigantesco. Então, os portugueses queriam saber o nome disso aqui e, depois de muita insistência com os índios, aí depois de desenhar, de mostrar os mapas, os indígenas entenderam o que os portugueses queriam saber e disseram que o nome disso aqui tudo era Pindorama. Os índios chamavam de Pindorama, né, que significa, o
quê? A terra dos papagaios, né? Pindorama. E o Brasil chega a receber mesmo esse apelido, né? Até em alguns documentos oficiais, o Brasil era chamado de "a terra dos papagaios", né? Então, Pindorama era o nome dessa junção de territórios, mas para o indígena isso não fazia sentido nenhum; você pensar em território unido, porque você vai ocupar só o território da sua tribo, né? Então, essa era a visão que eles tinham, e alguns grupos eram nômades ainda, né? Então, de tempos em tempos, eles se deslocavam, né, dos lugares onde estavam. Então, eram grupos indígenas que plantavam
num determinado local, né, alguma coisa, mas na maioria das vezes eram caçadores e coletores, né? Geralmente, os povos que plantavam eram sedentários; eles já eram fixos na terra, né, no lugar deles. Mas os nômades, em geral, quase não plantavam; um ou outro grupo, às vezes, plantava alguma coisa que é mais rápida a colheita, mandioca, por exemplo. Eles podiam até plantar, mas são grupos indígenas que abandonavam, né, quando os recursos começavam a acabar. "Ah, eu extraí aqui raízes, frutos, cacei animais, começou a se tornar escasso o alimento, eu mudo", né? Eles levantavam o acampamento, abandonavam aquilo
ali e buscavam um outro lugar. Então, essa era a realidade do Brasil antes da chegada dos portugueses. Agora, acontece que em 1500, os portugueses chegaram ao Brasil, mas antes disso, eles já tinham conhecimento, já tinham conhecimento a respeito do Brasil, né, da existência do território brasileiro. Então, em 1492, Cristóvão Colombo descobriu a América. E Colombo, juntamente com o seu companheiro, né, um cartógrafo chamado Vicente Pinzón, acabaram navegando aqui por essas terras e chegando à conclusão de que era um continente, um novo mundo, né? Por isso que vão dar o nome de novo mundo, né? Tinha
também o nome de Índias Ocidentais, né? Então, existiam as Índias Orientais e as Índias Ocidentais. Então, tinha também essa nomenclatura aqui para a América. O Colombo descobre a América dia 12 de outubro de 1492; ele sai do porto de Palos, na Espanha, e navega em linha reta para oeste e acaba topando aqui com o território da América, né? O Cristóvão Colombo é um personagem histórico interessantíssimo, né? Os historiadores, a maioria, pelo menos, né, aqui no Brasil... Consenso que é aceito sobre Cristóvão Colombo é de que ele era genovês, italiano, nascido em Gênova, que entrou para
o trabalho nos navios como marinheiro muito cedo, aprendeu essa vida de navegação nos mares e viajou muito com navios mercantes de Gênova. Foi aí que ele aprendeu todas as técnicas de navegação. Então, aqui no Brasil, essa é a versão mais aceita, mas vários pesquisadores portugueses, historiadores portugueses de renome, nos últimos anos vêm levantando uma série de documentos, e há uma probabilidade grande de que Colombo seja, na verdade, português. Existem documentos que estão vindo à tona, que estão aparecendo e que dão a entender que Colombo nasceu numa região de Portugal, saiu dali, migrou dali, mas que
se correspondeu com a nobreza e com o Rei de Portugal, e que inclusive trabalhou, ocultamente, para o Rei de Portugal durante as grandes navegações. Então, é uma tese que vem ganhando muitos adeptos nos últimos anos. Lá em Portugal já se fala muito disso. Eu recebi aqui, há umas duas semanas, alguns livros de Portugal, livros de história das grandes navegações; nestes livros já aparece essa teoria, essa tese. Aliás, alguns autores portugueses já dão isso como certeza. Aqui no Brasil, isso ainda não é um ponto pacífico; é muito discutido ainda entre os historiadores aqui. Muitos contestam essa
tese, ficam com a ideia de que ele era genovês, italiano e tudo mais. Pelo menos, por aqui, ainda é essa conclusão que permanece. Mas isso é uma coisa que, com o tempo, a gente vai esclarecendo. O mais importante é a contribuição de Colombo. Colombo era um estudioso, não era simplesmente um navegador; era um estudioso, conhecedor de cartografia, conhecedor de mapas, era um exímio matemático, era muito bom nos conhecimentos astronômicos, e também era um católico devoto. Colombo começou, então, uma série de pesquisas e chegou à seguinte conclusão: sendo a Terra um globo, por que não navegar
em linha reta para Oeste? Então, você sai dali da Europa, navega Oeste e vai chegar no Oriente, vai chegar na Ásia, na Índia. Só que a distância era desconhecida até aquela altura; não se sabia exatamente seus cálculos de Eratóstenes, do Cardeal Pierre d'Ailly, enfim, sobre os cálculos de Ptolomeu. Todos esses cálculos sobre a circunferência da Terra, sobre a extensão dos mares eram baseados em conclusões da antiguidade; boa parte desses cálculos vieram antes de Cristo e, até então, não tinham uma certeza total e absoluta de um cálculo muito exato para essa circunferência da Terra. Inclusive, achava-se,
e o próprio Colombo achava, que a circunferência da Terra era muito menor do que realmente é, mas eles não sabiam. Colombo foi um visionário. Ao fazer seus estudos, ele tentou apresentar essa proposta para vários reis, vários monarcas europeus. Ele foi apresentando os estudos que fez, essa proposta dele, e pedindo patrocínio. Ele queria ali um conjunto de caravelas; o patrocínio do rei não era só o patrocínio de arrumar as caravelas, isso era mais fácil. Ele precisava de dinheiro para equipar essas caravelas e precisava pagar parte do salário adiantado desses marujos, ainda mais numa expedição desconhecida. Essa
expedição para uma distância assim desconhecida, além de ser arriscada, poderia acabar levando os marujos a se perderem no mar. Então, era preciso que a família de cada um deles tivesse uma garantia. Geralmente as famílias pediam parte do salário adiantado, até como uma garantia de sustento. Esses homens que iam para o mar eram pais de família e era necessário ter essa garantia. Então, não era muito barato financiar essas expedições. Colombo foi batendo à porta dos reis; inclusive, ele bateu à porta de Dom Manuel, o rei de Portugal. Nessa altura, Portugal já estava muito empenhado nas grandes
navegações. Aliás, Portugal foi o país pioneiro nas grandes navegações. Todo mérito, né? A Espanha se destacou, sim, depois, a França, depois, a Inglaterra. Mas quem foi a nação pioneira? Quem começou a investir todas as fichas nas grandes navegações foi Portugal. Então, Colombo, naturalmente, vai apresentar para o rei de Portugal, Dom Manuel Venturoso, que era casado com a filha dos Reis Católicos da Espanha, Fernando e Isabel. Então, ele era genro dos Reis Católicos, Fernando e Isabel, e ele também era um rei católico. Num primeiro momento, Dom Manuel não se animou a patrocinar a expedição de Colombo,
porque, afinal de contas, Portugal estava indo muito bem. Portugal já tinha avançado muito em tecnologia para a navegação e estava conseguindo lucrar bem com aquilo que já estava feito, já tinha ali desenvolvido funcionando bem. O rei de Portugal não demonstrou tanto interesse. Depois, ele bate à porta de outros reis e outros nobres e não consegue nada. E aí a história de Colombo... Tem até aqui o volume da história de Colombo. A história de Colombo conta exatamente isso: que Colombo então entrou na catedral de Sevilha, na Espanha, para rezar, tanto quanto desanimado, e foi rezar diante
de uma imagem de Nossa Senhora. Aquelas imagens espanholas, com roupa, com tecido de verdade, com cabelo natural, aquelas imagens que são tão expressivas. Ele se colocou diante da imagem de Nossa Senhora e disse: "Minha mãe, eu cansei de bater à porta dos reis da Terra, então eu vim até aqui para bater na sua porta, na porta da Rainha dos Céus, já que os reis da Terra..." Me negaram o patrocínio. Eu vim pedir à senhora que me deu o seu patrocínio, que me ajude a arrumar os meios, e eu prometo que, se eu conseguir navegar e
atingir um ponto onde os europeus ainda não tenham chegado, eu certamente levarei a nossa Santa Fé a essas pessoas. Essa era a promessa de Colombo: levar a fé. Então, o que movia estes homens, né, os grandes navegadores? O que os movia era, sobretudo, especialmente, uma fé inabalável, uma fé que os fazia desejar que outros abraçassem a mesma fé; uma fé que tem um ímpeto missionário que, hoje em dia, muita gente olha para isso, né, como algo negativo. Puxa vida, o europeu veio aqui, destruiu a fé do indígena, impôs a fé a um negro que foi
trazido da África. Nós sabemos que, na nossa história, sabemos disso. Nem tudo são flores, né? Nós corremos um risco quando olhamos para a história, que é o primeiro risco do anacronismo: julgar o passado com a cabeça do presente. Esse é um primeiro risco, mas nós podemos correr um risco que é o extremo oposto disso, que é uma apologia burra também, né? E o que seria uma apologia burra? É você elogiar, exaltar, elevar tudo da história como se tudo fosse lindo, elevado. São pessoas virtuosas, boas, e não houve defeito algum no processo de colonização. Aí você
romantiza, chega ao ponto de quase criar uma fantasia, né, de algo que não foi bem assim. E no meio do caminho, você tem o fato histórico objetivo, né? Então, por isso que eu digo que é sempre bom que a gente se atenha ao fato histórico e ao contexto da época. Então, nós vemos, nestes navegadores, pessoas que tinham suas contradições, seus defeitos, seus erros, mas eram pessoas movidas por uma fé muito grande. E, quando eu digo uma fé, é uma fé grande, forte, operante, atuante na vida dessas pessoas. Não é uma fé assim: "Ah, eu acredito",
né? Mas é uma coisa muito de foro íntimo. Tal não, esses homens tinham um ímpeto missionário, mesmo, de fazer aquilo que Cristo falou no evangelho: "Ide por todo o universo e anunciai o evangelho a toda a criatura, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo." Então, era esse espírito que animava esses homens. Não se trata só de ganhar dinheiro, né? Não se trata só disso. Não que eles não quisessem isso, né? Negar que Portugal e Espanha, né, as coroas europeias, queriam ganhar dinheiro, queriam lucrar, negar isso é inocência demais. Eles queriam isso;
não só queriam, como conseguiram, obtiveram o que queriam. Mas o objetivo principal não era esse. O objetivo principal, principalmente de Portugal, sobretudo, porque a colonização portuguesa é diferente da colonização espanhola, embora a cultura seja muito próxima. O objetivo era outro. O que o português queria? O português queria construir a sua vida nos territórios onde eles chegassem. Essa era a ideia. Era uma ideia de colonizar, mas não no sentido pejorativo, negativo, né, que a gente tem hoje na cabeça de colonização como exploração, como tirar tudo. Não, eles pensavam em colonizar, em chegar ali, estabelecer morada, levar
a sua cultura, levar a sua religião, viver ali, produzir ali, extrair as coisas dali, fazer riqueza ali, né? É isso que eles pensavam. A gente vê isso muito claramente aqui nas cidades históricas do Brasil. Quando a gente olha, por exemplo, o Rio de Janeiro, a gente olha para São Paulo, para Recife, para Olinda, né, a cidade de Salvador, que foi a nossa primeira capital. O que a gente vê nessas cidades? casarões, igrejas, prédios públicos que eram construídos de modo idêntico ao modo de construção lá de Portugal. Nós vamos encontrar igrejas aqui no Brasil que são
a cópia fidedigna de outras igrejas que existiam em Portugal. Por que esses portugueses fariam isso aqui se quisessem vir e só tirar, tirar, tirar, tirar? Não tivesse objetivo nenhum a não ser uma exploração desmedida? Por que eles construiriam cidades, igrejas, casas iguais às que tinham lá em Portugal? Não faz sentido, a não ser que você entenda que eles queriam construir aqui uma sociedade igual à que existia lá, ou seja, aqui seria uma extensão de lá. E é de fato que Portugal queria. Agora, os espanhóis já não tinham exatamente essa mesma visão, né? Depois a gente
vai comentar isso. Mas acontece que Colombo vai, então, à Nossa Senhora, e ele pede, né, essa graça de conseguir um patrocínio, e ele promete: "Nós vamos levar a nossa fé." Isso era importante. O diário de Cristóvão Colombo, né, o diário de viagem, vocês encontram ele, hoje em dia, publicado em várias edições que são boas. O diário do Colombo fala várias vezes a palavra "cruz", "Cristo", "salvação", "batismo". Ele insiste nessas palavras dezenas de vezes, dezenas de vezes. Então, quer dizer, isso aí para ele realmente era importante. Não é da boca para fora. E ele pede à
Nossa Senhora, ele fala: "Bom, eu cansei de pedir aos reis da terra, vim pedir à senhora, que é a rainha do céu." Ele ainda faz uma promessa que, além de levar a fé católica, ele diz: "Se eu achar ouro onde eu for..." Ele viu que a imagem de Nossa Senhora não tinha coroa na cabeça. Ele fez um voto: "Eu prometo que o primeiro quinhão de ouro eu vou separar para mandar fazer uma coroa para essa sua imagem e vou colocar, né, faço questão, né, de colocar este ouro à sua disposição, para sua homenagem, para a
glória de Deus." E, de fato, depois, quando a América é descoberta, ele separa mesmo. Esse quinhão de ouro, e manda fazer uma coroa, e coloca essa coroa na cabeça desta imagem de Nossa Senhora. Essa coroa desaparece durante a Guerra Civil Espanhola. Em 1936, existiu uma coroa que desconfiava-se ser a doada por Colombo. Essa coroa, muito provavelmente, foi roubada, tomada pelos revolucionários, que devem tê-la derretido e vendido. Não se tem notícia do paradeiro dela; não deve existir mais. Muito provavelmente, Colombo passa um tempinho e consegue contato com um banqueiro, um banqueiro espanhol. Esse banqueiro era um
cristão novo; ele era judeu, se converteu ao catolicismo e era banqueiro, inclusive emprestava para a coroa espanhola. Esse banqueiro vai fazer uma ponte, apresenta Colombo para algumas pessoas influentes e consegue uma audiência com a rainha. No dia 2 de janeiro de 1492, Colombo vai até a cidade de Granada, na Espanha, para falar com a rainha Isabel. A rainha Isabel iria recebê-lo; nessa altura, já era casada com o rei Fernando. Isabel de Castela e Fernando de Aragão. Quando os dois se casam, unificam dois reinos distintos que existiam na Espanha. O território espanhol, como conhecemos hoje, se
funda em uma unidade territorial a partir do casamento da rainha Isabel e do rei Fernando. Se olharmos para a Idade Média, no começo dela, vamos ver que a Espanha tinha pelo menos quatro reinos: Castela, Leão, Navarra e Aragão. Depois, esses reinos vão se fundindo. Com o casamento de Fernando e Isabel, esses reinos são fundidos de vez. O casamento da rainha Isabel e do rei Fernando foi tão importante que o símbolo desse matrimônio entra na bandeira da Espanha. Na bandeira da Espanha, temos o brasão, a coroa real espanhola, e vemos duas colunas que representam o reino
de Castela e o reino de Aragão, e uma faixa que serpenteia entre essas duas colunas, simbolizando o laço matrimonial que uniu Fernando e Isabel, uniu as duas coroas do território espanhol, criando uma única nação forte. A partir desse matrimônio, a rainha Isabel era uma mulher católica; estudou um bom tempo da sua vida em Ávila, no colégio das Agostinianas, o mesmo colégio onde mais tarde Santa Teresa de Jesus vai estudar. A rainha Isabel tinha um carinho especial por Ávila, e ela se casou com o rei Fernando. A rainha Isabel foi educada por nada mais, nada menos,
que Santa Beatriz da Silva, uma santa portuguesa, nobre parente dos reis de Portugal e dos reis da Espanha, que foi trazida para a corte espanhola como dama de companhia da rainha. Foi ela quem cuidou da princesinha Isabel de Castela. Foi ela quem praticamente foi a mãe da rainha Isabel de Castela; foi quem a educou, quem a formou. Enfim, a rainha Isabel, que está em processo de beatificação hoje em dia, teve como sua aia, sua babá, uma santa que é Santa Beatriz, fundadora da primeira congregação religiosa da Igreja Católica a homenagear a Imaculada Conceição, antes mesmo
da proclamação do dogma da Imaculada Conceição. Isso também tem tudo a ver com a história de Portugal e a história do Brasil, porque Portugal foi uma das primeiras nações do mundo a honrar o privilégio da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, desde sua fundação, desde Dom Afonso Henriques, que é o rei fundador de Portugal, até o povo português atual. Nós vemos uma devoção constante à Imaculada Conceição de Nossa Senhora; essa é uma marca típica do povo português. Os espanhóis também tinham uma devoção muito grande a Nossa Senhora, mas, sobretudo em Portugal, Nossa Senhora da Conceição será
inclusive proclamada como padroeira de Portugal e de todos os seus domínios. Então, temos aí Fernando e Isabel. Inclusive, uma curiosidade interessante: nos documentos das colônias espanholas, eles tinham o costume de colocar o carimbo do rei, a marca, o brasão do rei e da rainha em todos os documentos oficiais, principalmente em documentos que tratavam de finanças, matérias-primas, de coisas que poderiam ser vendidas, e tudo mais. Às vezes, para abreviar, para simplificar esses documentos, começaram a estilizar o símbolo da Espanha. Ao invés de colocarem lá o desenho do brasão do rei, colocavam duas traves, dois risquinhos e
uma serpente unindo esses dois risquinhos por um "S". Então, essa é a origem provável do cifrão que usamos hoje em dia. O cifrão, que é símbolo de dinheiro, era utilizado como uma referência de matérias-primas, produtos e cargas que estavam sendo destinadas à coroa espanhola. Então, provavelmente, é daí que nasceu o cifrão. Existem outras versões para a história do cifrão, mas essa é uma delas. Não se sabe ao certo onde surgiu o cifrão, mas é provável que tenha nascido daí. Então, o rei Fernando e a rainha Isabel tiveram uma importância imensa. No dia 2 de janeiro
de 1492, a rainha Isabel estava concluindo a reconquista da Espanha; ela estava retomando a última cidade que estava nas mãos dos muçulmanos, os mouros, como eram chamados na Espanha. O que a rainha Isabel fez com os muçulmanos dentro do território espanhol? Ela tentou retomar os territórios para que não houvesse califatos, para que não houvesse territórios governados por outros povos, outra cultura, outra religião. Mas isso não significa que ela perseguisse, matasse, expulsasse todo mundo; também não é assim. O pessoal exagera, quando fala da reconquista, como se a rainha Isabel... tivesse perseguido e matado ali todos os
judeus e muçulmanos dentro do território, a coisa não foi bem assim. Ela estabeleceu uma regra: então, ela dava a opção de que esses muçulmanos retornassem para os seus países de origem. Acontece que muitos já tinham nascido ali, a família às vezes já estava ali há várias gerações. Mas eles tinham essa opção de voltar para um território totalmente muçulmano, ou eles poderiam pagar um imposto e se submeter às leis espanholas. E aí, tudo bem, eles poderiam permanecer no território. Ou eles poderiam resistir. E aí a rainha ofereceria combate a eles, como de fato é o que
ocorreu. Mas muitos judeus e muçulmanos pagavam esse imposto e viviam ali, dentro da sociedade espanhola. Um caso para citar aqui, só um caso que é mencionado pelo historiador português Francisco Betancur, no seu livro "História das Inquisições na Península Ibérica". Ele conta, por exemplo, que em Sevilha — acabamos de falar da cidade de Sevilha — na procissão de Corpos Cristãos, como o país, a nação era católica na época do Rei Fernando e da Rainha Isabel, o que acontece? Saía a procissão com o Santíssimo, e atrás dos católicos vinham os judeus e os muçulmanos. Quando o Santíssimo
Sacramento chegava no seu destino final, na catedral, e era dada a bênção do Santíssimo, ele era recolhido. Então, a partir desse momento, os judeus podiam se retirar para um espaço deles para fazer as suas orações publicamente, inclusive, se quisessem, e os muçulmanos idem. Esse é um exemplo da tolerância que existia, entendeu? Mas é claro que esses judeus e esses muçulmanos deveriam admitir o pagamento de uma taxa e deveriam dar o seu consentimento às leis espanholas, dizendo: "não, aqui dentro essas leis são as que valem; a gente consente, a gente concorda e vamos colaborar". Então era
assim que a coisa funcionava. A rainha Isabela retomou a cidade de Granada, que foi a última cidade a ser retomada. Todo mundo dizia que Granada era uma fortaleza inexpugnável. A rainha Isabel, uma mulher, conseguiu retomar essa cidade. Quando Colombo chega para falar com ela, ela não se animou muito com a proposta, mas depois ela reconsiderou e resolveu oferecer a Colombo as suas joias. Deu a Colombo a sua caixinha de joias ali para patrocinar a expedição de Colombo, a vinda de Colombo para o Oeste, onde eles presumiam que chegariam às Índias. No meio do caminho, eles
chegam no Novo Mundo, Novo Continente até então desconhecido que é a América, chegando no dia 12 de outubro de 1492, o dia de Nossa Senhora do Pilar, que é a Padroeira da Espanha. Nossa Senhora do Pilar de Saragoça é a Padroeira da Espanha. Então, bem no dia da padroeira da Espanha, uma expedição patrocinada pelos Reis Católicos da Espanha encontra território. Colombo vai chegar primeiro ali na América Central, Santo Domingo, depois ele navega ali em volta e já vai reconhecendo outros territórios: o Haiti, Cuba. Inclusive, tem um autor português que estou lendo agora que ele defende
a tese de que Colombo era português. Perto de onde Colombo teria nascido em Portugal, existe um vilarejo chamado Cuba. Esse autor português faz até essa relação; ele fala de onde Colombo tirou o nome para batizar a ilha que encontrou, o nome de Cuba, sendo que lá em Portugal existe um vilarejo chamado Cuba. Então, é uma tese, uma teoria que esse historiador português utiliza. Colombo descobre várias ilhas etc., na América Central, se estabelece por lá e depois volta à Espanha para comunicar o achado dele. Ele recebe o governo desses territórios da coroa espanhola, mas depois, por
inveja, ele é traído, acaba preso e tirado da vida pública. Teve um percurso de vida muito triste. Quando ele chega aqui, no ano de 1492, no ano de 1493 já existe um mapa desenhado da América que, incrivelmente, é um mapa que mostra a topografia da América mais ou menos do jeito que é, sem tecnologia, sem satélite, sem nada. Vicente Pinson faz um mapa muito bem feito e, nesse mapa, já está lá o Brasil. Em 1494, é assinado o Tratado de Tordesilhas, que dividiu as terras descobertas na América entre o Brasil e Portugal. Então, quando falamos
do descobrimento do Brasil em 1500, na verdade, estamos falando de uma ocupação; já se sabia da existência do território. Quando Cabral chega, ele não estava calculando chegar aqui; a ideia era chegar na Índia mesmo. Eles tiveram uma tempestade, se perderam um pouco e chegaram aqui, depois se localizaram e se deram conta de que era o território que o Tratado de Tordesilhas destinava mesmo a Portugal. Por isso, não é inexato dizer que foi um descobrimento; realmente foi, né? Porque, embora soubessem da existência do território e houvesse a intenção de Portugal de ocupar e colonizar, não estava
planejado para aquele momento em 1500. Mas acabou acontecendo. A colonização começa ali de uma maneira muito tímida porque o comércio que Portugal fazia com produtos do Oriente, revendidos na Europa, esse comércio era muito lucrativo. Somente quando esse comércio começou a entrar em declínio é que Portugal vai de fato empenhar todos os seus esforços em colonizar o Brasil. De fato, isso vai começar em 1530. Então, demorou 30 anos para ter uma colonização mais robusta. Nos primeiros 30 anos, foi uma ocupação de pontos estratégicos para... Garantir a posse da terra e impedir que piratas viessem e tomassem
o território, sobretudo franceses e holandeses que tinham interesse em ter territórios aqui na América do Sul. Então, organizando aqui as informações: em 1493 já aparece um mapa em que o território do Brasil está lá; em 1494 é assinado o Tratado Tordesilhas. Por que o território foi dividido entre Portugal e Espanha? Portugal foi quem forneceu toda a tecnologia para poder fazer funcionar, digamos assim, essa grande engrenagem das grandes navegações. Então, Portugal tinha a Escola de Sagres. Portugal saiu muito na frente dos outros países em termos de tecnologia, de cálculo, de desenhos de mapas. Então, Portugal tinha
sim um mérito de ter desenvolvido muita coisa e ter possibilitado essa descoberta, mas quem patrocinou essa viagem e quem descobriu, naturalmente, foi a Espanha. Então, para a Espanha ficaria a maior parte do território, e para Portugal, uma pequena parte, como reconhecimento por todo o desenvolvimento tecnológico que Portugal proporcionou. E aí, outros países queriam entrar nesse jogo; a França é um exemplo, mas, quando foi feita a decisão dessa divisão, quem ajudou a arbitrar nessa divisão foi o Papa, o Papa Alexandre VI, que disse que as terras deveriam ser divididas exatamente assim: a maior parte para a
Espanha e uma parcela do território descoberto para Portugal. O Rei da França, na época, o Rei Francisco I, ficou furioso e inclusive vociferou contra o Papa, dizendo onde estava o testamento de Adão que dividiu o mundo entre Portugal e Espanha. Então, Francisco I, esposo da Catarina de Médici, ficou muito revoltado com essa divisão; ele esperava que o Papa propusesse uma divisão entre as grandes nações católicas europeias. Mas isso não aconteceu, e o território caberia a Portugal e a Espanha. Só que Portugal, com um território pequeno, tinha pouco pessoal para colocar nessa engrenagem das grandes navegações
e um comércio muito intenso com o Oriente. Então, Portugal vai se dedicar a esse comércio, que foi lucrativo durante muito tempo. Quando esse comércio entra em um certo declínio, aí começa a colonização de fato do território brasileiro. Certo? E aí, isso que tinha começado lá em 1500, no dia 22 de abril de 1500, vai tomar corpo mesmo a partir de 1532, quando é fundada a primeira vila do Brasil e quando ocorre a primeira eleição para a câmara municipal do Brasil, que foi a eleição da Câmara Municipal de São Vicente, no litoral de São Paulo. Então,
isso aqui que nós conversamos hoje é uma grande introdução para essas nossas próximas conversas que faremos aqui no nosso canal. Eu deixei para vocês, fixado nos comentários, o link da livraria Rafael Ton. Se você ainda não entrou lá na minha livraria, entre lá e veja os livros que eu selecionei para vocês. Se você pensa em aprofundar seus conhecimentos em História, religião, Cultura em geral, filosofia, esses assuntos todos, você encontra por lá na livraria Rafael Ton. Ela foi inaugurada agora no mês de março, tá novinha em folha. Nós temos lá vários livros que estão em promoção,
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Pix. A chave Pix é um e-mail: l.r.tonom@yahoo.com.br. Você pode fazer a sua doação e, assim, você está contribuindo aqui com a continuidade desse trabalho. Na semana que vem, nós teremos a continuação dessa conversa; hoje foi só uma introdução. Eu falei aqui dos aspectos gerais e do início dessa colonização, da mentalidade desses colonizadores. Na semana que vem, a gente entra mais especificamente na história de Portugal e como a história de Portugal trouxe os portugueses até aqui. Vocês vão ver que tem tudo a ver nessa história. Deus abençoe cada um de vocês. Abração e até semana que
vem; eu espero por vocês!