[vinheta ♫♫♫] Olá! Meu nome é Aldo Lucion e hoje eu gostaria de analisar com vocês a enxaqueca. Essa é uma das aulas especiais em que eu analiso aspectos desta disfunção do nosso sistema nervoso central, que afeta tantas pessoas.
Especificamente hoje, eu gostaria de analisar essa alteração que se chama depressão cortical alastrante, que é o que eu vou conversar um pouco nos próximos minutos. Para um melhor aproveitamento do que nós vamos conversar aqui, alguns conhecimentos prévios são muito importantes. Os mecanismos neurais, a transdução do sinal sensorial da enxaqueca, noções de eletrofisiologia são conhecimentos importantes, visto que eu aqui vou focalizar apenas um aspecto específico dessa questão da enxaqueca.
E não todas as. . .
os seus componentes. Depressão cortical alastrante. Vou fazer uma brevíssima introdução do que seja a depressão cortical alastrante.
Ela é uma alteração eletrofisiológica caracterizada por uma onda lenta alto-propagada. Uma alteração eletrofisiológica especialmente de neurônios do nosso córtex cerebral. Pode ser também subcortical, mas mais predominantemente corticais.
Ela. . .
e isso é muito importante para o que nós vamos analisar hoje, aqui. Essa depressão cortical alastrante se caracteriza pelo colapso da homeostase iônica do conteúdo, e também da composição do líquido extra-celular que banha os neurônios. Isso particularmente é importante para o que nós vamos analisar aqui.
Ela. . .
essa depressão cortical alastrante, caracteriza-se por uma fase inicial de despolarização. Ela se chama depressão cortical alastrante, mas ela começa com uma despolarização intensa e que dura aproximadamente 1 minuto. Essa despolarização.
. . e isso é importante para o que nós vamos ver mais adiante, há uma vasta quantidade de trabalhos mostrando que essa despolarização inicial se deve a um aumento de íons potássio, acima de um certo limiar, acima de uma certa quantidade no líquido extra-celular .
Quando o potássio. . .
a concentração de potássio aumenta no líquido extra-celular, nós podemos ter uma despolarização, uma excitação dos neurônios, e é esse o passo inicial da depressão cortical alastrante. Ela se chama de depressão, embora inicie por uma despolarização, porque ela. .
. a segunda fase dessa depressão cortical alastrante é um silenciamento dos neurônios corticais por vários minutos. Os neurônios corticais silenciam e isso é absolutamente anormal.
Nosso córtex cerebral mantém aquelas ondas de despolarização espontâneas, constantes que a gente mede lá, por exemplo, no eletroencefalograma. No caso da depressão cortical alastrante, há um período grande em que o nosso córtex fica mudo, ele silencia. Ele não se despolariza.
A liberação de neurotransmissores e outras moléculas também ocorrem nesse período, e isso eu vou analisar um pouco mais adiante que é importante para explicar a depressão cortical alastrante. A recuperação do tecido depende do restabelecimento dessa enzima, dessa bomba de sódio potássio, a ATPase que é uma enzima lá da membrana das células e também do metabolismo celular lá dos nossos neurônios do córtex cerebral. Na depressão cortical alastrante, normalmente, não há morte de neurônios, mas sem dúvida há uma sobrecarga metabólica muito grande para esses neurônios.
É um sofrimento neuronal, há um sofrimento do nosso sistema nervoso importante durante a depressão cortical alastrante. . .
fazendo um breve parêntese histórico, esse fenômeno eletrofisiológico, a depressão cortical alastrante foi descoberto por um pesquisador brasileiro, Aristides Leão, na década de 40. E ela sempre foi considerada um fenômeno mais experimental do que realmente acontecesse. Na verdade, muitos pesquisadores não acreditavam que ocorresse depressão cortical alastrante na espécie humana.
Era um procedimento experimental. Há poucos anos é que ela vem sendo considerada como causa de vários fenômenos de alteração e alterações. Entre elas, a enxaqueca.
Por que eu enfatizo aqui a depressão cortical alastrante? Não se conhece a causa da enxaqueca, e é fundamental a gente analisar mecanismos que possivelmente desencadeie a enxaqueca, porque só conhecendo a causa, o mecanismo causal é que nós, no futuro, poderemos tratar mais adequadamente a enxaqueca do que atualmente. Bom, olhando assim um registro eletrofisiológico da atividade cortical.
A depressão cortical alastrante se caracteriza por essa onda de despolarização inicial, intensa, completa, o que também é anormal e por esses posteriores que. . .
silenciamento assim de longo prazo. As células do nosso córtex cerebral silenciam, elas não disparam novos potenciais de ação. E ela se chama de alastrante por que ela progride ao longo do córtex cerebral, inclusive por cima daqueles sulcos lá, aquelas reentrâncias que há no córtex cerebral se propagam ao longo de todo o córtex.
Aqui embaixo, esse gráfico mostra isso, ou seja, nesse ponto inicial aqui, nós temos essa despolarização seguida da depressão. Num ponto aqui do córtex, um pouco mais adiante, nós teremos logo a seguir a despolarização e o silenciamento nesse terceiro ponto aqui, um pouco mais adiante, nós temos também essa despolarização e depois o silenciamento. Ou seja, é uma onda que progride, ela navega assim por todo o córtex cerebral por bastante tempo Qual é a importância, qual é a relação da depressão cortical alastrante e a enxaqueca?
Isso aqui é uma representação, a sistemática do córtex cerebral. Aqui está o córtex cerebral e aqui. .
. é a abreviação de depressão cortical alastrante, é uma onda que se propaga aqui pelo córtex. E ela altera o conteúdo extra-celular, liberando, por exemplo: potássio, aminoácidos excitatórios, óxido nítrico.
Altera o pH deste meio extra-celular e todos esses elementos são capaz de excitar essa fibra nervosa sensorial que é a fibra nervosa sensorial da dor Recapitulando: nós não temos receptores de dor aqui no tecido nervoso, esse nosso tecido nervoso é insensível à dor, mas nos vasos sanguíneos que irrigam, obviamente o nosso cérebro, eles são ricamente inervados por terminações nervosas ditas livres ou nuas, dada a sensação de dor. Até não muito tempo atrás, acreditava-se e talvez você já tenha ouvido falar disso, que a causa da enxaqueca seria um problema vascular. Uma dilatação dos vasos sanguíneos aqui que irrigam o cérebro.
Então essa pulsação vascular seria a causa da enxaqueca. Hoje não se acredita nisso. Em muitos casos de enxaqueca, há alteração vascular, há vasodilatação, mas essa vasodilatação já é consequência e não causa.
Ela é consequência de um fenômeno anterior, e um desses fenômenos anteriores é a depressão cortical alastrante. Ou seja, todos esses elementos aqui liberados também promovem, além de exercitar essa terminação da dor aqui, também promovem alterações vasculares, vasodilatação, por exemplo: óxido nítrico, que está aqui. Esta figura aqui, um pouco mais ampla assim, mais uma visão um pouco mais real.
Aqui nós temos o nosso encéfalo, aqui ele extrai assim uma parte do córtex cerebral. Aqui a depressão cortical alastrante com a liberação de potássio, alterações de pH, óxido nítrico, aminoácidos excitatórios são liberados. .
. para o espaço extra-celular e atuam sobre as terminações nervosas sensoriais que estão aqui nas meninges, nos vasos sanguíneos que irrigam as meninges e essa informação vai, passa aqui pelo glânglio do trigêmeo. Isso aqui são ramos do trigêmeo, a via sensorial primária de enxaqueca.
. . é o nervo trigêmeo até o núcleo do trigêmeo, que é essa estrutura que fica lá no tronco encefálico.
Eu enfatizo essa figura mais real pelo seguinte: por que essa depressão cortical alastrante, como o nome diz, ela se propaga por todo o córtex cerebral. Portanto, aquelas alucinações visuais que são relativas. .
. são comuns, na verdade, em pessoas com enxaqueca. Ou seja, aqueles clarões, aquelas visões assim.
. . de flashes de luz, ela se devem, na verdade, essa aura que se diz, ela se deve à estimulação do córtex cerebral por essa onda da depressão cortical alastrante.
Ou seja, aquela despolarização inicial excita áreas corticais envolvidas com a visão, por exemplo, aqui no córtex occipital. Portanto, a pessoa enxerga a luz por uma estimulação central, por uma estimulação direta do córtex cerebral, não existe luz no ambiente. Tanto é que as pessoas que têm enxaqueca, todo mundo que tem vai para um quarto escuro, entende?
A luz faz. . .
é muito aversiva. Além da depressão cortical alastrante liberar potássio, alterar o pH, todos esses elementos que excitam, estimulam diretamente a via sensorial da dor, aqui esse ramo do trigêmeo. O que a depressão cortical alastrante faz, que ele mostra aqui nessa figurinha, o que a depressão cortical alastrante faz é uma inflamação neurogênica asséptica.
Uma inflamação no sistema nervoso sem a presença de microorganismos, por isso diz asséptica. Não há vírus, não há bactérias, mas há uma inflamação e essa inflamação é desencadeada. .
. por essa onda da depressão cortical alastrante, que atua sobre os neurônios. Altera esses neurônios de tal forma que ele libera citocinas inflamatórias, por exemplo.
Essa interleucina aqui, que é uma citocina inflamatória que atua sobre os astrócitos. Os astrócitos são as células da glia, lá no nosso sistema nervoso central, eles participam da reação inflamatória no nosso sistema nervoso central. E eles são agregados assim por essas interleucinas.
Ou seja, eles migram para esta região por essa. . .
atuação dessas interleucinas, e esses astrócitos, por sua vez, também produzem enzimas que, por sua vez, produzem mais citocinas inflamatórias, produzem prostaglandina e todas essas substâncias tendem a excitar a terminação nervosa da dor, aqui esse ramo do nervo trigêmeo. Então, além da depressão cortical alastrante por si só alterar o meio iônico extra-celular, ela estimula uma neuroinflamação e a inflamação aumenta ainda mais a sensibilidade desses receptores para dor. Isso aqui todos vocês.
. . provavelmente sabem, o processo inflamatório, seja em outras partes do corpo, por exemplo na pele.
Se a gente tem uma queimadura, o processo inflamatório decorrente dessa injúria é um mecanismo que aumenta, amplifica a sensação de dor. Então, nós temos essa aqui no sistema nervoso central, essa inflamação neurogênica. Como resumo.
. . dessa aula, gostaria de destacar que a depressão cortical alastrante parece ser um mecanismo primário.
Não é o único, mas parece ser o mecanismo primário que desencadeia dor de cabeça, a dor de cabeça da enxaqueca. Devo dizer que, de fato, não se sabe por que existe a depressão cortical alastrante. Qual é o mecanismo inicial, mas que ela existe, existe.
Há uma alteração do ion-potássio acima de um certo nível. Sabe-se que existem gens relacionados à depressão cortical alastrante. Portanto assim, algumas pessoas mais suscetíveis, outras menos, mas ela é, a depressão cortical alastrante, pode ser o mecanismo básico de geração da enxaqueca.
A depressão cortical alastrante, ela explica. . .
ela especialmente, ela é importante para explicar aquelas auras, aqueles flashes luminosos que pessoas que têm enxaqueca apresentam. Ela ativa diretamente ali o córtex cerebral. Era isso que eu gostaria de.
. . conversar hoje com vocês, e ressaltando a importância de se conhecer o mecanismo.
. . ou os mecanismos envolvidos na geração da enxaqueca.
Muito obrigado pela atenção de vocês.