Nós sempre falamos aqui no canal sobre as características do autismo, das pessoas autistas: sinais clássicos, traços mais sutis, falando sobre a camuflagem que tende a encobrir as atipicidades. Mas nós sabemos que a camuflagem nunca é totalmente eficiente, por isso os sinais aparecem de alguma forma. Então, nós falamos sobre essas possibilidades de apresentação.
A apresentação feminina do autismo tem um vídeo aqui no canal falando justamente sobre as Pink flags ou bandeiras cor-de-rosa, né? Essa cor não tem a ver com o universo feminino exatamente. Na verdade, em inglês, eles usam o termo Red Flag ou bandeiras vermelhas para indicar sinais de alerta muito óbvios.
Então, cor-de-rosa, como é mais claro, foi usado pela D. Suzana Suzane Duval para indicar esses traços mais sutis, uma apresentação lançada do autismo. Mas hoje aqui nós vamos falar sobre características que talvez indiquem que uma pessoa não é autista, que vão fazer os profissionais pensarem em outros diagnósticos.
E então vamos começar. Pois bem, hoje nós vamos falar aqui sobre nove desses aspectos, competências ou habilidades que geralmente vão nos fazer descartar a hipótese de autismo, né, de transtorno do espectro autista. O primeiro deles é a reciprocidade socioemocional.
Se a criança tem espontaneidade nas suas interações, se ela compartilha com facilidade os interesses, as emoções, o afeto, se é carinhosa, se brinca com naturalidade com as outras crianças, não tem um desgaste físico e emocional por isso e fica tranquila, tem facilidade também para iniciar as suas interações, responder ao contato social das outras pessoas. Então, quer dizer que ela é recíproca: ela tem uma facilidade, por exemplo, na interação de falar sobre si, escutar o outro, enriquecer a conversa. Tem isso que em português nós chamamos de bate-bola, né?
Que é um diálogo mais fluido. Então é recíproca, tem carinho pelo outro, sabe receber o carinho também. Então, a gente geralmente não vai pensar nisso, até porque esse é um aspecto fundamental para se fazer o diagnóstico de autismo: a reciprocidade socioemocional.
O segundo aspecto é o comportamento não verbal. Se o comportamento não verbal — que são os gestos, o contato visual, a expressão facial, o sorriso social, que a gente chama, né? — Essa naturalidade de sorrir para o outro quando vê uma pessoa nova, cumprimentar.
. . se isso é fluido.
O jeito de falar também tem entonação, prosódia, e a pessoa demonstra suas emoções, o seu jeito de ser, de se movimentar. Então, a gente imagina também que não tem autismo, porque esse é outro dos aspectos fundamentais que estão no critério A. O terceiro aspecto ou competência habilidade é a compreensão dos relacionamentos.
Então, a pessoa tem uma boa cognição social, ela interpreta bem as pistas do ambiente. Sabe, às vezes, quando a pessoa é irônica, ela entende uma piada, consegue compreender a construção dos laços afetivos. Se ela consegue compreender muito bem, flui, navega bem pelas situações sociais e não é tão ingênua, compreende os riscos, compreende também o afeto da outra pessoa, como responder adequadamente.
Então, a gente imagina que seja neurotípica ou então que, se ela tem um sofrimento e nos busca, né, para fazer uma avaliação, talvez a questão dela, do problema, seja outra. O quarto aspecto é o início e o desenvolvimento de interações sociais. Então, às vezes a pessoa compreende, mas será que ela consegue entrar numa roda de conversa com naturalidade?
Será que ela consegue desenvolver as suas interações? Por exemplo, se entra no elevador, que é o clássico, né? Que os autistas têm pânico porque fica aquele silêncio.
A pessoa às vezes até consegue perguntar alguma coisa, fazer um elogio, dar um bom dia, falar do tempo, mas a partir dali a conversa morre. Ou então, se alguém faz uma pergunta, a pessoa responde de forma muito direta, a pessoa autista. E aí também fica aquele silêncio mortal, constrangedor, que a pessoa às vezes se frustra e sente que é atípica, e o outro também talvez perceba.
O quinto aspecto é saber cultivar os seus laços afetivos, fazer vínculos afetivos fortes. Então, essa pessoa tem muita facilidade para isso: para conversar com os outros, ligar no aniversário, generalizar os seus aprendizados sociais, adequar seu comportamento a cada contexto e gostar de estar próxima das outras pessoas. E ela teve facilidade tanto na infância para, né, se conectar aos coleguinhas, mudar de classe, participar de brincadeiras imaginativas.
Se isso é muito fluido, muito espontâneo. . .
se está bem no seu ambiente de trabalho, por exemplo, não fica muito cansada por isso ou não se esquiva de relacionamentos mais íntimos, então a gente imagina que não haja nenhum problema aí. E até aqui nós falamos apenas do critério A. O critério A tem os três aspectos que são: a dificuldade na reciprocidade socioemocional, os comportamentos não verbais que às vezes são pouco fluidos ou a interação entre o comportamento verbal e o não verbal que podem ser meio dissonantes, robóticos, ter a fala monótona.
. . Enfim, pode ter atipicidades.
E o terceiro aspecto fala justamente sobre o início, a compreensão e a manutenção dos relacionamentos. Então, esses cinco aspectos aqui estão só no critério A. Nós precisamos de todos esses aspectos para que se configure um diagnóstico de autismo.
Então, se você não tem nenhum desses aspectos, não tem nenhuma dificuldade em nenhuma dessas áreas, nós não vamos imaginar que seja autismo. Talvez seja outra questão, talvez seja ansiedade. E aí nós precisamos ver caso a caso.
E aqui, o nosso sexto aspecto diz respeito à precocidade. Se não houver precocidade, se os sinais não estiverem presentes desde a infância, nós imaginamos também que não seja autismo. É claro que nós precisamos fazer uma avaliação muito bem feita, conversar com os pais, às vezes com os irmãos, com pessoas que estiveram presentes durante as fases.
De desenvolvimento da dessa pessoa que pode fazer a hipótese de transtorno do espectro autista, por que às vezes os sinais não são óbvios. Então, às vezes a gente precisa observar com cuidado, porque talvez sim essas dificuldades estivessem presentes desde os primeiros anos: a dificuldade na socialização, na interação, no compartilhamento de interesses, na brincadeira com as outras crianças, esse jogo imaginativo. Talvez a criança fosse muito literal.
Então, a gente vai investigando para saber se teve algum atraso, se teve alguma dificuldade, se tinha prejuízos, mas como talvez o ambiente fosse muito confortável, isso não aparecesse nos primeiros anos quando a criança estava em casa. Mas, a partir do momento em que ela foi para a escola, que as demandas sociais aumentaram, e isso o próprio DSM-5 já nos avisa, né? Tem esse alerta para esse cuidado.
Então, quando a escolarização ou quando a mudança de escola, talvez esses sinais sejam mais perceptíveis. Nosso sétimo sinal fala sobre a ausência de prejuízos. Se a pessoa está confortável com o seu jeito de ser, se ela é mais introspectiva, prefere realmente não cultivar muitos laços, mas se ela precisa ir à faculdade, se ela precisa estar em algum evento, ela faz isso de forma confortável.
Mas, no seu trabalho, ou às vezes mesmo no que está relacionado, ela prefere ter atividades mais intimistas, mais intelectuais. Prefere mais leitura, passeios solitários ou mesmo o trabalho, né, em casa. E não percebe que isso causa prejuízos, nem pessoais, nem profissionais ou acadêmicos.
Então, talvez a gente também não vai falar, não vai pensar em autismo, porque esse é um critério fundamental para qualquer transtorno. O próprio nome já é um transtorno. Então, se não houver prejuízos, nós não vamos pensar em um transtorno mental.
O nosso oitavo ponto, ou a nossa oitava pergunta, vai ser: será que esses sinais que estão presentes às vezes são precoces? Realmente tem a dificuldade nas interações sociais? Realmente tem uma dificuldade de compreensão do ambiente, do entorno, de cultivar os seus relacionamentos?
E tem prejuízo? Mas será que esses sinais são justificados realmente pelo transtorno do espectro autista? Será que não é TDAH?
Será que não tem uma dificuldade intelectual mesmo? Será que não é algum aspecto da linguagem, uma timidez, transtorno de ansiedade, por exemplo, transtorno de ansiedade de separação ou outra questão? Pois é, se o profissional observou, fez uma entrevista, se fez uma avaliação bem rica, eficiente, percebeu que existem outras questões, talvez até um estresse muito forte no ambiente que justifique esses atrasos ou essas dificuldades.
Então, mais uma vez, o transtorno do espectro autista vai ser descartado. E para fechar aqui, nós vamos observar se a pessoa apresenta pelo menos dois dos quatro aspectos descritos pelo critério B no DSM-5 TR. O critério B fala sobre os padrões repetitivos e restritivos, tanto de interesse como de comportamentos e atividades.
E os quatro aspectos são: as ecolalias, estereotipias vocais ou estereotipias motoras, movimentos muito repetitivos, às vezes falas fora de contexto e muito repetitivas também. O segundo aspecto é a insistência na mesmice, a aderência muito forte a rotinas. Às vezes a criança é muito insistente em manter um caminho; ela tem que manter um comportamento, a comida tem que ser sempre servida da mesma forma.
A gente percebe aí que pode ter a seletividade alimentar. Vocês sempre falam aqui sobre o rigor com as regras e com as normas. As meninas às vezes dizem que são as Justiceiras, né, que são muito focadas, muito perfeccionistas ou muito focadas no que é justo, muito empáticas.
Então, a adesão à mesmice, a insistência na mesmice, pode ser revelada por esse tipo de comportamento. O terceiro aspecto é ter interesses especiais muito fixos, restritos, que nós chamamos de hiperfocos. E o quarto sinal está relacionado tanto à reatividade muito forte aos estímulos sensoriais quanto à baixa reatividade aos estímulos sensoriais.
Quer dizer, se você não tem pelo menos dois desses aspectos, que são, mais uma vez, estereotipias vocais ou motoras, a inflexibilidade mental, os hiperfocos e a hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais, muito provavelmente também não vai fechar esse diagnóstico do transtorno do espectro autista. Agora, mais uma vez, nós precisamos ser muito cuidadosos. Não podemos ter pressa, nem para refutar o diagnóstico, nem para confirmá-lo.
Então, a avaliação é personalizada, é muito cuidadosa. Precisamos conversar com pessoas que estiveram presentes durante o desenvolvimento dessa pessoa, para que ela nos dê mais informações. E, por isso, avaliação é individual e às vezes é um pouco demorada.
Mas aqui, então, estão os nove aspectos, as nove características que talvez nos façam descartar, eliminar ou pensar em outros diagnósticos possíveis, se a pessoa está se queixando de prejuízos na sua vida. E agora me conte se você já refletiu sobre esse assunto, se você sente que é um desafio muito grande fazer a avaliação e o diagnóstico das pessoas que estão no nível um de suporte. Aproveite para compartilhar o vídeo, curtir e se inscrever também no canal.
Eu tenho feito vídeo duas vezes por semana agora, então, nos vemos em breve. Grande abraço a todos! Tchau!
Tchau!