E hoje nós vamos falar sobre a vida intelectual das mulheres autistas: como elas aprendem, como elas usam o cérebro, e é claro que não dá para a gente generalizar aqui, porque nós sabemos que o autismo é um espectro. E também porque não existe uma distinção precisa entre meninos e meninas. Na verdade, não existe um autismo feminino e um autismo masculino; é que as diferenças culturais, hormonais e genéticas, na prática, nos acabam levando a certas diferenças, né?
E além disso, como a maior parte dos estudos sobre o autismo é realizada com pessoas do sexo masculino, muitas mulheres ainda deixam de receber o diagnóstico porque simplesmente elas não se encaixam naquele estereótipo, né? Das pesquisas, dos resultados das pesquisas antigas com amostras mais restritas que não representavam, né? Não representam toda a população.
E para se ter uma ideia, muita gente ainda não sabe que o autismo é uma deficiência intelectual e, na verdade, segundo o professor William Mendes, cerca de setenta por cento dos autistas frequentam escolas regulares, mas, com ou sem diagnóstico, nem sempre eles recebem os cuidados necessários. Enfim, esse realmente não é um assunto ainda muito claro, nem mesmo para os educadores ou para os profissionais da área da saúde, e é por isso que nós estamos aqui. Eu quero compartilhar com você essa lista com as dez características peculiares da vida cognitiva das mulheres autistas.
Lógico, para facilitar a conscientização, a auto-percepção, né? O autoconhecimento e a inclusão. E antes de começar a lista, como eu sei que vocês gostam de ter acesso às minhas referências bibliográficas para esse vídeo de hoje, eu cito os livros de W.
D. Simone, os artigos da doutora Doris D. N.
e do Dr William Mendes. E dito isso, vamos lá, a listinha com os dez traços intelectuais peculiares das mulheres autistas. A primeira característica é a seguinte: se a menina não for diagnosticada logo na infância, talvez ela tenha sido diagnosticada informalmente como muito sensível, fresca, tímida, geniosa ou genial.
Uma parcela significativa dos autistas pode ter altas habilidades ou superdotação, ou seja, uma autista pode ser duplamente excepcional. Tem vídeo aqui no canal falando sobre isso. Então, às vezes é a genialidade que chama mais atenção, e isso pode até evitar que a autista seja forçada a socializar, né, além dos seus limites, porque os outros custam a entender que as pessoas talentosas e geniais podem ser naturalmente peculiares e até mesmo um pouco temperamentais.
Às vezes, têm uma tolerância maior nesses casos. Bom, dia a dia, o autismo também pode vir com TDAH; a dislexia, por exemplo. E isso nos leva à segunda característica: a mulher autista talvez sinta mais o peso do TDAH do que do autismo.
Na escola, talvez ela tenha dificuldade para manter a atenção, o foco na matéria que está sendo passada. Ela pode ser mais impulsiva para responder às questões da prova e acabar cometendo erros por descuido. E o que é mais frequente é o agito mental; a hiperatividade física nem sempre acontece, mas essa hiperatividade mental é muito frequente e faz os pensamentos irem longe, ajudando a olhar neurodivergente construir e criar histórias.
Mas se ela não estiver bem, emocionalmente falando, os pensamentos podem entrar num ciclo catastrófico, e aí o rendimento escolar pode piorar muito. E no caso da dislexia, a dificuldade para ler e escrever pode acabar limitando a pista, e ela, que já tem dificuldade nas interações sociais ou para falar dos próprios sentimentos, pode ter ainda mais dificuldade. A terceira característica comum é a hiperlexia, que é diferente da dislexia, e beneficiam o gosto mais forte por ler.
Nós sabemos que os neurodivergentes tendem a ter os seus hiperfocos, e muitas mulheres autistas, então, são viciadas em leitura. Isso é a hiperlexia. Elas podem aprender a ler muito cedo e os pais às vezes até têm dificuldade de atrair a atenção da menina para outras atividades, porque ela só quer os livros.
E o ponto positivo desse gosto pela leitura é que os livros ajudam a expandir o nosso repertório verbal, o nosso repertório cultural. Então, a criança amadurece muito cedo, intelectualmente falando. E os dois aspectos não tão positivos são que a pessoa hiperlexa pode ficar ansiosa se ela não tiver nada nas mãos para ler, e ela também pode ter um comportamento muito diferente do convencional, né?
A criança pequena que fala tudo corretamente, fala conosco, que usa palavras rebuscadas, pode acabar tendo problemas de socialização simplesmente porque as pessoas não se conectam com essa linguagem e aí podem acabar pensando também que a autista seja esnobe. A quarta característica é o autodidatismo. Vocês sabem que eu não gosto muito dessa palavra, porque teve uma equipe de pesquisadores holandeses que testou em um grupo de pessoas a habilidade de aprender sozinhas, mesmo, né, sem um mediador da aprendizagem, e comparou o desempenho delas a desse grupo sem o mediador com outro grupo que teve um professor ou uma pessoa que deu algum tipo de assistência.
E o resultado foi que a mediação, mesmo que sutil, é muito melhor do que a aprendizagem solitária. E isso tem vários estudos mostrando. E por autodidatismo, nós vamos entender que os autistas, no caso, né, em geral, eles entendem como aproveitar melhor as suas experiências de aprendizagem e eles costumam também ter mais facilidade para pesquisar os seus assuntos favoritos, né?
O seu hiperfoco e para aprofundar o seu conhecimento sobre um tópico. William fica como o nosso exemplo mais famoso agora, né? Porque muita gente chama de autodidata, mas ele mesmo conta que não aprendeu engenharia espacial sozinho.
Na verdade, ele soube reconhecer os melhores professores na área e ele aprendeu que precisava, em um curto espaço de tempo, com quem sabe transmitir aquele conteúdo de forma mais precisa. Então, tem todo o mérito dele, mas a aprendizagem foi mediada também nesse caso. Sim, mas nós não estamos aqui hoje para falar sobre os meninos.
Nós. . .
Estamos falando sobre as meninas autistas, e o que os pesquisadores observam é que elas são ótimas em aprender habilidades artísticas, música, computação, psicologia, educação, e muitas delas inventam soluções inteligentes para problemas sociais e ecológicos. Os meninos costumam ter um foco maior em objetos, enquanto as meninas podem focar mais em pessoas, arte e natureza. Agora, a quinta característica, infelizmente, é o abandono escolar.
A moça autista pode ser superinteligente, pode ser genial mesmo, mas, pela sua sensibilidade, ou falta de inclusão, ou por não compreender os sinais sociais, às vezes fica muito ansiosa e pode até entrar em síndrome do pânico, que a gente sabe, né? Ela pode se sentir muito deslocada na escola ou na faculdade. E aí a família pensa, os amigos também, e pensam que ela não sabe o que quer; na verdade, ela também pode ficar muito confusa e acaba testando vários cursos na expectativa de encontrar seu lugar no mundo.
E isso deixa um alerta para os professores: mesmo que o estudante não tenha um diagnóstico fechado, quando ele ou ela precisar de suporte ou de uma avaliação diferente, por favor, facilite a inclusão. Porque, quando a gente percebe que é realmente necessário, é porque é necessário. Agora, se você é a pessoa neurodivergente, então eu sugiro que você procure encontrar um motivo real para essa decisão de deixar um curso.
Será que você já aprendeu tudo o que precisava nesse ambiente, nessa faculdade, no curso que está fazendo? Ou será que o conteúdo já não faz sentido para sua vida, para você, nesse momento? Quando eu estudei psicanálise, fiz toda a parte teórica, eu amei, mas não existe prática psicanalítica.
Por quê? Porque eu percebi que não era muito agradável para mim. E, além disso, a gente sabe que ainda não tem o respaldo científico.
Então, como eu prezo a prática baseada em evidências, aí não fazia muito sentido para mim. Enfim, foi uma decisão consciente, e eu aproveitei o melhor do curso. Então, o que eu quero dizer é que, se você alcançou seu objetivo, está tudo bem avançar, seguir em frente.
Nem todo mundo precisa seguir aquele protocolo formal de aprendizagem. Mas como você sabe se é esse o seu caso? Bom, se você estiver feliz, se estiver produtivo ou produtiva, é um excelente sinal.
Agora, se essa vontade de fugir da escola vier por causa de algumas vantagens acadêmicas ou sociais, a mensagem para você já é outra: eu e você, procure suporte profissional, né? Que psicológico a gente sabe que a terapia cognitivo-comportamental facilita muito. É um grande auxílio.
O treinamento de competências sociais, por exemplo, o psicopedagogo, como eu, também pode facilitar muito sua vida intelectual, facilitar seu processo de aprendizagem. E até tutoriais no YouTube podem salvar a nossa vida quando se trata de aprendizagem. Então, por favor, não desista, porque, inclusive, o ambiente acadêmico pode ser um desafio para você e vai fazer de você uma construção de resiliência.
A sexta característica em relação ao trabalho: as mulheres autistas costumam ter dificuldade para se manter no trabalho, no emprego, manter a carteira assinada pelos mesmos motivos da evasão escolar. Às vezes, um ambiente de trabalho é muito estimulante, muito cheio de luzes, muito cheio de barulhos, de metas, nessa necessidade de realizar o tempo inteiro. Nem sempre as contribuições delas são bem recebidas, são ouvidas.
Ou seja, ela pode imaginar que seu objetivo na empresa seja apenas entregar aquele resultado solicitado, mas existem muitas outras atividades envolvidas neste contrato. E, na prática, o que a gente vê, em geral, é que as mulheres autistas contam que acabam preferindo ganhar menos e fazer um trabalho mais simples, talvez que elas possam fazer de casa, que exige a mensuração. Então, mesmo que ela precise abrir mão da renda, a decisão faz sentido para ela.
A sétima característica intelectual é ser lenta para compreender o seu próprio processamento sensorial. A mulher autista pode ser superinteligente, bem informada, mestra, doutora na sua área. Ela pode ser muito competente cognitivamente, mas essa inteligência talvez não se traduza em autoperdão.
Isso é bastante frequente e comum, inclusive hoje em dia, né? Que todo mundo tem um pouco disso. A pessoa vai fazendo tudo no automático ao longo do tempo e não sente que, às vezes, está adoecendo.
Agora, com as autistas e com as pessoas sensíveis, a questão é um pouco diferente. Nós conversamos já sobre a teoria das colheres aqui em outro vídeo; eu vou deixar os cards para vocês e você vai me entender direitinho. Mas, resumidamente, as pessoas sensíveis tendem a ter uma menor quantidade de energia ao longo do dia para gastar com socialização e com atividades.
Portanto, até que a autista se aproprie racionalmente das informações, ela pode sofrer muito sem compreender o motivo. E essa é a maior queixa dos autistas: a exaustão física e mental. A oitava característica intelectual é a racionalização.
A mulher autista, então, pode ter necessidade de explicar, de ir, de compreender os detalhes de uma situação, e essa tendência tem aspectos positivos e negativos, como tudo. Racionalizar pode ser excelente se a pessoa quiser explorar um assunto, se ela quiser gerar ideias novas, se ela quiser ser uma cientista, mas pode ser extremamente desgastante se cada decisão ou se cada alteração de rotina precisar de uma justificativa lógica, uma justificativa objetiva. A pessoa pode perder muito tempo e deixar os outros também impacientes, porque as conversas talvez fiquem muito burocráticas.
É comum também que, durante uma conversa, a autista faça pausas muito longas, porque, enquanto fala, os pensamentos dela borbulham no cérebro, e aquilo acaba sendo uma distração. Quem está ouvindo ou esperando para ouvir a mensagem pode. .
. Achar que aquela autista seja indecisa ou insegura é uma questão delicada, mas a verdade é que ela costuma ser muito responsável com suas palavras. Um outro aspecto da racionalidade é ser literal; essa é uma tendência de muitos autistas.
No entanto, como a mulher autista se camufla, às vezes as pessoas se assustam quando ela leva uma ironia ao pé da letra ou quando ela tenta explicar uma piada. Isso pode parecer estranho. A nona característica é precisar de instruções escritas para compreender uma tarefa.
Eu tentei, mas eu preciso de listas de instruções escritas, porque, senão, posso me desviar da meta. No caso da mulher autista, a questão é diferente: ela pode ter uma comunicação muito natural e, talvez, camuflar seus traços atípicos. Dessa forma, os outros estranham a dificuldade que ela tem de compreender orientações simples.
Por exemplo, quantos professores passam tarefas no colégio informalmente? Talvez ela fique perdida na conversa, porque precisa racionalizar e entender uma etapa antes de seguir adiante. Portanto, oferecer um organograma à mulher autista é a melhor coisa que você pode fazer.
Isso será muito mais eficaz do que ficar falando sem parar. A décima característica do autismo feminino é ter hábitos repetitivos ou obsessivos menos chamativos. Neste caso, as meninas autistas, assim como as mulheres autistas, tendem a camuflar mais do que os homens.
As manias e as estereotipias também costumam ser mais disfarçadas, e essas manias podem aparecer como interesse intensificado. Olha só que maravilha! Se ela gosta de investigar o comportamento humano, pode ter uma obsessão por livros sobre isso e especializações na área de pesquisas científicas.
Mas isso nós não chamamos de concessão; certo? Nós temos amor pela profissão. É uma dedicação, é excelência.
Viu como o hiperfoco pode ganhar um novo status nas mulheres divergentes? É o que eu chamo de transformar discussão em super função. A hiperlexia também é considerada um comportamento repetitivo, mas tende a ser socialmente valorizada.
A mania de limpeza também pode ser muito útil. Agora, embora a autista tenha suas manias secretas e possa parecer muito metódica, às vezes rigorosa, com certos assuntos, geralmente ela respeita bastante a vida dos outros e não se preocupa, por exemplo, com a sexualidade dos amigos ou com a visão e opinião das pessoas. Assim, ela é uma ótima pessoa.
Resumindo, aqui estão as dez características intelectuais para que você não esqueça nenhuma. Primeira: receber rótulos sobre o seu jeito de agir e de pensar. Segunda: ter outro diagnóstico, como TDAH ou dislexia.
Terceira: ter mania de ler, que pode incluir epilepsia. Quarta: ser autodidata. Quinta característica: não concluir todos os seus cursos.
Sexta: ter dificuldade para performar no trabalho convencional. Sétima: ser rápida demais no raciocínio lógico e lenta para compreender seu processamento sensorial. Oitava: racionalizar demais.
Nona: precisar de instruções escritas em vez de instruções faladas. Décima: ter manias e estereotipias secretas ou até muito funcionais. Então, hoje, apresentamos esses 10 itens e agora, é só nos dizer se você tem alguma outra peculiaridade intelectual que não foi mencionada aqui.
Comente, curta o vídeo e compartilhe com suas amigas neurodivergentes. Vamos empoderar essas meninas maravilhosas! Um grande abraço e até a próxima quinta-feira.
Tchau, tchau!