Imagine que eu estivesse te dando um botão para sentir prazer. E toda vez que você aperta esse botão, você sente prazer. É assim, automático.
Aperta o botão, sente uma sensação boa na hora. E não tem nenhuma contrapartida, não tem nenhum perigo. E é tudo de graça.
O que você faria? Você ficaria apertando esse botão sem parar? Mas será que uma hora você não iria enjoar, e aí o efeito do botão perderia a graça?
Talvez a solução seria ficar um tempo sem apertar o botão, porque aí talvez quando você finalmente decidisse apertar, a sensação fosse ainda melhor. E você talvez já tenha ouvido falar da ideia de cortar estímulos do dia a dia. A famosa ideia de jejum de dopamina, para justamente te ajudar a ser mais feliz, ou mais focado, ou mais produtivo.
Mas será que o jejum de dopamina funciona? Para descobrir essas respostas, um experimento foi feito nos anos 1950, usando ratos ao invés de youtubers. Cientistas colocaram eletrodos no cérebro dos animais, e esses eletrodos estavam ligados a uma alavanca que podia ser acionada pelos próprios ratos.
Sempre que a alavanca era ativada, os eletrodos estimulavam diretamente as áreas do cérebro que são ligadas ao prazer. E aí os cientistas ficaram observando o comportamento dos ratos. E qual foi a conclusão deles?
A de que os ratos ficaram simplesmente viciados em puxar a alavanca. Depois de um tempo eles deixavam de lado até necessidades básicas. Os ratos pararam de dormir, pararam de comer, de beber água e até de acasalar.
E tudo isso pra ficar vidrado a noite inteira puxando mais e mais a bendita alavanca. Você talvez esteja pensando que os ratos são malucos e que nenhuma pessoa largaria tudo desse jeito. Mas será que você já não faz isso?
Será que a sua alavanca não é o seu celular? Você também não deixa de fazer várias coisas para ficar atualizando o dia todo a sua rede social favorita? Quando foi a última vez que você bebeu água?
Quando foi a última vez que você mexeu no celular? Você é uma pessoa ou um rato? A verdade é que os dois não são tão diferentes assim.
Mentira, eles são bem diferentes sim. O seu celular, por exemplo, não tem acesso direto ao seu cérebro, como os eletrodos dos ratos tinham. Mas outras coisas são semelhantes.
Existe um mesmo hormônio que está ligado à sensação de prazer tanto em ratos quanto em humanos. E você já deve ter ouvido falar dele. É a famosa dopamina.
E falando em dopamina. . .
No experimento dos ratinhos à alavanca, os eletrodos foram colocados numa área repleta de neurônios dopaminérgicos, ou seja, células que produzem e liberam dopamina. Esses neurônios fazem parte da chamada via mesolímbica. Como esse é um nome muito difícil, vamos chamar pelo apelido dela Circuito da Recompensa.
Esse sistema é o conjunto de estruturas anatômicas que são ligadas diretamente à sensação de prazer. Ele é o responsável por nos motivar a buscar recompensas como comida, relações sexuais e até likes em vídeos de internet. Aliás, por favor, vocês podem ajudar a minha via mesolímbica a ficar feliz deixando um joinha nesse vídeo.
Muito obrigado! Então vamos realizar um experimento com a sua via mesolímbica. Veja esse gatinho fofo.
Você se sentiu bem olhando pra ele? Se sim, o que aconteceu foi o seguinte. Os seus olhos capturaram a imagem dessa fofura e mandaram um sinal para o seu cérebro, que começou a fazer o que cérebros fazem, interpretar os sinais dos nossos sentidos.
Como resposta a essa imagem agradável, a área tegmental ventral começou a produzir grandes quantidades de dopamina. Essa produção de dopamina gera um impulso nervoso, um sinal feito de dopamina que se espalha através de neurônios dopaminérgicos. E esse sinal alcança algumas outras áreas do seu cérebro, por exemplo, a amígdala e o núcleo acúmbens, associadas ao processamento de emoções e o hipocampo, que é responsável por gravar a memória de ter visto essa fofura e te lembrar de ver fotos de animais fofos com mais frequência.
E por fim, o sinal chega ao córtex pré-frontal, que é a área responsável pelo planejamento e pelas decisões. É como se as partes da via mesolímbica fossem internautas conectados pela internet, e a dopamina é o melhor meme do mundo, que na minha opinião, é esse aqui. Quando a página de memes que é a área tegmental ventral compartilha o meme perfeito, a dopamina, que é esse meme, se espalha pelo circuito de recompensa e faz todos que veem o meme se sentirem melhor.
Desde o especialista em memes que lembra de tudo, que é o Hippocampo, até a criança divertida e emocionada, que é a Amígdala. Então uma foto fofa de gatinho, um bom meme ou um botão do prazer preenchem os neurones do seu circuito de recompensa de sinais feitos de dopamina. E essa sensação prazerosa transmitida pela dopamina afeta como você se sente, as suas memórias e até a sua tomada de decisão.
E eu não sei se você já teve essa experiência, depois de um dia ruim que você estava meio triste e para baixo. Até que daí você meio que sem querer assistir algo engraçado, ou encontra um cachorro fofo na rua e nem cinco minutos depois você até esqueceu que estava triste. Parabéns!
Essa foi a sua via mesoalímbica mudando suas emoções por você fazer algo prazeroso. E a dopamina é um dos hormônios responsáveis por comunicar, entre outras coisas, a sensação de prazer para esse circuito de recompensa. Com o circuito de prazer sendo tão influente em áreas centrais de tomada de decisão, não é uma surpresa que uma vez que você tenha uma experiência prazerosa, você busque por mais da mesma experiência.
Ou seja, você entrou numa rede social pela primeira vez, se divertiu bastante, e aí decidiu entrar com mais frequência nessa rede social. E em outras também. O problema começa quando o nosso corpo sente a necessidade de repetir esse ciclo de recompensa sem parar uma vez depois da outra.
Ver um meme não é o suficiente. É preciso virar a noite no celular sem parar atrás do próximo bom meme. E isso também acontece quando a pessoa experimenta algumas drogas.
Elas amplificam a sensação de prazer que vem da liberação de dopamina, o que deixa uma marca profunda no circuito de recompensa, conectando a experiência de usar a substância com a sensação de prazer extremo. Então o corpo sente uma necessidade de passar por aquilo de novo e de novo e de novo e de novo. É assim que surgem os vícios.
E não só em drogas. Vários comportamentos podem se tornar habituais se eles manipularem o circuito de recompensa de forma intensa. Coisas como apostas e até videogames podem se tornar viciantes em algumas situações, especialmente quando funcionam como um escape de alguma situação desagradável.
É, talvez essa frase tenha sido pessoal demais. Antes de continuar, eu sei que chegou a Black Friday e eu tô ligado que você tá de olho naquele teclado e headset que são em promoção. Mas que tal investir na sua carreira em tecnologia?
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E agora, continuando, será que quanto mais dopamina, melhor? Mas é aqui que entra o maior erro que quase todo mundo comete. A dopamina não é sinônimo de prazer.
Ela é somente parte de todo o sistema ligado à sensação de prazer. E é por isso que aquela ideia de que quanto mais dopamina, melhor, não faz muito sentido. Dopamina demais pode causar alterações mentais, e o excesso desse hormônio também está ligado à esquizofrenia e alucinações.
Além disso, é fundamental entender que a dopamina não exerce somente uma atividade no nosso corpo, da mesma forma que memes não causam só risadas. Alguns memes fazem você chorar. Hoje a gente sabe que a dopamina também cumpre papel na resposta ao estresse, na memória, no aprendizado e até no funcionamento do sistema imune.
Ela é fundamental também no nosso sistema motor e também explica por que a falta de dopamina está associada com a doença de Parkinson. Por isso, enxergar dopamina simplesmente como o hormônio do prazer é um pensamento ultrapassado, se não simplesmente errado. Muito mais do que isso, ela na verdade é um neurotransmissor, que é um tipo de mensageiro químico do nosso cérebro.
Os neurotransmissores mudam o comportamento dos neurônios quando algo acontece. Para deixar mais claro, neurotransmissores são como mensagens de WhatsApp que o seu cérebro envia de um neurônio para o outro. Mas como você sabe, cada pessoa reage às mensagens de um jeito diferente, dependendo do conteúdo e também de quem mandou a mensagem.
Quando o seu chefe manda um textão reclamando de alguma coisa do trabalho, você reage só com um joinha. Já quando é o seu contatinho mandando besteira de madrugada, você reage com um foguinho. Da mesma forma, os neurotransmissores também provocam reações diferentes em cada situação.
É o caso, por exemplo, da norepinefrina, que ajuda a regular o hissado de alerta do nosso corpo. Quando ela atua nos receptores conhecidos como alfa-1, as nossas veias se contraem. Já quando ela atua nos receptores conhecidos como alfa-2, as veias ficam dilatadas.
Ou seja, um mesmo neurotransmissor pode provocar até mesmo reações opostas. E também tem a acetilcolina, que está envolvida em funções como contração muscular. E até uma prima famosa da dopamina, que é a serotonina, relacionada ao humor e ao bem-estar.
Mas é importante entender que nenhuma delas cumpre um papel sozinha. Afinal, nada no nosso corpo é tão simples assim. Você já deve ter ouvido falar, por exemplo, que a falta de serotonina provoca depressão.
Embora muitos antidepressivos realmente funcionem aumentando os níveis de serotonina no cérebro, as causas dessa doença são muito mais complexas e envolvem uma combinação de fatores. Aspectos genéticos e até inflamatórios podem provocar depressão. Um antidepressivo pode até fazer o paciente ter uma melhora pontual.
Mas se o tratamento não for associado com atividades prazerosas, alguns sintomas residuais podem continuar, como a falta de motivação e de prazer, que é chamada de anedonia. Em resumo, se a dopamina estiver em baixa, não adianta a serotonina estar lá no alto. Até porque o excesso de serotonina também pode fazer mal para a saúde e provocar síndrome serotoninérgica, uma condição grave que resulta em aumento da pressão arterial, agitação, tremores e até convulsões.
Ou seja, como em tudo na vida, é preciso que haja equilíbrio também entre os neurotransmissores. E é aqui que entra uma questão que eu trouxe no começo do vídeo, naquela história de apertar um botão para ativar a via mesolímbica. Tem quem defenda que o ideal é a gente ficar um tempo sem apertar o botão, para melhorar a sensação quando a gente finalmente decidir apertar.
Falando de um jeito mais prático, muitas pessoas defendem na internet que a gente deixe de lado tudo aquilo que provoca sensações de prazer e faça uma espécie de jejum de dopamina. Os adeptos dessa teoria acreditam que por nós estarmos rodeados o tempo todo de recursos tecnológicos, como as redes sociais, o nosso cérebro tem dopamina de maneira ininterrupta, deixando a gente meio que anestesiado. E por isso o ideal seria cortar esses estímulos de maneira radical.
Mas espera aí, será que essa ideia faz sentido? A verdade é que ninguém sabe ao certo. Não existem evidências de que o tal jejum de dopamina funcione.
Ou seja, não há provas de que você deletar suas redes sociais, por exemplo, necessariamente vai fazer você se sentir melhor. Mas aqui é importante destacar duas coisas. Primeiro, nós não estamos falando de vícios.
O tratamento de um vício, como em drogas, jogos ou na própria internet, exige naturalmente se afastar desse vício. Mas isso deve ser feito com acompanhamento de profissionais especializados e não com base em um jejum sugerido por algum coach de internet. E segundo, dizer que algo não tem evidências de que funcione não significa necessariamente que aquilo não funciona.
Significa somente que não existem ainda estudos conclusivos sobre a possível efetividade daquela ideia. Também é bom avisar que se o jejum de dopamina funciona pra você, ele não funciona reduzindo a sua dopamina, como o nome sugere. Até porque, como nós aprendemos, o papel da dopamina no corpo não é só comunicar prazer pela via de recompensas.
E aí nós entramos no campo de relatos pessoais, que cientificamente falando, são evidências fracas. Para algumas pessoas, sim, fazer uma espécie de detox digital parece funcionar perfeitamente. Até porque você pode estar gastando muito tempo com as redes sociais, sentindo uma necessidade de estar online o tempo inteiro, deixando de fazer outras coisas, igual ao ratinho da alavanca, e ficando tanto tempo na internet que chega a sentir sono, fome e fomo.
Essa é uma sigla em inglês que significa Fear of Missing Out. Algo como medo de ficar por fora ou medo de estar perdendo algo. É aquela sensação que a gente tem de que, em meio a enxurrada de informações na internet, qualquer piscar de olhos pode fazer a gente deixar de acompanhar a nova tendência, ou um novo assunto, ou um novo grande meme.
No fundo, isso não passa de uma impressão nossa. Pode acreditar que o mundo vai continuar sendo rigorosamente o mesmo caso você deixe de participar de algum debate qualquer nas redes sociais. Um exemplo disso aconteceu bem recentemente aqui no Brasil.
O X, o famoso Twitter, ficou mais de um mês fora do ar. Você talvez tenha sentido falta nos primeiros dias. Pode ter até batido aquela saudade das discussões que.
. . só importam no Twitter.
Mas ficou por isso mesmo. Eu tenho certeza que nada de muito relevante mudou na sua vida por causa disso. Você sobreviveu a queda de uma rede social.
Meus parabéns! E se no fim das contas você até gostou dessa espécie de jejum forçado, talvez deixar outras redes de lado por um tempinho possa te fazer bem. Quem sabe você não encontra novas formas de prazer que te deixem mais feliz, como, sei lá, tocar piano, descobrir novos discos do Pink Floyd ou quem sabe ir na academia falar Biu!
E aqui vale lembrar que esse jejum de dopamina não necessariamente tem a ver com a internet. Tem pessoas que optam por ficar um tempo sem outras coisas que fazem elas se sentirem bem, como chocolate, café ou até álcool. E pra essas pessoas a estratégia também pode funcionar, nem que seja pelo efeito placebo, que eu explorei em mais detalhes nesse outro vídeo.
Quando acabar esse vídeo aqui, você clica lá para assistir. Mas em resumo, a ideia que a simples crença de que algo vai fazer bem para sua saúde já é o suficiente para aumentar as chances dessa coisa realmente fazer bem para sua saúde. E se esse for o seu caso, e o jejum de dopamina der certo, maravilha!
Mas para outras pessoas, por outro lado, o tal jejum pode não fazer tão bem assim. Até porque se afastar de algo que você gosta é desagradável. Não tem por que você abandonar acompanhar os seus memes favoritos da internet, só porque outras pessoas preferem fazer jejum de dopamina.
Seguir um jejum de dopamina é puramente uma preferência pessoal. É algo que você deve fazer só se fizer bem pra você pessoalmente. Se o seu jejum de dopamina estiver te estressando e piorando o seu humor, isso é ruim.
Nós não temos evidências de que o jejum de dopamina faz mal, mas nós temos evidências de que estresse faz. Por isso que, como eu disse agora há pouco, nada no nosso corpo é tão simples. E tudo é uma questão de equilíbrio.
Até porque, além dos neurotransmissores, outros fatores importantes desempenham um papel fundamental na nossa saúde mental. Estudos recentes observaram, por exemplo, que um estilo de vida mais saudável pode prevenir a depressão mesmo em indivíduos mais suscetíveis geneticamente. E quando eu falo de vida saudável, eu estou falando de reduzir o consumo de álcool, manter uma dieta equilibrada, aumentar a qualidade do sono, evitar o tabagismo e estabelecer conexões sociais.
Ou seja, conhecer gente, fazer amigos e quem sabe até encontrar um grande amor. Só é importante reforçar que prevenir não significa impedir. Mesmo uma pessoa com hábitos saudáveis ainda pode desenvolver todo tipo de problema de saúde, mas as chances tendem a ser menores.
Com tudo que eu trouxe até aqui, deve ter ficado claro a importância de conhecer como funcionam o nosso corpo e a nossa mente. Entender os neurotransmissores e suas múltiplas funções no cérebro é fundamental para desmistificar conceitos simplistas sobre felicidade, prazer e vícios. As causas de doenças e dependências são muito mais complexas do que um mero desajuste químico.
Em resumo, a nossa saúde mental envolve interações complexas entre estilo de vida, fatores biológicos, psicológicos e sociais. Por isso, o ideal é descobrir o que funciona pra você. E se você tiver interesse em um jejum de dopamina, você pode fazer um teste e ver se funciona pra você.
E se não funcionar, é só não fazer. Se fizer você se sentir bem, que ótimo! Talvez esse seja o caminho ideal pra você.
Mas se estiver te fazendo se sentir meio ansioso mais do que relaxado, talvez o jejum de dopamina não esteja valendo a pena. E o mesmo vale para a maior parte de todas as trends de bençar na internet. No fim, a escolha é sua.
O mais importante é buscar informações de qualidade e procurar ajuda profissional sempre que for necessário. E além disso, tome muito cuidado com quem quer te vender soluções simples para problemas complexos. Mas agora eu gostaria de saber, você já tentou fazer um jejum de dopamina?
Ou pensa em fazer esse teste? Deixe seu relato aqui nos comentários, porque eu estou bem curioso para saber. Eu imagino que nós todos estamos.
Muito obrigado e até a próxima!