"À BEIRA DO NADA" | Clarice Lispector

e dar a mão alguém foi o que eu sempre esperei da Alegria muitas vezes antes de adormecer nessa pequena luta por não perder a consciência entrar nesse mundo maior muitas vezes antes de ter a coragem de ir para grandeza do sono eu finjo que alguém está me dando a mão então eu vou para essa enorme ausência de forma que é o sonho e quando mesmo assim eu não tenho coragem então eu sonho ir para o sono se parece tanto com o modo como agora eu tenho de ir para minha liberdade e entregar-me ao que não

entendo será por me à beira do nada quem será ir apenas indo e essa coisa Sobrenatural que viver e o viveiro que eu havia domesticado para torná-lo familiar essa coisa corajosa que será entregar-me e que é como dar a mão a mão Mal Assombrada de Deus e a entrar é por essa coisa sem forma O que é o paraíso o paraíso que eu não quero e enquanto escrever e falar vou ter que fingir que se alguém para segurando a minha mão ó Ou pelo menos no começo só no começo e logo que eu puder [Música]

a dispensá-la aí eu vou sozinha [Música] e por enquanto eu preciso segurar a tua mão e [Música] e mesmo que eu não consiga inventar o teu rosto e teus olhos bom então boca [Música] por enquanto estou inventando a tua presença como um dia também não saberei me arriscar a morrer sozinha morreram do maior risco não saberei passar para a morte e por o primeiro pé na primeira ausência de mim também nessa hora última então primeira inventarei a tua presença desconhecida E aí contigo Começarei a morrer até poder aprender sozinha não existir então eu te libertarei

[Música]