2 PESSOAS poderiam REPOVOAR a TERRA?

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Ponto em Comum
Repovoar a Terra: Uma Jornada da Extinção à Sobrevivência Este vídeo explora a fascinante jornada d...
Video Transcript:
O mundo acabou e dos mais dos oito bilhões  de humanos só sobrou um homem e uma mulher, um casal. Será que eles são capazes de continuar o  legado da humanidade? Será que eles vão conseguir ter filhos e seus filhos ter mais filhos e assim  por diante?
Será que essas duas pessoas podem repovoar a terra? (vinheta) “Os predadores estrangeiros vieram de terras  distantes. Com seus dentes afiados e fome voraz, devastando nossa sociedade.
A população  indefesa, aos poucos sucumbiu ao inimigo. Até que em pouco mais de dois anos,  nossa espécie estava quase extinta. ” Esse relato pode até parecer um recorte  de um livro de ficção científica, porém na verdade aconteceu mesmo!
Mas calma, não foi com a NOSSA espécie. Isso aconteceu com uma espécie de bicho-pau  da Austrália, o Drococelus australis. Até mil novecentos e dezoito, esses insetos tinham  uma vida pacata na ilha de Lord Howe, cerca de seiscentos quilômetros da costa australiana.
Lá,  a única coisa que podia ameaçar a sua existência era o seu uso como isca de pesca, mas nada que  realmente colocasse em jogo a sobrevivência de toda a espécie. Até que… ELES chegaram. Na virada para década de vinte, o navio cargueiro SS Makambo chegou na ilha e com ele os ratos  negros foram introduzidos.
Os roedores de modo geral tem como marca registrada sua fome  desenfreada e sua reprodução explosiva. Assim, foi questão de tempo até que várias espécies  de plantas e animais fossem ameaçadas pela sua introdução. Entre elas, os carismáticos  bichos-paus… bichos-pais?
BICHOS-PÃES! Bom, a partir daí, os pescadores passaram a  relatar que não encontravam mais o inseto para usar como isca e acreditaram que a espécie  teria sido completamente extinta da face da terra. Até que foi feita uma descoberta.
Foi só em mil novecentos e sessenta e quatro, quase CINQUENTA anos depois, que  ele foi registrado novamente, e em um lugar extremamente improvável. Um grupo de escaladores estavam explorando a Pirâmide de Ball, uma formação  chamada de “agulha vulcânica” que se ergue do Oceano Pacífico formando uma enorme ilhota  rochosa. E foi durante essa exploração que os escaladores encontraram indivíduos do  bicho-pau… mas eles tavam tudo morto.
Com o passar dos anos e com novas  expedições, mais indivíduos eram encontrados, mas nenhum com vida. Até que em dois mil e  um, uma dupla de pesquisadores australianos decidiram retomar as buscas, como se  fosse uma verdadeira “caça ao tesouro”. Eles acreditavam que a ilhota poderia  ter vegetação suficiente para sustentar uma pequena população de insetos, e com a  ajuda de dois assistentes, eles partiram.
A missão dessa dupla não foi NADA fácil. Tiveram  que escalar singelos CENTO E VINTE METROS de uma encosta íngreme e cheia de grama. Mas em  compensação quando eles chegaram lá em cima e… não encontraram NADA!
Tudo tem um lado positivo. A esperança deles já tinha ido por água abaixo, a moral da equipe não era mais a mesma. Até que,  durante a descida, uma coisa chamou a atenção de um dos pesquisadores.
Eles encontraram algo  que traria de volta os ânimos da equipe. Algo que revitalizou e mudou completamente o  rumo daquela pesquisa e de SUAS VIDAS! Eles encontraram FEZES!
Sim, cocô. Eles acharam grandes excrementos de inseto sobre um  único arbusto que tava ali casualmente na encosta. Decidiram então sentar e esperar até  o anoitecer, quando os animais estariam mais ativos.
E finalmente, o tesouro veio até eles. Eles não encontraram não apenas um mas toda uma pequena população de vinte e quatro insetos.  Aquilo certamente foi um momento muito especial.
Demorou quase oitenta anos até  que uma pequena população pudesse ressurgir depois de um grande risco de extinção. E com essa história, eu trago um questionamento: e nós humanos? Será que duas pessoas  conseguiriam repovoar a Terra?
Tipo, eu sei que é uma comparação um pouco  forçada. Até porque, uma coisa é se recuperar depois de um apocalipse de roedores. E outra  coisa é repovoar a Terra inteira com humanos.
Mas será que conseguiríamos fazer isso? Esses cenários apocalípticos causados por fenômenos da natureza não são  incomuns, na verdade já ocorreram e provavelmente vão ocorrer muitas vezes. São  os chamados “gargalos”, quaisquer eventos que ocasionam uma redução populacional drástica.
No caso do inseto Drococelus australis o processo pode ter sido mais fácil graças às  características biológicas do animal. Basta olhar pro seu comportamento reprodutivo. As  fêmeas da espécie conseguem por dez ovos a cada dez dias.
Além disso, elas ainda são capazes  de fazer uma coisa chamada de “partenogênese”. Basicamente: elas não precisam  de machos para se reproduzir. O que eu quero dizer com isso é que  a recuperação de espécies com esse tipo de potencial reprodutivo é muito mais  fácil do que seria para os seres humanos.
Primeiro que nossa estratégia reprodutiva  é diferente. Sem considerarmos métodos artificiais e tecnológicos, a nossa reprodução  ocorre por meio da fecundação de um óvulo por um espermatozóide. Ou seja, é necessário a  união dos gametas masculinos com os femininos.
Além disso, a nossa estratégia reprodutiva investe  mais energia na “qualidade” da prole. Assim, produzimos proles menos numerosas e com tamanho  corporal maior e pra isso, as mulheres precisam carregar o feto por mais tempo. Cerca de  oito ou nove meses, por aí.
Cria minino dá trabalho demais, pergunta aí pros seus pais. Então a questão do “tempo hábil” seria um dos primeiros problemas quanto a repovoar a terra.  Mas outro problema aqui, é que se a gente dependesse de apenas duas pessoas para repovoar  a terra, a segunda geração seria toda formada por irmãos e irmãs.
E aí o negócio complica mais. Existe uma regra universal na sociedade no que diz respeito ao comportamento humano. Que  é a abominação e rejeição total a prática do incesto.
Mas além do ponto de vista  moral da coisa, biologicamente também é algo extremamente prejudicial para a população. Uma pesquisa realizada sobre crianças nascidas na Checoslováquia entre mil novecentos e trinta  e três e mil novecentos e setenta, concluiu que quase quarenta por cento das crianças  cujos pais eram parentes de primeiro grau apresentavam sérias deficiências, com  catorze por cento delas eventualmente morrendo cedo de algum tipo de doença. Esse fenômeno é chamado na genética de endogamia ou consanguinidade, e  isso pode ser extremamente perigoso.
Basicamente, isso acontece porque existem  genes que são letais, eles causam uma doença ou uma condição que dificulta muito  a vida, e assim pode levar à morte. Mas aí é claro que você pode pensar que isso não  deveria existir, já que a evolução por seleção natural é capaz de eliminar os genes letais de  uma população. Afinal, quem tiver esses genes vai deixar menos filhos ou provavelmente nenhum.
Porém eu tenho uma revelação, a evolução não age sob genes diretamente, ela age sob indivíduos. Isso é evidente quando a gente pensa que o problema não é o gene em si, mas o indivíduo  com a doença ou condição que gene trás. Ou seja, se um indivíduo tem um gene letal mas não  manifesta nada, ele tá de boa, não tem “sintomas” e ele vive a vida normalmente podendo ter filhos.
Então isso quer dizer que é possível um gene letal passar despercebido pela seleção natural,  pra isso basta que ele seja recessivo. Uma variante de gene recessivo  é aquela que se estiver sozinha, ela não manifesta nada no indivíduo. Todo mundo tem duas cópias do mesmo gene, uma cópia do nosso pai e uma da nossa  mãe.
E é preciso que as duas cópias de um certo gente sejam dessa mesma variante  recessiva pra que essa variante se manifeste. Isso significa que um gene letal pode  se esconder da seleção natural dentro um indivíduo se esse gene letal for  recessivo e se só tiver uma cópia dele. Então o que acontece na prática é que eu e você  e a grande maioria das pessoas possivelmente podemos ter genes letais, só não sabemos  disso porque temos apenas uma cópia de cada.
Inclusive, uma pessoa média possui em seu genoma  entre uma e duas cópias recessivas LETAIS. Meio que todo mundo tem essas variantes  recessivas, e isso é normal. Porém as minhas variantes muito provavelmente são  de genes diferentes das suas.
Elas estão em lugares diferentes no DNA humano. Então,  a princípio, não haveria problema esses dois DNAs se misturarem em um filho nosso. E eu  acabei de sugerir que a gente tenha um filho.
Mas o ponto aqui é que é raro encontrar duas  pessoas cada uma com uma cópia do preciso mesmo gene. Então por pura probabilidade casais muito  raramente vão ter uma variante recessiva letal do mesmo gene, um problema no mesmo canto do DNA. O problema é que isso é raro na população em geral, se eu comparar você com uma pessoa  aleatória.
Porém se a gente olhar apenas dentro de uma mesma família, a coisa fica diferente. Se a gente escolher um qualquer gene no seu DNA podemos pressupor que ele tem cinquenta por  cento de chance de estar no seu irmão ou irmã. Então, vamos supor que uma pessoa possui  um gene letal recessivo se reproduz com um parente de primeiro grau que também possui  a mesma variante genética em seu DNA.
Nesse caso, um filho gerado por esses dois tem  uma alta probabilidade de apresentar e expressar esses genes letais. Além de outros fatores como  deficiência imunológica e perda da qualidade de esperma. É quase como uma forma da evolução  forçar a variabilidade genética das populações.
Vamo dar exemplos que talvez  fique mais fácil de entender. Existe uma condição chamada de acromatopsia,  uma doença recessiva rara que causa daltonismo total. Alguns dados estimam que ela afeta  um a cada trinta e três mil americanos e é transmitido por um em cada cem.
Num cenário hipotético apocalíptico em que uma pessoa do nosso casal  sobrevivente tivesse a variante, há uma chance em quatro de seu filho ter uma  cópia. O que pode não parecer um número tão ruim. Mas depois de apenas uma  geração de incesto, o risco dispara.
Agora existe uma probabilidade em quatro  do seu filho ter duas cópias. Essa é uma chance em dezesseis de que o primeiro neto do casal original  tenha as duas cópias da mesma variante do gene, e assim surge a doença da acromatopsia. Mas pelo menos esse gene recessivo não é letal, é só um problema na visão.
E o que é interessante disso nem é esse num é nem um cenário hipotético, isso  realmente aconteceu! No século dezoito, um tufão varreu a ilha de Pingelap, no oeste do  Pacífico, deixando apenas vinte sobreviventes. Um deles portador da acromatopsia.
O resultado  disso é que hoje, um décimo da população da ilha é totalmente daltônica. Bizarro demais. Isso acontece por que, em situações de gargalo, aumenta a possibilidade da ocorrência de  um fenômeno chamado de “efeito fundador”.
Que é quando um pequeno grupo fica isolado da  população geral, permitindo que características, às vezes prejudiciais, tornem-se mais  frequentes devido às restrições genéticas impostas pela chamada “população fundadora”. Esse fenômeno também já foi observado mais recentemente em outras populações  isoladas, como os Amish da Pensilvânia, onde a polidactilia é bem frequente. Considerando esses riscos, a esperança seria de que, se os sobreviventes  tivessem uma prole grande suficiente, haveria a possibilidade de pelo menos alguns serem  saudáveis.
E talvez esses genes e enfermidades voltassem a ser menos frequentes de novo. Mas  se a endogamia persiste por centenas de anos, uma hora encontraremos problemas bem sérios. E a gente nem precisa ir até cenários apocalípticos e ilhas isoladas  para observar esse tipo de fenômeno acontecendo.
Basta olhar pra realeza européia Carlos Segundo, também chamado de Carlos, “O Enfeitiçado” talvez seja o caso mais  famoso. Carlos foi o último monarca espanhol da casa de Habsburgo. Ele era portador de  sérias limitações físicas e neurológicas.
Só começou a falar aos quatro anos de  idade, e a andar aos oito anos. Além disso, o rei era frequentemente atingido por ataques  muito fortes de enxaqueca, epilepsia e doenças mal curadas como gripe. Inclusive existia uma crença  popular atribuía essas coisas a uma maldição.
Sendo que a “maldição” nada mais era do  que a cultura familiar dos Habsburgo, que realizou nove gerações de casamentos  estratégicos entre primos, tios e sobrinhas em apenas duzentos anos. Como é o que você pode ver  aqui em mais detalhes nesse outro vídeo do canal. Em dois mil e nove, um grupo de cientistas  espanhóis estudou o caso a fundo.
A linhagem de Charles era tão emaranhada que seu  "coeficiente de endogamia" — que é um número que indica a proporção de genes herdados  que seriam idênticos de ambos os pais — era mais alto do que se ele tivesse nascido de  irmãos. O maluco era quase uma autofecundação. Mas voltando ao nosso cenário  apocalíptico hipotético, mesmo que a nossa espécie conseguisse o feito  de repovoar a terra com apenas duas pessoas, poderíamos ficar totalmente irreconhecíveis.
Quando pequenos grupos de indivíduos permanecem isolados durante muito tempo, o efeito  fundador é amplificado, gerando uma perda na diversidade genética que aumenta as  peculiaridades genéticas de uma população. A população ficaria cada vez mais parecida entre  si. Os “novos humanos” não apenas pareceriam e soariam diferentes do que são hoje, como  poderiam ser uma espécie totalmente diferente.
Ou seja, biologicamente pode ser até  possível duas pessoas repovoarem a terra, mas isso teria um custo muito alto pra  humanidade. Mas sendo mais realista, digamos que na prática isso jamais iria acontecer. Tá, mas se com duas pessoas não daria certo, quantas pessoas seriam  necessárias pra repovoar a terra?
Essa é uma discussão que vem desde os  anos oitenta. Foi feito um consenso de que são necessários cinquenta indivíduos  reprodutores para evitar a depressão por endogamia e pelo menos quinhentos para  que uma população possa se adaptar. Essa regra ainda é aplicada atualmente, mas  foi ajustada para algo entre quinhentos e cinco mil para levar em consideração perdas  aleatórias quando os genes são transmitidos de uma geração para a seguinte.
No entanto, antes de descartar completamente a hipótese do nosso casal,  devemos lembrar que somos evidências vivas das falhas inerentes a esse conceito. Com base em evidências anatômicas e arqueológicas, nossos ancestrais não teriam alcançado esses  alvos populacionais, com apenas mil indivíduos existindo há quase um milhão de anos. E entre cinquenta e cem mil anos atrás, enfrentamos outra fase desafiadora quando  nossos antepassados migraram para fora da África.
Como era de se esperar, isso resultou  em uma notável baixa diversidade genética nos grupos que saíram. Mas ainda assim, superamos  e prosperamos até chegar onde estamos hoje. Mas existe ainda um outro motivo pelo qual  buscamos esse número mágico de repopulação.
E não tem muito a ver com entender nosso  passado, mas sim com nos preparar para o futuro. Estamos em uma rocha gigante flutuando  pelo espaço. Somos mais vulneráveis do que imaginamos.
Asteróides, buracos-negros, tempestade  solar. Existem muitos fenômenos astronômicos que podem acabar com tudo num piscar de olhos. Além, é claro, do fato de estarmos diariamente esgotando nosso planeta de seus recursos naturais. 
Podemos viver assim por alguns muitos anos ainda, mas eventualmente a conta vai chegar. Por isso, um dos trabalhos da astronomia moderna tem sido o de localizar planetas  com condições semelhantes que possam perpetuar a nossa espécie e dar continuidade às  centenas de milhares de anos de nossa história. Poderíamos salvar a nossa espécie enviando uma  arca espacial para um novo lar, como “Battlestar Galactica” ou o filme “Passageiros”.
Será? Aquela velha ideia da ficção científica de montar colônias fora da Terra parece cada vez  menos absurda. Mas ainda assim vamos botar de lado todas as questões logísticas e  pragmáticas de engenharia de viagens interestelares.
Vamos pensar num aspecto básico  desse tipo de colonização. A sua tripulação. Frédéric marin, astrofísico da Universidade de  Estrasburgo tem analisado bastante o aspecto biológico dessa epopéia.
Quantos tripulantes  seriam necessários para uma viagem interestelar que poderia durar dezenas de gerações? Qual  é o número mínimo de pessoas necessárias para entregar e plantar com sucesso uma população  autossustentável de Homo sapiens em outra Terra? Quando não estava simulando  galáxias e buracos negros, Marin desenvolveu um software de computador que  imita o avanço de uma população em reprodução.
Depois ele usou o programa, chamado de  Heritage, para reproduzir os desafios que uma população de viajantes espaciais poderia  enfrentar. Ele abordou aspectos como os efeitos da endogamia e eventos catastróficos, como  uma pandemia mortal ou a colisão com objetos celestes. Até que ele fez uma descoberta!
Noventa e oito. Esse foi o número mágico que Marin estimou. Seriam necessárias apenas  noventa e oito pessoas saudáveis ​​para operar uma arca interestelar ao longo de muitas  gerações para estabelecer uma população saudável - sem endogamia - em outro mundo.
Esse número é válido mesmo para o seu caso de teste de uma missão na arca  espacial que dura mais de SEIS MIL anos. Assim, mesmo que milhares de milhões de  humanos fossem exterminados por alguma catástrofe, desde que um grupo adequado de  menos de cem pessoas sobrevivesse e fosse capaz de acasalar, eles poderiam transportar  diversidade genética suficiente para propagar a espécie e reconstruir a população. No entanto, o antropólogo Cameron Smith, da Universidade Estadual de Portland, sugere  uma tripulação mínima um “pouquinho” maior.
Cerca de catorze mil indivíduos. Ele argumenta que  a abordagem de Marin não lida com as complexidades do mundo real, se baseando em condições ideais. Smith baseia seu cálculo na demografia de populações reais na Terra, enfatizando que  mesmo sociedades de caçadores-coletores, que geralmente têm cerca de cem pessoas,  interagem e têm descendência com grupos vizinhos.
Smith considera que catorze mil é uma população  modesta para garantir a sustentabilidade da espécie. Ele diz que uma catástrofe que elimine  setenta por cento da população pode perturbar a estrutura demográfica, tornando difícil encontrar  parceiros adequados para o acasalamento. Ele destaca a colonização do Pacífico Sul como um  exemplo intrigante, apontando que os polinésios, ao povoarem as ilhas gradualmente, se  beneficiaram de terras abundantes e da chegada contínua de migrantes para manter a  sociedade em funcionamento.
Essa dinâmica, segundo Smith, não seria replicável por  viajantes extraterrestres em trânsito. Apesar das divergências, Smith e Marin concordam  em uma coisa: é hora de começar a pensar sobre estas questões. Não importa quão abstratas elas  pareçam ou quantos séculos possam passar antes que os humanos sejam capazes de construir  uma nave estelar.
Precisamos nos preparar! Marin está trabalhando em uma versão atualizada  do seu software Heritage, que levará em conta os efeitos da radiação e das mutações genéticas,  além das necessidades alimentares de vários tipos de populações. Já Smith está interessado  em examinar quais culturas se saíram bem em situações de crise e em criar uma espécie  de catálogo de estratégias de sobrevivência.
E esses projetos são importantes pra duas coisas.  Tanto para uma nave estelar quanto pra gestão de crises enquanto ainda estivermos por aqui. É fácil pensar que a nossa espécie parece ser indestrutível.
Mas quando Smith considera  as civilizações passadas, enfatizando a taxa de falha de noventa e nove por cento das  civilizações, incluindo os astecas, incas, maias e gregos, aí a coisa parece mais frágil. Apesar de o colapso de populações e culturas específicas não serem equivalentes ao colapso  de uma espécie inteira, Smith tem um argumento pertinente. O de que, do ponto de vista  evolutivo, a taxa de extinção das espécies na Terra é ainda maior, superando os noventa e  nove por cento.
Beirando ali os cem por cento. Para Smith, a ideia de que 'a Terra está  em chamas, temos que sair daqui' é uma má motivação. Devemos resolver nossos problemas  aqui.
Mas, ao mesmo tempo, podemos fazer planos responsáveis ​​para apoiar a civilização. Ele acha que os cientistas deveriam explorar a história para compreender como as pessoas se  adaptaram às crises passadas e depois aplicá-las às crises de hoje, às colônias de Marte de amanhã  e às naves estelares de um futuro mais distante. A alternativa pode ser assustadora. 
Como escreveu H. G. Wells “é o universo ou nada”.
Por que se permanecermos na Terra,  uma coisa é quase certa: eventualmente seremos extintos. Nem uma e muito menos duas pessoas  restarão e assim não poderemos repovoar nada.
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