[Música] Com a resposta católica de hoje, gostaríamos de responder à pergunta da Rafaela, que quer saber o que fez Jesus durante a sua vida oculta. A Rafaela foi questionada por um amigo, que perguntou a ela o que Jesus fez dos 12 anos de idade até o início da sua vida pública, aos 30 anos, e por que não consta na Bíblia nenhum registro a respeito desta época. Veja, Rafaela, de fato, a Bíblia não nos fala do que aconteceu nesta época e neste período da vida de Jesus.
No entanto, exatamente por causa desta falta de informação, vários teóricos começaram a pensar umas respostas, às vezes um pouco estapafúrdias, a respeito do que Jesus teria feito nesses anos. Algumas pessoas criaram teorias de que Jesus teria ido para a Índia, para ali aprender na escola dos grandes sábios aquilo que depois seria a sua pregação. O que está por trás dessas teorias?
O que está por trás é o escândalo, o escândalo muito compreensível de Nazaré. Nazaré é uma pedra de tropeço ainda hoje para muitas pessoas, para aqueles que têm fé e para aqueles que não têm tanta fé assim. É exatamente aquela pergunta de Natanael no final do primeiro capítulo do Evangelho de São João: Natanael perguntou: "De Nazaré pode sair algo de bom?
" (João 1, versículo 46). Ou seja, existe uma desproporção. A desproporção nós poderíamos colocar nos seguintes termos: se você não tem fé, ou seja, se você não crê que Jesus seja realmente Deus que se fez homem, mas você acha que Jesus é um profeta, um iluminado, um grande sábio, um grande líder religioso da humanidade, pois bem, se você não tem fé, existe uma desproporção entre causa e efeito.
Nazaré, uma vilinha humilde, um nada, como é que de lá pode surgir um sábio tão grande? Então, as teorias começam a imaginar. E daí vem as várias cavilas a respeito de Jesus que teria aprendido.
Ou seja, o efeito daquilo que é a pregação e o ensinamento à sabedoria de Cristo deveria vir de algum lugar. Esse algum lugar não podia ser Nazaré. Então, vamos ter que inventar teorias, inclusive que Jesus teria sido levado para viagens espaciais por objetos voadores não identificados, os alienígenas e companhia limitada, todo tipo de maluquice, simplesmente para não aceitar que de Nazaré pudesse sair algo de bom.
Muito bem, mas existe também um outro escândalo: o escândalo daqueles que têm fé, aqueles que creem de fato que Jesus é Deus que se fez homem. Portanto, não há aqui um problema de causa e efeito, porque de fato, se Jesus é o filho de Deus, não há por que tentar explicar com outras teorias a sua sabedoria; ele já a trouxe do alto, já trouxe daquilo que ele viu nos céus. Muito bem, mas o escândalo daqueles que têm fé está exatamente no fato do desperdício.
Jesus parece ter desperdiçado 30 anos de vida, o mundo aí precisando ser salvo e o Salvador fazendo cadeiras, mesas, portas e trabalhando, no fundo, em uma carpintaria, humildemente, mudo e silencioso, sem nada dizer, de tal forma que, quando finalmente, 30 anos depois, ele abriu a boca, os próprios habitantes de Nazaré foram os primeiros escandalizados, dizendo: "De onde vem essa sabedoria? Não é esse o filho de José, o carpinteiro? Não é Jesus, o filho do carpinteiro?
" Filho de Maria, Maria, filho de José, um escândalo! Nós, no entanto, vemos neste escândalo uma grande luz. São José Maria Escrivá, fundador do Opus Dei, fez uma homilia extraordinária no ano de 1963, foi dia 24 de dezembro de 1963.
Essa homilia está contida num dos seus livros chamado "É Cristo que passa", no "É Cristo que passa", número 14. Nós podemos ler o seguinte: "Por muito que tenhamos pensado nessas verdades, devemos encher-nos sempre de admiração ao pensar nos 30 anos de obscuridade que constituem a maior parte da passagem de Jesus entre seus irmãos, os homens. " Olhem essa frase que vem agora: "Anos de sombra, mas para nós claros como a luz do sol.
" Aqueles anos de Nazaré são luminosos. Continua o santo: "Resplendor que ilumina os nossos dias e lhes dá uma autêntica projeção, pois somos cristãos correntes com uma vida vulgar, igual a tantos milhões de pessoas, nos mais diversos lugares do mundo. " Vejam, São José Maria nos coloca aqui diante desta verdade: que, ao viver a vida ordinária, a vida comum do dia a dia de milhões de pessoas, Jesus iluminou a vida desses milhões de pessoas.
Que Deus, o criador do universo, que Deus, o criador das galáxias, criador dos anjos, o sábio dos sábios, o onipotente, que Deus, luz da luz, tenha se transformado em uma pequena vela bruxo na noite de uma vilazinha no interior da Palestina, na periferia do mundo. Isso, para nós, parece um escândalo, mas, na verdade, é um grande farol, um farol que ilumina e que diz: "Veja, sua vida tem uma dignidade. " A vida que você vive, trabalhando, pagando suas contas, preocupado e no seu trabalho do dia a dia, tudo isso é para você fonte de grande santificação, porque o Santo veio viver esse tipo de vida.
São Josemaria Escrivá fez esta homilia no dia 24 de dezembro de 1963. Doze dias depois, com uma sincronia extraordinária, o Papa Paulo VI estava em Nazaré, no dia 5 de janeiro de 1964. Ali, o Papa estava entre a segunda e a terceira sessão do Concílio Vaticano II.
Ele foi à Terra Santa e ele fez aquele famoso discurso em Nazaré, discurso que a Igreja, todos os anos, coloca nas nossas mãos na Festa da Sagrada Família, na Liturgia das Horas. O Papa Paulo VI nos recorda as três lições de Nazaré: primeiro, uma lição de silêncio; segunda, uma lição de vida familiar; e terceira, uma lição de trabalho. Silêncio, ou seja.
. . A palavra de Deus se fez carne e, silenciosamente, viveu em Nazaré.
Saber ouvir, saber viver como aquele que escuta Deus. Jesus, sim, é a palavra de Deus, mas Ele viveu anos em Nazaré escutando, escutando as coisas do seu Pai. A segunda realidade é a vida familiar, que foi infinitamente dignificada quando Jesus viveu na família de Nazaré.
Na obediência, Jesus era-lhes submisso, e assim mostrando aquela submissão, aquela obediência que depois ele irá realizar de forma extraordinária no Getsêmani, no hortus de Oliveira e na Cruz. E Jesus, como trabalhador, nos dá uma lição de trabalho: um trabalho que não é um castigo do pecado, como bem intuiu São José María Escrivá ao ler o livro do Gênesis. Ele viu que, mesmo antes do pecado original, Deus havia colocado o homem no paraíso para cultivar o jardim.
Portanto, o trabalho não é somente um castigo do pecado original; ele já estava lá, no projeto divino, desde o início: o homem como cocriador, o homem que participa da Criação Divina. Tudo isso Jesus nos ensina e, portanto, o silêncio de Nazaré torna-se eloquente. O silêncio de Nazaré torna-se mais do que um discurso; torna-se vida que nos dá a vida.
Por isso, não nos preocupemos, não nos preocupemos em tentar explicar este mistério do desperdício. Jesus não se desperdiçou na sua vida de Nazaré, assim como você não está desperdiçando sua vida, vivendo a fidelidade a Deus no dia a dia, na sua vida ordinária, no seu trabalho, na sua Nazaré.