Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém. Inspirai, Senhor, as nossas ações e ajudai-nos a realizá-las, para que em vós comece e para vós termine tudo aquilo que fizermos.
Por Cristo, Senhor nosso. Amém. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós.
Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém. Muito bem, estamos aí juntos novamente.
Gostaria de deixar esta gravação no lugar da nossa programação normal de segunda-feira, que seria o programa ao vivo, como eu não vou estar em Cuiabá nessa segunda-feira. Então, quero deixar alguma coisa para vocês e uma espécie de reflexão. Mais do que uma aula ou um tema bem desenvolvido, é quase que uma reflexão pública.
Pensar assim, por que é que eu sou católico? Por que é que eu não aceitaria de jeito nenhum ser protestante? Bom, veja, na realidade, eu quero deixar uma coisa bem clara desde o início: os evangélicos protestantes, nesse mundo em que nós vivemos, são nossos aliados políticos.
Isso quer dizer o seguinte: que, diante de um mundo que quer destruir o cristianismo, nós nos unimos com os evangélicos protestantes, porque é evidente, ou a gente se une ou nós vamos ser uma minoria desarticulada. E nas lutas em favor da vida, por exemplo, nós estamos inclusive até junto com outras pessoas de outras religiões de boa vontade, como os espíritas, os muçulmanos também, que são contra o aborto e companhia limitada. Bom, só para dizer que não se trata de uma declaração de guerra, ou dizer: “Nossa, como os protestantes são horríveis”, não sei o quê, nada disso.
É simplesmente uma tentativa de responder, até para mim mesmo, aquilo que São Pedro coloca na Primeira Carta, ele diz assim: “Estejais prontos para dar a quem vos perguntar a razão da vossa esperança”. Então, a pergunta é, por que é que eu estou na Igreja Católica, louvo a Deus por estar na Igreja Católica e vejo que é uma tremenda perda uma pessoa sair da Igreja Católica? Essa reflexão me foi colocada assim à queima-roupa.
Eu estava com a família em um almoço e a mãe da família veio dizer que a mãe dela, ou seja, a avó, havia se decidido de voltar para a igreja evangélica. Veja, essa senhora, eu mesmo, tinha admitido a Igreja Católica, tinha ouvido a primeira Confissão dela, ela era evangélica, entrou na Igreja Católica, passou um tempo na Igreja Católica e não se adaptou. Lá na cidade onde ela mora, achou que o ritual católico era muito parado, assim, na igreja evangélica as coisas eram mais agitadas e ela não se sentia muito bem dentro da ritualística católica.
O fato é que ela, então, rezando, disse, Deus está pedindo para eu voltar para a igreja evangélica e voltou, voltou para a igreja evangélica, está frequentando uma igreja não denominacional, etc. Então, essa senhora deu esse passo e a filha veio me perguntar, a filha com a qual eu estava almoçando, disse: “Padre, Deus pode pedir isso para uma pessoa? Deus pode pedir que uma pessoa saia da Igreja Católica e vá para a igreja evangélica?
”. Claro que a senhora que estava me perguntando isso, ela é católica, mãe de família. Então, não sei se vocês entenderam a geografia da coisa, ou seja, eu estava almoçando com uma mãe de família, cuja mãe, ou seja, a avó, voltou para a igreja evangélica, mas essa mulher com a qual eu estava conversando, ela é católica.
Bom, eu respondi para ela, olha, pode ser que eu esteja muito enganado, mas eu tenho plena certeza que Deus não pediria que uma pessoa fosse para a igreja evangélica. E a razão é muito simples, os evangélicos jogaram fora todo o sistema sacramental salvífico deixado por Nosso Senhor Jesus Cristo. Veja, como é que aconteceu a revolução evangélica quinhentos anos atrás?
Em 1517, digamos assim, é a data, é o marco, então daqui a dois anos nós vamos comemorar exatos quinhentos anos da revolução evangélica. O que é que aconteceu? Aconteceu o seguinte, veja, naquela época a Igreja Católica tinha uma corrupção moral bastante acentuada na hierarquia.
O Papa era corrupto, muitos bispos eram corruptos, muitos padres eram corruptos. Então, o que é que acontece? Dentro da Igreja Católica, o que é que nós temos?
Nós temos todo um sistema sacramental, os sete Sacramentos, que a gente não recebe diretamente de Deus, é necessário que haja ministros que administram os Sacramentos. Então, os Sacramentos são uma forma que Nosso Senhor Jesus Cristo nos deu de presente para que nós pudéssemos receber a graça salvífica através desses Sacramentos. Mas o fato é que estes Sacramentos são administrados, existe ali no meio, existe a realidade dos ministros.
Por quê? Noves fora o Batismo, que todo mundo pode administrar, os outros Sacramentos eu preciso de um ministro para administrar. E estes ministros, pecadores, corruptos, escandalizavam as pessoas.
Eu não estou negando aqui o pecado de papas daquela época. Nós temos daquela época o escandaloso Papa Alexandre VI, que teve vários filhos e filhas, inclusive com mulheres diferentes. Uma coisa que a gente só pode se envergonhar e dizer: “Meu Deus, misericórdia”.
Então, de repente, está lá. Nós temos essa série de ministros corruptos, corrompidos moralmente, que são o canal da graça imaculada de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ora, isso foi um escândalo para muitas pessoas.
Muitas pessoas tropeçaram nesta pedra, ou seja, esses papas, bispos e padres foram pedra de tropeço. E então, foi bolado um sistema teológico, onde tudo isso daqui foi considerado como sendo obra humana. As obras não salvam.
O que é que salva? Ah, para eu receber a graça, é necessário uma coisa só, a fé. Então, eu tenho a fé e é da fé que eu recebo a graça.
Inclusive, o Batismo, para muitos destes revolucionários protestantes, não realizava nada. Até mesmo o único Sacramento que restou, que ainda era considerado por Lutero, etc. , houve revolucionários protestantes que levaram ao extremo e disseram, não, o Batismo, nem o Batismo transmite a graça.
Nenhum Sacramento transmite a graça. Só o que transmite a graça é a fé. E o Batismo não faz nada, o Batismo simplesmente é uma manifestação pública da sua fé e é a fé quem salva e não o Batismo.
Por isso, é impossível o Batismo de crianças. Por quê? Porque a criança não tem fé e se a criança não tem fé, aquele Batismo não significa nada.
Porque, na verdade, o que salva não é o Batismo, o que salva é a fé. Então, vejam que o sistema sacramental foi todo retirado e agora eu tenho um canal direto com Deus e eu não preciso mais dos ministros. Tanto que o que é um pastor para os evangélicos protestantes?
É simplesmente um funcionário do povo. O pastor não tem nenhum poder, ele não tem nenhuma graça sacramental a mais, ele é simplesmente um leigo igual aos outros que presta um serviço porque é contratado pela comunidade para prestar um serviço. Ora, assim sendo, você se isenta, você sai dessa coisa incômoda de ter que receber a graça através de instrumentos inadequados e você então liga diretamente com Deus o seu relacionamento.
Veja, de fato, digamos assim, resolve o problema teológico, mas não resolve o problema que é o fato de que durante dois mil anos, se você for olhar lá desde os Santos Padres, a Igreja tem um sistema sacramental. Ou seja, o que é que eu falo de sistema sacramental? É o seguinte, no Antigo Testamento não havia Sacramentos.
Depois, quando Jesus voltar na segunda vinda, não vai ter mais Sacramentos. Nós vivemos agora, entre a primeira vinda de Cristo e a segunda vinda, nós vivemos o tempo da Igreja e esse tempo da Igreja tem Sacramentos. E o que é que são esses Sacramentos?
Esses Sacramentos são a forma que Jesus nos deu de a salvação que veio pela cruz ser aplicada em nossas vidas, ou seja, do peito aberto de Cristo na cruz brotou sangue e água. Esse sangue e água são símbolos dos Sacramentos. A água é o Batismo, que é o Sacramento inicial, é a porta de todos os Sacramentos, e o sangue, que é símbolo da Eucaristia, que é o maior de todos os Sacramentos.
Então o primeiro e o maior de todos os Sacramentos estão lá na cruz de Cristo. Então nós podemos dizer que da cruz de Cristo brotam sete rios, os sete Sacramentos, que são a forma de eu aplicar na minha vida a salvação que veio da cruz de Cristo. É isto que a Igreja sempre viveu durante dois mil anos.
E isto daqui não tem como dizer que não está no Novo Testamento, na Bíblia, porque está de fato. Quando você lê o capítulo 6 do Evangelho de São João, que Jesus pede para nós comermos a sua carne e bebermos o seu sangue, e com isso nos promete ressurreição e vida eterna. Como é que você explica o capítulo 6 de São João?
Como é que você explica que não somente o capítulo 6 de São João, mas a Igreja desde os seus primórdios viveu constantemente a liturgia eucarística, crendo verdadeiramente que ao celebrar a Eucaristia estava recebendo o Corpo e o Sangue de Cristo verdadeiramente? Pegue os Santos Padres, leia os Padres da Igreja, os autores dos primeiríssimos séculos, numa época em que não havia nem ainda o cânon da Bíblia definido, a Igreja já vivia a liturgia da Eucaristia. Como é que a gente pode ler a Bíblia e não se dar conta de que no capítulo 20 de São João, Jesus diz aos Apóstolos: “A quem perdoardes os pecados serão perdoados, a quem não perdoardes não serão perdoados”.
Veja, os sinais claros de Sacramentos na Bíblia. “Ide pelo mundo inteiro, batizai”, diz as últimas palavras do Evangelho de Mateus. Ou a Carta de São Tiago que diz: “Alguém está doente entre vós, chame um presbítero.
A unção e a oração irão livrar as pessoas daquele pecado”, dos seus pecados. Como não ver na Bíblia, por exemplo, nas cartas pastorais de São Paulo, em que ele exorta Tito e Timóteo a permanecerem firmes na graça que eles receberam na imposição das mãos, que é a ordenação sacerdotal. Como não enxergar o Sacramento em Efésios, quando São Paulo fala da relação entre o homem e a mulher e diz: “É grande este Sacramento e eu falo de Cristo e da Igreja”.
Quer dizer, se você for olhar a Bíblia, tem lá todos os fundamentos dos sete Sacramentos. Aí você vai e olha os primeiros séculos e você vê a Igreja vivendo os sete Sacramentos. Agora, depois por causa de um incômodo histórico, que no século XVI a Igreja estava com a hierarquia tão corrompida, que você chega e diz: “Ah, não vou receber os Sacramentos das mãos desses caras não.
Não quero saber. Eu quero direto de Deus”, quer dizer, você está, na verdade, inventando uma nova igreja. Então, eu não posso concordar que uma pessoa deixe a Igreja Católica e abandone o sistema sacramental de dois mil anos, simplesmente porque lá se celebra um culto que é mais legal.
Eu não posso achar que isso é de Deus. Por quê? Porque esta pobre mulher que agora vai viver na igreja evangélica, embora tenha sido recebida na Igreja Católica, se confessado, etc.
, etc. , como é que ela vai agora receber o perdão dos pecados dela? Eu perguntei para a senhora lá, que estava almoçando comigo, eu disse, como é que nós podemos receber o perdão dos pecados sem a Confissão?
Só tem um jeito para você receber o perdão dos pecados sem a Confissão. É você ter um ato de contrição perfeita, mas o ato de contrição perfeita é uma coisa muito rara. É uma graça muito especial de Deus e você não pode garantir que as pessoas vão receber isso.
Aí ela chegou e disse assim: “Mas, Padre, eu nunca ouvi falar disso. Eu nunca ouvi falar que eu preciso de um ato de contrição perfeita para perdoar os meus pecados. Onde é que isso está escrito?
”, não, veja, é a própria natureza das coisas, a pergunta é invertida. A pergunta não é, como é que eu vou ser perdoado por um ato de contrição perfeita. A pergunta é a seguinte, como é que nós, não tendo um ato de contrição perfeita, podemos ser perdoados?
Porque o que é um ato de contrição imperfeito? Um ato de contrição imperfeito é quando eu me arrependo dos meus pecados, mas não por puro amor a Deus. Eu me arrependo dos meus pecados por medo do Inferno, eu me arrependo dos meus pecados porque eu quero ir para o Céu, a recompensa do Céu, me arrependo dos meus pecados por várias razões que não são um puro amor por Deus.
A contrição perfeita é eu me arrepender dos meus pecados porque os meus pecados ofenderam a Deus e eu tenho tanto amor por Deus que eu digo, Senhor, mesmo que não houvesse Céu, mesmo que não houvesse Inferno, mesmo que não houvesse tempo, eu me arrependo de vos ter ofendido. Essa é a contrição perfeita e este ato sincero que sai do coração é uma coisa muito rara. Mas é somente este ato de contrição perfeita que é verdadeiro amor puro, santo, digamos assim, não maculado.
É este ato de amor que nos leva ao perdão dos pecados, não é? Mas a maior parte de nós não tem isso. A maior parte de nós é como o filho pródigo.
O filho pródigo quando começa a comer comida de porco, ele chega e diz, na casa dos meus pais os escravos estão melhores. E ele se levanta inicialmente não tanto por amor ao pai, mas por amor à sua própria pele, porque ele está sofrendo. Agora, Deus não despreza este amor imperfeito e, através do Sacramento da Confissão, Deus vem então ao nosso encontro.
Na parábola do filho pródigo, o filho por aquela contrição imperfeita, ele vem na direção de Deus, do pai. Mas o pai vai na direção do filho também e este ir do pai na direção do filho pode simbolicamente ser entendido como o Sacramento da Confissão, onde Deus vem ao nosso encontro e Ele nos dá essa possibilidade de nós sermos perdoados, mesmo que a nossa contrição seja um pouco claudicante, um pouco manca. Então, somente a graça do Sacramento é que pode, digamos assim, superar as imperfeições da nossa contrição.
Então, a pergunta é a seguinte, como é que eu posso estar de acordo que esta pobre mulher saia daqui da Igreja Católica, vá para uma igreja evangélica, porque ela se sente melhor lá naquele culto, se sente mais acolhida, se sente mais em casa, enquanto na paróquia católica a acolhida é fria, ela é anônima, ninguém sabe quem ela é, a Missa não tem tanta emoção. Como é que eu posso estar de acordo quando depois esse bem-estar que ela sente no culto protestante não vai dar a ela os Sacramentos, os meios seguros de receber a graça? Eu não estou dizendo que a graça de Deus não possa operar uma igreja evangélica.
Claro que a graça de Deus pode operar, porque o Espírito sopra onde quer e as fronteiras da graça de Deus não estão restritas ao sistema sacramental. Nós sabemos disso, senão ninguém se converteria. Quando um pecador se converte, ele é pagão, nunca foi batizado, ouve o Evangelho e se converte, a graça está lá, senão ele não se converteria, mesmo antes dele ser batizado.
Mas a pergunta fundamental é outra, chegar a dizer, não é que eu esteja negando que a graça esteja lá. A graça opera também nas igrejas evangélicas, mas não há graça segura. O sistema sacramental nos dá a graça segura, o meio eficaz e certo de receber a graça.
E, portanto, eu não posso ficar confortável com a ideia de que uma pessoa vá lá para aquela outra igreja onde ela não vai ter a graça sacramental. Na hora da morte, quem é que vai dar a ela a absolvição? Na hora da morte, quem é que vai dar a ela a indulgência plenária?
Na hora da morte, quem é que vai dar a ela a Unção dos Enfermos? Na hora da morte, quem é que vai dar a ela o viático, a Comunhão, que é o pão que nos leva para essa nossa viagem para o Céu? Então, por que é que eu sou católico?
Por várias razões, inúmeras razões, mas uma delas, que é o que eu quero apresentar aqui, nessa minha espécie de reflexão, de pensamento, é que aqui, nesta Igreja, onde nós, padres, somos tão pecadores e miseráveis, nós temos a mão chagada do Cristo, ressuscitado, que se ergue para dizer: “Eu te absolvo dos teus pecados”. Nesta Igreja, Igreja Católica, eu tenho o Cristo que, mais uma vez, toma o pão e toma o vinho e diz: “Isto é o meu Corpo, isto é o meu Sangue”, e são de verdade, é de verdade o Corpo e Sangue de Cristo ali presentes. Nesta Igreja de Cristo, os bispos transmitem o poder que receberam dos Apóstolos ao longo dos séculos, dois mil anos.
Esta é a Igreja de Cristo, esta é a Igreja que celebra os Sacramentos e que distribui em nossas vidas as graças, as graças que vêm da cruz de Cristo. Então, Cristo nos salvou na cruz? Sim.
A fé, ela é suficiente para salvar uma pessoa sem o sistema sacramental? Veja, em teoria hipotética, sim, porque a graça pode operar pela fé, mas na realidade histórica das coisas, o que a gente vê é que uma fé que realize em uma pessoa um tal ato de contrição, de amor e de confiança, de amor perfeito por Deus, que queime, digamos assim, todos os pecados e abre a porta dos Céus, é uma coisa muito rara. É por isso que nós precisamos do sistema sacramental.
Então, é um pouco essa a minha reflexão. Eu não queria que os evangélicos que ouçam essa reflexão se sintam ofendidos, mas é um pensamento muito honesto, muito sincero e transparente de quem responde, diante de Deus, por que é que eu sou católico. Eu sou católico porque eu sei que aqueles homens pecadores, papas, bispos e padres, transmitem uma graça imaculada e incontaminada, porque eu creio, eu creio na ação do Cristo ressuscitado e invisível na sua Igreja de dois mil anos.
Deus abençoe você, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.