“Seria um desgraçado aquele que, depois de haver combatido com as armas da guerra o inimigo externo, pusesse depois essas mesmas armas ao serviço do despotismo, de perseguições e violência contra seus compatriotas”, declarou o nobre general Osório, que tendo falecido em agosto de 1879, já sabia bem dos riscos tremendos de uma traição interna perpetrada pelo exército. No entanto, isso não era mais uma possibilidade, pois sim, em 15 de novembro de 1889, o império caiu, e depois de 389 anos de monarquia, o Brasil, assim como nossos vizinhos, havia se tornado mais uma republiqueta. Tendo agora expulsado o
imperador do país, em teoria, os golpistas tinham o poder em suas mãos, contudo, como eles mesmo sabiam, era um poder impermanente e frágil, que tal como uma casa em ruínas, poderia desmoronar com um golpe certeiro. Portanto, era imprescindível o esmagamento de seus adversários. Isso se evidenciou quando o imperador recusou os termos do decreto número 2, de 16 de novembro de 1889, no qual o governo da república concedia a fortuna de 5 mil contos de réis à Família Imperial, e ainda fez chegar à imprensa essa negativa. Esse ato enraiveceu os golpistas, que emitiram o Decreto número
78-A, que para além da revogação do Decreto número 2, também bania a Família Imperial do território nacional, proibindo-a de possuir bens no Brasil e obrigando-a a liquidar com todos eles num prazo de dois anos. Aparentemente, isso deveria ser o suficiente para esmagar qualquer tipo de oposição dos monarcas, e causar temor em todos que ousassem reagir contra Deodoro e seus cúmplices. Mas não foi o suficiente. A bem da verdade, tirando poucas centenas de traidores, a monarquia ainda era tremendamente popular, inclusive entre militares do Exército, ao passo que incontáveis militares, por se sentirem usados pelos seus superiores
no dia 15 de novembro, resolveram reagir. Uma dessas reações ocorreu já no dia 18 de novembro, a chamada Revolta do Desterro, quando 42 praças, liderados pelo cabo Pedro Duarte, sublevaram-se contra seus superiores, marchando pela cidade dando vivas à monarquia. Contudo, rapidamente os golpistas reagiram, liderados pelo capitão Firmino Lopes Rego, do Vigésimo Quinto Batalhão de Infantaria, resultando na morte de até 3 militares monarquistas, que após um breve combate, foram presos, não sendo executados por Deodoro unicamente por pedidos de Rui Barbosa. Um mês depois, em 18 de dezembro, os oficiais do Segundo Regimento de Artilharia de Campanha,
localizado no RJ, partiram para a despedida do cruzador Almirante Cochrane, e naquela mesma noite, dezenas de praças deste mesmo batalhão, que por desconhecimento, tinham participado do golpe republicano, insurgiram-se contra o governo estabelecido, saindo do quartel empunhando uma bandeira imperial, dando vivas a D.Pedro II e levantando barricadas para se defender. Após um tiroteio que durou cerca de meia hora, os monarquistas foram presos, saindo algemados do quartel às 23:30 da noite. 58 deles foram levados para o quartel-general, onde chegaram depois da meia-noite para serem recolhidos pelo Primeiro Batalhão de Infantaria. Imediatamente após o fim da revolta, o
Segundo Regimento de Infantaria foi ocupado por alunos da Escola Militar e da Escola Superior de Guerra, a chamada Brigada Acadêmica, e como na revolta anterior, o sanguinário Deodoro só não executou imediatamente todos os homens por ter sido dissuadido. Porém, sua vingança não tardou. O governo golpista instituiu a chamada Comissão Militar de Sindicâncias e Julgamentos, presidida pelo general José de Almeida Barreto, grupo esse responsável por expulsar do exército todos os praças sublevados, bem como outros oficiais. Tomados de paranoia, os golpistas prenderam o comandante do regimento, tenente-coronel Costa Guimarães, que foi mantido incomunicável e teve sua casa
vasculhada. Em seguida, inúmeros antigos membros do regime monárquico, tais como o desafeto de Deodoro, Silveira Martins, foram interrogados e presos, e como ato final de delírio autoritário, em 21 de dezembro, por intermédio do Decreto número 78, o Visconde de Ouro Preto, seu irmão e Silveira Martins, tais como o imperador, foram banidos do território brasileiro. Posteriormente, no começo de 1890, 55 praças do Segundo Regimento foram condenados. Os líderes, que eram 10 deles, foram sentenciados à morte por enforcamento, 6 à prisão perpétua, 8 à 20 anos de prisão e 13 deles à 10 anos, com os demais
sendo condenados a penas que variavam de 5 a 2 anos. E para garantir definitivamente o não surgimento de outras revoltas, foi instaurado mais um dos infindáveis decretos do governo golpista, onde qualquer tipo de ameaça à república, seria considerada covardia e traição. Todas essas ações acabaram surtindo efeito, arrefecendo, por hora, eventuais tentativas de derrubar Deodoro e seus asseclas. Desse modo, o governo pôde se concentrar na administração pública, permitindo que um de seus maiores entusiastas, o hipócrita Rui Barbosa, agora Ministro da Fazenda, levasse a frente ideias supostamente avançadíssimas, que teoricamente, possibilitariam grandes melhorias na economia brasileira. Tudo
começou em 17 de janeiro de 1890, quando Rui Barbosa elaborou os decretos de número 164,165 e 166, que com seu caráter discricionário, evidenciado pelo fato de não terem passado por qualquer julgamento coletivo, modificavam radicalmente o sistema financeiro do país. Tendo o apoio de Deodoro, em 30 de janeiro, na abertura da sessão do ministério, foi declarado que os respectivos decretos, focados na legislação sobre a organização de sociedades por ações, nas emissões bancárias e no regulamento do regime de hipotecas, constituíam, em suas palavras, atos consumados, que não deveriam ser debatidos e cuja revogação era impossível. Basicamente, os
decretos eram a representação máxima do desprezo de Rui Barbosa pelas políticas econômicas do Visconde de Ouro Preto, que menos de 8 meses antes havia tentado fazer a economia do país tomar impulso por meio do aumento da circulação fiduciária, dando condições para vários bancos, em vista do entendimento que a taxa de câmbio estava baixa, pudessem emitir papel-moeda com lastro de Títulos de Dívida Pública, enquanto outras 3 instituições bancárias poderiam emitir papel-moeda com lastro em ouro. Até 15 de novembro de 1889 mais de 200.000 contos de réis tinham sido lançados no mercado, algo que Rui considerava ineficiente,
porém, ironicamente, ele não só manteve, como também expandiu essas políticas, pois apesar das discordâncias com Ouro Preto, as emissões do antigo ministro foram mantidas até o dia 8 de dezembro de 1889, numa razão do triplo do lastro metálico correspondente. Um contraditório por natureza, mesmo que tivesse criticado as ações de Ouro Preto em inúmeros artigos, Rui conseguiu a proeza de colocar 400.000 contos de réis em circulação no espantoso espaço de 12 dias. Grande admirador do capitalismo britânico e americano, Rui ainda incentivou a criação de sociedades anônimas, para ampliar o crédito, levando ao surgimento de empresas fantasmas,
que não produziam absolutamente nada, e muitas outras empresas questionáveis, que em um primeiro momento, causaram furor na bolsa de valores e animação entre os investidores. Porém, como era de se esperar, o resultado disso foi desastroso. Com gerenciamentos paupérrimos, muitas empresas faliram rapidamente, levando consigo os investimentos e as economias de toda uma vida de inúmeras pessoas. Para completar, a emissão de papel moeda sem lastro produtivo real fez com que a inflação do país se descontrolasse, levando as finanças públicas a se deteriorarem. O caos foi tão amplo, que as importações consumiram o ouro, o câmbio baixou de
27 para 12 e os bancos emissores, já não podendo, devido ao volume que precisava ser produzido, imprimir o papel-moeda no estrangeiro, pediam ao Tesouro que o fizesse, tendo nas notas às características da emissão. Sendo estas apagadas, o Tesouro ficava com o encargo de reembolsá-las. As cédulas eram tão mal impressas que sua falsificação passou a ser facílima, ao ponto que em dado momento não se sabia mais quais cédulas eram verdadeiras e quais eram falsas. Entretanto, apesar dessa catástrofe, o governo prosseguiu. Logo, em 15 de novembro de 1890 foi instalada na Quinta da Boa Vista, uma antiga
residência imperial, a Assembleia Constituinte, que no dia 18, por proposta do congressista Dr. Ubaldino do Amaral, aprovou uma moção pela qual o Governo provisório de Deodoro recebeu uma moção de confiança. Porém, por trás dessa aparente confiança no governo provisório, os desmandos que se notavam na administração, nas províncias, na disciplina militar e, principalmente, na vida financeira do país, impulsionaram o surgimento de um forte movimento de oposição, também motivado por questões religiosas. Nunca se deve esquecer que o exército, no período imperial, era oficialmente católico. Todo dia, na reunião das nove da noite, os soldados rezavam o terço
e a litania de Nossa Senhora da Imaculada Conceição. As missas eram obrigatórias aos domingos e dias santos, com as necessidades espirituais dos soldados ficando aos cuidados de um corpo eclesiástico de aproximadamente cinquenta padres, que na república, foram limados, resultando na extinção dos corpos eclesiásticos, em nome de uma pouco efetiva adoração do positivismo, cujo arauto, Benjamin Constant, buscava propagar. Um de seus maiores representantes da oposição política era o almirante Custódio de Mello, antigo amigo de Deodoro, que fora eleito deputado constituinte pelo estado da Bahia em 15 de setembro de 1890. Tendo retornado ao RJ em junho
de 1890, Mello via com desprezo a paupérrima situação do país, que era totalmente distante da verborragia idílica pronunciada regularmente por Rui Barbosa. Na realidade, Melo, que nunca foi monarquista e até mesmo declarou ter simpatias republicanas, vislumbrou naqueles primeiros meses da república brasileira um ambiente que não correspondeu às suas expectativas, onde chefes de estado e ministros autoconferiam-se promoções, militares leais ao golpe recebiam aumentos nos seus soldos e outros amigos do regime chafurdavam-se em benesses financeiras. Cercado por uma camarilha ávida e insaciável das riquezas recém-adquiridas, embora com sacrifício dos créditos e da honra da Nação, Deodoro não
ouviu Mello, mantendo ao seu lado figuras desprezíveis e corruptas. E por conta disso, Deodoro viu 2 de seus ministros, Demétrio Ribeiro e Aristides Lobo, pedirem demissão, o que só enfraqueceu figuras como os ministros Campos Sales e Quintino Bocaiúva, em detrimento de militares positivistas. Com a manutenção dos trabalhos constitucionais, o governo teve outro abalo em janeiro de 1891, com a inesperada morte de Benjamin Constant, todavia, sua força ainda continuava sendo sentida, pois entre os militares do exército, o apoio para que a Assembleia concedesse poderes ditatoriais a Deodoro era bradado em alto e bom som. Entretanto, os
militares não seriam o suficiente para garantir ao generalíssimo todas as suas ambições. Na verdade, suas esperanças autoritárias residiam bem mais nos talentos de seu amigo, o Barão de Lucena, a quem Deodoro deu autoridade para formar um suposto ministério lotado de figuras notáveis, mas sem vinculações políticas extremas, e a quem ele confiava o melhoramento de sua relação com os membros da Assembleia Constituinte. Porém, o desprezo pela figura de Deodoro foi se tornando cada vez maior nas lideranças civis, que viam na figura de Prudente de Morais um homem bem mais adequado para liderar o país. Prudente ganhou
tanto terreno, que, caso a votação indireta para presidente da república pendesse para ele, isso seria um sinal para os aliados de Deodoro dissolverem o Congresso. Em paralelo, a oposição, nas figuras do general José Simeão e do almirante Custódio de Melo, também tinha seu plano de contingência, que envolvia uma conspiração com o comandante do Cruzador Primeiro de Março, o Capitão de Fragata Rodrigo José da Rocha, que auxiliaria Custódio a sublevar todos os navios da Baía de Guanabara para impor a aceitação do presidente eleito. Eleito desde maio como presidente do Clube Naval, Wandenkolk acabaria detido no litoral
de Santa Catarina, sendo conduzido à fortaleza de Santa Cruz no Rio de Janeiro, um evento que ajudaria a inflamar mais os ânimos Nesse clima de conspirações, tanto em alas da Marinha quanto no Exército, Deodoro decidiu que a melhor opção era trazer uma importante figura da Armada para o seu lado, com o escolhido sendo justamente o almirante Eduardo Wandenkolk, que concorreria ao cargo de vice-presidente. Inegavelmente um lance inteligente, esse gesto de boa vontade trouxe frutos rápido, quando no dia 19 de fevereiro de 1891 alguns sócios do Clube Naval declararam, em suas palavras, que a eleição do
Generalíssimo Deodoro para a presidência da República seria do agrado da Marinha. Todavia, assim como tudo que cercava Deodoro, essa declaração logo ganhou contornos mentirosos, sendo rechaçada por inúmeros sócios do Clube Naval, que afirmaram que o número de sócios presentes na elaboração dessa moção elogiosa a Deodoro era inexpressivo. Ao mesmo tempo que tudo isso ocorria, o Marechal de Campo Floriano Peixoto, que chegou a merecer na Assembleia uma parte do Deputado José Joaquim Seabra, classificando-o de "esfinge", justamente por sua inação, aceitou ser o vice de Prudente de Morais, enquanto confessava nos bastidores que caso eleito, o civil
não tomaria posse por conta do exército. Lados tomados, enfim chegou o dia 25 de fevereiro, data marcada para eleger o presidente, e sob uma atmosfera sombria, os votos começaram a ser depositados. Tudo levava a crer que Prudente de Morais seria o vitorioso, contudo, mais uma vez, o destino sorriu para os positivistas e os traidores, e numa votação surpreendente, Deodoro, que havia recebido 129 votos, contra 97 de Prudente, foi eleito como primeiro presidente do Brasil. Todavia, dentro de pouquíssimos minutos seu insípido momento de glória se esvaiu, quando foram anunciados os votos para vice-presidente, pois em outra
surpresa, Floriano Peixoto humilhou Wandenkolk nas urnas, recebendo 153 votos, contra 57 do almirante, criando assim uma chapa presidencial das mais improváveis. Conclamados, Deodoro e Floriano receberam congratulações diferentes, com o generalíssimo ganhando somente um embaraçoso silêncio, enquanto Floriano, após uma exaltada proclamação de José do Patrocínio, foi saudado como o futuro "Consolidador da República". Concomitantemente a isto, Prudente, o derrotado, era carregado nos ombros de entusiasmados populares. Com os trabalhos terminados, e o sistema definido como presidencialista, as províncias foram abolidas, devendo agora ser conhecidas como Estados, e como mais uma prova de que suas ações não eram motivadas
por qualquer tipo de desejo de auxiliar o povo, o governo golpista, que bradava aos quatro ventos que tinha tomado o poder para auxiliar as massas, proibiu que mulheres, analfabetos, soldados e religiosos pudessem voltar. Assim, a Assembleia se autotransmutou no Congresso Nacional, dando o pontapé definitivo que criou as bases da república, sob a égide de Deodoro. Porém, seu governo, assim como sua honra, foi curto e passageiro. Com a enorme crise econômica instaurada em poucos meses, Deodoro ainda conseguiu a proeza de entrar em conflito com seu próprio Ministério, pois suas antigas ligações com a monarquia e sua
inépcia para governar minaram sua popularidade, tanto com as massas, quanto com os republicanos. Como resposta, em 3 de novembro de 1891, desejando ter poderes praticamente ditatoriais, ele publicou o Decreto número 641, onde dissolvia o Congresso, convocando novas eleições e instituindo a revisão da recém-promulgada Constituição. Um verdadeiro estado de sítio começou no país, e a imprensa do Distrito Federal, então território do Rio de Janeiro, foi completamente censurada, enquanto as duas casas do Congresso foram cercadas com tropas. Mas desta vez, o marechal sofreu um revés inesperado, pois o exército, que tinha traído o povo e o imperador
poucos anos antes, não lhe deu a salvaguarda que esperava. Dias depois, em 23 de novembro, o caos finalmente tomou conta do governo, quando unidades da Marinha se rebelaram, tendo como seu principal artífice o Almirante Custódio de Melo, que farto de Deodoro, ameaçou bombardear o Rio de Janeiro, caso o marechal não renunciasse. No entanto, em outra peripécia irônica do destino, uma das principais chances de salvação Deodoro se deu na figura do contra-almirante Luiz Philippe Saldanha da Gama, o fundador do Clube Naval e ajudante geral da armada, um notório monarquista, que se dispunha à peleja desde o
primeiro instante do movimento contra o Marechal, agindo para tentar impedir que os couraçados Riachuelo e Aquidabã içassem a flâmula da revolução, pois em sua opinião, mesmo apoiando o extinto Império, a hierarquia e a disciplina o obrigavam a lutar por Deodoro. Desse modo, Saldanha enviou ordens para que o comandante da embarcação Solimões se apresentasse para auxiliá-lo numa intrincada e ambiciosa tentativa de ataque ao encouraçado Riachuelo, ao lado de marinheiros advindos da Fortaleza de Villegagnon. Contudo, o comandante do Solimões ignorou as ordens de Saldanha, e se uniu às forças do almirante Custódio de Mello. Ignorado, mas não
sem forças, Saldanha ainda tinha sob o seu comando os marinheiros da Fortaleza de Villegagnon e os fuzileiros navais da Ilha das Cobras, tropas essas, que a bordo de 3 lanchas, não hesitaram em atacar o Aquidabã, que ia se movendo lentamente perto das posições de Saldanha. Ao mesmo tempo, Saldanha envia uma mensagem urgente para Deodoro, onde além de ressaltar que estava do lado dele, também exclamava: “Marechal, peço-lhe de joelhos, resista.” Mas Deodoro, completamente velho e decrépito, e com sua saúde ainda afetada, se viu num beco sem saída, já que as forças políticas que tinham lhe alçado
ao poder, em especial os positivistas, queriam descartá-lo, para colocar em seu lugar o vice-presidente, Floriano Peixoto. Sem muitas opções, e com a possibilidade de uma guerra civil no horizonte, Deodoro soube de um disparo que o Encouraçado Riachuelo havia feito, que atingiu a torre da Candelária. Era óbvio que Custódio de Melo estava falando sério. O marechal renunciaria no mesmo dia 23 de novembro, deixando o poder para Floriano, que em uma manobra para evitar problemas com a Armada, decidiu nomear o almirante Custódio de Melo como seu novo Ministro da Marinha e seu ministro interino de relações exteriores.
Deodoro morreria em agosto do ano seguinte, deixando uma declaração curiosa para a posteridade, ao falar que o cavalo baio número 6, o mesmo que ele havia montado no sombrio 15 de novembro de 1889, e que estava vivendo confortavelmente sem fazer nada em um estábulo no Rio de Janeiro, tinha sido quem havia de fato lucrado com o surgimento da república, que estava entrando na era de Floriano. Porém, tal como tudo que permeava os golpistas de 1889, o governo de Floriano já começou ilegal, pois como estipulava a Constituição em seu artigo n° 42, caso o presidente renunciasse
em menos de dois anos após sua posse, novas eleições deveriam ser convocadas. Como resposta, e fazendo jus ao cinismo que lhe era intrínseco, Floriano disse que esse artigo só valia para presidentes eleitos diretamente, e já que ele e Deodoro tinham sido eleitos indiretamente pelo Congresso Constituinte, ela não deixaria o poder. Essa postura, como era de se esperar, causou abalos em sua imagem durante os primeiros meses de seu governo, especialmente entre os militares da Marinha, que estavam descontentes com o rumo da república desde o seu alvorecer. Descontentamentos esses que só aumentavam, resultando em um grande movimento
de oposição, que mostrou sua face definitivamente em abril de 1892, quando 13 oficiais-generais divulgaram um manifesto em que exigiam a convocação de novas eleições. Contudo, para além de reclamações banais ou melindrosas, o manifesto contra Floriano era de fato uma autêntica cisão entre os militares, ao ponto que o documento acusava o marechal de armar brasileiros contra brasileiros, denunciando ainda o desvio das “arcas do erário público a uma política de suborno e corrupção”. Floriano, como bom protótipo de ditador, sufocou o movimento, prendendo seus líderes e os enviando para a cidade de Tabatinga, no interior do estado do
Amazonas. Mas no interior da Marinha, sempre altivos e prontos para a luta, inúmeros oficiais não pararam de buscar uma solução. O ano de 1893 surgiu no horizonte, ele trouxe consigo uma guerra civil no Sul do país, a Revolução Federalista, deflagrada contra o governo de Floriano e seu aliado gaúcho, Júlio de Castilhos, o Presidente do Rio Grande do Sul e defensor ferrenho do aumento inconstitucional dos poderes do marechal. Liderados pelo general João Nunes da Silva Tavares e pelo notório adversário político de Deodoro, Silveira Martins, os federalistas, apelidados por seus inimigos de maragatos, eram defensores da queda
de Floriano, que a essa altura, já era praticamente um ditador, e de uma grande descentralização de poder, se rebelaram aos milhares, tendo a seu dispor um exército formado por civis brasileiros e muitos uruguaios, fora o apoio da província argentina de Corrientes. Se dizia que era uma luta pela restauração da monarquia, contudo, isso já não era muito correto. Mesmo com o fim do império, desde 1890 Silveira Martins havia mantido encontros com o imperador D.Pedro II, na esperança de convencer o já moribundo monarca a retornar e lutar pelo seu povo. Ignorado, Martins continuou portando a flama incandescente
da restauração monárquica, levando-o em novembro de 1891 a uma tentativa derradeira de convencer D.Pedro II. Falando do caos que Deodoro havia levado a nação, Silveira Martins sugeriu um plano hábil, onde Pedro de Alcântara de Orléans e Bragança, filho mais velho da princesa Isabel, então com 15 anos, seria levado de volta do Brasil para se tornar o símbolo máximo de um novo governo regencial, que seria erguido para restaurar e lutar para que ele, ao atingir a maioridade, governasse o Brasil como o imperador Dom.Pedro III. Fortuitamente, Dom.Pedro II, talvez antevendo o fim melancólico que lhe aguardava, concordou
com o plano, que toscamente, só não foi a frente pela interferência direta da princesa Isabel: “Embora brasileira, sou, antes de tudo, católica; e com relação a meu filho ir para o Brasil, jamais o confiarei aos políticos, já que o meu dever é a salvação de sua alma.” “Então, senhora, seu destino é o convento!”, respondeu um triste e irado Silveira Martins. Outra vez, os Orleans e Bragança haviam abandonado o povo à sua própria sorte, e em dezembro, com o falecimento de Dom Pedro II, tudo parecia perdido. Monarca algum viria em seu socorro, então, só restaria a
Silveira Martins. em pessoa se manter firme na luta. Em 1893, seus homens Os homens lutavam bravamente, apesar de portarem armamentos precários, como lanças e armas de fogo rudimentares, se valendo de táticas simples, porém, muito eficientes. Em marchas rápidas e fulminantes, os maragatos atacavam de surpresa, tomando em pouco tempo as posições inimigas, recuando em certas ocasiões para o Uruguai e a Argentina, quando o contingente adversário era demais para suas forças. E apesar de certos problemas, seu avanço foi veloz. Em 23 de fevereiro de 1893, Joca Tavares e Gumercindo Saraiva ocuparam Dom Pedrito e em seguida Alegrete,
de onde lançaram vários ataques, permitindo que os maragatos rumassem mais para o Norte. Vendo sua posição severamente ameaçada no Sul, e temendo um golpe da Marinha no Distrito Federal, Floriano convocou o homem a que considerava um dos únicos capazes de impedir o colapso de suas relações com a Armada, o agora Diretor da Escola Naval, almirante Saldanha da Gama. Dentro da Armada, circulavam informações que Floriano desejava alçar Saldanha ao ministério da Marinha, pois ele, sem dúvida alguma, era o oficial mais respeitado de toda a força naquele momento. Poliglota, versado em artes, literatura, ciências, estratégia e dotado
de uma oratória invejável, mesmo entre seus desafetos Saldanha conseguia ser admirado, fazendo dele o homem ideal para o que Floriano precisava. Eles se encontraram no final de abril, no palácio do Itamaraty, às 10 horas, com Saldanha sendo acompanhado por seu fiel assistente, o guarda-marinha Rafael Brusque. Lá, Floriano ofereceu oficialmente para Saldanha o cargo de Ministro de Marinha, algo que mais do que imediatamente deixou o almirante perplexo. “Não posso compreender o convite de vossa excelência. Sabe que se eu estivesse aqui em 15 de novembro de 1889, as coisas não teriam passado como se passaram; sabe também
que insisti com todas as minhas forças para que o excelentíssimo marechal não lhe entregasse o governo, oferecendo-me para dominar a revolta da Esquadra, e mais ainda: há bem pouco, vossa excelência recebeu neste palácio uma delegação vinda de Niterói, a qual veio denunciar e pedir providências do senhor com relação a uma conspiração monarquista em que o veterano almirante Tamandaré era o presidente e eu o secretário. Sei que brindou os delatores com champagne e prometeu agir de acordo com as exigências do caso. Nestas condições, passou pelo cérebro de vossa excelência que eu podia ser um conspirador. Depois
disso, só posso pensar que o convite que acaba de fazer é com o fim de experimentar o meu caráter ou pretender inutilizar-me. Não dou a vossa excelência o direito em que pense em qualquer dessas hipóteses. Não aceito o convite” Estarrecido, Floriano viu suas esperanças de se reconciliar com a Marinha IREM PELO RALO, enquanto um ainda confuso Saldanha da Gama, que despreza Floriano, lutava contra seu desejo de restaurar a monarquia. Diante disso, em 30 de abril Floriano entregou o posto de Ministro da Marinha ao contra-almirante Firmino Rodrigues Chaves. Todavia, Firmino não conseguiu arrefecer os ânimos, ao
passo que em 10 de julho de 1893, até mesmo um dos mais notórios asseclas de Deodoro, o traidor almirante Wandenkolk, aderiu ao movimento revolucionário dos maragatos no Sul. Amedrontado, Floriano ordenou que Firmino Rodrigues reunisse os almirantes, e que os indagasse se estariam ao lado do governo. O primeiro a ser interpelado foi o almirante Carlos de Noronha, que disse tacitamente: “Sr ministro, sou militar, cumpro o meu dever”. Insatisfeito com a resposta, Firmino insistiu que Noronha fosse mais enfático e que defendesse o governo. Inabalável, Noronha voltou a dizer que sabia como cumprir seu dever. Em seguida, o
interpelado foi Saldanha da Gama, o que acabou dando início a uma discussão entre ele e Firmino, pois Saldanha repudiou abertamente essa reunião com um evidente caráter político, dizendo ainda que corroborava com as falas do almirante Noronha. A cisão se aproximava. Longe dali, Wandenkolk seguia se envolvendo diretamente nos combates no Sul, tendo participado de uma expedição no vapor Júpiter contra a Barra do Rio Grande, que acabou fracassando por conta da inação das forças revolucionárias gaúchas em terra, resultando em uma retirada de Wandenkolk para o norte e no aprisionamento do Júpiter em Barra de Canavieiras, por intermédio
do Capitão de Fragata Álvaro Nunes Ribeiro Belfort. Porém, essa derrota não esmoreceu os maragatos, que sob a figura de Gumercindo Saraiva, se aproximaram de Jaguarão. No Rio de Janeiro, ponto nevrálgico da república, os conflitos também não tardaram a chegar, se iniciando no dia 6 de setembro, quando o Almirante Custódio de Melo finalmente decidiu que era hora de derrubar Floriano, numa ação que foi apoiada por inúmeros navios e unidades da Marinha, e em menor número, alguns oficiais do exército, em uma frente pouco coesa, formada por apoiadores da volta da monarquia e da reestruturação da república, mas
principalmente por legalistas. Tudo ia ocorrendo rápido, e às 6 da manhã, o almirante Francisco José Coelho Neto, Chefe do Estado-Maior da Armada, enviou uma mensagem de seu gabinete para o almirante Saldanha, onde perguntava se o governo de Floriano poderia contar com seu apoio. Em resposta, Saldanha declarou: "Mantenho-me neste posto tão somente no interesse e pelo dever de salvaguardar a Escola e seus alunos, que são o futuro e a esperança da Marinha e do País, dos efeitos e consequências da revolta. Além disso nada mais” Imensa, a revolta liderada pelo almirante Melo tomou todos os navios e
embarcações mercantes que conseguiu, ao mesmo tempo que ordenou a transferência das tropas do Batalhão Naval, estabelecida originalmente na Ilha das Cobras, para os navios revoltosos, com elas sendo distribuídas em duas divisões, comandadas pelos Capitães de Mar e Guerra Frederico Guilherme Lorena e Eliézer Tavares. Por ordem do almirante Custódio de Melo, a esquadra sob o seu comando se movimentou para cortar o acesso ao Rio pela Estrada de Ferro da Central do Brasil. Tomando uma posição vantajosa, no dia 13 de setembro o almirante Melo ordenou o bombardeando dos fortes do litoral fluminense, que estavam em poder do
exército. E com ataques devastadores, os marinheiros acertaram os sete fortes de Niterói, o que obrigou Floriano a transferir seu governo, ironicamente, para Petrópolis. Posteriormente, nos dias 14 e 15 de setembro, duas embarcações sob o poder do almirante Melo, os cruzadores República e Palas, sob fogo das fortalezas aliadas de Floriano, rompem essas barreiras, rumando para ajudar as forças dos maragatos no Sul, em uma arriscada e perigosa estratégia, pois Custódio, apesar de ter poder de fogo para dominar a baía do Rio de Janeiro definitivamente, estava aguardando em vão que o povo se sublevasse nas ruas. Tendo esperado
incontáveis dias para agir mais incisivamente, Mello tinha perdido completamente o importantíssimo efeito surpresa, e apesar de não saber disso na ocasião, tinha perdido a chance de ocupar todo o Rio de Janeiro, pois no dia que sua Revolta da Armada havia começado, em caso de ataque, a capital fluminense não poderia ter resistido, tal como a fortaleza de Santa Cruz e os fortes da Lage e de São João, que ou estavam isolados ou sequer tinham munição no começo de setembro para disparar mais de 12 tiros, como era o caso da fortaleza de Santa Cruz. Agora com poucas
tropas, sua esperança residia no envio de um exército vindo do Sul, que uma vez na capital, possibilitariam ao almirante a tomada de Niterói, e um ataque contra a fortaleza de Santa Cruz e os Fortes de São João e da Lage. A sorte estava lançada Chegando no dia 29 de setembro no Sul, essas poderosas embarcações de Melo tomaram a cidade do Desterro, então capital de Santa Catarina, que se tornou a sede de um governo provisório chefiado pelo Capitão de Mar e Guerra Frederico Guilherme Lorena, que empossou o primeiro-tenente Mourão dos Santos como seu Ministro da Marinha
e o tenente do exército Anibal Cardoso como seu Ministro da Guerra. Porém, se valendo de uma tolice ímpar, Custódio de Mello cede as pressões de nações estrangeiras, em especial da Inglaterra, aceitando firmar um acordo no dia 5 de outubro, onde declara que o Rio de Janeiro era uma cidade aberta e que não poderia seria bombardeada. Recebendo cada vez mais apoio, em 08 de outubro juntaram-se as forças do almirante Melo as tropas da Fortaleza de Villegagnon, porém, o reforço definitivo chegou no dia 07 de dezembro, quando enfim, o almirante Saldanha da Gama decide lutar contra Floriano.
“AOS MEUS CONCIDADÃOS - Avesso por princípio e por instinto a toda a ideia de revolta, jamais entrei em conluio de qualquer espécie. Hoje, porém, no doloroso momento histórico que atravessa a Pátria Brasileira, é o próprio governo, são as mesmas circunstâncias do país que me impelem para a luta. Aceitando esta situação, que me é imposta pelo patriotismo, reúno-me sem prévios conchavos, em pleno dia e pesando a responsabilidade que tomo, aos meus irmãos que, nas campinas do Rio-Grande-do-Sul e há três meses na baía desta capital, pugnam valorosamente pela libertação da Pátria Brasileira do militarismo, agravado pela contubérnia
do sectarismo e do mais infrene jacobinismo. Oficial da armada, vou combater com a espada o militarismo, que sempre condenei toda a minha vida. Brasileiro, é meu interesse concorrer com os meus esforços para pôr termo a este terrível período, em que lançaram a Pátria na anarquia, no descrédito, na asfixia de todas as suas liberdades. A lógica, assim como a justiça dos fatos, autorizaria que se procurasse à força das armas repor o governo do Brasil, onde estava a 15 de novembro de 1889, quando, num momento de surpresa e estupefacção nacional, ele foi conquistado por uma sedição militar
de que o atual governo não é senão uma continuação. O exército, que se está batendo com a sua proverbial bravura, não pode mais persistir na defesa de um governo que perdeu o apoio moral da Nação. A sua obstinação nesse papel inglório, ainda quando bem-sucedida, acabaria por transformá-lo, de força nacional que é, numa hoste pretoriana de baixa República. Compatriotas! Os povos que abdicam do seu direito não podem queixar-se dos seus opressores. O Brasil, cujo passado é curto, mas honroso, tem grande futuro diante de si; só poderá cumpri-lo arrancando-se de um despotismo que o degrada diante de
si mesmo e do mundo civilizado. Mostrai que não somos um povo conquistado, mas um povo livre e cônscio dos seus destinos. Eis a situação. Espero poder cumprir o meu dever de brasileiro até ao sacrifício. Cumprí o vosso!” Muito fortalecidos, os insurgentes da Marinha enviam um comunicado ao presidente dos Estados Unidos, Grover Cleveland, solicitando que fosse reconhecido um estado de beligerância. No entanto, nada de auspicioso viria da América, pois seriam justamente os americanos que ajudariam no colapso da Revolta da Armada. Degradante, em 13 de dezembro de 1893, depois do manifesto de Saldanha ser divulgado, Floriano informou
oficialmente ao governo americano que a restauração do Império seria, daquele momento em diante, o objetivo dos insurgentes. Por conta disso, o presidente dos EUA e o Secretário de Estado Walter Quintin Gresham, com repulsa de ideias monárquicas, se convenceram que era vital auxiliar o governo de Floriano a se manter de pé. Uma de suas primeiras atitudes foi autorizar o envio de uma frota capitaneada pelo almirante Andrew Ellicott Kennedy Benham, Comandante das Forças Navais dos Estados Unidos no Atlântico Sul, que em janeiro de 1894 chegou no Rio de Janeiro, oficialmente, para ser um mediador. Mas, extraoficialmente, o
apoio americano era bem mais extenso. Nas sombras, Grover Cleveland rechaçou os pedidos do almirante Saldanha, abrindo caminho para que o investidor e importador americano Charles Flint, e o ministro brasileiro Salvador de Mendonça, orquestrassem nos Estados Unidos uma campanha em favor de Floriano, que equipou uma flotilha de doze navios com tripulação e oficiais americanos. A firma Flint & Co. encarregou-se da compra dos navios, batizados Nictheroy, Andrada e Gustavo Sampaio, e de mais três vapores transformados em torpedeiras, o Moxotó, o Poty e o Inhanduhy, com o crédito para financiar essa empreitada vindo do Banco Rothschild, mesmo que
isso violasse as leis de neutralidade dos Estados Unidos. Nas palavras do secretário adjunto da Marinha, William McAdoo, essa era a mais poderosa frota que já tinha representado a bandeira americana no exterior, o que facilitou muito o desmantelamento da Revolta da Armada Brasileira, uma vez que essa esquadra americana recebeu ordem de se necessário romper à bala o bloqueio do Rio de Janeiro, na manhã de 29 de janeiro de 1894. Pouco mais de um mês depois, o fim da revolta seria selado, quando outra frota pró Floriano levantou ferros na Bahia, rumando para o Rio de Janeiro em
primeiro de março. O tão almejado exército que Custódio de Melo ambicionava do Sul nunca chegaria, dando contornos ainda mais trágicos a sua inação. Ante a iminência do desastre, Saldanha reuniu seus oficiais na ilha das Enxadas, na manhã de 11 de março, expondo-lhes com franqueza a gravidade da situação, o que iniciou o desmantelamento dos seus navios, que foram inutilizados para não caírem nas mãos das forças florianistas. Em 13 e março, ao meio-dia, as fortalezas do RJ abriram fogo sobre a esquadra de Saldanha, que já não disparava de volta, sendo anunciado que as baterias de terra começariam
a atirar às 3 da tarde. Parecia o fim, mas não, pois para a consternação absoluta de Floriano, Saldanha e 480 homens partiram a bordo de dois navios portugueses, ainda debaixo de fogo, o que levaria Floriano a romper relações diplomáticas com Portugal em 13 de maio. Saldanha e seus companheiros desembarcaram em Montevidéu, depois de rápida quarentena na ilha de las Flores, sendo saudados pelo capitão-geral dos portos, que, em nome do Ministério do Exterior, declarou os revoltosos sob o amparo e proteção das leis da República. Contudo, enquanto Saldanha e seus homens se recuperavam, Floriano Peixoto ia tomando
terreno, reagindo, e com força. Tendo enviado meses antes tropas federais sob o comando do general Hipólito Ribeiro, Floriano, a muito tinha no Sul três divisões organizadas, chamadas hipocritamente de legalistas: a do Norte, a da capital e a do centro, que foram infladas pelo recrutamento forçado, pago com recursos do governo, que conseguiu atrair uma grande turba de fanáticos, com vários deles alegadamente se dizendo inspirados na Revolução Francesa, autonomeando-se jacobinos. Com essas tropas, cerca de 6 mil homens, o governo de Floriano tinha enfrentado os maragatos no Paraná em 14 de janeiro de 1894. Ali, na cidade da
Lapa, a 60 quilômetros a sudoeste de Curitiba, os federalistas tiveram seu avanço detido, no episódio que ficou conhecido como Cerco da Lapa, obrigando-os a recuar para o Rio Grande do Sul, enquanto Floriano, em mais um movimento, enviava para Santa Catarina, com poderes discricionários, o tenente-coronel Antônio Moreira César, chamado de “Corta-cabeças”. Era o começo do fim para os maragatos, que tombaram na batalha de Passo Fundo, em junho de 1894, diante da superioridade numérica do seu inimigo, num combate sangrento, que teve entre os líderes mais destacados um certo tenente-coronel de São Borja, chamado Manuel do Nascimento Vargas.
E menos de 50 dias depois, os maragatos ainda perderiam um de seus líderes, Gumercindo Saraiva, morto por um tiro covarde de um atirador escondido na mata. Enfraquecidos, e com tropas cada vez mais reduzidas, os federalistas sabiam que a derrota definitiva se aproximava, porém, com coragem e dignidade, preferiram lutar, em vez de se renderem. Já era 1895, e Floriano, que para conseguir o apoio dos americanos autorizou eleições em março de 1894, tinha deixado o poder, mas não antes de num gesto derradeiro de subserviência aos americanos, ordenar que o feriado de independência dos EUA, o 4 de
julho, se tornasse um feriado nacional brasileiro. Eleito com larga maioria, Prudente de Morais era o novo presidente do Brasil, estando disposto a não prolongar mais a extensa guerra no Sul. Contudo, enquanto o almirante Saldanha, agora comandante supremo das forças federalistas, estivesse vivo ou lutando, o ânimo ainda existiria entre os maragatos e os revoltosos da Marinha. Várias foram as oportunidades para que se rendesse, se exilasse, como o almirante Custódio de Melo faria em Buenos Aires, ou abandonasse seus homens, porém, Saldanha não era esse tipo de militar. Decidido, mesmo tendo sob o seu comando poucas centenas de
soldados, e ante a impossibilidade de vitória, em junho de 1895, ele resistiria até o fim. Assim, na manhã de 24 de junho de 1895, no Rincão de Artigas, no Campo Osório, ele e seus homens se prepararam para entrar para a história. Sem recursos ou tropas adicionais, suas forças eram constituídas por pequenos piquetes de cavalaria vanguardeira, às ordens dos Coronéis gaúchos Francisco Pereira e Manuel de Macedo; tendo o apoio brigada naval, sob o comando do Tenente Costa Mendes e de um exíguo corpo de franco-atiradores e corpos de cavalaria gaúcha, formado por atiradores e lanceiros. No total,
eram 400 homens. Avistado, nas proximidades de Santana do Livramento, às 9 horas da manhã, o almirante Saldanha da Gama avançou contra as tropas do general Hipólito Ribeiro, que mais numerosas, foram destruindo o pequeno exército de marinheiros, soldados e maragatos. Bravamente, o almirante seguiu liderando suas tropas, vendo seus amigos e companheiros tombando um a um. Tendo um excelente cavalo, ele poderia ter escapado, se para tanto não lhe sobejassem dignidade e orgulho. Nos últimos instantes, quando ainda era tempo, o Coronel revolucionário Hildebrando Aires, vendo Saldanha, ainda aproximou-se, oferecendo-lhe a garupa. O almirante recusou. Diante de si, viu
os últimos valorosos guerreiros sob seu comando morrerem por um tropel furioso e uma vertigem louca das tropas florianistas. Nesse momento, Saldanha foi atingido por golpes de lança, desferidos pelo major Salvador Sena, e em suas últimas e desafiadoras palavras, disse: “Respeita-me! Sou o Almirante Saldanha!” Enfim, após uma vida de luta, o almirante tombou em Campo Osório, mas isso não era o bastante para Sena, que em um gesto final de selvageria e torpeza, degolou Saldanha e arrancou suas orelhas e seus dentes, gesto esse que foi seguido por inúmeros outros florianistas, que degolaram boa parte dos sobreviventes e
até mesmo os cadáveres. Era mais uma derrota do povo brasileiro, porém, um triunfo imenso para a República e para Prudente de Morais, que assinou oficialmente o fim da Revolução Federalista, em 23 de agosto de 1895. Mas do que isso, em suma, era o fim da República da Espada, transfigurando o país no sonho idílico das oligarquias paulista e mineira. Nascia uma nova república, regida pelo dantesco teatro das oligarquias, cujas cortinas vermelhas foram tecidas e pintadas com a carne e o sangue de milhares de maragatos e marinheiros. A frente do país, Prudente de Morais, um representante dos
cafeicultores paulistas, necessitou tomar inúmeras medidas urgentes, já que os governos de Deodoro e Floriano, apoiados nas desastrosas medidas econômicas de Rui Barbosa, tinham desestruturado a economia do país. Porém, mesmo com a hecatombe vista nos últimos anos, inacreditavelmente, muitos eram entusiastas da tese que o novo presidente não deveria abandonar todas as pautas econômicas dos últimos líderes militares, apoiados em uma visão ilógica de que medidas nacionalistas eram de suma importância. Para tornar sua situação ainda mais complexa, numa passeata de 30 mil pessoas em junho de 1895 após a morte de Floriano, era possível ouvir nas ruas gritos
de Viva, Floriano! Morra, Prudente! Surtados, no carnaval daquele ano, os maiores apoiadores de Floriano, os alunos da Escola Militar da Praia Vermelha, até mesmo conduziram arruaças e brigas nas ruas, intitulando-se, após a morte do marechal, os guardiões do espírito florianista. Sua posição era tão precária, que até mesmo o vice de Prudente, Manoel Vitório, era um entusiasta do antigo ditador sanguinário. Era evidente que o novo líder da nação não era bem-quisto entre os militares do Exército, mas mesmo diante desde difícil cenário, seu governo prosseguiu, até que em novembro de 1896, como não poderia deixar de ser,
uma crise surgiu, mas desta vez, não era uma crise nas capitais, mas sim no distante e ainda pouco assistido Nordeste, mais especificamente no sertão da Bahia, no Arraial de Belo Monte, no povoado de Canudos. Essa nova crise era por conta da comunidade messiânica de Antônio Vicente Mendes Maciel, vulgo Antônio Conselheiro, um modesto cearense, que em 1873 apareceu no Itapicuru de Cima, na Bahia, com longas barbas e um hábito azul de brim, dizendo-se um enviando e Deus e pregando a fé cristã. Tremendamente popular, no final do século 19 ela já tinha reunido mais de 20 mil
seguidores, apavorando o governo federal, que temia que essa comunidade visasse o retorno da monarquia, além de causar imenso temor nos latifundiários da região, que temiam a influência de Antônio. Esse medo, verdade seja dita, não era totalmente despropositado, uma vez que um número considerável ex-criminosos, malfeitores e figuras de índole questionável adentraram em Canudos ao longo dos anos, e que não era das tarefas mais fáceis acreditar que Conselheiro iria se manter pacífico para sempre. No entanto, evidentemente, era absurdo apontar que aquele grupo era uma ameaça de altíssimas proporções, já que a comunidade de Antônio Conselheiro não era
nada mais do que um gigantesco amontoado de pessoas famintas e desamparadas pelo pretenso governo que tinha derrubado a monarquia em nome do povo. Mais do que isso, o arraial de Belo Monte era um reflexo da falida república brasileira, que não tinha condições sequer de combater pequenos roubos e tribulações na Bahia. Porém, só a simples ameaça teórica que os líderes republicanos tinham criado em suas mentes, em especial os florianistas, foi o suficiente para que uma incursão militar de pequena escala fosse autorizada contra Canudos em novembro de 1896, após 2 pedidos do juiz de direito de Juazeiro,
Arlindo Leone. Essa força era liderada pelo tenente Manuel da Silva Pires Ferreira, do Nono Batalhão de Infantaria, contando com 104 soldados e 3 oficiais, mas após uma série de escaramuças, essas tropas desistiram de avançar contra Belo Monte, especialmente após serem emboscadas pelos conselheiristas em Uauá, resultando em seu retorno a Juazeiro. Diante dessa derrota, uma segunda expedição foi autorizada para destruir Canudos pelo presidente em exercício do Brasil, o florianista Manuel Vitorino Pereira, que havia assumido interinamente o cargo em novembro de 1896 por conta de uma doença de Prudente de Morais. Um verdadeiro opositor das ideias de
Prudente, com um dos únicos pontos em que os dois homens convergiram tendo sido a compra do opulento Palácio de Nova Friburgo, inaugurado no ano seguinte como Palácio do Catete, Vitorino, que abraçou de corpo de alma teorias lunáticas contra Antônio Conselheiro, viu nessa inesperada subida a cadeira presidencial sua chance de brilhar, resultando em dezembro na decisão de reunir homens para uma segunda expedição, que estruturou as tropas comandadas pelo major Febrônio de Brito, em janeiro de 1897, compostas por 543 praças, 14 oficiais, 3 médicos, 2 canhões Krupp e 2 metralhadoras. Entretanto, o que nem Manuel Pereira e
os comandantes do Exército poderiam imaginar, era que essa campanha militar contra os conselheiristas se tornaria um dos maiores vexames de todos os tempos, pois mesmo lutando contra um inimigo quase sem condição alguma de se defender, e que só dispunham de armas rudimentares, as tropas de Febrônio foram derrotadas. Inesperadas, essas derrotas do exército iam insuflando o medo da população, especialmente no Distrito Federal, medo esse que a imprensa, dos maiores jornais aos menores folhetins, encarregou-se de recriar e de espalhar. De fato, o medo em relação a Antônio Conselheiro ia sendo sistematicamente construído com o propósito de enfraquecer
e mesmo aniquilar quaisquer forças adversárias, numa cruenta disputa pelo poder político. Porém, até o momento, derrotar os jagunços de Antônio ainda parecia facilmente contornável. Então, no que aparentava representar um auspicioso ponto final na guerra, em 06 de fevereiro o governo organizou uma terceira expedição militar contra Canudos, agora liderada pelo coronel Antônio Moreira César, cruel participante da guerra federalista e um herói entre seus pares do exército. Envaidecido por sua própria reputação, o coronel seguiu para o nordeste com o suporte de 1300 homens, uma bateria de artilharia e um esquadrão de cavalaria. Todavia, dotado de uma inépcia
inacreditável, Moreira César conduziu uma tragédia militar assombrosa. César tinha soldados fardados com uniformes inadequados para combater numa localidade semiárida, e que não forneciam proteção contra os numerosos cactos da região, sendo feitos de lã e ainda por cima lotados de cores vivas, como azul e vermelho, que sobressaiam na caatinga parda, tornando seus homens alvos fáceis. Em 03 de março, ignorando dificuldades geográficas, o clima e seus adversários, o coronel ordenou um ataque total, que desencadeou uma ferrenha luta de 5 horas de duração, onde o próprio Moreira acabou sendo ferido gravemente no ventre. Ele morreria em decorrência disso
no dia seguinte, fazendo com que suas tropas fugissem disparatadamente do campo de batalha, abandonando quantidades imensas de armamentos, que foram recolhidos pelos conselheiristas. Meses já tinham se passado, ocasionando em uma humilhação pública sem precedentes, tanto para o governo, quanto para o exército, que mesmo aumentando o contingente de suas tropas, sempre fracassava. Contudo, a calamidade empreendida por Moreira César impactou a sociedade brasileira de um modo assustador. Recuperado, Prudente de Morais retornou à presidência, justamente em 04 de março, vindo a saber do desastre militar de Moreira César 3 dias depois, quando a imprensa repercutiu os eventos. Ao
lerem os jornais sobre a batalha sangrenta, o medo provocou estupor nas massas, tornando o improvável fantasma da restauração monárquica num delírio geral, que agora estava presente em toda parte, num pavor que parecia unir as camadas altas e os setores intermediários da sociedade, que em bloco, clamaram pela destruição de Belo Monte e tudo em volta de Canudos. Constavam até nos jornais notícias mentirosas de que os conselheiristas haviam realizado roubos, pilhagens e tomadas de propriedades na região, insuflando ainda mais os ânimos. Um dos maiores entusiastas da destruição de Canudos era o deputado federal Nilo Peçanha, que com
seus discursos inflamados, foi determinante para o alastramento do ódio antimonárquico e sanguinário que se espalhou pelo país. Aos gritos de "Viva a República" e "Viva Floriano", vândalos, muitos deles do exército, atacaram jornais monarquistas e da oposição, com um grupo de oficiais levando a cabo o assassinato do coronel e jornalista Gentil de Castro, notório monarquista e proprietário do jornal a Gazeta da Tarde. Já Prudente de Morais, se aproveitando da situação, permitiu o empastelamento dos jornais a Gazeta da Tarde, o Liberdade e o Comércio de São Paulo. Jornais republicanos, como O Estado de S. Paulo, afirmaram haver
ligação entre Canudos e forças que supostamente se reuniam no Uruguai para invadir o Rio Grande do Sul. O jornal paulista declarou: "O movimento insurrecional do sertão da Bahia é monarquista. Para monarquistas e republicanos, o movimento dos fanáticos de Antônio Conselheiro é hoje restaurador. Fosse ou não monarquista em seu nascedouro, o certo é que hoje o é, e que, como tal tem que ser combatido". Mentirosos, outros editores do jornal ainda informaram que contingentes monarquistas afluíam de todo o país para Canudos, e que haviam escolhido a Bahia para ser o centro do movimento restaurador. Mergulhando em delírios,
Prudente de Morais se reuniu com o Presidente do Estado de São Paulo, Manoel Ferraz dos Campos Salles, para tentar encontrar uma solução. Outro paranoico, Salles argumentou que era hora de mobilizar o país de norte a sul, deixando de lado meias-medidas e qualquer tipo de verniz democrático, algo que Prudente concordou. Doravante, Prudente autorizou o envio de uma quarta incursão militar, comandada agora pelo comandante do 2º Distrito Militar, o general Artur Oscar de Andrade Guimarães. O general partiu para a Bahia, desembarcando em Salvador no dia 18 de março. E dessa vez o fracasso não seria tolerado de
forma alguma. Arhur Oscar, que tinha algo em torno de 5000 mil homens para combater, ordenou uma grande marcha partindo do município de Queimadas, que durou 3 meses, e que foi permeada com boatos de toda ordem e de atritos com as populações locais, em virtude das tropelias e violências que praticavam, inclusive saques e estupros, promovendo assim fugas em massa. Em 16 de maio, Oscar chegou em Monte Santo, montando seu posto de comando no Morro da Viúva, em Canudos. Os combates começaram, e tal como nas 3 incursões anteriores, o general não obteve grande sucesso, perdendo mais de
1000 homens até junho. Esse eventual quarto desastre apavorou o Presidente da Bahia, Luís Viana, que meses antes já tinha conclamado Prudente a enviar tropas absurdamente numerosas para Canudos. Oscar, em dificuldades, solicitou reforços, que inicialmente vieram de São Paulo, quando Campos Salles enviou um batalhão com 21 oficiais e 400 praças armados e municiadas. Ainda insuficientes, essas tropas não foram o bastante para colapsar as defesas em Canudos, levando ao presidente Prudente de Morais a apelar para uma decisão desesperada, ordenando em 03 de agosto que o ministro da guerra, marechal Carlos de Machado Bittencourt, também embarcasse para a
Bahia, onde a bordo do vapor Espírito Santo chegou em Salvador no dia 08, de onde rumou para o campo de batalha, cuja chegada em 6 de setembro a Monte Santo coincidiu com a autorização de um bombardeio de 6 horas contra Canudos vindo do alto do morro da Favela, desferido pelo canhão Whitworth, apelidado de a Matadeira, que derrubou duas torres da Igreja de Bom Jesus, um baluarte de defesa conselheirista. Agora, formadas por mais de 10 mil homens, as tropas do governo cercaram Canudos durante o restante de setembro, com os soldados tomando as estradas de acesso ao
arraial de Belo Monte, o que impossibilitava a entrada de água e comida. A beira do colapso, a resistência em Canudos irá arrefecer definitivamente após o dia 22 de setembro, quando Antônio Conselheiro acabará sendo morto, provavelmente atingido por algum tiro da artilharia do exército. No dia 29, grandes porções do arraial serão tomadas, e no dia 01 de outubro, as tropas do exército irão avançar contra o último núcleo relevante de resistência. Sem chances, em 05 de outubro o arraial de Belo Monte caíra, sendo tomado e posteriormente incendiado, com seus 5200 casebres e suas duas igrejas sendo obliterados
com bombas de dinamite e tochas de querosene. Assim, mais de um ano depois da primeira expedição militar, em outubro de 1897, após bombardearem, trucidarem e massacrarem milhares de pessoas, todo o arraial de Canudos foi arrasado, garantindo uma vitória definitiva ao governo. Todavia, isso não era o suficiente para saciar o desejo de sangue do exército. Morto, Antônio Conselheiro foi desenterrado, só para ter a cabeça degolada. Já os demais membros da comunidade, fossem jagunços, mulheres, crianças ou velhos, nenhum deles foi poupado. As pessoas podiam colaborar nos interrogatórios, se renderem ou até mesmo dar vivas, sob ameaça, a
República, porém, o destino era sempre o mesmo: serem amarrados, torturados ou degolados, com seus corpos sendo lançados depois em grandes fogueiras. O saldo foi de 20 mil chacinados. Quanto ao exército, seu papel tinha sido cumprido, garantindo o sono tranquilo dos republicanos, que derrotaram o inimigo que tinham criado, ao custo de outra mácula eterna para seus militares, que sofreram 2 mil baixas. Apesar disso, em quase em sua totalidade, os participantes desses massacres se consideravam grandes heróis, algo que ficou claríssimo em um relatório feito pelo general Arthur Oscar, onde ele declarou “Sanguinolento foi esse combate, mas também
foi um novo padrão de glórias para o exército brasileiro. Foi mais um sacrifício feito pelos bravos, por amor a república, que tanto estremecemos e pela qual nos julgamos honrados, servindo-a com as armas na mão” No final, ao custo de muita destruição e cinzas, Canudos sumiu do mapa, exterminada para a satisfação de interesses personalistas e imediatos, cuja força motriz, o medo, que fez brasileiros derramarem o sangue de brasileiros, resultou apenas na preservação do status quo, de uma pútrida, mas firme república, sustentada pelo arbítrio e mantida pelo derramamento de sangue.