Olá, meus caros. Boa noite para vocês! Sejam muito bem-vindos; é uma alegria tê-los por aqui, né? Agradeço já desde já a presença de todos vocês. Eu sou Professor Rafael Tonom, professor de História e professor de Filosofia. Aqui neste canal, todas as sextas-feiras, nós nos encontramos às 21 horas para conversar a respeito de temas relacionados à fé, à história, enfim, vários temas que possam ser do nosso interesse. No dia de hoje, de um modo especial, falaremos a respeito de São Clemente Maria Hofbauer, um santo austríaco do qual se fala muito pouco, mas que tem uma
história interessantíssima. Além de ter sido um santo muito importante dentro do seu contexto histórico, ele nasceu no século XVIII e morreu no início do século XIX. Por onde passou, deixou uma marca de fidelidade à Igreja, de amor à doutrina católica e de defesa dos direitos de Deus na sociedade, numa época em que a apostasia das nações e o abandono da fé cresciam cada vez mais. Então, é uma alegria tê-los por aqui! Agradeço mais uma vez a presença e o prestígio de todos vocês. Compartilhem essa live, esse conteúdo, com outras pessoas e vamos ao nosso assunto
dessa noite. Então, falaremos a respeito de São Clemente Maria Hofbauer. São Clemente, como eu dizia para vocês, é um santo austríaco, nascido em 26 de dezembro de 1751. É interessante, né? Que ele nasce no dia de Santo Estevão, e ele morrerá na cidade de Viena, que tem Santo Estevão como patrono. E ele será justamente velado, e suas exéquias ocorrerão na grande catedral de Santo Estevão, no centro de Viena. Ele nasceu no dia 26 de dezembro de 1751, numa cidade chamada Taswitz. Hoje em dia, essa cidade tem uma pequena variação na grafia do nome; o nome
era grafado de uma maneira, e hoje existe uma pequena diferença na grafia, mas o nome é Taswitz, na República Checa. Ele foi o nono filho de 12 irmãos. O pai dele chamava-se Pedro Paulo Hofbauer e a mãe, Maria Hofbauer. Esse casal, depois, ele já na sua juventude, resolveu tornar-se eremita. Quando ele entrou nessa vida de eremita, recebeu um nome religioso, e conservou esse nome até o fim da vida, que é quando ele recebe o nome de Clemente. Então, o nome Clemente vem como nome religioso, não era o nome de batismo; o nome de batismo era
João, assim como São Francisco. São Francisco de Assis chamava-se João, e não Francisco; Francisco era o apelido, e acabou que São Francisco ficou mais conhecido pelo apelido do que pelo nome de fato. Muito bem, São Clemente nasceu então numa família numerosa. Era uma família simples, modesta, mas que, pelo menos no início da infância dele, nos primeiros anos, conseguia dar conta de todos os gastos, de todas as necessidades familiares. Mas esse quadro mudou quando o pai de Clemente faleceu. Então, os irmãos mais velhos já estavam trabalhando e tudo mais, mas ele e os que nasceram depois
eram muito pequenos quando perderam o pai. No dia do falecimento, todos os filhos rezaram, choraram; aquele pai era um lar católico, era uma família que tinha o hábito de rezar com os filhos, eles catequizaram os filhos. Eles tinham um oratório em torno do qual reuniam os filhos todos os dias, então uma família verdadeiramente autenticamente católica. O pai, que era muito amado e muito estimado por aqueles filhos, foi chorado com muita tristeza, com muito pesar, sobretudo pelos filhos mais novos, que eram aqueles que ficavam mais próximos do pai. Eles participaram das exéquias, foram até o cemitério,
sepultaram o pai e, voltando para casa, a mãe Maria Hofbauer passou pela igreja paroquial novamente. E aí, então, ela disse aos filhos mais novos, inclusive a Clemente: ao entrar na igreja, eles se depararam com um grande crucifixo que havia na entrada da igreja, e a mãe dirá aos filhos pequenos: "De hoje em diante, este é o pai de vocês. O que vocês tiverem para pedir, peçam a ele, falem com ele, e ele não há de desampará-los." E assim eles fizeram, né? Todos aqueles irmãos, mesmo os mais velhos; assim, João Hofbauer, mais tarde, Clemente fará, durante
toda a sua vida. Ainda na adolescência, ele começou a pensar no que fazer para poder ajudar no sustento da casa. Agora já não tinha o pai, quem mantinha, quem era o provedor de fato da casa, era o pai, e agora, então, os irmãos começaram a se arranjar para que pudessem se ajudar. O padrão de vida deles vai reduzir muito, vai cair muito, passaram a ter uma vida mais modesta do que já tinham, mas sem perder a fé, sem desanimar. Então, é interessante que ele começa a pensar em seguir a carreira do seu irmão mais velho.
O irmão mais velho, João Hofbauer, era militar, e ele vendo a disciplina com que o irmão cumpria os seus deveres, com que o irmão atuava na sua carreira, começou a considerar a possibilidade de ser militar. Mas depois ele vai acabar abandonando essa ideia, porque o que acabou prevalecendo foi o que ele começou a sentir dentro de si, ainda na sua infância. Mais ou menos com sete anos, o nosso futuro São Clemente, nesse convívio, nessa vida de Igreja que a família tinha, já começou a pensar no sacerdócio, na grandeza do sacerdócio, no quanto ele poderia fazer
pelas almas, pelas pessoas, sendo padre. Então, ele começa a cogitar. Essa possibilidade do sacerdócio, então, é nesta época, né, em que ele começa a considerar o sacerdócio, que ele começa a rezar mais intensamente, né, e ele vai tentando, eh, né, por todos os meios, assim, que ele podia, que ele conhecia. Ele vai tentando, eh, cultivar, assim, uma amizade com Deus para tentar discernir, né, se aquilo ali realmente seria ou não, né, vontade de Deus. Né, como eh todos os vocacionados acabam fazendo e buscando, assim, Clemente também fazia, eh, mas ele tinha um certo temor de
de de se tornar sacerdote, né, e, diante da situação financeira da família, ele ficava pensando, né, como que eu vou eh deixar a minha mãe e os irmãos mais novos, né? Então, havia todo um senso ali de dever com a família, mas, na medida em que ele foi crescendo, ele fez a primeira Eucaristia, e esse chamado foi ficando mais forte e acabou sobrepujando, assim, a vida de Clemente, que começou a deixar de lado um pouco essa ideia, eh, de ser militar para ser padre. Né, então ele começa a pensar mesmo em ser padre, mas a
família era muito pobre, né, era muito carente, e ele tinha, assim, chances muito escassas de ir, eh, para um seminário ou ingressar numa ordem religiosa. Ele precisaria, eh, de alguém que o apadrinhasse para pagar os estudos, para patrocinar os estudos, e isso, eh, dentro da condição ali da família, não seria uma coisa viável, né? Mas, nessa época, ele procura o pároco dele, na própria terra natal dele, né, em Taswitz. Ele vai até o o pároco dele e demonstra ali, eh, esse interesse pelo sacerdócio, explica ao padre, e o padre, sabendo de todas as dificuldades que
ele ia passar, não mentiu, não dourou a pílula. Falou para ele que seria muito difícil, mas disse: "Assim, se você realmente tem essa meta, então você precisa saber bem o latim. Então, você venha todos os dias aqui à casa paroquial, e eu vou reservar uma hora para que a gente faça umas lições de latim, para que você domine bem, eh, a língua latina, para ser padre é essencial. E se você já souber o latim quando entrar para o seminário, isso será um diferencial, vai te ajudar muito". Então, foi um conselho, eh, muito sábio. Então, João
Hofbauer tinha 14 anos nessa época, quando ele começa a estudar latim na casa paroquial. E aí, o que que acontece? Ele aprendeu o latim, aprendeu bem. Ele era jovem, era muito inteligente, eh, tinha uma certa facilidade para os estudos, lia muito bem, retinha os conteúdos que ele estudava com muita facilidade, né? Tinha uma memória admirável, era um rapaz muito inteligente, mas ele começou a perceber que, realmente, né, embora ele tivesse o desejo, embora ele rezasse, embora ele pedisse muito a Deus essa graça, ele não conseguiu ninguém que o apadrinhasse. O pároco da paróquia dele era
muito pobre, não tinha como sustentar um seminarista da paróquia, e a família, menos ainda. Então, ele teria que aprender um ofício, uma profissão. Então, nessa época, com a ajuda do padre, com a ajuda de algumas pessoas da paróquia que tinham uma certa influência, eh, na cidade, eles conseguiram um trabalho como aprendiz de padeiro para o menino, né, o João Hofbauer. Então, ele entra como aprendiz numa padaria e ele se deu muito bem nesse ofício. Então, eh, naquela época, né, século XVI, ainda existiam, eh, esses resquícios das corporações de lá da Idade Média, né? Ainda existia
um pouco disso na Europa. Então, quando um sujeito entrava como aprendiz, ele precisaria ser avaliado por aqueles que ensinavam, e, ao ser avaliado, não bastava assim ele entrar e aprender o ofício, não. Para poder, eh, realmente ser considerado, por exemplo, um padeiro, e um bom padeiro, ele precisaria produzir coisas assim com uma excelência, uma qualidade, e o pessoal fazia assim uma avaliação muito criteriosa. Qual foi o resultado? Esse menino aprendeu muito rapidamente o ofício. Então, eles consideravam que ele tinha uma mão muito boa, né, não só para fazer os pães e os doces como também
para cozinhar. Então, ele aprendeu também o ofício de cozinheiro, então ele conseguia cozinhar qualquer prato e tinha uma boa noção de temperos. Então, tudo isso fez com que ele voasse, né, nessa profissão, inclusive ele fazia todo o trabalho mais refinado, sobretudo na produção de doces, né, típicos ali, eh, da região dele. Então, ele adquiriu assim, digamos, um sucesso, né, eh, dentro da profissão dele. Então, ele entra como aprendiz no ano de 1767. Olha que interessante, né, como a providência de Deus trabalha paralelamente, né, onde Deus levaria o menino, né, o João Hofbauer, futuramente o Clemente
Hofbauer. Onde Deus tinha pensado, né, eh, esse menino, onde Deus desejava que ele desenvolvesse a sua vocação na Congregação do Santíssimo Redentor, os Missionários Redentoristas fundados por Santo Afonso de Ligório. Então, enquanto São Clemente era um menino aprendiz de padaria, Santo Afonso de Ligório era o Superior Geral do Instituto que ele mesmo havia fundado, a Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentoristas. Santo Afonso fundou os Redentoristas em 1732. Então, no ano de 1751, um, que é quando o menino Clemente nasceu, Santo Afonso já era o reitor da Congregação dos Redentoristas. Santo Afonso já, eh, havia ordenado
aí já algumas das primeiras gerações de missionários redentoristas. Ele já tinha conseguido mais padres para o seu Instituto, né? Ele não era bispo ainda, né, mas ele, eh, já estava desempenhando seu ministério no ano anterior ao nascimento de São Clemente, né? No ano de 1750, Santo Afonso publicou o seu livro, O Grande Livro, a Grande Obra de Mariologia, que era e é, né, até hoje, o livro Glórias de Maria. E, no ano de 1766, quando Clemente tinha 13 anos de idade... Santo Afonso foi eleito bispo e foi consagrado bispo contra a sua vontade. Mas, obedecer
ao Papa, né? Santo Afonso recusou várias vezes o episcopado e, na última vez, ele alegou problemas de saúde e disse ao Papa que ele era fundador de uma congregação, que tinha obrigações com a congregação, não poderia abandoná-la e era muito doente, então não teria condições de ser bispo. A resposta do Papa para Santo Afonso foi a seguinte: "Monsenhor Ligório pode governar a sua diocese com a sua sombra". Então, eu não aceito, né, o seu pedido de não ser consagrado bispo. E aí, Santo Afonso não teve como escapar e o Papa ainda fez com que Santo
Afonso fosse a Roma para ser consagrado bispo. Em Roma, Santo Afonso, bem a contragosto, foi a Roma e, em Roma, foi sagrado bispo por um cardeal, amado do Papa, e depois foi recebido pelo próprio Papa. Então, quer dizer, Santo Afonso, nessa altura, enquanto o menino Clemente era aprendiz numa padaria na sua terra natal, Santo Afonso já era bispo de Santa Ágata dos Godos. Santo Afonso acumulou duas funções: ele era bispo da cidade de Santa Ágata dos Godos, ali no sul da Itália, e mantinha o cargo de superior geral dos redentoristas. Então, a providência estava já
encaminhando as coisas. São Clemente seria o primeiro Redentorista não italiano, o primeiro membro da congregação de Santo Afonso que não era italiano, né? Então, olha como a providência trabalha, né? Então, de 1767 a 1770, Clemente aprendeu esse ofício de padeiro. E aí, em 1770, ele arrumou um emprego na padaria do mosteiro premonstratense, né, da cidade de Closter Brack, né, nesta cidade que é vizinha à cidade dele, não é muito longe. Ele entrou como funcionário e, em pouco tempo, ele acabou se tornando o padeiro-chefe. Ele era um menino, era jovenzinho, né? Ele tinha 18 anos e
em pouco tempo ele vai se tornar o padeiro-chefe. Então, ele, do ponto de vista profissional, se ele seguisse o seu ofício como padeiro, certamente ele teria condições de ajudar a família, como ele já ajudava, e teria um certo sucesso na profissão. Mas, ainda assim, não era o que ele queria; ele ainda sonhava com o sacerdócio, ainda buscava o sacerdócio. No ano de 1771, ele fez uma viagem à Itália, foi a sua primeira viagem à Itália. Nessa viagem, né, para a Itália, São Clemente foi conhecer os eremitas de Tívoli. Então, tinham dito a ele que em
Tívoli existiam muitos eremitas que eram parecidos com aqueles eremitas da Igreja Primitiva, e o coração do jovem ficou assim muito encantado com essa ideia. E, na cidade de Tívoli, chegando lá, ele decidiu se fazer eremita ali mesmo. Então, em volta do Santuário Mariano que existia ali na cidade de Tívoli, existe até hoje, né? É o Santuário de Nossa Senhora de Quintílio, é o nome, né, do lugar, né? Quintílio, né? Então, existe ali um santuário. Em volta do santuário, existiam vários eremitas. Só que esses eremitas, é interessante, eles não formavam uma congregação religiosa; mas, ao mesmo
tempo, eles não eram soltos. Os eremitas, eles todos dependiam diretamente do bispo diocesano ali de Tívoli e faziam os votos diretamente para o bispo diocesano. Então, o jovem João Hofbauer pede ao bispo diocesano de Tívoli que o admita como eremita, e o bispo admitiu, lhe impôs o hábito de eremita. E aí ele recebeu o nome religioso de Clemente Maria. Então, é aí, né, nós o chamamos hoje de São Clemente Maria Hofbauer. Foi aí que ele tomou o nome de Clemente Maria, né? O segundo nome, Maria, por razões óbvias, né? A sua grande devoção à Nossa
Senhora. E aí ele começa uma vida de muita oração e muito trabalho, né? E se deu muito bem nisso, né? E ficou ali durante um tempo vivendo como eremita. Só que as necessidades da sua família, e também o próprio fato dele ter deixado o mosteiro premonstratense em Closter Brack, fez com que os próprios monges premonstratenses o chamassem de volta ao seu mosteiro. E aí foi feita uma proposta ao irmão Clemente Maria: se ele voltasse ao mosteiro premonstratense, os próprios monges premonstratenses o ajudariam a concluir o estudo de latim e dariam a ele a possibilidade de
estudar algumas matérias eclesiásticas em vista do sacerdócio. Então, São Clemente voltou da Itália, voltou de Tívoli para o mosteiro premonstratense. E aí, nesse mosteiro, ele vai fazendo também as matérias de filosofia. Ele começa a cursar filosofia e, lembrando que, como ele veio depois do Concílio de Trento, ele já deveria estudar as disciplinas eclesiásticas de acordo com a formulação do Concílio de Trento. Então, no ano de 1776, ele concluiu o curso de Filosofia. Então, era preciso agora começar a teologia em vista do sacerdócio, mas ele não conseguiu ir adiante. Por quê? Ele esteve ali com os
premonstratenses, ele foi eremita, depois ele esteve com os premonstratenses, e os premonstratenses queriam que ele entrasse para a ordem dos premonstratenses, né? Inclusive, já o conheciam, ele conhecia o mosteiro, conhecia o carisma. Mas Clemente começa a perceber em si um apelo de Deus para o apostolado, para a pregação, para a conversão. Então, quando os premonstratenses fazem essa proposta, ele nega. Ele diz: "Eu não posso aceitar porque aqui os senhores têm a vida contemplativa, têm o carisma de São Norberto." Ele falou: "Mas não é o que eu procuro." E aí, diante dessa recusa, foi dito a
Clemente que ele não poderia continuar no mosteiro nem como padeiro. Então, ele volta para casa, né? Ele volta para casa, junto da família, e depois ele passa a viver perto da sua cidade natal, né, numa cidadezinha chamada M. Fruem, nessa cidadezinha. Uma cidade bem pequena, ele se retira para as montanhas de novo, como eremita, e passa ali dois anos de uma vida solitária. Rezando muito, fazendo muitas penitências, pedindo a Deus que o iluminasse para que ele conseguisse discernir bem a sua missão, o seu papel, né, na Igreja. E aí a mãe dele, a própria mãe
de São Clemente, vai até ele, conversa com o filho e insiste com ele para que ele deixasse o eremitério, né, onde ele estava ali por dois anos. A mãe o convence a voltar a trabalhar como padeiro; ele era mesmo, né, de fato, um padeiro excelente. As pessoas conheciam a qualidade daquilo que ele fazia. E a mãe, então, o convence; ele volta. Só que, nessa altura, ele consegue um emprego, né, que já não era mais na sua cidade natal, ali na República Checa, mas em Viena. Na cidade de Viena, havia uma padaria tradicional; era uma padaria
que, inclusive, fornecia pães não somente para a nobreza, mas para o próprio Imperador. E é nessa padaria que Clemente consegue o emprego. E aí, muito bem, nesta padaria, ele ia fazendo seu trabalho por ser um padeiro muito competente, mas ao mesmo tempo um rapaz muito piedoso, porque antes de todas as suas obrigações, ele era sempre visto, logo de madrugada, de manhã cedo, rezando o seu Rosário, né? Então, naquela época, não tinha nem Frei Gilson, né, e antes das 4 da manhã, o jovem Clemente já estava rezando o seu Rosário. Em seguida, amassava os pães, já
assava as primeiras fornadas, né? E aí, quando as fornadas iam saindo e o movimento da padaria diminuía um pouco, ele participava da Santa Missa todos os dias. Foi então que duas senhoras católicas começaram a perceber que aquele padeiro talentoso era também um jovem muito piedoso, de missa diária, que rezava o Rosário e que era muito elogiado pelos seus patrões por conta dos bons conselhos que dava aos seus colegas de padaria e pelo bom exemplo que dava, né, levando uma vida extremamente correta, uma vida edificante. Então, essas duas senhoras fizeram amizade com ele, começaram a conversar
com ele, inclusive nas missas, né, onde Clemente frequentava. E, então, essas senhoras conheceram um pouco da história dele: ele tinha sido eremita, trabalhou para os Premonstratenses, era de origem muito simples e tinha esse desejo pelo sacerdócio, perdão, né? Então, ele queria ser sacerdote, queria ser padre, queria dedicar a sua vida. Isso! E aí, estas duas senhoras se apresentaram a Clemente como suas madrinhas; elas se ofereceram para pagar todos os estudos de teologia para que ele pudesse, então, tornar-se sacerdote. Ele já estava com 29 anos; ele já estava, digamos assim, fora da idade, né, de fazer
os estudos teológicos, né, fora da idade assim, né? Porque o padrão naquela época era de ordenar sacerdotes com 23 anos, 24 anos, e ele já tinha 29 anos e começaria a teologia. Mas, muito bem, né, na verdade não existe assim um limite, né, para a Igreja, nem naquela época nem hoje, né? Se o sujeito tiver realmente um chamado, ele pode buscar o sacerdócio, mesmo mais velho, né? Mas eu falo assim pelo padrão comum daquela época: 29 anos já era uma idade, né, já mais avançada, digamos assim. Então, ele entra para a Universidade de Viena e
começa a fazer ali os seus estudos de teologia. Na Universidade de Viena, ele fica extremamente frustrado com os cursos das matérias eclesiásticas; dentro da Universidade de Viena, a Áustria, uma nação católica, né, tem grandes santuários e muitos santos. Tem uma tradição católica fortíssima, mas São Clemente, ao entrar no curso de teologia, ele se depara com um curso extremamente eivado, recheado de ideologias vindas da Revolução Francesa. Então, o curso de teologia era cheio daquele racionalismo iluminista e outras doutrinas anatômicas que eram ensinadas dentro da universidade sob patrocínio do imperador, que era um imperador católico. Então, aquele
racionalismo, aquele anticlericalismo, aquela visão, às vezes até jocosa, em relação à religião, em relação à fé, né, e até mesmo às vezes brincadeiras com as coisas santas por parte dos professores, eh, e também o uso dentro dos cursos de teologia de obras filosóficas. Então, eles usavam um instrumental filosófico iluminista para explicar a teologia. E isso só podia ser um desastre total e completo. Então, o instrumental era anticlerical para falar de algo que é profundamente eclesial, né? Então, é um contrassenso. E aí, inclusive, ele vai entrar no embate. Clemente era um rapaz alto, grande, né, corpo
lento, né? Quando ficou mais velho, ele ficou até um pouco mais gordo, mas ele era naturalmente alto, de olhos bem azuis, cabelo loiro, uma compleição física robusta e era um sujeito muito decidido, muito bom, muito caridoso, muito bondoso com as pessoas, mas extremamente firme e sincero para falar as coisas na cara de quem quer que fosse. Então, ele não era nem um pouco politicamente correto, nem um pouco preocupado se iria ofender alguém quando se tratava de defender a Igreja, Nosso Senhor Jesus Cristo, Nossa Senhora, aquilo que é próprio de um católico. Então, São Clemente não
negociava os seus valores, a sua fé, por nada. E numa determinada ocasião, ele estava numa aula de teologia dogmática em que o professor começou a caçoar da historicidade das histórias que a Bíblia narra. A gente vê isso até hoje, né? Então, o professor começou a caçoar, falando de alguns eventos do Antigo Testamento. “Ah, mas como que isso ia acontecer? Vocês acham mesmo que foi isso?” E começou a zombar de alguns pontos da escritura. Num dado momento, né, Clemente se levantou, pegou a capa que estava pendurada, né, na parede da sala de aula, pegou a capa,
pegou o chapéu e começou a se ajeitar para sair. Aí o professor perguntou... Onde o rapaz vai sem a minha permissão? E São Clemente, decididamente, respondeu: "Eu não fico no mesmo ambiente onde um sujeito que recebe o seu salário da Igreja para ensinar as matérias próprias da Teologia da Igreja, mas que fala contra a Igreja. Eu não fico no mesmo ambiente de uma pessoa que é tão desonesta a este ponto." E aí começa ali uma discussão, e São Clemente foi extremamente firme e disse que não negociava com hereges e zombadores daquilo que era o tesouro
da fé católica. Ele virou e foi-se embora, e não pisou mais na Faculdade de Teologia de Viena, decididamente. Isso, né, fez com que muitos dos colegas de Clemente, né, seminaristas de ordens e congregações religiosas que frequentavam aquele curso, e sobretudo os próprios rapazes do clero de Viena, eh, adquirissem assim uma admiração enorme pela coragem, pela intrepidez em defender a fé católica num ambiente extremamente racionalista. Então, isso chamou a atenção das pessoas em relação a Clemente. E aí, então, em 1784, ele deixa a universidade e continua trabalhando como padeiro por um tempo. Em 1784, ele faz
uma peregrinação à Itália e vai junto com um companheiro, né, um austríaco chamado Tadeo Ribel. Né, o Tadeu Ribel pensava mais ou menos como Clemente, tinha um temperamento um pouco mais tranquilo que o de Clemente. Clemente era mais, eh, um colérico, talvez, né, era um sujeito assim muito firme, duro, decidido assim nas coisas, né, e Tadeo Ribel era um pouco mais, eh, fleumático, talvez. Eh, eh, tinha assim um temperamento muito tranquilo, muito, eh, sossegado diante das situações, né, mas também era um rapaz muito santo, muito correto, e que também tinha o desejo de abraçar o
sacerdócio. Então, foram Clemente e o seu amigo Tadeu Ribel em 1784 e decidiram buscar uma ordem religiosa, uma família religiosa lá na Itália e ingressar lá para buscar o sacerdócio. Eles pensaram no seguinte: na Áustria, o rei se rendeu totalmente à ideologia racionalista iluminista. O rei, na Áustria, né, o imperador austríaco era Dom José II, que inclusive implantou o regalismo. O que era o regalismo? Eh, ele começou a abusar dos privilégios que a Santa Sé havia dado aos monarcas austríacos e começou a nomear bispos que eram partidários das suas ideias, e começou a causar um
dano terrível na Igreja da Áustria. Então, Dom José nomeou maus bispos, bispos adeptos do racionalismo, adeptos de ideologias que começaram a corroer o bom trabalho apostólico que se fazia ali dentro da Áustria. Então, São Clemente viu que ali o ambiente não seria favorável, era melhor procurar uma comunidade religiosa na Itália. E aí os dois começaram a procurar várias comunidades religiosas e não foram aceitos em várias comunidades religiosas. E aí, então, eles resolveram fazer o seguinte: eles rezaram muito para Jesus, estavam na cidade de Roma, e fizeram um propósito. A primeira igreja que batesse o sino
na madrugada, eles iriam para aquela igreja, e a comunidade religiosa que tivesse ali, eles não sabiam qual era, mas pediriam para ser recebidos ali. Fizeram esse trato com Jesus, né, que o Senhor faça bater os sinos da comunidade religiosa onde o Senhor nos quer, e nós vamos até lá e vamos pedir para ser recebidos. Muito bem, às 4 da manhã, na festa de São José, dia 19 de março de 1785, dia de São José, a primeira igreja que bateu sinos perto do local onde Tadeo Ribel e Clemente Hofbauer estavam hospedados foi a Igreja de São
Julião. Era a igreja administrada pelos redentoristas, os missionários redentoristas. Então, eles foram até aquela igreja e se depararam com uma congregação religiosa que eles não conheciam. Era uma congregação jovem, uma congregação nova. Inclusive, o fundador estava vivo ainda: Santo Afonso ainda estava vivo. Santo Afonso morreu em 1787, dois anos depois. Muito bem, foram recebidos no noviciado, Clemente e Tadeu, e se tornaram missionários redentoristas. Fizeram o noviciado, terminaram de estudar Teologia, professaram os votos e foram ordenados padres. No dia em que São Clemente foi ordenado padre, ele e o padre Tadeu Ribel, que foi o grande
companheiro dele, eh, os redentoristas tinham um costume, né, digamos assim, uma tradição implantada pelo próprio Santo Afonso, e é uma tradição catequética que visa mostrar para os novos sacerdotes o que é o sacerdócio. Essa tradição, ela faz o quê? Né, ela... Santos Afonso pensou no quê? Era uma tradição muito curiosa. Assim, eles eram ordenados sacerdotes com toda a pompa, com toda a beleza, né, da cerimônia da ordenação sacerdotal. Acabada a celebração da Santa Missa, as pessoas faziam a fila para receber a bênção, a bênção dos neoc sacerdotes, que impunham as mãos e davam ali a
bênção um por um, né, daqueles que iam chegando diante deles. E, depois disso, eles se recolhiam para uma confraternização na comunidade religiosa. Aí, na comunidade religiosa, quer dizer, diante do povo, eles estavam paramentados, dando a sua bênção, né, enfim, novos sacerdotes da Igreja. Quando eles entravam para a comunidade religiosa, a comunidade religiosa inteirinha se sentava, e os neoc sacerdotes, os que haviam acabado de ser ordenados, iam servir à mesa para os outros. A festa era deles, mas quem servia as mesas eram os neoc sacerdotes. E Santo Afonso instituiu isso para que os novos padres entendessem:
o que é o sacerdócio? Sacerdócio é serviço, é serviço à Igreja, é serviço aos irmãos. O sacerdócio é uma graça que está no padre, mas ela não é apenas para o padre; é para os outros. Então, Santo Afonso colocou isso, e no dia em que foram ordenados, eh, foi exatamente isso que eles fizeram. Eles foram servir à mesa dos outros, né? E é interessante que, quando eles entraram no noviciado e professaram, né, o irmão Clemente Maria e o irmão Tadeu Ribel, quando eles professaram na cidade de Pagani, no sul da Itália... Santo Afonso ainda vivia.
Avisaram Santo Afonso que existiam dois estrangeiros, mas que o primeiro deles era Clemente Maria. Santo Afonso já estava mais doente, ao quebrado, no fim da vida, quando falaram para ele que entraram dois estrangeiros. Santo Afonso, que já estava bem corcunda, ele se endireitou e sorriu. Disseram para ele que era um, na época, como aquela região, da que depois se tornou República Checa, mas aquilo tudo pertencia à Áustria. Falaram para Santo Afonso que eram dois austríacos, e ele se endireitou e riu, e disse assim: "Dois austríacos! Então agora a congregação, por vontade de Deus, vai começar
a se expandir". Aquilo alegrou o coração do fundador em ter essa notícia. Santo Afonso ficou sabendo de São Clemente. Nunca se encontraram, mas ele ficou sabendo e ficou feliz. Disse assim, aos padres que estavam à sua volta, que rezaria muito por eles e que rezaria para que Deus mandasse outros tantos. Então, poucos meses depois da ordenação, esses dois sacerdotes estrangeiros foram convocados pelo superior geral dos redentoristas, quem era o superior geral naquela altura? O padre Francisco de Paula. E eles receberam uma missão do padre de Paula: deveriam ir para a Áustria e estabelecer a congregação
redentorista fora da Itália, para além dos Alpes. Foi uma nomeação totalmente inesperada, tanto São Clemente quanto o padre Tadeu Ribber imaginavam que iam ficar na Itália, pois eram padres recém-ordenados. Receber essa missão e avisaram a Santo Afonso: "Os dois rapazes que foram ordenados foram mandados para além dos Alpes". E aí, quando Santo Afonso ouviu essa notícia, ele disse assim: "É vontade de Nosso Senhor Jesus Cristo que a congregação que eu fundei esteja de pé até o dia do juízo final e a difusão dela vai começar agora". Então, o próprio Santo Afonso profetiza, dizendo que a
congregação dele durará até o juízo final e que a difusão dela começava ali. O padre Clemente e o padre Tadeu Ribber vão para a Áustria. Só que era uma missão extremamente difícil, pois iriam chegar a uma nação totalmente tomada pelas ideologias do Iluminismo e da Revolução Francesa. Então, quando eles tentam se estabelecer na Áustria, não conseguem. A situação política não permitiu que Clemente permanecesse em seu próprio país. Nessa época, o imperador austríaco foi fechando várias comunidades religiosas, chegando a fechar mil mosteiros dentro da Áustria. Ele acabou com a vida religiosa. O que se queria na
Áustria? Um clero 100% diocesano; não se queriam congregações religiosas porque alegavam que eram instituições estrangeiras penetrando no país e que iriam, de alguma maneira, afetar o poder do monarca. Eles tinham aquela ideia do despotismo esclarecido, do rei que é um déspota, um rei autoritário, mas que é esclarecido porque usa ideias iluministas. Então, tinha-se essa mentalidade, e o imperador, infelizmente, caiu nessas ideias e foi fechando comunidades religiosas, proibindo religiosos, inclusive, de usar o seu hábito. Os padres todos tinham que usar a batina de padre diocesano. São Clemente peitou; ele entrou na sua terra natal usando o
hábito redentorista. A polícia veio adverti-lo de que ele não poderia usar aquele hábito, e ele continuou usando. Ele não tirou em momento algum o hábito, o hábito de colarinho branco, a batina preta com o rosário na cintura. Só que qual foi o problema? Era uma nova congregação religiosa chegando e a abertura de qualquer casa religiosa precisava do placet, da permissão do rei, a permissão do imperador. O imperador austríaco não deu. Então, diante dessa situação, e como eles tinham mandato de levar a congregação para fora da Itália, acabaram indo para onde? Para a Polônia. Então, no
mês de fevereiro de 1787, São Clemente e o padre Tadeu Ribber chegam em Varsóvia. Era uma cidade com 124.000 habitantes, naquela altura, uma cidade muito grande para os padrões da época. Então, eles pensaram que seria um bom campo de missão. Em Varsóvia, eles vão começar a congregação redentorista fora da Itália; a Polônia foi o primeiro lugar onde os filhos de Santo Afonso vão chegar. Só que Varsóvia era uma cidade que tinha 160 igrejas, 20 mosteiros e dezenas e dezenas de conventos. Ao mesmo tempo que a cidade era muito povoada de igrejas, não havia um trabalho
missionário tentando trazer essas pessoas para uma vida religiosa de verdade, uma vida de fé, uma vida sacramental, confissão regular, uma conversão de vida, uma mudança de comportamento. E Varsóvia também tinha uma pobreza crescente, do ponto de vista material, e do ponto de vista espiritual, pior ainda. Então, a população, de um modo geral em Varsóvia, era uma população miserável e muito mal educada. Era uma população também muito hostil a algumas coisas da fé, muito supersticiosa; e muita gente em Varsóvia estava deixando a igreja e ingressando na maçonaria. A maçonaria estava crescendo a olhos vistos em Varsóvia.
E esse era o campo de missão que São Clemente e o padre Tadeu Ribber iam encontrar. A Polônia, nessa época, do ponto de vista político-histórico, estava vivendo uma turbulência política enorme. Bem no ano em que Clemente chega ali, 1787, é interessante que, quando a congregação estabelece a sua primeira casa fora da Itália, é o ano da morte do fundador. Santo Afonso morreu em 1787. Eles chegam em fevereiro, em Varsóvia, na Polônia, e Santo Afonso vai morrer dia primeiro de agosto. Nessa época, na Polônia, o rei que governava a Polônia era o rei Stanislau I, só
que Stanislau I da Polônia não tinha assim autonomia nenhuma; ele era um... Rei católico, mas não tinha autonomia nenhuma; ele era, na verdade, um fantoche da imperatriz Catarina II da Rússia. A Catarina da Rússia, Catarina a Grande, é ela que manipulava a Polônia, mandava na Polônia. Então, é como se o rei Stanislau fosse um satélite da Catarina II da Rússia. No ano de 1772, uns anos antes de Clemente chegar na Polônia, a Polônia tinha sofrido uma divisão dentro do seu território. Então, a Áustria, a Rússia e a Prússia, que era um território alemão, dividiram a
Polônia, dividiram o território polonês. E aí, depois, chega Clemente em 1787, já com essa divisão de território. Em 1793, quando Clemente já estava lá em Varsóvia, a Polônia vai sofrer uma nova divisão. Em 1795, uma outra divisão ainda territorial. E aí, nessa época, também, para ajudar todo esse contexto confuso ali na política europeia, Napoleão e o seu exército, que era um exército muito bem equipado e muito bem treinado, estavam marchando por toda a Europa e tentando expandir o domínio francês para todo canto. Então, quer dizer, tudo isso contribuiu para um cenário muito difícil para trabalhar.
Então, Clemente vai ficar 20 anos em Varsóvia, e nesses 20 anos ali na Polônia, a gente não pode falar que São Clemente teve um ano mais tranquilo; nenhum ano foi tranquilo, do ponto de vista político: perseguições políticas, perseguições do rei, leis que mudavam, multas que a comunidade dos redentoristas tiveram que pagar. Então, foi algo bastante terrível. E aí, numa dessas ocasiões em que eles estavam lá em Varsóvia, Clemente chegou a voltar à Áustria. Voltando para visitar os irmãos, a família, ele e o padre Tade Hübler acabaram encontrando um ex-companheiro de Clemente, que é o Pedro
Kman, que era padeiro. Ele também trabalhou junto com São Clemente e depois foi eremita, também junto com São Clemente lá na Itália. Então, Pedro Kman, vendo o Padre Clemente, o padre Tade Hübler, se ofereceu para ingressar na Congregação Redentorista; ele queria ser irmão, irmão leigo, não sacerdote. E aí, o Pedro Kman foi o primeiro irmão redentorista fora da Itália. Então, ele foi admitido, chegaram em Varsóvia, e ali em Varsóvia, eles vão estabelecer essa missão redentorista. Quando chegaram em Varsóvia, eles não tinham um centavo, não tinham igreja, não tinham vento, eles não tinham nada. Então, foram
até o delegado apostólico, o representante do Papa na Polônia, que era um arcebispo chamado Saluto, e este arcebispo deu a eles uma capela, uma igrejinha que estava um pouco abandonada. Era uma igreja chamada Igreja de São Beno ou São Zeno, e essa igreja era a igreja frequentada pelos imigrantes de língua alemã na Polônia. Então, os alemães frequentavam muito ali; como Clemente, Tade Hübler e Pedro Kman, todos falavam alemão. Então, foi um prato cheio. O arcebispo Saluto deu a eles essa incumbência de trabalhar com os imigrantes alemães ali. E aí, nessa época, São Clemente começou a
perceber também a grande quantidade de órfãos que existia por ali e ele começou, então, a recolher essas crianças. Só que ele recolhia de um modo muito interessante; ele não recolhia as crianças no orfanato pensando em dar essas crianças para adoção, ele recolhia como filhos e filhas dele mesmo. Ele começou a fazer um grande trabalho educando esses meninos e meninas e, nesse trabalho, nesse orfanato, São Clemente chegou a juntar 200 crianças, e essas crianças o chamavam de pai; de fato, ele as tratava como filhos e filhas. E o próprio São Clemente, como era padeiro e o
irmão Pedro Kman era padeiro também, eles cozinhavam para as crianças, faziam os pães e depois começaram a ensinar o ofício de cozinhar e o ofício de padaria, de trabalhar com padaria, para essas crianças. E muitas dessas crianças, depois, acabaram se dedicando a essa profissão e aprenderam isso com São Clemente. Só que o número de órfãos foi crescendo demais, e São Clemente deu o nome a esse orfanato de Refúgio Menino Jesus. E aí chegou num ponto que ele tinha tantas crianças ali que, para vestir aquelas crianças e para alimentar aquelas crianças, ele não tinha outro recurso
a não ser pedir esmola. Então, ele tinha que pedir e bater de porta em porta. Um belo dia, São Clemente havia rezado missa e ele estava já no fim da missa, no fim do rito da missa, quando o irmão Pedro Kman subiu no presbitério, subiu aos degraus do altar e falou ao pé do ouvido do Padre Clemente: “Padre, nós vamos servir os últimos pãezinhos e a última porção de leite que temos para as crianças; depois, nós não temos mais nada para o almoço. Nós já não temos o que dar a eles.” E aí, São Clemente,
acabando a missa, se ajoelha diante do altar, diante do sacrário, e bate à porta do sacrário. Inclusive, se vocês procurarem na internet, vão achar muitas pinturas e imagens de São Clemente desse jeito: São Clemente ajoelhado, de batina, ajoelhado no pé do sacrário batendo na porta. E ele bateu à porta do sacrário e o irmão Pedro Kman, o padre Tade Hübler, escutaram a oração do Padre Clemente. Ele dizia a Jesus: “Jesus, eu recolhi essas crianças por amor a vós, porque são seus filhos. Se nós não ensinarmos a doutrina, se nós não os educarmos, quem fará isso
por eles? Jesus, são teus filhos que o Senhor nos confiou.” E aí, São Clemente diz a Jesus, né? Como ele era muito sincero e muito decidido, ele disse a Jesus, mestre... Eu sairei agora para pedir esmolas. Eu farei a minha parte; eu espero que o Senhor faça a sua, que é abrir o coração, as portas e, além disso, abrir também as carteiras, para que as pessoas me deem aquilo que eu preciso para poder alimentar essas crianças. Eu farei a minha parte; que o Senhor faça a sua. E então, Padre Clemente se levanta e vai pedir
esmolas, e foi pedindo esmolas, esmolas para todo canto, e não ganhou nada mais além de portas na cara, muitos desaforos e muitos insultos. Agora, imaginem vocês: ele era um homem colérico, mais iracundo do que paciente. Então imaginem, ele era um empreendedor; ele abriu esse orfanato, esse refúgio. Ele educava esses meninos, ele cuidava dessas crianças; ele fazia tudo com muita energia e muita decisão, mas ele estava recebendo humilhações, humilhações. E então ele percebeu que nosso Senhor queria purificá-lo e ele foi engolindo, aceitando, mas ele tinha dificuldade com isso. Era difícil para ele essa humilhação. Quando ele
já não sabia mais onde pedir, ele viu um bordel, um prostíbulo; ele falou: "Eu vou entrar e vou pedir a estes homens que estão lá dentro, porque se têm dinheiro para beber e para se divertir com esse divertimento indecente, haverão de ter dinheiro para contribuir com a minha obra." E ele entra nesse prostíbulo e pede dinheiro para um, para o outro, e começou a receber insultos, piadas, e aquilo foi causando nele uma certa vontade, quase a de responder. São Clemente era muito, eh, claro, né? Era, né, um germaninho, e as pessoas que o insultavam perceberam
e começaram a brincar com isso. Isso foi causando nele uma dificuldade, até que ele vê um barão, um nobre, que estava ali jogando o seu carteado. Ele chega diante desse homem e pede uma esmola para suas crianças. E esse homem ralha com ele, fica bravo, porque o seu jogo foi interrompido. Mas ele fala: "Ah, você quer uma esmola? Então tá aqui." Esse homem pôs um escarro e cospe na mão estendida de São Clemente. E São Clemente, que era assim, extremamente nervoso com essas coisas, ele, naquele momento, pede a Deus uma graça de não reagir violentamente.
Então, o que ele faz? Ele tira um lenço do bolso, limpa aquele escarro, dobra e mostra para o sujeito, fala: "Isto foi para mim" e guarda no bolso. E depois ele volta a estender a mão e diz: "Agora você me deu dinheiro para as minhas crianças", e ficou fixamente olhando para aquele homem. E aquele homem tirou ali um dinheiro e deu ao Padre Clemente. Mas o maior presente, a maior contribuição ainda não tinha acontecido. No dia seguinte, Clemente conseguiu o dinheiro, sustentou as crianças naquele dia. No dia seguinte, de madrugada, eles abriam a igreja; de
madrugada, a primeira igreja que abria em Varsóvia era a igreja do Padre Clemente. Às quatro da manhã a igreja estava com as portas abertas para que fosse rezada a primeira missa. Em seguida, os padres atendiam confissão e depois havia uma outra missa, e assim iam funcionando ali os serviços religiosos dentro daquela paróquia. Era inverno, nevava, e um dia, o dia seguinte desse evento, né, do escarro, São Clemente vinha para abrir a porta da igreja junto com o irmão Pedro Kman, quando escutaram barulho de alguém que tiritava de frio. Ainda não era hora de abrir a
igreja; eles estavam ajeitando as coisas. Mas ao escutar que alguém tremia de frio do lado de fora, o irmão Pedro Cusma e o próprio São Clemente falaram: "Vamos abrir e recolher essa pessoa para dentro, senão vai morrer de frio lá fora." E qual não foi a surpresa quando abrem as portas e encontram, do lado de fora, ajoelhado na neve, rezando na porta da igreja, entre lágrimas, o barão que no dia anterior havia escarrado na mão de São Clemente. Esse homem, ao olhar para Padre Clemente, ele disse: "Padre, eu vim lhe pedir desculpas e vim lhe
pedir se o senhor pode atender à minha confissão." Esse homem, afastado da igreja por anos e anos, se confessou; uma longa confissão acompanhada de um choro muito sentido pelos seus pecados e pela vida que ele tinha levado. E este homem se tornará o grande bem-feitor de São Clemente. Então, São Clemente não só conseguiu um bem-feitor, né? Então, eh, como Deus age quando nós conseguimos, né, com a ajuda da sua graça, não agir por impulso, mas agir movidos pelo Espírito Santo. E aí, então, nessa época, os redentoristas perceberam que na igreja deles havia pouca gente e
o povo, em geral, tinha uma certa dificuldade de confiar em padres estrangeiros. O que São Clemente fez para conquistar a atenção daquela gente? Primeiro, o trabalho com os órfãos; isso quebrou a barreira e muita gente se aproximou da igreja de São Beno. A segunda coisa, a beleza e a solenidade da liturgia. São Clemente era um bom músico e também tocava vários instrumentos. Então, ele começou a compor um coro paroquial, e foi um coro que ele ensaiou muito bem. Inclusive, ele compôs várias canções que, infelizmente, quando os redentoristas foram expulsos de Varsóvia, muitas dessas canções se
perderam, né? Então, para a gente saber dessas músicas de São Clemente, só lá no céu, né? Imagino eu que os anjos devam cantar, né, eh, aquilo que São Clemente compôs, porque isso tudo acabou se perdendo. Mas São Clemente investiu muito no embelezamento do templo, no uso de muitas flores para ornamentar o altar, na compra de paramentos belíssimos, em sermões bem preparados, missas bem rezadas, o coro cantando muito bem. Rapidamente, a igreja de São Beno era uma das igrejas que mais enchiam em toda Varsóvia. No ano de 1791, era o quarto ano, né, que os redentoristas
estavam ali em Varsóvia; eles ampliaram o orfanato, abriram internato para meninas também, então passaram a ter meninos e... Meninas, e essas meninas, elas eram cuidadas por um grupo de senhoras católicas que eram todas dirigidas espirituais de São Clemente. Então, as meninas eram cuidadas por essas senhoras; os meninos eram cuidados diretamente pela comunidade religiosa, e o dinheiro para financiar tudo isso vinha de muitos benfeitores. Né? São Clemente conseguiu muitos benfeitores, mas ainda assim, volta e meia, ele precisava esmolar para conseguir atender toda a demanda, todos os gastos ali, que existiam. Né? É, nessa demanda, toda que
não era uma demanda pequena; né? Gastava muito dinheiro. Então, muito bem, nessa época, né, São Clemente já tinha uma comunidade religiosa um pouco maior. Eram cinco padres e três irmãos redentoristas. E aí, eles começaram um trabalho interessantíssimo em Varsóvia, que era chamado de Missão Perpétua. Porque os redentoristas, eles pregam missões, eles pregam em várias cidades. Né? E como que funcionava as Santas Missões? Né? Santo Afonso pensou: as santas missões eram um tempo de graça, era um tempo onde os padres chegavam e faziam pregações muito contundentes, mesmo falando dos novíssimos do homem, morte, juízo, inferno, Paraíso,
da necessidade de confissão, de conversão. E depois, os padres se colocavam como apóstolos para atender confissões, para orientar as pessoas e também para pregar sobre doutrina católica. Então, a Igreja de São Beno, ela virou o quê? Uma Missão Perpétua. Como que funcionava? Todos os dias tinha confissão, tinha pregação, tinha missas. Isso, todo dia. Então, isso foi atraindo muita gente, né, para a Igreja de São Beno. E ali, eles faziam sermões em alemão e em polonês e também atendiam confissões nessas duas línguas e, às vezes, até em outras línguas, em italiano e por aí vai. No
ano de 1800, o crescimento da missão dos redentoristas, ele começou a se expandir muito, né? E o número também de missionários ali naquela comunidade começou a aumentar. Em 1800, já eram 21 padres e sete irmãos, tinha cinco noviços e quatro seminaristas já nessa época. Então, começou a aumentar muito a comunidade. E esse trabalho todo, né, os redentoristas faziam em condições muito, muito precárias. A casa religiosa onde eles moravam era muito improvisada. Tudo era muito difícil, né? Era muito desafiador. Mas eles seguiam ali o trabalho. Uns anos antes dessa expansão, no ano de 1787, quando eles
chegaram, no dia primeiro de agosto, o dia da morte de Santo Afonso, o Padre Clemente estava numa ponta da mesa, na outra ponta da mesa estavam os dois conversando. Quando vê, a mesa deu um estalo assim, muito grande, sem motivo, sem razão nenhuma. Na hora em que isso aconteceu, São Clemente se ajoelhou e falou: "Padre Tadeu!" Ele falou: "Se ajoelhe também, vamos rezar pelo nosso fundador." O Monsenhor Ligório acaba de ser chamado à presença de Deus. Meses depois, chega a carta avisando que Santo Afonso havia morrido ao meio-dia do dia 1º de agosto de 1787,
exatamente no momento em que eles estavam sentados à mesa para almoçar. Né? Então, de fato, aquele estrondo na mesa, né, foi um sinal que São Clemente percebeu já de imediato, né, que era a morte do fundador. Né? Então, politicamente, né, os redentoristas ali na Polônia, eles tiveram muitos problemas porque eles eram estrangeiros, né, eram austríacos. Então, eles sofriam esse preconceito por serem estrangeiros. Agora, além desse tipo de ataque, havia também ataques pessoais. Então, por exemplo, tinha muito católico que abandonava a Igreja Católica, virava maçom e começava a orquestrar ataques ao trabalho que os redentoristas faziam
ali, né? E aí, esse pessoal tramava contra as obras, contra as pregações, contra o trabalho de alguns sacerdotes, eh, justamente no sentido de tentar fechar a igreja desses padres. E São Clemente era o alvo predileto, né, da maçonaria ali em Varsóvia. Né? E aí, os redentoristas tinham que ficar sempre muito atentos a essas emboscadas. Né? Eh, para vocês terem uma ideia, até do ponto de vista físico, era muito perigoso para os redentoristas saírem à rua sozinhos, né, porque existiam muitos maçons que ficavam à espreita com pedras ou até com paus para agredir, para bater nos
redentoristas. Né? Eles chegaram, por exemplo, né, para citar um caso aqui, a mandar uma vez um pernil assado envenenado para a casa dos padres. E esse pernil, né, chegou no convento dos redentoristas e vários comeram. Nem todos comeram, mas vários comeram. E quatro padres morreram envenenados por esse pernil, intoxicados. Né? E, então, isso na época, para São Clemente, foi um golpe terrível. Ele era o superior da comunidade e esses padres eram padres jovens, morrer sem que ele pudesse fazer nada, né? E no mesmo ano, logo depois da morte dos quatro padres, chegaram quatro rapazes querendo
ser padres, né? Então, o próprio São Clemente, ele viu nisso um sinal de Deus, né, cuidando daquela comunidade, mandando mais quatro candidatos. Né? Depois de um tempo, quem faleceu foi o Padre Tadeu Rib, que era o grande amigo, né, de São Clemente, o companheiro de missão de São Clemente. E o Padre Tadeu, ele recebeu um falso chamado para atender um doente e, muitas horas depois, né, eles vieram buscá-lo. Ele devia ir atender esse doente e, na verdade, ele foi sequestrado. Muitas horas depois, ele foi lançado para fora de uma carruagem em grande velocidade, depois de
ter sido torturado e espancado. Quem fez isso? A maçonaria. A maçonaria espancou o Padre Tadeu, tentou tirar dele informações sobre a comunidade religiosa para conseguir elementos para tentar expulsá-los dali. E depois, ele foi atirado fora dessa carruagem. Ele foi achado com vida, foi resgatado, foi levado para o convento, mas morreu poucos dias depois. Ele não conseguiu resistir à tortura e à quebra de ossos que ele teve, né, quando ele foi lançado fora dessa carruagem. E São Clemente ficou... Muito consternado com a morte do amigo e as circunstâncias violentas da Morte, e desse Redentorista, né? Mas
os ataques não pararam. Eles foram seguindo, né? E aí os redentoristas, por exemplo, em Varsóvia, passaram a ser alvo de peças teatrais feitas pela maçonaria para zombar da agregação. Então, existiam personagens que eram caricaturas de São Clemente, de padres da comunidade, de irmãos da comunidade, né? E aí os próprios padres poloneses, alguns padres poloneses, vendo o movimento da igreja dos redentoristas, começaram a querer boicotar. Eram padres bons, até, não eram padres ruins, não, mas começaram a ficar com aquela dor de cotovelo: "Ah, igreja mais cheia, mais movimento!" E aí começaram a boicotar o trabalho dos
redentoristas, né? Então, os redentoristas ficaram ali 20 anos, 20 anos sofrendo assaltos. Eles foram assaltados várias vezes, sofrendo invasões do convento, sofrendo zombarias, e sofrendo calúnias de todo tipo; sofrendo até com um assassinato de membros da comunidade, né? Mas o que eles faziam em troca? Eles faziam bem. Eles atendiam confissões, eles atendiam os doentes, eles pregavam; fizeram várias missões. Mas, em 1806, foi promulgada uma lei que proibia os sacerdotes poloneses de convidar os redentoristas para pregar missões nas suas paróquias. Então, as missões redentoristas foram proibidas na Polônia. E depois veio uma lei que impediu os
redentoristas de pregar. Pregar, fazer pregação, sermão, eles não podiam fazer sermão. Eles podiam rezar missa na igreja deles, mas pregar, eles já não podiam. E, depois, por fim, com autorização do Rei da Polônia, foi expedido um mandato que proibia os redentoristas de ouvir confissão em toda a Polônia, inclusive dentro da própria igreja deles. Então, eles ficaram totalmente travados no seu apostolado; só podiam rezar missa, não podiam pregar, não podiam atender confissões. Então, o próprio São Clemente, quando viu essa situação, ele resolveu fazer o quê? Ele resolveu dirigir-se ao Duque da Saxônia, que havia subido ao
trono e estava governando a Polônia na época. Então, era um sujeito que sabia do trabalho dos redentoristas, né? Sabiam do bem que os redentoristas faziam. Então, São Clemente falou: "Bom, eu vou recorrer a ele." Mas, para a surpresa de São Clemente, o Rei disse que ele estava em uma situação em que não podia deter a maçonaria; ele não podia mexer com a maçonaria. E, aí, no fim das contas, os redentoristas foram definitivamente expulsos da Polônia no dia 9 de junho de 1808. Onze dias depois do decreto de expulsão, a igreja de São Beno foi lacrada,
e os 40 redentoristas, né, que formavam a comunidade ali de São Beno, foram levados, todos sem distinção, inclusive São Clemente, para a prisão. Eles foram presos, todos, e ficaram presos um mês. Depois de um mês, veio uma ordem do governo da Polônia de que cada redentorista deveria ser enviado para seu país de origem, né? Tinha vários que eram estrangeiros, então todos deveriam ir para seu país de origem. O governo polonês dispersou a comunidade, prendeu e depois dispersou a comunidade. E, aí, então, em setembro desse mesmo ano de 1808, né, São Clemente voltou a Viena. Ele,
que já havia estado, trabalhado, vivido em Viena, voltou para Viena. E lá em Viena, aí sim, ele conseguiria um novo recomeço, né? Ele conseguiria estabelecer a congregação na Áustria, em Viena. A situação política já era mais favorável, então ele ficou de 1808 até 1820, quando morreu. Até a morte, Clemente fica em Viena, né? Então, em 1809, as forças de Napoleão chegaram; ele chegou em 1808, pensou que ia ter um tempo de paz. Em 1809, as tropas de Napoleão atacaram Viena. Então, ele não teve, assim, nenhum tempo de paz, né? Nessa época, São Clemente tinha sido
nomeado capelão de um hospital, e ele estava ali, naquela situação de guerra, com a invasão de Napoleão, atendendo, confortando, ministrando os sacramentos para vários soldados feridos. E, aí, o arcebispo de Viena, sabendo do zelo de São Clemente ao trabalhar ali com os doentes, pediu a São Clemente se ele não poderia cuidar da igreja dos italianos. Havia, dentro de Viena, uma igreja, e esta igreja atraía os imigrantes italianos. São Clemente falava italiano muito bem, então o bispo pediu para que ele pregasse em italiano e, enfim, né, cuidasse daquela comunidade. Ele assumiu esse trabalho e ficou quatro
anos ali, cuidando, né, dessa capelania dos italianos e do hospital também. E, depois, em julho de 1813, ele foi nomeado capelão das irmãs ursulinas, né? Então, ele cuidava das irmãs, ele cuidava dos leigos que frequentavam a casa das irmãs, e todo mundo foi vendo a grande santidade desse sacerdote, o zelo desse sacerdote. Quando ele celebrava a missa, todos viam o encantamento dele, o cuidado dele ao pronunciar cada palavra, o zelo com que ele pregava no púlpito, né? Ele era um homem de uma voz muito forte, muito potente, e, às vezes, ele era muito duro também
no que falava, né? E as pessoas acabavam tomando consciência assim dos seus próprios pecados. Mas São Clemente também sabia, ao mesmo tempo que era duro, ele sabia confortar as pessoas, aproximar as pessoas do sacramento da confissão, eh. Então, São Clemente foi atraindo para junto de si, em Viena, muitos estudantes, e muitos intelectuais começaram a vir para ouvir as pregações dele. Ele era muito inteligente, né? Lia muito e tinha uma memória fantástica. Então, nessa época, São Clemente começa a formar grupos de estudo com os principais intelectuais e políticos de Viena. Em 1814, Napoleão caiu; Napoleão foi
preso pelos ingleses. Em 1815, foi celebrado o Congresso de Viena, que tinha o objetivo de redesenhar o mapa da Europa, devolvendo os tronos aos reis que haviam sido... Prejudicados por Napoleão, as grandes personalidades do Congresso de Viena — políticos, ministros, primeiros-ministros de países — todos eles, enquanto estavam em Viena, começaram a frequentar os grupos de estudo do Padre Clemente. Olha que coisa! Então, São Clemente influenciou diretamente nas decisões de muitos desses políticos, desses diplomatas. Inclusive, São Clemente insistia que, se a Europa queria encontrar a paz, ela deveria devolver a Deus o direito de reinar sobre
as sociedades, porque a Revolução Francesa foi uma grande apostasia, uma grande negação do papel de Deus no campo político. E, assim, São Clemente foi um combatente dos direitos de Deus dentro da sociedade. E aí, então, São Clemente foi fazendo um trabalho assim muito amplo, né? Mas, em Viena, ele também começou a sofrer muitos ataques; um desses ataques veio do próprio clero, e ele foi proibido de pregar. Depois, o que acontece com ele? Ele escreve uma carta ao superior geral em Roma, contando o que estava fazendo em Viena. Essa carta foi interceptada, e o governo austríaco,
que era um governo regalista — o rei interferia diretamente nas coisas da Igreja —, então Clemente teve essa carta interceptada e foi acusado de querer montar uma sucursal de uma congregação estrangeira dentro do território do Imperador de Viena, o Imperador dos Austríacos. E aí, o que acontece com essa carta interceptada e com essa acusação? Quase Clemente foi expulso da Áustria pelo simples fato de ter mandado uma carta para o seu superior. Ele chegou a ser processado, foi levado a julgamento e seria expulso; o parecer dos juízes era pela expulsão. Mas, antes que o Imperador Francisco
da Áustria assinasse essa expulsão, o Imperador fez uma peregrinação para Roma. E, em Roma, o Imperador da Áustria visitou o Papa Pio VI — o mesmo Papa que Napoleão havia mandado prender, e que sofreu muito nas mãos de Napoleão. E, quando o Imperador visitou o Papa Pio VI, o Papa perguntou do Padre Clemente Maria, porque havia chegado aos ouvidos do Papa o grande bem que o Padre Clemente Maria fazia. E aí, ao ouvir isso de São Clemente, o Imperador ficou muito embaraçado e tomou uma decisão que era inesperada do ponto de vista estratégico-político: anulou a
sentença de expulsão de São Clemente. E, então, o próprio Imperador resolveu, de alguma maneira, se aproximar do Padre Clemente, conhecer um pouco da obra do Padre Clemente, e autorizou a fundação dos Redentoristas, de um convento redentorista na Áustria. Assim, ao invés de um decreto de expulsão, São Clemente ganhou uma audiência com o Imperador. Ele pôde falar com o Imperador, e os anos mudaram totalmente. O próprio Imperador sugeriu uma igreja onde São Clemente deveria estabelecer a comunidade, uma igreja que precisaria ser restaurada. O próprio Imperador ajudou a financiar essa restauração, e ali foi composta a primeira
comunidade redentorista na Áustria. Só que, olha que coisa, né? São Clemente foi como Moisés. Moisés, anos e anos com o povo de Deus, quando foi para entrar na Terra Prometida, morreu. E Clemente lutou tanto para ter a congregação estabelecida fora da Itália. Quando, finalmente, ele recebeu uma igreja, um convento, o Imperador começou a fazer a restauração; nesse meio tempo, Clemente faleceu. Então, ele não viu a conclusão dessa obra. No dia 15 de março de 1820, ele já sabia que a comunidade tinha sido aprovada pelo Imperador; ele já sabia que tinha uma igreja destinada para eles,
mas, no dia 15 de março, então, portanto amanhã, que é o dia da festa litúrgica dele, 15 de março de 1820, ele entregou a sua alma a Deus. Morreu em Viena, cercado de muitos amigos e muitos dirigidos espirituais dele. Assim que o Padre Clemente faleceu, misteriosamente, nem o Arcebispo de Viena tinha uma resposta, nem os padres do cabido da Catedral de Santo Estevão souberam explicar. Mas, imediatamente, assim que veio a notícia da morte do Padre Clemente, os sinos da Catedral de Santo Estevão começaram a tocar. E aí, então, quando as pessoas saíram para ver quem
tinha morrido, correu a notícia de que o Padre Clemente havia morrido. E aí, uma verdadeira multidão se aglomerou diante da casa onde ele vivia. Um dos dirigidos do Padre Clemente, Hofbauer, que era o Padre Brentano — um poeta racionalista que se converteu, se tornou sacerdote e chegou a ser, inclusive, diretor espiritual da Beata Catarina Emerick, que escreveu diversas obras a partir de suas experiências místicas; inclusive, as obras da Catarina Emerick inspiraram o filme "A Paixão de Cristo" do Mel Gibson — o Padre Brentano, que era diretor espiritual da Catarina Emerick, ele era dirigido espiritual de
São Clemente; imediatamente, ele se paramenta e reúne vários sacerdotes de Viena que vão em procissão até a casa de São Clemente para trazer o corpo para a Catedral de Santo Estevão. O corpo foi preparado, colocado em um caixão; São Clemente foi vestido com a batina preta, o seu hábito religioso, e sobre os seus ombros foi colocada a estola que ele usava para atender confissões, uma estola que tem os símbolos da Paixão de Cristo desenhados nela e uma referência às dores de Nossa Senhora, a qual São Clemente era muito devoto. Colocado no caixão, o cortejo seguiu
até a Catedral de Santo Estevão e, de novo, uma nova surpresa: a porta principal da Catedral de Santo Estevão é uma porta muito pesada, que requer muitas pessoas para abrir. Essa porta somente é aberta em momentos muito especiais, como, por exemplo, o casamento de um membro da família real ou a coroação. Dos Reis austríacos e sem que ninguém soubesse explicar como, por e quem havia feito aquilo, quando o cortejo chega com o féretro de São Clemente, a porta principal estava aberta, né? E também não souberam explicar como. E então, São Clemente foi velado; teve de
ser velado mais tempo do que estavam prevendo. E no fim do velório, o seu caixão teve de ser elevado para não ficar ao alcance das mãos das pessoas, porque as pessoas, conhecendo a grande santidade de São Clemente, avançaram sobre o caixão e estavam cortando pedaços da batina, estavam levando, assim, até as contas do Rosário dele como relíquias, e arrancaram o pouco cabelo que São Clemente tinha, né? Do ladinho, ele, quando estava mais velho, foi ficando careca, e o pouco cabelo que ele tinha o pessoal arrancou. Até os cabelos dele foram levados como relíquia. Ele foi
sepultado no cemitério central de Viena, e o seu túmulo, já de imediato, foi alvo de muitos e muitos ex-votos; pessoas que pediam graça, alcançavam graças e deixavam placas de agradecimento, deixavam mensagens e tudo mais. E aí a Igreja entendeu que havia ali uma grande fama, mesmo um odor de santidade, e que era necessário investigar. E aí a Igreja começa essa investigação, e no dia 29 de Janeiro do ano de 1888, o Papa Leão XII beatificou, né, o Beato Clemente Maria Rof Bauer. Na ocasião da beatificação, ele foi exumado, né? E um pouquinho antes da beatificação,
ele tinha sido exumado do cemitério e foi levado para a Igreja dos Redentoristas em Viena, que a Igreja de Maria Angelina, né, é o nome da igreja. E dentro desta igreja, São Clemente foi sepultado; foi colocada uma lápide marmórea representando, né, o S. E isso, já em 1909, já é o Papa São Pio X. Em 1914, o próprio Papa São Pio X deu a São Clemente o título de apóstolo e patrono de Viena. Então ele é hoje um padroeiro auxiliar de Viena; ele que nasceu no dia de Santo Estevão, ele é o padroeiro de um
altar, né? Segue sepultado, mas não na mesma sepultura onde ele foi colocado inicialmente, né? É um grande santo, é um santo bastante desconhecido, né? Eh, da maioria das pessoas, mas é um dos grandes discípulos de Santo Afonso de Ligório, né? Então, Santo Afonso foi beatificado e canonizado primeiro, depois foi São Geraldo Magela, irmão redentorista; depois, São Clemente Rof Bauer. São São Geraldo foram canonizados perto um do outro: São Geraldo em 1904, São Clemente em 1909. E depois os redentoristas só tiveram uma canonização em 1977, quando São João Nepomuceno foi canonizado, é o primeiro santo dos
Estados Unidos. Tá bom, muito bem, meus caros. Vocês estão mencionando aqui que estava travando, parece, né? Eh, vamos ver aqui algumas perguntas. Aqui, vamos ver a Vilma comentando: amo esses testemunhos da misericórdia de Deus. Obrigado, meu Senhor, por tudo, especialmente por ter o professor Rafael como instrumento e dar-nos a conhecer os fatos impossíveis na minha imaginação. Imagino que seja isso aqui, né, a mensagem, né? O Luís Barreto: Santa Terezinha do Menino Jesus, padroeira das missões, rogai pelos sacerdotes. Amém, né? Depois aqui, quem mais tem outra mensagem? Quanta beleza tem o nosso catolicismo! Sem dúvida, né?
Os santos são uma grande riqueza para nós, né? O Robson Trajano: professor, no filme da irmã Dulce, é uma cena em que um comerciante cospe na mão da irmã. Ela repete essa mesma frase; essa cena é licença poética inspirada em São Clemente ou realmente aconteceu? Aconteceu essa mesma cena relatada na vida da Irmã Dulce. Agora, o que eu nunca encontrei referência é se a Irmã Dulce se inspirou em São Clemente ou se foi uma inspiração do Espírito Santo mesmo, né? A Irmã Dulce talvez nem soubesse dessa história na vida de São Clemente e, apesar disso,
ela agiu da mesma forma. Eh, pode ser isso, né? Pode ser isso. Vamos ver aqui o perfil Carla Cutz: professor, Tonon, por Deus permite que a vida do santo se torne uma desordem primeiro, né? E somente no fim da vida, Deus mostre a sua vontade, né? Porque fica tudo muito difícil, porque depende, né? Deus, ele tem uma pedagogia que é muito própria para cada pessoa. Nem todos os santos têm essa mesma sequência de vida, né? Onde Deus, às vezes, permite muito sofrimento, muitas provações; né? Às vezes não. Às vezes, tem vidas de santos onde Deus
faz as coisas de modo muito linear; se a gente pegar a vida de Santa Hildegarda, por exemplo, foi uma vida muito linear a vida dela, né? É interessante, ela teve também lá os seus contratempos, mas nada assim muito extraordinário. Agora, tem santos que têm perseguições, sofrimentos que é um negócio absurdo, né, terrível, né? Mas outros já não. Então, é muito a pedagogia de Deus para cada santo, né? E Deus também vai purificando naquilo que é defeito maior na vida de cada um, né? No caso de São Clemente, ele demorou, né, ele demorou um pouco, né,
para mostrar, mas mostrou. Ah, muito bem, falando que vai lá rezar sua preparação, o Luís colocando aqui uma oração pelos sacerdotes. A Ros Can: professor, 1787 para a Polônia. Revolução Francesa foi em 1789, certo? A Igreja era influenciada pelo iluminismo? A revolução foi dois anos após? Estou confusa com as datas. Vamos lá. A Revolução Francesa vem em 1789, mas o processo revolucionário é muito anterior. Então, quando a gente fala da Revolução Francesa, a gente coloca um marco temporal. Qual é o marco temporal? A tomada da Bastilha, em 14 de julho de 1789. Mas antes disso,
a revolução já estava em curso, entendeu? Ela já estava em curso; ela já havia começado a partir de 14 de... Julho, ela piora, ela sai totalmente do controle. Entendeu? Mas é isso: já estava acontecendo. E as ideias iluministas começam lá no início do século XVI. No fim do século X, já existiam ideias racionalistas que evoluíram para as ideias iluministas. Então, essa influência que São Clemente combateu já existia. Agora, a partir de 1789, aí a coisa piora. Ele chega na Polônia em 1787. Então, essas ideias de despotismo esclarecido, ou seja, o rei é um absolutista que
manda em tudo, mas ele adota ideias iluministas, essa ideia já existia. É uma ideia iluminista; já estava em curso, né? As ideias dos grandes filósofos iluministas, Rousseau, Voltair, essas ideias já estavam circulando pela Europa. Então, quando São Clemente chega na Polônia, o ambiente já era um ambiente totalmente contaminado por essas ideologias da revolução. E aí, quando vem a revolução, mesmo, a coisa piora, né? O próprio Santo Afonso chegou a escrever para Voltaire, né? Para Voltaire, e Voltaire nunca respondeu à carta de Santo Afonso. Santo Afonso mandou uma carta argumentando, demonstrando a loucura que eram as
besteiras, que eram as teorias de Voltaire. Voltaire nunca respondeu à carta de Santo Afonso. Aqui, a Silvia. Boa noite! Ótima live, professor. Grata, acompanhando de Guajará Mirim, Rondônia, fronteira com a Bolívia. Que São Clemente rogue por todos nós! É isso mesmo, né? Muito bem! Aqui, várias pessoas nos acompanhando, dando boa noite. Vamos ver, né? Vamos ver aqui quem mais. Ó, a Maria da Penha de Cuiabá, Mato Grosso, muito bem, participando aqui com a gente. Hum, vamos ver aqui quem mais. A Ana de Fátima aqui também, seja muito bem-vinda. Vamos ver aqui outras pessoas cumprimentando. Né?
Vamos ver, a Consuelo, Cauan, Marcelo, Fortes, Felipe, Marisa Silveira, Cauan, Luiz, muito bem, minha gente! Todos vocês aqui presentes, a Lui Junqueira, história maravilhosa e inspiradora, muito bem. Então, agradeço aí a todos vocês que estiveram comigo aqui nesta noite. Amanhã, então, nós celebramos São Clemente Rolf Bauer, né? Conhecendo um pouco da vida dele, tendo assim um panorama, né, da sua história, dos seus desafios, nós possamos também olhar para os nossos desafios, olhar para situações que estão na nossa vida e entender, né, que nós temos muitos intercessores no céu e que, como eles venceram os seus
desafios, nós também podemos vencer. Que Deus nos abençoe hoje e sempre, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém! Curtam, né? Não deixem de dar o seu joinha aí na nossa live e na Livraria Rafael Tonon. Nós estamos com vários itens em promoção, então, adquirindo qualquer um dos materiais lá da livraria, você contribui aqui com o canal. Então, não deixe, né? Se você já contribui com o canal, muito obrigado! Se você ainda não contribui com o canal, então dá uma olhadinha lá na livraria, adquira qualquer material do seu gosto, do seu agrado,
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