O que falta para a humanidade se ver livre da diabetes de uma vez por todas? Será que o Ozempic, que foi criado para tratar diabetes, nos colocou mais próximos dessa meta? No vídeo de hoje eu vou te mostrar a evolução inacreditável do tratamento da diabetes.
Desde a descoberta da insulina até a criação do Ozempic e as inovações que nos esperam daqui pra frente. Este é o quinto episódio da série DIABETES EXPLICADA, em que você vai descobrir como a diabetes passou de uma sentença de morte para uma doença que te permite ter uma vida próxima do normal e vamos falar também se dá para controlar a diabetes sem remédio, só com exercícios e alimentação balanceada. Será?
Pra começar, vamos voltar mais de 100 anos, quando pela primeira vez, o tratamento da diabetes deixou de ser uma missão impossível. E essa revolução se chamava insulina. Hoje, 537 milhões de pessoas vivem com diabetes no mundo.
Mas se essas pessoas tivessem diabetes antes dos anos 1900, elas certamente não sobreviveriam por muito tempo. Naquela época, não existiam tratamentos oficiais para a diabetes, tudo dependia das crenças de cada médico. E justamente por isso, a diabetes geralmente levava à morte em poucos meses, com a pessoa acamada, cega e às vezes até com demência.
Foi só em 1922 que surgiu o primeiro medicamento produzido em larga escala contra a diabetes. E eu aposto que você já ouviu falar dele: é a insulina. Os cientistas tinham acabado de descobrir que, em situações normais, o pâncreas libera insulina para diminuir a glicose do sangue.
Como o excesso de glicose no sangue é a principal característica da diabetes, era quase óbvio tentar usar insulina para reduzir essa glicose elevada. Em questão de meses, os cientistas descobriram uma forma eficiente de extrair grandes quantidades de insulina a partir do pâncreas de porcos. E isso revolucionou a medicina.
Pessoas com diabetes que pareciam estar à beira da morte voltavam à vida minutos depois de receber uma injeção de insulina. Incrível. Mas tinha um problema.
A insulina do porco não era 100% idêntica à insulina humana e, por isso, muita gente desenvolvia um tipo de alergia a ela. Uma reação que impedia o uso da insulina e poderia significar basicamente a morte, já que não havia uma alternativa segura. Além disso, para produzir poucos gramas de insulina para tratar algumas centenas de pacientes, era preciso obter toneladas de pâncreas de porcos.
Algo que não era sustentável, mesmo antes do debate sobre os direitos dos animais se tornar tão relevante como é hoje. Foi só na década de 80, pessoal, que tudo isso mudou. Desde a década de 80, a insulina usada contra a diabetes é uma cópia quase perfeita da insulina que o seu pâncreas produz naturalmente.
A grande novidade foi usar bactérias modificadas geneticamente para produzir insulina humana sem parar. É graças a essa tecnologia que os cientistas conseguiram criar variações mais seguras e mais eficazes da insulina em larga escala. Pessoal, a tecnologia de bactérias modificadas permitiu criar tipos de insulina para serem usadas em situações diferentes.
Além das insulinas tradicionais, hoje já existem insulinas de ação mais lenta, que garantem uma concentração constante de insulina circulando no sangue por até 36 horas. E insulinas de ação ultra-rápida para serem usadas antes ou logo após uma refeição que vai colocar pra dentro muita glicose. Cada uma para ser usada em um contexto, o que permite um controle maior da glicemia.
O tratamento com insulina funciona muito bem para quem tem um pâncreas que produz pouco ou nada de insulina como quem tem diabetes tipo 1 e quadros mais graves de diabetes tipo 2. Mas acontece que 90% dos casos de diabetes são do tipo 2 e vêm de uma resistência à insulina: as pessoas têm insulina circulando, mas não respondem a ela. Simplesmente não adianta injetar insulina.
É aqui que entra um dos remédios mais consumidos do Brasil e que surgiu como solução para a diabetes tipo 2 e até pré-diabetes. Eu estou falando da metformina. Talvez cloridrato de metformina seja um nome novo para você, mas ele é o princípio ativo de remédios como glifage, glucoformin e a metformina genérica ou similar com vários outros nomes.
A metformina age de várias formas no organismo, mas tem três principais. Primeiro, ela aumenta a sensibilidade das células à insulina. Elas voltam a captar glicose, algo que não acontecia por causa da resistência à insulina da diabetes tipo 2.
O segundo alvo dela é o fígado, em que ela age reduzindo a produção de glicose que não deveria acontecer porque a pessoa já tem um excesso de glicose no sangue por causa da diabetes. E a terceira ação da metformina, a cereja do bolo, acontece no intestino. Lá, a metformina diminui a absorção de glicose dos alimentos que você come, o que diminui ainda mais a glicose no sangue.
Com esses efeitos em vários órgãos, a metformina é excelente para manter a diabetes sob controle e justamente por isso ela é o medicamento de primeira escolha para diabetes tipo 2. Até em alguns casos de pré-diabetes ela pode ser usada para evitar a evolução para diabetes. Mas apesar de ser o remédio mais utilizado, ela não é o único.
Existem outros que agem de forma um pouco diferente para reduzir a glicose, e que podem ser usados sozinhos ou em conjunto com a metformina dependendo de contraindicações de cada pessoa e da gravidade da diabetes. Mas apesar do sucesso da metformina e de outros remédios, a diabetes ainda é um desafio para a medicina. Ela afeta vários órgãos, especialmente o sistema cardiovascular.
Tanto que por mais que tenhamos todas essas inovações, as principais causas de mortes entre pessoas com diabetes ainda são complicações cardiovasculares, como infartos e derrames. Era preciso algo novo. Algo que conseguisse diminuir a glicose, mas também conseguissem de alguma forma, reduzir o risco e os danos graves da diabetes nos vasos sanguíneos.
E é aqui que a história dos tratamentos de diabetes fica ainda mais interessante. No início dos anos 2000, surge um tipo de medicamento eficaz, com efeito de longo prazo na saúde e que ainda vem com um brinde: o emagrecimento. Bem-vindos à era do Ozempic.
Ozempic, Saxenda, Victoza, Rybelsus. Todos esses nomes se referem a um mesmo tipo de remédio que não sai das notícias ultimamente. Eles são cópias modificadas do GLP-1, um dos hormônios da saciedade.
O GLP-1 é liberado pelo intestino quando você come e age em vários órgãos. No cérebro, ele bloqueia a sensação de fome e diminui a vontade de comer. No estômago, ele mantém a comida lá por mais tempo, gerando a sensação de que você está cheio.
E no pâncreas, ele estimula a liberação de insulina para que o corpo possa captar a glicose que veio do alimento. É por isso que faz sentido usar um medicamento que simula a ação do hormônio GLP-1 no tratamento do diabetes. Mas o grande bônus desses remédios está em um de seus principais efeitos colaterais.
Diminuindo a sensação de fome, eles diminuem o quanto a pessoa come e geram perda de peso, pessoal. Para quem tem diabetes, isso é fantástico. A perda de peso não só ajuda a diminuir a resistência à insulina, mas também diminui o risco de danos no sistema cardiovascular.
Quem perde peso tende a melhorar a pressão sanguínea, diminui o esforço cardíaco, melhora o perfil de gorduras e colesterol no sangue, diminui a inflamação gerada pelo excesso de gordura corporal… E de fato, um estudo mostrou que quem faz tratamento para diabetes tipo 2 com remédios que simulam o GLP-1 teve redução de 12% no risco de ter qualquer complicação cardiovascular. Todos esses efeitos tornam remédios como o Ozempic uma mão na roda para quem convive com diabetes. O grande lance que justifica o fenômeno do Ozempic em relação aos outros remédios da mesma categoria é que ele gera perda de peso na casa dos 15% em comparação a cerca de 5% dos concorrentes.
Além disso, ele pode ser administrado uma vez por semana, o que é bem mais cômodo do que os remédios anteriores, que precisavam de injeções diárias. Agora já surgiram medicamentos com o mesmo princípio ativo na forma de comprimidos e estão testando fórmulas com um potencial ainda maior de perda de peso. O sucesso é tão estrondoso que um remédio que imita o GLP-1, chamado Wegovy, foi aprovado pela Anvisa como emagrecedor para pessoas obesas sem diabetes.
E sim, para pessoas obesas e não para pessoas que querem perder peso por conta própria ou sem recomendação médica, mas eu acho que essa discussão é assunto para outro vídeo. O que eu preciso te contar depois do seu like por conta de tanta informação de qualidade é que apesar da qualidade de vida que esses remédios podem trazer para quem tem diabetes, eles não fazem milagre, pessoal. Eles são complementos aos tratamentos que já existem e precisam ser somados com mudanças saudáveis no estilo de vida.
A diabetes é diferente em cada caso. Existem sim casos em que é possível manter a glicose controlada por vários meses sem tomar remédio, só com exercícios físicos e alimentação balanceada. Mas mesmo assim, o acompanhamento médico, pessoal, é para o resto da vida, já que a diabetes não tem cura.
E na maioria dos casos o tratamento envolve algum medicamento. Mesmo que de forma temporária. É por isso que ao invés de tratar diabetes, é muito melhor prevenir.
E grande parte dessa prevenção tem a ver com identificar uma situação de pré-diabetes ou garantir que você está completamente saudável através de exames. É sobre exames para detectar e acompanhar diabetes que eu vou falar no próximo e último episódio da série Diabetes Explicada. Se inscreve no canal e clica no sininho aqui embaixo para receber todos os vídeos em primeira mão.
E se você perdeu algum episódio da série, clica aqui para maratonar. Um grande abraço, cuide muito bem da sua saúde e diga Olá, Ciência! .
Tchau.