Olá, amigos! Estamos, aqui, para mais um episódio do nosso estudo do livro Gênesis, do Velho Testamento, à luz da Doutrina Espírita. Hoje, dando continuidade, de certo modo, abrindo uma página paralela, os temas que estamos estudando, ao longo desses episódios, queremos falar ‘genealogia’.
Por trás desse tema – ‘genealogia bíblica’ - que nós já abordamos, aqui, muitas vezes, dando uma visão panorâmica, hoje, nós queremos abordar um tema que está por trás dos símbolos bíblicos, incluindo a genealogia, que é ‘linguagem bíblica’ Para começar a nossa reflexão, eu vou citar uma questão de O Livro dos Espíritos. Nós temos, aqui, a questão 50 e a 51 de O Livro dos Espíritos. Ambas as questões estão em uma parte importantíssima de O Livro dos Espíritos, que é o Capítulo 3.
O Capítulo 3 recebeu o título, por Kardec, de “Criação”. Criação, em português, remete ao termo grego “Gênesis” e ao livro Bereshit, do hebraico, que se refere à gênesis. Nós percebemos que o Capítulo 3 de O Livro dos Espíritos vai tratar desses temas que nós estamos abordando, aqui, direta ou indiretamente.
Olha os itens desse Capítulo 3 de O Livro dos Espíritos: “Formação dos mundos, “Formação dos seres vivos”, “Povoamento da Terra. Adão”, “Diversidade das raças humanas”, “Pluralidade dos mundos”, “Considerações e concordâncias bíblicas referentes à criação”. Então, aqui, gostaríamos de iniciar pela primeira dúvida: muitas pessoas se aproximam de mim ou de outros que participam desse projeto e perguntam: por que estudar o livro Gênesis de Moisés à luz da Doutrina Espírita?
Ora, nós acreditamos que a resposta já está aqui nesse último item do capítulo 3 de O Livro dos Espíritos: “Considerações e concordâncias bíblicas referentes à criação”. O próprio Kardec fez questão de mesclar, na sua abordagem do tema criação à luz do Espiritismo, com a ajuda dos Espíritos superiores, as grandes indagações da Bíblia, as histórias, a abordagem, a linguagem bíblica, a respeito do assunto. Ele utilizou esses conhecimentos que os Espíritos revelaram como uma base, como um suporte para a interpretação do texto bíblico com a finalidade de erradicar dessas interpretações os equívocos que foram se acumulando ao longo dos séculos.
O texto permaneceu, praticamente, invariável, mas as interpretações foram se alterando e foram acumulando erros, acumulando equívocos, ingenuidades, às vezes, disparates e absurdos. Os grandes problemas da Bíblia, que nós costumamos dizer não está na Bíblia, está nos intérpretes, na herança interpretativa. E, a maioria das pessoas quando apontam erros na Bíblia, sem o perceberem, estão falando de erros de interpretação e, não, de erros do texto, não de problemas do texto em si.
Há alguns problemas no texto? Há, mas eles são mínimos, são problemas que podem ser explicados pelo processo de transmissão dos manuscritos, pela cultura da época. É compreensível, é identificável, e não causa nenhum grande transtorno na apreensão da mensagem espiritual do texto bíblico.
Os equívocos maiores, mais graves, eu diria equívocos impeditivos, equívocos que impedem retirar o espírito da letra estão nas interpretações, nos padrões interpretativos, que é muito mais do que uma interpretação. Determinadas correntes interpretativas da Bíblia estabeleceram padrões de interpretação, uma espécie de franquia, como as franquias que nós conhecemos. Elas entregam para as pessoas esses padrões interpretativos de modo que o indivíduo não consegue sair daquele circuito, não consegue sair daquelas limitações do padrão interpretativo.
Por mais triste que pareça, esses padrões interpretativos estão de tal forma incrustados na memória espiritual das pessoas encarnadas, que mesmo os espíritas banhados com as claridades do Consolador prometido, chegam ao texto bíblico com esses padrões e reproduzem interpretações equivocadas, milenares, sem perceberem que estão reproduzindo-as. Entram em luta, discutem, atacam, acreditando que estão aclarando texto bíblico e, na verdade, eles estão em luta com interpretações equivocadas. Isto é um cuidado que precisamos ter.
Ao longo do nosso estudo do livro Gênesis de Moisés, nós buscamos, aqui, afastar esses equívocos naquilo que nos é possível, porque nós, aqui, temos e sequer percebemos que temos. Mas, estudando juntos, um grupo de pessoas estudando, nós vamos aprendendo uns com os outros. Todos, aqui, estamos aprendendo.
Aqui, é um grupo de alunos, onde os professores estão no mundo espiritual. Nós alunos, estamos aprendendo juntos, crescendo com o estudo, desde o primeiro episódio que nós gravamos, eu tenho aprendido muito, tenho enriquecido muito com sugestões, com as perguntas, com as oposições, com as críticas, e nós vamos aperfeiçoando. Este é o processo de aprendizado!
Ninguém estuda porque já sabe, todos estudam porque querem aprender, querem aprimorar. Estamos todos, aqui, aperfeiçoando os nossos recursos interpretativos. Mas, algo interessante que eu queria ressaltar, um ponto que é fundamental: digamos que você esteja em um congresso internacional e que você saiba falar português e saiba falar inglês.
Então, você encontra com um brasileiro e você fala português. Daí, trinta segundos, você encontra com um americano e começa a falar inglês. O que ocorreu?
Você mudou a linguagem. Não é uma mudança simples, é mudança significativa, porque nós sabemos que o inglês possui uma estrutura, enquanto língua, muito diferente da nossa. Dando um exemplo bem simples: o adjetivo, em inglês, vem antes do substantivo.
Geralmente, em português, o adjetivo vem depois do substantivo. Embora essa seja uma mudança muito pequena, é importante ao se comunicar. Mas, há mudanças ainda mais radicais: na sintaxe, na estrutura da língua, na conjugação dos verbos, nos tempos verbais.
É uma outra linguagem. Os programadores de computador sabem muito bem o que significa isso: eles programam, às vezes, em linguagens diferentes. O ato de programar é o mesmo, mas as linguagens mudam e, aí, os recursos para construir programas, para construir aplicativos.
mudam em função da linguagem utilizada. Então, aqui, na questão 50, nós vamos detectar uma linguagem e, na questão 51, outra linguagem. Vamos ver esse fenômeno: a questão 50 e 51 estão no item “Povoamento da Terra.
Adão. ” Kardec pergunta aos Espíritos: “50. A espécie humana começou por um único homem?
” Esta é a pergunta de Kardec: todos os habitantes da Terra, todas as diversas etnias (chinesas, europeia, iraniana, brasileira, indígena, africana) começaram em um único homem? Percebe-se, aqui, qual é a linguagem utilizada por Kardec. Que linguagem é esta?
É a linguagem científico -filosófica. Esta linguagem possui suas regras, possui seus parâmetros, seus métodos de raciocínio. Os Espíritos, entendendo que Kardec se utilizava de uma linguagem científico-filosófica, respondem na mesma linguagem.
Respondem a ele: “Não; aquele a quem chamais Adão não foi o primeiro, nem o único a povoar a Terra. ” Esta é uma resposta na linguagem científico-filosófica. É uma reflexão científica e, ao mesmo tempo, filosófica.
O que está dizendo aqui? Numa linguagem antropológica, histórica, sociológica, Adão não foi o primeiro homem. O estudo da evolução, o estudo antropologia, já nos demonstrou isto.
A arqueologia, com a descoberta dos fósseis, já nos demonstrou isto: Adão não é o primeiro homem. Também não é o único. No estudo da evolução das espécies, nós temos populações e, não, indivíduos.
Você tem uma população que é substituída por uma outra população, que é substituída por uma outra população, através dos processos de evolução da forma física, através dos processos de evolução do espírito em si. Isto já tinha sido esclarecido e seria esclarecido nas demais questões posteriores a esta. Então, aqui, está na linguagem científico-filosófica.
A resposta está dada. Encerrou o tema? Esgotou o tema?
Não. Agora, o que Kardec irá fazer? Vai mudar de linguagem.
Ele estava falando inglês ou português, agora, ele muda a linguagem e começa a falar chinês, japonês. Mudou a linguagem! É a questão 51?
: “Poderemos saber em que época viveu Adão? ” Não se iluda: pela resposta, nós vamos ver que os Espíritos captaram que houve uma mudança de linguagem. Kardec parou de falar o francês, passou a falar chinês, japonês.
E, os Espíritos deram uma resposta curiosíssima. Olham a resposta: “Mais ou menos na que lhe assinalais: cerca de quatro mil anos antes do Cristo. ” Como obter esta data?
Porque os que os Espíritos estão dizendo é o seguinte: o cálculo que vocês fizeram aí está mais ou menos correto. Adão, de fato, viveu quatro mil anos antes de Cristo. Mas, que história é esta se Adão não foi o único homem, que não foi o primeiro?
Que história é esta? Adão existe? Se você me pergunta assim: ‘Adão existiu?
’ A primeira pergunta que eu vou te fazer é: ‘Você está me fazendo essa pergunta em que língua? Na linguagem científico-filosófica ou na linguagem religiosa-bíblica (em uma linguagem de hermenêutica bíblica, de interpretação bíblica, ou seja, em uma linguagem metafórica)? ’ Este é o ponto!
Em uma linguagem metafórica, simbólica, portanto, religiosa, porque toda a linguagem do Velho Testamento é uma linguagem oriental, religiosa, evocativa, que exige interpretação. Você precisa mudar de linguagem. E, os Espíritos disseram quatro mil anos.
Mas que cálculo é este? Não é um cálculo científico-filosófico. É um cálculo de hermenêutica bíblica, é um cálculo de interpretação bíblica.
Então, qual que é o problema grave aqui? O problema grave é quando você mistura linguagens e isto foi feito ao longo do séculos. Por exemplo, Galileu, utilizando a linguagem científico- filosófica, propôs que o sistema heliocêntrico era superior ao sistema ptolomaico, ou seja, não era o Sol e as estrelas que giravam em torno da Terra, mas sim, a Terra que girava em torno do Sol.
Esta foi a proposta de Galileu, porque ele inaugurava uma nova era na evolução humana em que a linguagem científica-filosófica ganhariam uma predominância e, junto com ela, a linguagem e os recursos da tecnologia. Então, ele estava falando em uma linguagem. Os religiosos da época, sem perceberem esta diferença e porque eram fanáticos, fundamentalistas e interpretavam o texto literalmente, portanto, acreditavam que o texto bíblico está escrito em uma linguagem científica, descritiva (acreditavam que o texto bíblico descrevia a realidade), quase condenaram Galileu à morte.
Galileu teve que recuar um pouco para continuar a fazer as pesquisas, para não ser condenado à morte então, o mundo viveu gradativamente a percepção de que era necessário separar linguagem, porque a realidade é tão infinita, que nenhum de nós pode abarcar a realidade com o pensamento. A realidade é infinita e não cabe no pensamento. Nós podemos abordar a realidade com linguagens diferentes e essas linguagens são complementares.
A linguagem religiosa, mítica, simbólica, nos faculta a aprender a realidade por um outro prisma. Ela evoca elementos da realidade que são diferentes daqueles que a linguagem científico-filosófica faz. A linguagem científica é uma linguagem que procura mais descrever, quantificar, aliás, aquilo que não é quantificável, que não pode ser medido e comparado (medição), não faz parte do escopo da Ciência.
Ela se autolimita e evita abordar. A Filosofia quer descrever, mas em uma visão mais unicista. Ela quer enxergar o todo, quer estabelecer relações de causa e efeito.
Portanto, trata-se de uma abordagem mais qualitativa. Enquanto a Ciência tem uma abordagem predominantemente quantitativa, a Filosofia tem uma abordagem predominantemente qualitativa. A Religião, ou melhor dizendo, a linguagem religiosa (senão você pode confundir as Religiões do mundo e não é isto; nós estamos falando da linguagem religiosa, da linguagem mítica simbólica) é uma linguagem da psique, é uma linguagem do inconsciente, é uma linguagem que evoca valores.
Ela está em busca de sentimentos, de percepções, de apreensões, daquilo que eu apreendo, daquilo que eu sinto, daquilo que o mundo provoca em mim. É outra linguagem. E, aqui, houve uma mudança da questão 50 para a questão 51.
Misturar isto é regredir à Idade Média, a uma época primitiva do raciocínio em que nós éramos absolutamente fanáticos e fundamentalistas. Querer misturar essas linguagens é regredir à esta época, que é algo que nós estamos procurando evitar a todo custo. Este é um ponto tão fundamental porque, frequentemente, eu recebo material assim: o cientista fulano de tal vai explicar a abertura do mar vermelho.
Eu tenho vontade de rir, porque o sujeito que se dá ao trabalho de fazer uma investigação científica para ver como que o mar vermelho abriu, ele misturou a linguagem. Percebem? Ele misturou tudo e, de fato, acredita que o texto que descreve a abertura do mar vermelho e a passagem do povo hebreu, é um texto que está na linguagem científico-filosófica.
Mas, não está! Este texto está na linguagem simbólica, na linguagem da parábola. Imagina o seguinte: eu vou descobrir, agora, vou fazer uma pesquisa biológica para saber de que espécie era a mula de Balaão (a mula que conversou com Balaão), para saber se temos uma espécie de mulas que falam.
Percebeu? Há um texto no Velho Testamento, da mula de Balaão que conversa com ele, inclusive, sobre uma profecia para o Balaão. Você acredita que mula fala, que mula conversa?
É óbvio que o texto foi construído em outra linguagem: na língua na linguagem simbólica, na linguagem da parábola. É outro universo! É o universo religioso, é o universo da evocação de sentimentos, da transmissão de valores morais através de textos.
Não é uma descrição científico- filosófica. Você fazer uma investigação biológica para saber se existiu alguma mula que fala, já começou errado, porque você está partindo do pressuposto que esse texto é literal. Eu fazer uma investigação científica se o mar vermelho abriu, eu estou partindo do pressuposto de que a descrição do texto do mar vermelho é literal.
É interessante porque Kardec pergunta: em que época viveu Adão? Se você leva isto em uma linguagem científica, os Espíritos irão dizer: ‘viveu no ano tal do paleolítico’. Não!
Isto seria linguagem científico-filosófico. Aqui, os Espíritos perceberam e mudaram a linguagem. Transformaram, agora: “Na época em que assinalais, quatro mil anos antes de Cristo.
” Eles voltaram para uma lógica da linguagem bíblica. Qual é a lógica dessa linguagem bíblica? Ela tem uma lógica?
Sim, ela tem uma lógica, da mesma maneira que a linguagem filosófica tem a sua lógica própria e a linguagem científica tem sua lógica própria. Vamos imaginar um texto excepcional do professor Chibeni (vide Sílvio Seno Chibeni) da Unicamp e ele diz qual que é a característica da Ciência hoje: primeiro é a experimentação. A característica básica da Ciência, hoje, é a experimentação, ou seja, faz experimentos que possam ser reproduzidos em qualquer lugar do mundo.
Eu preciso experimentar. É o que distingue uma proposta (teoria) do experimento. O experimento é algo feito que pode ser reproduzido por qualquer pessoa.
Você estabelece os padrões em que foram feitos o experimento e, dali, você extrai uma teoria, realmente, científica que foi submetido a um experimento. Esta é a primeira característica. Segunda característica: matematização.
Ou seja, a lógica da Ciência é a lógica matemática. A Ciência expressa as suas conclusões, as suas premissas, as suas propostas, em uma linguagem matemática. Então, há uma lógica matemática.
Eu não posso apresentar uma teoria científica que fira (subverta) os axiomas da Matemática. Eu posso até desenvolver a Matemática e fazê-la dar um passo adiante. Nós tivemos isto.
Por exemplo, a teoria da relatividade utiliza uma Geometria, que não é a Geometria de Euclides. É uma outra Geometria. Mas, esta Geometria tem uma lógica.
Quem desenvolveu esta Geometria, desenvolveu axiomas e parâmetros, definiu aquilo. Einstein utilizou-se deste arsenal lógico-matemático e desenvolveu a teoria da relatividade. Há uma lógica, há uma linguagem.
A linguagem filosófica também tem sua lógica. E, a linguagem simbólica religiosa também tem sua lógica. Onde está essa lógica?
No próprio texto. Nós já tínhamos apresentado esse gráfico aqui antes: É um gráfico obtido na sinagoga, em que os judeus tratam da criação do universo, que não está no texto bíblico. Então, para explicar a criação do universo, os judeus desenvolveram a Kabbalah ou Cabala, em português, e, a partir do texto bíblico e a partir da Kabbalah, eles fazem um processo interpretativo Desenvolvem, assim, uma cronologia dos acontecimentos bíblicos até o momento em que nós estamos vivendo agora, que é da vinda do Messias (para eles) ou da Era Messiânica, a qual nós chamamos de entrada no mundo de regeneração.
Qual é a lógica desse gráfico? É a lógica do texto bíblico: nada do que está aqui, está fora do texto; e, tudo que está aqui, tem uma base no texto. Para se determinar em que época viveu Adão, o que você faz?
Você soma quantos anos viveu Adão, quem foi o filho dele e vai somando. Você vai perceber que quando chegar em Jesus, mais ou menos, nós tivemos de Jesus à Adão, quatro mil anos; de Jesus à transição planetária, aproximadamente dois mil anos; da transição planetaria à concretização total da regeneração, mais mil anos. Então, nós temos quatro mil, dois mil e mil anos (4.
000 – 2. 000 – 1. 000).
4. 000 + 2. 000 + 1.
000 = 7. 000. Sete mil é uma semana, em hebraico, uma shavua.
Esta é a semana milenar ou semana adâmica. Nós tivemos a primeira geração de homem, que é Adão (que já explicamos aqui), o qual representa uma geração de seres humanos, que são os seres humanos desconectados de Deus. Depois, iniciou-se o plantio com a vinda do Cristo de uma nova geração de seres humanos.
Por isso que Jesus é tipo, é modelo. Na linguagem de Paulo, em Coríntios, Jesus é o novo Adão, o novo homem, o homem absolutamente em conexão com Deus. A semana adâmica finda com esses mil anos de transição e mundo de regeneração.
Kardec afirma - é importante resgatar isto no texto de Kardec - que o mundo de regeneração é uma transição do mundo de expiação e provas para o mundo ditoso. O objetivo é o mundo ditoso. O mundo de regeneração é uma transição.
Muitos acreditam que o mundo de regeneração é a chegada. Não! É uma transição.
Tanto que Kardec, utilizam uma metáfora incrível: o mundo de regeneração os espiritos utilizam é um mundo de convalescentes. Existe, ainda, o mal, mas os seres estão saturados do mal. Então, é como alguém que passou por uma cirurgia em que o mal foi erradicado - um câncer foi erradicado -, há um risco dele voltar e eles estão em tratamento fazendo de tudo para que não volte.
Isto é mundo de regeneração. Na linguagem bíblica, isto dura mil anos. O Apocalipse vai utilizar essa linguagem: 7000 anos é igual a uma semana.
É o que está em II Pedro 2: 3, sabendo, primeiramente, isto: que para o Senhor, mil dias é como um ano e um dia é como mil anos. Uma semana é sete dias; um dia é como mil anos, então, sete mil anos. Está aí a lógica.
Este quadro, aqui, da Sinagoga, tem toda a história bíblica narrada da perspectiva das idades. O que nós estamos querendo comentar é: por que o texto bíblico apresenta idades? Adão viveu tantos anos, viveu muitas centenas de anos.
Daí, o que acontece? Acontece aquele problema de sempre. Eu vou ter que dar um nome para esse problema, para nós identificarmos: é como se fosse um vírus que ataca todos nós.
Todos nós estamos sujeitos a pegar essa virose: O que é virose do literalismo? A pergunta diz: 'Nossa, mas Adão viveu centenas de anos! Como é que um homem pode.
. . ?
'. Quer dizer, eu estou confundindo linguagem simbólica bíblica com linguagem científica. É óbvio que, ao descrever os anos que viveu Adão, a descrição é simbólica e está se referindo a ciclos, a um período da humanidade - de tanto a tanto - em que vigorou uma mentalidade.
É assim que nós dizemos: a idade moderna, a pós-modernidade. Do ponto de vista histórico, o que nós estamos querendo dizer com isso? Que na época moderna, na Revolução Industrial, vigorou uma mentalidade; na pós-modernidade, agora, vigora uma outra mentalidade (valores, princípios, costumes sociais, práticas econômicas, etc).
Por isso, você diz assim: 'a Idade Média durou tanto tempo', 'o Iluminismo durou tanto tempo', 'a era moderna durou tanto tempo', 'a pós-modernidade se iniciou…' É isto! Só que tudo isto está descrito no texto bíblico na linguagem simbólica bíblica. Mas, aí, vem o vírus, pega a pessoa, ela contrai a virose do literalismo e começa a interpretar isto como se fosse descrição científica da realidade.
Depois que você pegou a virose do literalismo, qual que é a evolução da doença? Fanatismo e fundamentalismo, porque a virose do literalismo leva a dois caminhos. Ou você, agora, vira um guerreiro da Ciência que quer destruir a Bíblia e mostrar todos os erros científicos que tem na Bíblia, como se a vida tivesse sido escrito na linguagem científica.
Onde está o equívoco? O equívoco está na interpretação literal da Bíblia. A pessoa acredita que a Bíblia é literal e se transforma em um pseudo defensor da verdade e da ciência e vai atacar e mostrar todos os equívocos da Bíblia.
Este é o grau máximo da doença. Mas tem outro: a pessoa que contrai o vírus do literalismo e se transforma em um defensor da Bíblia. Este é o fundamentalista fanático que pode chegar no grau máximo que é do homem bomba, da pessoa que pratica atentado e mata centenas de pessoas para defender o texto sagrado.
É o mesmo extremo: o que quer desmontar o texto e o que quer salvar o texto a todo custo. Ambos estão no grau máximo de uma doença que vem do mesmo vírus. Que vírus?
O literalismo: confundir linguagens que são diferentes, acreditar que japonês e português é a mesma linguagem. Não é! O que faz, então?
Precisamos tomar a vacina antiliteralismo. Toda vez que nós abrimos a Bíblia para estudar, tem que tomar uma dose da vacina antiliteralismo por que os processos vão ficando sutis. Eu não vou citar obras, aqui, mas existem obras espiritualistas - e que os espíritas divulgam, aplaudem -, que baseiam seus raciocínios em uma interpretação literal.
Por exemplo, tomam esse episódio da queda de Adão e Eva em sentido literal e querem explicar isso literalmente, em uma linguagem filosófica ou em uma linguagem científica. O que nós fazemos? Você olha para o alicerce e vê que o erro já está na base.
É claro que o edifício está equivocado. Não tem como! Qualquer leitura do texto bíblico que parta da literalidade está equivocada.
de início, de princípio. Daí, se constroem teorias e, na base, você vai ver: a primeira coisa que eu, particularmente, observo quando eu vejo um espírita - principalmente uma obra mediúnica - que criou uma doutrina espiritualista e utilizou o texto bíblico, eu olho como ele abordou o texto bíblico. Abordou da perspectiva literalista?
A árvore já está contaminada na raiz. Todo o nosso esforço é no sentido de separar a linguagem. É outro universo, é um universo paralelo.
Você está no universo da linguagem científica filosófica, quando você vem para o texto bíblico, é um universo paralelo. Você tem que falar uma outra língua, você têm que raciocinar com outros padrões - que é o padrão simbólico - e extrair o espírito da letra, ou seja, tirar o sentido da letra e entender que é um símbolo. É o que está sendo feito aqui.
Então, quando nós trazemos esta tabela, nós vamos perceber a genealogia de Adão, depois vem Set, Enós, Cainã, Malaleel, Jared, Henoc, Matusalém, Lamec e Noé). Nós percebemos que de Adão até Noé, nós temos dez gerações. Importante que, aqui, tem um elemento simbólico: quando chegou na décima geração, houve o dilúvio.
Então, praticamente, teve que começar do zero. Vem, destrói as gerações e começa do zero. Depois você tem de Noé a Abraão, seguindo o texto bíblico, mais dez gerações.
Daí, o que acontece? Abraão deixa essa geração de dez para construir uma nova geração: a geração monoteísta. Embora não sejam destruídas essas dez gerações anteriores à Abraão, elas são abandonadas.
Dez é um número importante, porque as tribos de Israel foram doze, daí houve dez que fizeram um movimento separatista, sob a liderança da Samaria. Nós percebemos, aqui, um aspecto interessante nesse separatismo, porque ele evoca o dez: as dez gerações. Dez tribos se separaram.
Daí, vamos perceber que o Apocalipse e os livros proféticos toda vez que querem falar de rebelião, de separatismo, de deturpação, vão utilizar o número dez. É uma lógica. Mas, não é complicado.
Se você entende a linguagem, se você pega a história e a interpreta na linguagem simbólico-religiosa, tudo fica claro. O problema é você querer achar que a linguagem simbólico-religiosa é linguagem descritiva-científica. Daí, é uma confusão!
Daí, aparece um cientista querendo provar como foi a abertura do mar vermelho, daí alguém vai provar como é que foi a multiplicação dos pães. Daí, fica difícil! Há uma lógica incrível nisto tudo.
Os profetas vão de referir a este ponto e nós percebemos que são sete mil anos importantíssimos na evolução do planeta Terra, revelando um padrão de ciclo - que é a shavua -, o período setenário, que serve para dias, para meses, para anos (a encarnação se completa em sete anos) e para milênios (sete mil anos). É um padrão interessantíssimo que decorre da maneira como o tempo se estrutura. Isto aqui é a estruturação do espaço-tempo, sobretudo bíblico.
Era isto que queríamos destacar. Daí, a importância da genealogia. É, por isso, que Mateus inicia o Evangelho com a genealogia de Jesus, porque a lição profunda que está por trás ali é que ao citar aquela genealogia, Mateus está querendo dizer que Jesus representa a culminância de grandes ciclos que chegam nele e terão desdobramentos a partir dele.
Mateus fez uma proposta genealógica, começando de Abraão, porque ele quis fazer uma conexão do início do monoteísmo até Jesus. Lucas faz uma proposta ainda mais ampla: recua a genealogia de Jesus até Adão, que já é o raciocínio de Paulo, para mostrar que Jesus é o novo Adão, é o novo homem, é o homem da nova era. Aqui, estão os pontos que nós não podemos deixar escapar de maneira nenhuma se quisermos fazer uma interpretação mais lúcida, mais proveitosa do texto bíblico.
E, por incrível que pareça, na interpretação da Bíblia, eu percebi que a maior dificuldade -depois de trinta e cinco anos estudando a Bíblia na atual encarnação - não é a Bíblia, não é o conhecimento, não é a língua, não é nada disso. A maior dificuldade é a pessoa libertar-se dos condicionamentos reencarnatórios, do conjunto de sistemas interpretativos, que prenderam o Espírito no literalismo. Esta é a maior dificuldade!
A pessoa entende assim, quando Jesus diz no Sermão Profético: 'e o Sol, e a Lua e as estrelas cairão'. Elas falam: 'não, isto é um texto simbólico, isto tem que interpretar. .
. '. Daí, você diz: e o nascimento de Jesus?
'É. . .
. o nascimento de Jesus eu já não sei. .
. ' Ela tem dificuldade de romper a barreira literalista e interpreta o texto bíblico literalmente. Então, em algum ponto, ela engasga, ela quer buscar a descrição exata, lógica, matemática, científica do texto lido.
Percebem que nós não estamos falando que o texto bíblico não tenha, por trás dele, fatos históricos. Não é isto! Este não é o ponto!
Fatos históricos ocorreram. É óbvio que houve um Abraão, porque senão não teríamos o povo hebreu, não teríamos o monoteísmo. Então, houve um espírito que se chamou Abraão, que encarnou, que teve uma missão, viveu.
É claro! Houve Moisés? Claro!
Houve o espírito Moisés que nasceu, reencarnou, desencarnou, cumpriu a sua missão. Houve fato histórico? Houve.
O que nós estamos dizendo é que o texto bíblico não é uma descrição absolutamente científica do fato ocorrido. Então, ela narra o fato em outra linguagem. É importante apontar, aqui, algo: os historiadores, na teoria atual da história, também vão dizer que nem mesmo na linguagem científico-histórica,, há uma descrição exata do fato histórico.
Por quê? Porque para narrar um fato histórico, você tem que eleger as variáveis a que quer dar ênfase. Se eu quero descrever, por exemplo, o último mês da história do Brasil - de hoje até o mês passado - o que você vai descrever?
As questões políticas? Então, você está elegendo as questões políticas como fator principal para você descrever. Você poderia, por exemplo, descrever a história do Brasil nos últimos trinta dias, da perspectiva dos movimentos sociais; você poderia descrever, a partir da perspectiva dos movimentos comunitários; você poderia descrever os últimos trintas dias de história do Brasil da perspectiva da defesa dos direitos dos afrodescendentes; você poderia descrever os últimos trinta dias, da perspectiva da luta para a defesa dos direitos da mulher; ou, você poderia descrever os últimos trinta dias da história do Brasil, da perspectivas dos defensores do meio ambiente.
O que você vai eleger: Economia? Política? Meio ambiente?
Minorias? Mudanças climáticas? O que você vai eleger?
Porque não tem como você escrever tudo. É impossível descrever tudo! Não basta você listar todos os acontecimentos em todas as áreas, você tem que conectar.
E, como é que você vai conectar? Como é que você vai conectar tudo, todos os fatos? Isto não existe!
Então, elege-se determinados fatores e você faz uma história daquilo que você elegeu. Você narra aquilo que você elegeu. Mas, não é uma narrativa completa e absoluta que esgota todos os elementos.
Não tem! Há perspectivas. Por isso, nós tivemos, ao longo do tempo, correntes históricas.
Há uma corrente história que privilegia os fatos da vida privada. Vai narrar, por exemplo, o Rei Dom Pedro Segundo: eu vou falar o que ele comia, onde ele morava, com quem ele casou, com quem ele namorou, o que fez. .
. . (os fatos da vida privada).
Uma outra corrente privilegia os fatos da vida pública. Então, pego a vida pública. Mas, Dom Pedro Segundo é muito maior do que os fatos da sua vida privada e os fatos da sua vida pública, porque o mesmo homem estava em ambos os lugares e em todos esses lugares ao mesmo tempo.
Então, o que você vai eleger para descrever? Não é que o texto bíblico esteja contando uma historinha. É uma outra confusão que se faz!
Isto, aqui, não é o Sítio do Picapau Amarelo. Não se trata de uma boneca de pano que fala, de um sabugo que virou gente e do saci-pererê. Não é o Sítio do Picapau Amarelo!
A Bíblia está descrevendo fatos históricos, mas com um detalhe: ela elegeu - naquela imensidão de fatos - aqueles que interessavam e narrou em uma linguagem simbólica, narrou em uma linguagem da parábola, em uma linguagem evocativa-religiosa, porque ela quer, acima de tudo, transmitir valores espirituais e religiosos através da narrativa. Olha a sutileza! E, é aqui que muitos paralisam e não conseguem entender o texto bíblico.
O interessante é que Kardec coloca uma nota na questão nº 51: "O homem cuja a tradição se conservou sob o nome de Adão foi um dos que sobreviveram, em certa região, alguns dos grandes cataclismos que em diversas épocas abalaram a superfície do globo e tornou-se o tronco de uma das raças que hoje o povoam. As leis da natureza se opõem a que os progressos da humanidade, constatados muito tempo antes do Cristo, tenham podido realizar-se em alguns séculos, caso o homem não existisse na Terra senão a partir a época assinalada para a existência de Adão Alguns, e com muita razão, consideram Adão um mito ou uma alegoria, personificando as primeiras idades do mundo. " Fantástico!
Então, na primeira parte da nota, Kardec usa a linguagem científico-filosófica para provar que não tem jeito: o progresso da Ciência já mostra que Adão não pode ser o primeiro homem. Aquelas teorias norte-americanas do criacionismo não dá! Por outro lado, ele muda: "alguns e, com muita razão, consideram um Adão um mito ou uma alegoria.
" Mito, aqui, não é no sentido de mentira. Muito pensam que mito é sinônimo de mentira: esta é a acepção popular da palavra mito. Não é que Kardec está utilizando aqui!
Kardec, inclusive, foi tradutor de uma obra que tem raízes mitológicas. O mito é uma parábola, é uma narrativa simbólica que quer descrever ou evocar uma realidade psíquica, interior, psicológica, espiritual. Tanto que ele fala "mito ou alegoria, personificando as primeiras idades do mundo".
Com “primeiras idades do mundo", o que Kardec está dizendo? Os ciclos iniciais da evolução humana, da evolução do homem enquanto Espírito com consciência e com razão. Portanto, idades no sentido de ciclos.
Kardec, então, separou uma linguagem e outra linguagem ("e com muita razão" pode ser interpretado como alegoria). Incrível este raciocínio. Kardec vai escrever ensaios sobre Adão e Eva, entendendo que é uma alegoria.
e extraindo o sentido espiritual, a lição moral, o ensinamento que está por trás (que está dentro, melhor dizer) da alegoria. Este é um ponto que queríamos destacar quando estamos falando em genealogias e por que o livro Gênesis está todo dividido em genealogias. Lembrando um ponto importantíssimo que a primeira genealogia bíblica é a da Terra: são sete dias.
Primeiro, o céu, a Terra e a luz; depois, o firmamento, a atmosfera; depois, tivemos o mar, a terra, as aves, a vegetação; no quarto dia, as luminárias, Sol e Lua; depois, os peixes, os animais gigantes e, depois, os animais menores e Adão: tudo no sexto dia; e, o sétimo dia, que é o shabat, o grande dia do descanso: a finalização do ciclo. Mas, nós podemos dizer que o mundo de regeneração é um grande shabat. A época da regeneração, desse período milenar, é um grande descanso, é um shabat.
Por isso, que Kardec vai falar que é um período de convalescência, de quem saiu da cirurgia. O que faz um convalescente? Ele repousa, ele recupera forças para o shabat da nova semana.
Esta é a lógica dos milênios: os setes milênios de Adão até o mundo ditoso. Sempre os últimos mil anos é esta transição, o mundo de transição, o mundo de regeneração. O mundo de regeneração é uma transição.
Não podemos confundir isto! Nós temos 4. 000 anos + 2.
000 anos = 6. 000 anos. Aproximadamente, depois do ano 2000 d.
C, começou-se a transição e ela vai até o ano 3000 d. C. Só que a transição começa tensa, começa difícil e ela vai se concretizando, se concretizando, se concretizando, se concretizando, até atingir o ápice.
Quando ela atinge o ápice, inicia um novo ciclo, que é o ciclo do mundo ditoso. Então, a Terra vai ser um recém-nascido do mundo ditoso. Agora, uma coisa é ser recém-nascido, outra coisa é ser adulto.
Não podemos confundir um mundo ditoso adulto com um mundo ditoso recém-nascido. Recém-nascido fala? Recém-nascido anda?
Recém-nascido trabalha? Não! Recém-nascido fica, ali, no berço sendo alimentado.
A Terra também! Depois desses mil anos, que é a transição com regeneração, a Terra ingressa e vira um recém-nascido de um mundo ditoso. Daí, mais milênios até ela se concretizar em um mundo feliz.
Então, tem um longo trabalho pela frente. Nós estamos vivendo, agora, os primeiros momentos - o primeiro século - dessa transição de mil anos que é conturbadíssimo, é bem difícil mesmo. Esta é a narrativa da semana milenar ou semana adâmica.
Mas, nós vamos falar bastante sobre isto ao longo do nosso estudo de Gênesis. Até o próximo episódio!