Boa tarde eu era muito pequena muito criança quando meu pai e minha mãe perceberam que eu tinha uma habilidade e a coordenação para dançar e minha mãe é uma pessoa muito sensível estimulou isso e aos 6 anos de idade eu entrei na Escola Municipal de frevo comecei a ter aulas com o meu grande mestre nascimento do Passo e fui me aprimorando Tecnicamente e me profissionalizando como dançarina ainda muito nova eu participei de vários concursos em Recife concursos de dança e comecei a ganhar alguns prêmios eu ganhei o concurso de Passo do Recife rainha mirim do
carnaval aí fui tricampeã do Festival de Dança de Joinville que era o maior da América Latina na época e comecei a dar entrevistas aparecer nos jornais eh divulgar em programas de rede nacional a dança do frivo viajei recebendo convites para trabalhar nas feiras internacionais de turismo no exterior e aí fui para vários países pelo mundo da dançando então desde criança eu tinha que lidar com a sensação de ser diferente das outras crianças da minha idade enquanto os meus amigos estavam estudando pra prova tavam eh brincando se divertindo eu ficava barganhando com os professores as minhas
faltas porque viajava porque eu ia treinar porque eu ia participar de festivais e essa sensação de ser diferente também ela se exaltava ainda na escola de frevo porque era uma escola frequentada principalmente por crianças e jovens muito carentes então eu era uma menina de classe média branquinha filha de médica de engenheiro num ambiente de pessoas muito carentes então eu realmente tinha a sensação de ser diferente eu tive privilégio e sorte de ter estrutura afetiva e material para desenvolver minhas habilidades só que eu não tinha consciência de que eu tinha sorte e privilégio eu achava que
o que me diferenciava das pessoas era porque eu era especial eu escutava isso de muitos adultos né eles diziam Nossa você é uma menina prodígio você nasceu com a estrelinha no seu peito nasceu para brilhar e e eu absorvia aquelas mensagens e começava a achar que tudo dava certo na minha vida porque eu era especial e contraditoriamente tinha um sentimento de ser diferente eu também tinha que lidar com um tipo de solidão e de isolamento porque eu não me sentia comum e isso fez com que eu começasse a perceber que tinha alguma coisa errada aí
em ser especial porque eu via que as pessoas gostavam de mim pelo que eu era pelo que eu fazia de bom as pessoas gostavam de mim pelo que eu exercia bem e não pelo que eu era de verdade na intimidade mesmo quem me conhecia era minha família e na minha adolescência eu tive vários atritos com a minha irmã ela que eu diga eu era muito egocêntrica tinha uma dificuldade muito grande de reconhecer o valor das outras pessoas e eu vi que eu tinha que Li eu vi que eu tinha que lidar com duas flas aquela
que o mundo elogiava que que as pessoas aplaudiam que estava no palco desde pequena e aquela que era frágil insegura cheia de vaidades E aí e a vida como é aos 14 anos eu machuquei meu joelho e fiquei impossibilitada de dançar por uns dias 5 anos depois aos 19 eu machuquei novamente meu joelho e aí eu fiquei impossibilitada de dançar por um tempo maior fiquei quase um ano afastada da dança e foi um período muito difícil de muita dor eh porque eu tava tendo que abrir mão de tudo aquilo que eu tinha conquistado como pertencimento
como dançarina né então por um ano eu não tinha esse recurso e foi importantíssimo para eu poder me Me enxergar de outro jeito né quando eu voltei a dançar que eu vi que eu podia voltar a dançar eu entrei numa grande crise sobre ser artista Porque para mim não fazia mais sentido ser aquela bailarina colorida que dava saltos e que representava a cultura popular de Pernambuco isso já soava meio falso E aí eu disse que que eu vou fazer com essa dança que que eu faço com esse frevo que corpo que que vai representar agora
esse meu estado de espírito esse lugar que eu tenho buscado E aí dentro desses questionamentos eu junto com a minha amiga Bela Maia que dirigiu e concebeu criamos o nosso primeiro solo ela concebeu junto comigo meu primeiro solo de dança que tinha como o título uma pergunta o frevo é teu esse solo foi um divisor de águas na minha vida porque foi foi a primeira vez que eu fiz um trabalho de dança que eu não esperava ser elogiada eu tava me abrindo pra possibilidade do estranhamento das pessoas e do fracasso né eu não queria subir
no palco para fazer os pulos virtuosos as coisas que eu sabia que as pessoas já iriam gostar eu queria realmente investigar uma coisa que era mais interna que podia não ser bonita Aos olhos do grande público e aí para minha surpresa esse solo foi muito bem recebido no festival que eu apresentei e eu recebi um convite para apresentar ele em São Paulo no Instituto brincante e de Rosane Almeida de Antônio Nóbrega levei o trabalho para lá e pouco tempo depois fui chamada para morar lá em São Paulo para trabalhar nos projetos do Instituto E aí
foi uma uma outra crise sair de Recife ir para uma cidade onde eu não tinha memória porque aqui eu andava na rua algumas pessoas reconheciam diziam ó a menina do frevo a menina do frevo e lá não tinha memória por dizer poria dizer que o meu nome era Maria todo mundo ia acreditar então em São Paulo entrei nessa crise também sobre como lidar com a minha arte eu precisava catucar alguns lugares dentro de mim e aí eu entrei na terapia e das várias sessões que eu fiz tinha uma que eu me lembro muito bem que
foi um exercício meu terapeuta fez ele mandou ficar numa posição abaixada assim que era uma posição desconfortável ele me deixou naquela posição saiu da sala eu não entendia Qual era o objetivo daquilo então eu fiquei Resistindo aquela posição o máximo que eu pude e alguns minutos depois ele voltou pra sala e me viu intacta na mesma posição e ele queria realmente trabalhar comigo essa minha necessidade de parecer estar confortável mesmo em situações desconfortáveis E aí nesse dia conversando com ele eu concluí o quanto que eu tinha me tornado fem dessa necessidade de parecer ser boa
né crescer no palco me tinha tinha me dado esse recurso de aprender a fingir muito bem as minhas dores né porque o dançarino muitas vezes está com dor muscular entra no palco e tem que dançar ou quando erra uma coreografia tem que fingir que nada aconteceu ou então quando leva uma queda dançando tem que levantar e continuar Então eu tinha eu tinha assimilado isso e levado isso paraa minha vida também ao ponto de Eu lembro até de uma história quando eu tinha 9 anos minha mãe gosta muito de contar isso eu eh dançando no Recife
antigo Eh tava descalça aí Ralei meu pé começou a sangrar e minha mãe viu aquilo ficou apavorada disse minha filha seus pés estão sangrando fla para de dançar e eu na hora respondi mãe não se preocupa que o que me importa são os aplausos era muita pretensão da minha parte achar que eu ia conseguir carregar tudo sempre como se fosse um Palco né E e aí eh com o tempo Depois dessa história do solo eu tinha me encorajado realmente a fazer coisas que tivessem de confrontar as minhas fraquezas as minhas fragilidades e lá em São
Paulo eu fiquei me questionando disse caramba se eu morrer amanhã eu vou ter investido meu tempo tentando ser o melhor de mim o que é que eu fiz o que que eu não fiz ainda que eu gostaria muito de fazer a primeira coisa me veio na cabeça cantar Eu Amo cantar só que diferente da dança eu não tinha facilidade para cantar eu quando era criança tinha muita dificuldade tinha vários problemas nas cordas vocais fui PR fonoda porque eu ficava rouca tinha fenda calos e uma série de problemas era um lugar de de muitas emoções Eu
costumava dizer quando eu tava sobre forte emoção ou eu ficava eufórica falando alto ou eu ficava muda né então eu via que a minha voz representava um lugar difícil e era ali que eu queria ir porque eu sabia que ali eu ia conhecer alguma coisa mais sou mim E aí nesse nesse nessa sede eu chamei dois amigos músicos de São Paulo Leonardo gorosito e Alencar Martins e a gente começou a arranjar algumas letras que eu já tinha escrito desse meu processo de autoconhecimento de descobertas E aí nasceu meu primeiro disco num tom bem confessional meu
primeiro disco intitulado cordões umbilicais era necessidade de incluir mais as pessoas ao meu redor na minha criação artística chamei minha irmã tivemos uma parceria juntas numa das canções do disco meu pai e minha mãe Cantão no disco tirei fotos do meu sobrinho recém-nascido como como imagem pro encarte E aí eh divulguei na internet aos poucos e a primeira música que eu divulguei na internet era a música que eu mais tinha vergonha de cantar e Era exatamente por isso porque eu tinha mais vergonha eu disse vai ser a primeira que eu vou colocar E aí eu
coloquei me curar de mim que dizia assim sou a maldade em crise tendo que reconhecer as fraquezas de um lado que nem todo mundo vê fiz em mim uma fasina e encontrei no meu umbigo o meu próprio inimigo que adoece na rotina eu quero me curar de mim quero me curar de mim quero me curar de mim o ser humano é esquisito armadilha de si mesmo fala de amor bonito e aponta o erro alheio vim ao mundo em um só corpo esse de 1 m60 devo a ele estar atenta não posso mudar o outro eu
quero me curar de mim quero me curar de mim quero me curar de mim vou pequena e pianinho fazer minhas orações eu me rendo da vaidade que destrói as relações para me encher do que importa preciso me esvaziar minhas feras encarar me reconhecer hipócrita sou ma Sou mentirosa vai idosa e invejosa sou mesquinha grão de areia boba e [Música] preconceituosa Sou carente amostrada dou sorriso e sou corrupta malandra fofoqueira moralista interesseira e dói dói dói me espor assim dói dói dói despir assim mas se eu não tiver coragem para enfrentar os meus defeitos de que
forma de que jeito eu vou me curar de mim se é que essa cura há de existir não sei Só sei que a busco em mim só sei que a busco me curar de mim para minha surpresa eu comecei a receber mensagens de pessoas de diferentes religiões por todo o país agradecendo pela música e um pastor evangélico entrou em contato comigo perguntando se podia usar essa música numa pregação na igreja eu achei super curioso e disse Claro depois descobri que tinha um grupo que trabalhava com o líder humanitário cprem baba em São Paulo que estavam
usando essa música nos retiros de meditação descobri que tinha um grupo em Minas Gerais que também tava usando essa música nos retiros através do ayuaska E aí também grupos de artistas no Ceará no interior de São Paulo e gente de todo o país me mandando mensagens agradecendo pela música isso foi muito arrebatador para mim porque eh eu vi que através da arte eu tava acessando as pessoas num lugar um pouco mais profundo do que eu já tinha vivido até então e isso passou a fazer muito mais sentido para mim enquanto artista a motivação agora não
era mais ser aplaudida nem o deslumbramento e a ilusão que o palco traz mas sim a a conexão de fato com com a minha verdade que automaticamente vai ressoando com a verdade das outras pessoas que buscam uma escuta verdadeira e nesse processo que ainda é muito novo para mim eu tirei algumas conclusões e uma delas é de que encontrei na minha minha fragilidade a minha força descobri que a tristeza e as dores elas podem ser otimizadas porque elas são verdadeiros antídotos para hipocrisia descobri que querer mudar é viver constantemente num exercício de humildade porque a
gente vive num mundo que se estimula a competição o individualismo a vaidade né então querer mudar é ir contra isso diariamente e com contra as nossas próprias sombras né e percebi que ter consciência das nossas sombras é ter liberdade de escolha para conduzir os pensamentos para conduzir as relações ao nosso redor hoje para mim faz muito mais sentido pensar numa arte que tenha um caminho altruísta inclusivo e que é a ideia daquela frase sozinho a gente vai mais rápido grupo a gente vai mais longe e é esse longe que hoje me interessa enquanto artista e
acredito que através da arte a gente po sim convidar mais pessoas a repensarem como que que tem conduzido suas escolhas até aqui pra gente se despir de fato de todas as máscaras que a vida vai colocando e que a gente vai absorvendo e se conectar de fato com o que a gente é de verdade eu quero me curar de mim quero me curar de mim quero me curar de mim [Aplausos] obrigada l