Olá pessoal hoje vamos falar sobre o conto dentro da noite de João do [Música] [Aplausos] Rio pessoal como vocês devem ter visto no vídeo sobre o peru de Natal do Mário de Andrade eu comentei que essa ideia de comparar esses dois contos foi da professora Maria Teresa de Melo Carvalho queridíssima professora orientadora supervisora a quem admiro muitíssimo e ela teve essa ideia super didática de comparar esses dois contos para falar da ideia do Freud de a neurose é o negativo da perversão falamos bastante sobre o peru de Natal no vídeo anterior e no vídeo de
hoje vamos falar do João do Rio aqui dentro da noite que é um caso de perversão Então se no perodo de Natal do Mário de Andrade a gente viu que um desejo perverso ligado à melancolia no certo sentido foi sublimado e transformado em outra coisa num compartilhamento agradável e Alegre aqui no João do Rio a gente vai para dentro da noite dentro da noite da perversão onde os desejos sexuais infantis na verdade são transformados numa potência ainda maior de transformar o outro em objeto Essa é uma das grandes características da perversão para psicanálise a ideia
de que o outro é um objeto que tá a serviço do meu prazer o sadismo é certamente um dos grandes paradigmas da perversão o fetichismo o masoquismo o exibicionismo voir ismo são perversões que o Freud descreve lá em 1905 nos três ensaios sobre a teoria da sexualidade para descrever na verdade a Sexualidade humana Todos nós temos traços perversos um pouco maiores um pouco mais intensos um pouco menores um pouco mais diluídos na neurose comum do dia a dia mas todos nós apresentamos a maioria se defende com formações reativas contra esses desejos infantis então o nosso
sadismo se transforma por exemplo em praticar um esporte e gostar de competir e conseguir fazer isso de forma Alegre tranquila sem matar o coleguinha que tá com a blusa do time errado a maioria consegue erotizar por exemplo masoquismo e trabalhar trabalhar o dia todo quando o masoquismo às vezes nos ajuda a suportar a vida adulta Isso é uma maneira de elaborar sublimar deixar o masoquismo no lugar melhor numa relação sexual por exemplo a gente pode gostar do sado masoquismo de tal maneira a não transformar o outro em objeto o tempo todo mas brincar com sado
masoquismo naquele contexto bem restrito e tá tudo bem fora da aquele contexto o sad masoquismo deixa de acontecer e as pessoas adultas vivem pactos onde mais estão preocupadas em cuidar uns dos outros do que fazer o outro sofrer ou sofrer na mão do outro então a ideia que o João do Rio vai nos apresentar aqui nesse conto maravilhoso é quando eu não consigo transformar esses desejos infantis em algo que pode ser usado socialmente de forma agradável tranquila e que tej ou outro doss meus desejos infantis dentro da noite é um conto do João do Rio
que mostra a potência terrível da perversão sobre o próprio sujeito que vocês vão ver ele mesmo compara esse gesto perverso a um vício irrefreável o conto se passa dentro de um vagão e é um diálogo entre Rodolfo o perverso e Justino a a quem Rodolfo dirige a sua confissão tá dentro da noite né Um cenário noturno chuvoso ali no Rio dentro de um vagão do bonde e os dois conversam e Rodolfo começa a confessar aquilo que ele vai descrever da seguinte forma que é isso é o fim meu bom amigo ou é o meu fim
não há quem não tenha o seu vício a sua tara A sua brecha eu tenho um vício que é positivamente a loucura luto resisto grito debato me não quero não quero mas o vício Vem vindo a rir toma minha mão faz-me inconsciente apodera-se de mim estou com a crise lembras-te da Gian D quando se picava de morfina eu quero resistir e não posso estás a conversar com um homem que se sente doido Então essa é a descrição do Rodolfo né ele tá ali tomado pelo Desejo não consegue se conter aliás parece típico da perversão essa
sensação compulsiva eu não posso conter eu não posso poder não essa sensação de que eu não controlo o meu desejo poder não como é o caso perfurar o braço de uma mulher é próprio da neurose eu posso não perfurar o braço de uma mulher consigo controlar esse desejo mas no caso do perverso ele se sente compelido a fazer inconsciente o vício tá rindo dele toma-lhe pela mão e leva-o a cometer os seus atos enlouquecidos sádico um sádico que não consegue se controlar o Rodolfo não consegue explicar de onde vem esse hábito ele e simplesmente narra
pro Justino o seguinte fui ao encontro da pobre rapariga fazendo um enorme esforço porque o meu desejo era agarrar lhe os braços sacudi-lo apertá-los com toda força fazer-lhes manchas negras bem negras feri-los por não sei nem eu mesmo sei uma nevrose essa noite passeia com agitação incrível mas conme tive me dias meses um longo tempo com pavor do que poderia acontecer o desejo porém ficou cresceu brotou enraizou-se na minha pobre alma aí quando ele encontra com a Clotilde ele tá narrando esse evento que é a noiva do Rodolfo ele sente ao ver os braços dela
esse irrefreável desejo de perfurar nessa noite ele consegue refrear mas nos próximos encontros não ele quer enfiar alfinetes no braço dela espetá-lo enterrar lhes longos alfinetes de coela devagarinho a picadas então ele é absolutamente sádico né um gesto terrível perfurar o corpo do outro pelo simples prazer de ver as manchas aparecendo o sangue aparecer e na cena que ele vai tentar convercer a Clotilde ele pede né deixa deixa eu perfurar tô com vontade de espetar esse alfinete aqui no seu braço e ele tenta justificar é preciso pagar ao meu ciúme a sua dívida de sangue
deixa eu espetar o alfinete mas não dói o sangue a cloti ainda tenta argumentar eu vou beber essa gota de sangue como a ambrosia do esquecimento né ele tenta ainda convencê-la e acaba por convencê-la e curioso detalhe aqui sádico Ah meu caro as mulheres que estranho fundo de bondade de submissão de Desejo de dedicação inconsciente tem uma pobre menina então o sádico também espera esse masoquismo perverso Submisso ali da sua vítima ele pode esperar isso ou como ele a gente vai ver no final do conto ele pode simplesmente perfurar o braço de uma mulher dentro
do Bonde sem esperar submissão isso também vai fazer ele gozar Lou ente mas a cloti tadinha acaba topando aliás é o caso de se pensar sempre né socialmente como que as mulheres estão dedicadas por conta de injunções sociais terríveis a esse roteiro masoquista feito por homens sádicos que vão fazer com que essas mulheres fiquem presas alienadas ao desejo sádico de seus parceiros isso também tá no jogo aqui tema para outro vídeo mas importante lembrar né que o masoquismo ele não se instala ao acaso né ele também tem um roteiro social ele também tem injunções sociais
muito Poderosas que a gente precisa estudar depois de conseguir espetar pela primeira vez o alfinete no braço da Clotilde Ele não dorme não dormir deitado a delícia daquela carne que sofrera por meu desejo a sensação do Aço andando devagar no braço da minha noiva dava-me espasmos de horror então o gozo dele aqui é um gozo plenamente sádico né fica tomado pelo prazer e ele continua continua a fazer isso durante um longo período marcando o braço lá da Clotilde de todas as maneiras transformando-a em objeto da sua perversão o Justino ainda tenta brincar né dizendo caso
muito interessante Rodolfo Não há dúvida de que é uma degeneração sexual mas o altruísmo do São Francisco de Assis também é degeneração e o amor da Santa Teresa não foi outra coisa você é um dos discípulos aí do marqus de sáo essa frase do Justino Claro é um homem aplacando a responsabilidade de outro homem Vamos ler aqui o machismo estrutural nessa cena tenta de alguma maneira apontar para aquilo que o Freud tá apontando nos três ensaios sobre a teoria da sexualidade todo mundo tem as suas degenerações todo mundo é pervertido nesse sentido de que o
São Francisco de Assis por exemplo vai cuidar dos animaizinhos de forma intensa assim como a Teresa Dávila né vai ter grandes gozos místicos e isso não vai incomodar tanto mas é claramente fora da curva ora a ideia aqui do parceiro de conversa aqui do Rodolfo é dizer que todo mundo tem um pouco e que todo mundo tem as seus diferentes modo de gozar Mas isso é claramente cínico claramente cínico uma coisa é o sujeito sublimar os seus desejos e cuidar dos animais por exemplo cuidar ajudar né de alguma forma fazer o amor circular de tal
maneira a justamente neutralizar os efeitos violentos do sadismo outra coisa é fazer com que o sadismo vá em direção ao outro como é o caso do Rodolfo ele vai pegar isso que é sexualidade infantil Eu quero destruir o outro penetrar ferir marcar dominar e vai continuar nessa direção outra coisa é você sentir esse desejo fazer uma formação reativa a ele e ao invés de dominar o outro o tempo todo Eu por exemplo quero cuidar do outro ouvir as histórias do outro parênteses aqui o que faz com que nós nos tornemos psicanalistas o que faz com
que psicólogos escolham a psicologia geralmente quando a gente faz esse tipo de pesquisa por que que você escolheu fazer psicologia Por que que você escolheu fazer psicanálise uma das respostas que mais aparecem é porque eu quero ajudar o outro o Freud muito terrivelmente né vai dizer que por trás de toda a solidariedade por trás de toda filantropia há sadismo há desejo de destruir o outro então que seja que a gente possa ter inclusive desejo de dominar o outro saber da história da vida dele mas o fato da gente ter sublimado isso e transformado em desejo
de cuidar desejo de ouvir desejo de fazer o outro encontrar a sua potência os seus potenciais a sua alegria se a gente conseguiu fazer essa transformação em nome do nosso sadismo infantil ótimo é preciso admitir que nós temos sim curiosidade queremos de alguma forma ter algum poder sobre o outro né admitir que o desejo do analista circula também pela sexualidade infantil mas o fato disso acontecer para que o sujeito encontre o seu percurso né o analisando possa ser feliz tá ótimo A grande questão pro Freud é não deixar de lembrar que a Sexualidade infantil tá
presente em todo o percurso adulto mesmo Um percurso que não se demonstre claramente perverso explicitamente perverso como é o caso aqui do Rodolfo se você me acompanhou até aqui não esquece de curtir aí compartilhar com os colegas que você está gostando do vídeo comentar o que que vocês estão achando é muito importante pro Canal gente essa interação o algoritmo agradece Então curtam se inscrevam no canal Caso vocês não sejam inscritos cliquem no Sininho para não perder nenhum vídeo conheça um projeto de extensão que é esse canal um projeto de extensão da UFMG que eu coordeno
Vocês são muito bem-vindos é o projeto que Visa a divulgação das pesquisas científicas que eu faço na UFMG outras pesquisas espalhadas pelo mundo que eu quero dar voz aqui Então me digam aí né sobre o que que vocês querem ouvir também é importante pra gente manter essa conversa o tempo todo muito bem o Rodolfo continua lá a perfurar A pobre cloti de ela se deixando perfurar sofrendo claro uma relação de abuso gravíssimo ela não falava não reclamava e um mês Tadinha ela emagreceu perdeu as cores até que Ainda bem né uma empregada da casa viu
os braços dela e denunciou e o pai da Clotilde escreveu uma carta ameaçadora pro Rodolfo dizendo que era crime né desfez o noivado salvou a Clotilde aí de uma relação de abuso terrível mas o Rodolfo não conseguiu se conter mesmo depois dessa história mesmo com a lei tentando barrar aí o seu desejo ele continua e vai nos Bondes agora dando uma espetada nas mulheres sem querer algumas reagem Claro dão uma bofetada outras trat como louco Claro apontando para essa coisa meio absurda que ele tá fazendo que é respetar as pessoas né no meio do Bonde
Enfim no meio da rua espetar as mulheres não as pessoas é importante lembrar aqui né inclusive no texto de 27 sobre o fetichismo do Freud que a maioria dos casos de escritos são o Casos dos homens fazendo as mulheres sofrerem né as chinesinhas e o seu pezinho entortado né encurtado o cer deata né que é aquele cara que passa e vai cortando a as tranças das meninas de maneira geral o fetichista perverso é homem e tá trazendo a mulher a condição de objeto para dominá-la para humilhá-la machucá-la então assim vamos prestar atenção aqui nessa dinâmica
também de gênero que me parece tá presente no fetichismo perverso aproximo-me tomo posição enterro sem dó alfinete elas gritam às vezes eu peço desculpa uma já me esbofeteou mas ninguém descobre se foi proposital Gosto mais das magras as que parecem doentes Então tá aqui o Rodolfo descrevendo e aí terminando o conto entra uma menina loira no bonde vai para outro vagão e o Rodolfo sai atrás dela provavelmente para espetá-lo tá aqui a dimensão Clara da perversão o outro reduzido ao objeto o gozo particular do perverso que de uma maneira geral se quer exclusivo Então isso
é uma boa característica da perversão uma forma só de gozar uma maneira só de obter prazer né isso vai se tornando exclusivo vai excluindo outras formas de gozo diferente da neurose né que a gente circula mais por várias formma de ter prazer com o outro com o corpo com o mundo o perverso tá ali muito fixado num roteiro só um roteiro fixo muito inflexível de tal maneira que reduz não só o objeto a esse roteiro mas ele mesmo lembrar aqui dessa compulsão que faz com que ele mesmo se sinta ali dominado por esse desejo no
peru de Natal do Mário de Andrade a gente tem o desejo da oralidade sublimado ela vira né um desejo de comer junto de ser de comungar o corpo do pai agora simbolizado e morto dentro de nós um episódio de gratidão transformada aqui em dentro da noite de João do Rio a gente tem a continuidade da sexualidade infantil o sadismo lá em Mário de Andrade é sublimado é o peru que é cortado é o peru que é devorado incorporado o corpo do pai morto agora transformado em ício que por sua vez determina a possibilidade de gratidão
e o luto da morte do pai aqui não dentro da noite de João do Rio a Sexualidade infantil permanece sem muita simbolização ali onde havia sadismo violência contra o corpo do outro ela continua ela continua sendo puro sadismo então a gente pode imaginar Claro hipóteses met psicológicas aqui de como e porque esse sadismo se estabelece com o Rodolfo a ideia de dominar o objeto perfurar tem a ver com a curiosidade infantil A gente faz isso né com os insetos com próprio corpo o corpo do outro a gente brinca com esse sadismo aos poucos Claro a
gente vai recalcando isso reprimindo fazendo o que o Freud chamava de formações reativas a esses desejos e esses desejos vão sendo barrados pela cultura vão sendo barrados pela nossa moralidade no caso de Rodolfo não o desejo permanece Então esse desejo tá por assim dizer a céu aberto mas o que não quer dizer que ele seja já o inconsciente não é que isso aqui seja o inconsciente aberto não não ele é o desejo explicitado que permanece lá da Infância e que vai até a vida adulta não existe ente a céu aberto Nem na Psicose nem na
perversão esqueçam essa expressão aí que circulou na história da psicanálise durante muito tempo não tem inconsciente a céu aberto isso aqui já é uma operação simbólica espetar o braço de uma pessoa já é uma operação muito simbolizada o que tá no inconsciente são outras coisas fantasias restos de excitação por exemplo que estão ligadas a perfuração penetração violência domínio eu pensaria muito mais em analidade aqui do que em oralidade por exemplo então a analidade presente nessa cena eu perfuro o corpo do outro porque Desejo ser perfurado porque fui perfurado violentamente pelo outro né Essa poderia ser
uma fantasia inconsciente que mobilizava que o gesto né o ato a atuação do Rodolfo essa fantasia inconsciente tá lá Muito provavelmente Existe algum tipo de fantasia nesse sentido eu fui perfurado violentamente E aí perfurado claro já é uma metáfora né já simbólica pelo seio da mãe pela violência do pai né a gente não tem ideia do que possa ser mas enfim uma perfuração simbólica aqui que ele Visa reproduzir de uma maneira concreta no braço das magras das que parecem doentes das mulheres ou seja esse lugar de fragilidade que a mulher ocupa na nossa Cultura então
é como se houvesse um tipo de projeção narcísica o que Rodolfo faz é eu agora sou o ativo mas me identifico certamente com aquele passivo o sujeito passivo A mulher me identifico com a mulher enquanto eu a perfuro no fundo sou eu o perfurado claro que isso não desresponsabilização crime isso é absurdo que um perverso possa né Se valer aí de Ah é o meu inconsciente eu não consigo me conter não Claro que consegue vai ter que se conter todo mundo renunciou todo mundo renuncia as fantasias perversas então ele também tem que renunciar então a
aula maravilhosa né da professora Maria Teresa de Melo Carvalho comparava esses dois contos de forma didática e eu achei por bem trazer essa aula um pouco Claro não a altura das aulas da professora Maria Teresa mas espero ter feito uma homenagem aqui a ela minimamente Aprazível e né dedicada aí ao meu agradecimento e a minha gratidão à professora que sempre trouxe esse tipo de presente pra gente ao longo né dos seus ensinos lá na UFMG Então queria deixar meu agradecimento Público aqui à Maria Teresa e né lembrar dessa lógica aqui muito bonita né que a
gente pode fazer comparando histórias clínicas aqui para pensar em destinos diferentes né de um lado a neurose como que isso simboliza a perversão que permanece no inconsciente e do outro lado a perversão mesmo né que mantém né o gesto perverso a atuação perversa mas nem por isso deixando de imaginar que há fantasias inconscientes operando elas também fantasias perversas ligadas à sexualidade infantil ligadas à experiência infantil mas que vão ter uma simbolização mantendo esse roteiro do outro como objeto a passividade radical a inflexibilidade do desejo a impossibilidade de uma simbolização nova mais matizada mais dinâmica a
repetição quase estéo do desejo que a gente percebe na perversão fetichista como é o caso aqui do Rodolfo então eu achei o exemplo notável né da Maria Teresa comparação muito didática espero que vocês tenham gostado se vieram até aqui por favor compartilhem comentem curtam aí o vídeo se inscrevam no canal é super importante pra gente me falem aí sobre o que que vocês querem conversar vocês estão num projeto de extensão que se chama conversas virtuais sobre psicanálise e ele é feito para vocês então contos literatura poemas filmes etc deixem aí as dicas e a gente
vai pensando em outros temas pra gente seguir a conversa valeu um abraço a