Eu aposto que você já ouviu falar que farinha branca, açúcar e leite inflamam o corpo. E aposto que você tem um amigo que te contou que está fazendo uma dieta anti-inflamatória. Mas, como assim?
Alimentos podem de fato causar uma inflamação no corpo? Qual o perigo disso? E se sim, existe um alimento que evita essa inflamação?
São essas perguntas que nós vamos responder no vídeo de hoje da nossa série sobre nutrição. E eu já posso adiantar que você vai se surpreender quando souber que pode se proteger dessa tal inflamação sem deixar de comer os alimentos que você gosta. Então, se você não quer perder nenhum dos próximos vídeos dessa série, se inscreve no canal e me diz aqui embaixo: qual assunto sobre nutrição você quer que eu fale no próximo vídeo?
Antes de entender essa história de alimentos inflamatórios, a gente precisa entender um pouco mais sobre o que é a inflamação. A inflamação é um processo que serve para nos proteger e nem sempre é algo ruim. Vejamos o caso do Bruno.
Em um belo dia, Bruno está andando pela casa e, bem distraído, bate o dedinho do pé na cama. Ai. Seu dedo começa a ficar vermelho, inchado, e com uma dor pulsante.
Mas bem no interior do dedinho de Bruno, está acontecendo uma inflamação, uma reação inflamatória aguda, pra ser mais preciso. Centenas de células do dedo dele se romperam e imediatamente liberaram substâncias que não deveriam estar ali. Algumas delas, são mediadores inflamatórios.
Esses mediadores recrutam células de defesa e também aumentam o fluxo de sangue pra facilitar a chegada delas. Bruno sente o dedo inchar e latejar: é a circulação de sangue aumentando por causa de um processo inflamatório natural, que serve pra limpar as células mortas dali. Quando as células de defesa percebem que não há mais nada pra combater, nada para limpar, os mediadores inflamatórios param de recrutar novas células e tudo volta ao normal.
Algo parecido acontece quando algum vírus ou bactéria invade o corpo. O invasor logo é percebido como algo estranho, e as células afetadas liberam mediadores que atraem células de defesa. Uma inflamação começa no local.
As células do sistema imune atacam, e, se tudo der certo, a infecção é resolvida. Tá bom, mas, o que isso tem a ver com a nutrição? Você está dizendo que um alimento sozinho pode causar toda essa resposta no corpo?
Quando é que alimentos geram inflamação? Fernanda tem doença celíaca, um tipo de intolerância ao glúten. Por uma questão genética, o corpo dela não consegue digerir a gliadina, uma proteína contida no glúten.
A gliadina é vista como estranha pelo sistema imune. Quando Fernanda come algum alimento com glúten, as células do sistema imune atacam tanto a gliadina quanto as próprias células do intestino dela, causando um dano na absorção dos nutrientes, além dos sintomas desconfortáveis como distensão abdominal e dor. É por isso que uma pessoa com doença celíaca precisa parar de consumir alimentos com glúten, como a farinha de trigo, presente em pães, massas e outros produtos.
Diferente de quem tem apenas intolerância ao glúten e não consegue absorvê-lo bem, o organismo da Fernanda dispara uma inflamação toda vez que ela entra em contato com ele. Outra situação bem comum que dispara uma inflamação é quando alguém tem alergia ao trigo ou ao leite, por exemplo. Pra tirar a dúvida se é uma alergia, uma intolerância ou até mesmo uma doença genética, é essencial consultar um gastroenterologista pra fazer o diagnóstico.
Beleza. Até aí tudo bem. Todos nós sabemos que algumas pessoas não podem comer alguns alimentos.
E que eles são claramente inflamatórios pra elas. Mas existe um tipo de inflamação mais silenciosa, que não vem de uma hora pra outra como nas alergias ou nas doenças autoimunes, como a doença celíaca. E é exatamente esse tipo de inflamação que vai nos ajudar a entender os tais alimentos inflamatórios.
Imagine que você é uma pessoa bem sucedida na carreira que sempre teve uma alimentação saudável e que faz exercícios regularmente. Mas de repente, a sua empresa te convoca para morar em uma nova cidade e você aceita a oportunidade. Incrível!
O problema: A sua rotina saudável muda completamente. Você não tem mais tempo para fazer exercícios e come todos os dias em um restaurante em que a comida é muito mais gordurosa. E como qualquer pessoa, você nota que logo nos primeiros meses, começou a ganhar peso.
É claro. Quando comemos mais do que o necessário e não gastamos, nosso corpo ativa um mecanismo incrível. Nossas células de gordura, extremamente adaptadas pra estocar qualquer energia extra das calorias da dieta, aumentam de tamanho.
O problema é que, se isso continua acontecendo, as células podem ter dificuldade de expandir, e entram em um estado de emergência. O que os cientistas viram é que as células de gordura liberam mediadores de inflamação, dia após dia. Ou seja, o excesso de calorias da dieta, junto com a falta de exercício físico, causa uma inflamação.
Só que dessa vez, essa inflamação é diferente daquela que você bate lá o dedinho no pé da cama, inflamação aguda. É diferente de quando você tem a doença celíaca. Ou diferente de alguém que tomou leite tendo alergia a proteína do leite.
É uma inflamação crônica, silenciosa, que avança ao longo do tempo. A mesma inflamação crônica é observada em quadros de doenças como o diabetes e em pessoas com alto colesterol e triglicérides. Essa inflamação que não tem um fim danifica as células silenciosamente por anos, trazendo riscos para a saúde no longo prazo.
E o mais perigoso nisso é que essa inflamação silenciosa, acontece sem causar dor ou desconforto. Então sim, a sua dieta pode ser inflamatória. Mas felizmente, o estado inflamatório do nosso corpo não depende de um alimento único, e sim do conjunto de coisas que você come.
Vejamos o exemplo do açúcar e dos industrializados, famosos alimentos considerados “inflamatórios”. Eles aumentam o risco para sobrepeso e obesidade, que causam uma inflamação crônica. Mas veja bem, pra chegar nesse ponto da inflamação crônica a gente está falando de um contexto de excesso, dentro de uma alimentação desequilibrada.
E não da pessoa que come frutas, vegetais, se exercita, mas no fim do dia lá resolve comer 4 quadradinhos de chocolate. Não é o açúcar ou o presunto que é inflamatório, mas o sobrepeso e a obesidade, sacou? Mas eu tenho certeza que você, que sempre ouviu sobre alimentos anti-inflamatórios, deve estar esperando uma lista nesse vídeo.
Fica tranquilo, que vai ter lista sim, mas depois dessa explicação sobre como a inflamação da dieta acontece, esse vídeo merece o seu like né. Afinal, tem jeito de se proteger da inflamação através de uma dieta anti-inflamatória? Como vocês já devem suspeitar, uma das chaves para ter uma dieta anti-inflamatória é simples: controlar o acúmulo de gordura no corpo.
A forma mais eficaz de fazer isso é através de uma dieta saudável, que tenha uma quantidade de calorias menor do que a que causou o ganho de peso. Outras medidas importantes são o exercício físico e o controle do estresse, porque muitas vezes comemos mais do que a fome pede, só pelo fato de a gente estar estressado. Além disso, toda dieta que te ajuda a controlar o diabetes, triglicérides e colesterol elevados, pode ser considerada anti-inflamatória, porque está atuando na origem da inflamação, evitando o sobrepeso e a obesidade.
E sobre os tais alimentos anti-inflamatórios até tem algumas verdades. Vamos lá. Vamos olhar pra curcumina, um composto presente na cúrcuma ou açafrão da terra, aquele tempero amarelo.
A Marina, que é a nossa roteirista nesse vídeo, nutricionista e trabalha há 6 anos estudando células e animais, ela já descobriu que a curcumina tem um efeito anti-inflamatório. Mas olha como são as coisas. Sabendo disso, a partir de agora você resolve que tudo na sua casa tem que ter cúrcuma pra prevenir doenças inflamatórias.
É… mais ou menos. Galera, nós não somos células isoladas, nem animais de laboratório. Somos seres humanos mais complexos.
E de acordo com as pesquisas da própria Marina, quando a gente come cúrcuma, bem pouco do que foi ingerido de curcumina vai de fato chegar nas nossas células. A grande maioria é eliminada. Pra saber se a cúrcuma realmente tem efeitos anti-inflamatórios em seres humanos, a gente precisa de estudos clínicos randomizados e até agora, os estudos são controversos sobre se a curcumina vai chegar na corrente sanguínea em quantidade suficiente pra ter aquele efeito.
E isso vale pra toda aquela lista de alimentos anti-inflamatórios que você provavelmente já viu por aí: - Uva, que contém resveratrol, Chá verde que tem uma substância que eu nem arrisco falar o nome, Maçã, que tem quercetina, Ameixa, morango e a uva de novo que possuem Antocianinas e até Canela que tem Cinamaldeído. Você já tinha ouvido falar de algum alimento anti-inflamatório dessa lista? Comenta aí embaixo.
Todos esses alimentos mostram efeitos anti-inflamatórios em células e em animais, mas a ciência ainda não conhece uma forma de fazer esses compostos chegarem mais intactos na circulação sanguínea, para então agirem em um ser humano. Lucas, Mas então essa história de alimentos anti-inflamatórios é mentira? Não necessariamente, porque existe um campo novo e promissor da ciência, que estuda como as bactérias do nosso intestino podem controlar a inflamação do nosso corpo.
A composição das populações de bactérias do nosso intestino, pode determinar se teremos um risco aumentado de infecções, e, por consequência, inflamação. E o que é legal, pessoal, é que a ciência descobriu que alguns tipos de bactérias não conseguem proteger nosso intestino de forma adequada, o que aumenta a absorção de toxinas, e nos deixa mais suscetíveis a uma reação do sistema imune e também à inflamação. Ou seja, se você tiver essas bactérias vai estar mais propenso a ter inflamação.
Mas a ciência também mostrou que podemos controlar através da alimentação quais tipos de bactérias nós vamos carregar ao longo da vida, alimentando boas bactérias em detrimento das más. Os alimentos não são anti-inflamatórios em si, mas eles podem ajudar a cultivar bactérias que diminuem a inflamação. Olha que legal!
Isso pode ser feito através de um consumo adequado de fibras, como as que tem em todos os tipos de frutas e vegetais, cereais (principalmente os integrais) e leguminosas (como o feijão e a lentilha). Além das fibras, os compostos encontrados nos alimentos que eu citei antes, também têm efeitos positivos. Aí entra desde o resveratrol do suco de uva, até a curcumina do açafrão da terra, agindo nas nossas bactérias e não diretamente como anti-inflamatórios.
Perceba que não é necessário excluir alimentos como farinha e leite sem necessidade, ou abandonar de vez o chocolate depois do almoço pra ter uma dieta anti-inflamatória. Podemos chamar de dieta anti-inflamatória toda aquela que nutre o corpo com a quantidade correta de calorias, nutrientes e compostos bioativos. Eu não sei vocês, mas eu enviaria essas dicas para alguém que está cheio de paranoia na alimentação, para mostrar que é muito mais simples do que parece.
Assim como também é simples entender porque bactérias podem ser um problema sério daqui a alguns anos, graças à resistência bacteriana a antibióticos, como eu explico nesse vídeo aqui. Ou então se você quiser um outro assunto, assiste esse vídeo que o YouTube te recomendou. Me diz nos comentários qual mito da nutrição você quer que eu fale no nosso próximo encontro, ein.
Um grande abraço e eu te vejo no próximo vídeo. Tchau.