Neste vídeo vamos falar sobre colonialidade de gênero, sexo, sexualidade, e como é que todas essas questões estão ali relacionadas à questões de raça e da colonização. Para gravar esse vídeo eu vou usar a teoria de Maria Lugones que é uma filosofia latino-americana e ela se debruça sobre os estudos de algumas antropólogas que pesquisam sobre a questão de gênero (eu não sei muito bem falar o nome delas então eu vou deixar aqui escrito, mas é Gunn Allen e a Oyèrónke Oyewúme, não sei se é assim que se fala mais que está aí). Como eu já falei lá no período da colonização os brancos europeus quando decidiram que eles iriam impor essa questão de raça superior eles não atingiram apenas a questão do trabalho, porque como eu já falei também anteriormente isso não seria suficiente para manter toda essa dominação durante muito tempo, eles atingiram esses povos pretos e indígenas em diversos âmbitos culturais e das suas vidas e um deles foi sobre essa questão do gênero, do sexo e da sexualidade.
Maria Lugones vai falar que o sexo é uma questão de construção social. A gente já tá acostumada a ouvir falar que o gênero é uma questão de construção social, mas o sexo está tão relacionado a essa lógica da biologia que a gente acaba achando que há algo determinado e ponto, mas existe um ponto aí que a gente vai mergulhar e que a gente vai começar a pensar sobre um outro modo a respeito dessa questão do sexo e esse ponto está relacionado à questão dos intersexuais. Os intersexuais são pessoas que nascem biologicamente com características de ambos os sexos, digamos assim, tanto o macho quanto a fêmea e até os órgãos dessas pessoas, os órgãos sexuais são duplos tanto pênis quanto a vagina e nas tribos africanas e indígenas essas pessoas viviam normalmente, eram aceitas e viviam como qualquer outra.
Essa questão do sexo não era uma questão impositória, não tinha essa determinação, cada um era o que era cada um vivia o que vivia e não tinha esse apego por essa questão do que é macho, do que a fêmea, do que é intersexual e essa figura do terceiro sexo, digamos assim, estava ali presente o tempo todo, mas com a chegada dos brancos europeus essa questão do dualismo sexual foi sendo imposta onde só poderia haver macho e fêmea e essa questão dos intersexuais deveriam acabar. E aí na modernidade, nesse mundo que os brancos europeus começam a construir, nesse mundo colonializado eles impõe a questão do poder médico que é um poder cirúrgico onde as pessoas que nascem desse modo, as pessoas intersexuais, elas são diretamente submetidas a uma cirurgia que vai definir os seus sexos e aí, para essa definição, vão utilizar de duas outras construções sociais: uma é a questão falocêntrica, que fala sobre o falo que é o pênis, como algo principal na sociedade, como algo relacionado ao poder, como algo que está relacionado a essa masculinidade e que representa esse lugar de dominação de poder; e o outro lado é a obrigação da mulher está relacionada com esta imagem da reprodução, ou seja, o homem e o s eu falo foi construído na sociedade por esse lugar de poder, de dominador enquanto que a mulher foi construída nessa sociedade como esse lugar de reprodução. E aí se essa pessoa que nasce intersexual ela tá com mais características.
. . na verdade se ela tá com o seu sistema reprodutório em perfeito estado ela vai passar por uma cirurgia e vai "ser" submetida a ser mulher na sociedade, mas se ela tiver com o seu falo perfeito ela vai ser colocado nesse lugar de homem na sociedade e é essa crítica que Lugones vai fazer sobre essa questão do sexo também ser uma construção social, também ser uma determinação colonizadora.
E aí um outro ponto que a gente vai agora é para a questão do gênero, onde alguns estudos também apontam que nessas tribos não existia essa outra é divisão de gênero como existe na nossa sociedade hoje. Lá as pessoas eram muito divididas na questão da imagem, da anatomia e não com relação ao seu órgão sexual e aí existem alguns termos, obenerin, que é uns termos yorubá e o outro eu não me lembro que é relacionada essa figura que hoje chamamos de masculina (vou deixar escrito aqui) e esses nomes estavam relacionados a uma anatomia, como eu falei, então as pessoas, elas se apresentavam socialmente como elas quisessem e elas eram lidas naquela tribo ali como elas queriam ser lidas e essas questões das diferenças desses dessas imagens não eram como são hoje a questão do gênero, por exemplo você poderia olhar para uma imagem que hoje lemos como feminina ou olhar para uma imagem masculina e aquilo não diz ia muitas coisas eram apenas pessoas e ponto, diferente de hoje que a gente olha para uma mulher e a gente diz o que é que aquela mulher é ou não é, o que é que ela deve fazer ou não deve fazer, o que é que cabe a ele ou o que é que não cabe, assim como a gente olha para o homem e vai determinando as mesmas coisas, o que é que o homem é o que não é, é que o homem pode fazer ou não pode fazer, não existia aquilo na época, todo mundo poderia fazer tudo nessas tribos, porque essa questão do gênero era somente essa questão da imagem. E um outro ponto interessante é que, sobre a questão da sexualidade, existem muitos estudos que falam que nas tribos indígenas essas pessoas homossexuais, travestis, transexuais, transgêneros que é como a gente chama hoje, eram tidas como pessoas especiais, pessoas que poderiam ter uma relação diferenciada com os deuses e com essa questão da espiritualidade, então eram.
. . muitas vezes ocupavam muitas vezes lugares de respeito nessas tribos por conta disso, muito diferente do que a gente vê hoje na nossa sociedade.
Com base em todas essas pesquisas, todas esses estudos, todos esses apontamentos a gente consegue ver que nas tribos africanas, nas tribos indígenas essa relação com o sexo, com o gênero, com a sexualidade era outra diferente dessa lógica que a gente vive hoje que é uma lógica branca, eurocentrada, e heteropatriarcal impostas pelos colonizadores, essa lógica da modernidade. E aí tudo isso contribui, como eu já falei lá no início, para essa relação de poder e de hierarquização que os brancos, europeus e colonizadores tanto almejaram e tanto quiseram alcançar e para eles alcançaram esse lugar e manter-se lugar de poder eles utilizaram algumas estratégias nessas tribos e que o Lugones vai apontar. A primeira é a imposição de um deus homem, branco, todo poderoso e que vigia todo mundo a todo momento.
Nessas tribos as religiões, a espiritualidade, os ritos estava relacionado com a natureza e estava voltado para vários deuses e deusas e aí chegam essas pessoas e impõe essa lógica de um único deus apagando e colocando de lado, demonizando todas essas crenças dessas pessoas e deslegitimando mais uma coisa, mais um ponto da cultura e do modo de vida dessas pessoas. Uma outra estratégia era destruição dos governos tribais que muitos dos governos dessas tribos eram matriarcais, ou seja, tinham mulheres nesse lugar de responsabilidade, de cuidado e de referência dessas tribos e o apagamento de filosofia dessas tribos; e a imposição de filosofias patriarcais, ou seja, era impossível para ele. .
. para eles, para esses povos brancos, europeus, colonizadores, que as mulheres continuassem nesse lugar de poder até porque não existiria lógica, não existiria como eles manterem essa ideia de hierarquização, de atravessamentos se as mulheres pretas, as mulheres indígenas, as mulheres das diversas tribos e diversos povos entendessem a sua relação, o seu lugar de poder e continuasse mantendo isso vivo e mantendo essa prática onde quer que elas vivessem, por isso eles atravessaram, apagaram e destruíram toda essa relação de referência e de poder, digamos assim, dessas mulheres indígenas e africanas. Uma outra estratégia que foi utilizado de uma forma geral, não só por essa questão do gênero, foi o afastamento desses povos das suas terras, o afastamento desses povos da sua comunidade, das outras pessoas que eles viviam, o apagamento dos seus modos de vida e dos seus modos de subsistência, das formas que eles tinham de se manterem vivos, de se manterem saudáveis, de se manterem bem socialmente, tudo isso foi apagado tornando essas pessoas novamente dependentes desses brancos, desses europeus e desses colonizadores achando que o único modo de viver era aqueles do qual eles impuseram.
E por último a outra estratégia adotada foi o fim dessa questão dos clãs, das tribos em que a questão de unidade ela é muito ampla, toda a tribo se enxergava como uma coisa só se identificavam com uma coisa só e na modernidade, nessa nova sociedade colonizada isso teve um fim e foi criado essa lógica da família em que essa questão da unidade é muito menor, é cada pessoa ali na sua casa e as mulheres elas perdem esse lugar central, elas perdem esse lugar de poder, digamos assim, nas suas casas nas suas famílias sendo impostas a esse poder do homem, a esse poder patriarcal, heteropatriarcal, tudo isso foram estratégias adotadas não só para a questão do sexo, da sexualidade e de gênero mais para favorecer essa questão da colonialidade geral e muitas vezes a gente ouve a história de que os brancos foram lá pegaram os povos indígenas, pegaram os povos negros colocaram para trabalhar e a gente não sabe de todo esse rolê, de todas essas coisas outras que aconteceram que foram elaboradas estratégias, que foram feitos apagamentos e violências e aí a gente não entende muito bem de onde é que vem tudo isso e agora tendo noção sobre tudo isso a gente pode compreender que nada adianta falar sobre feminismo, nada adianta falar sobre luta contra LGBTfobia se não passar pela questão da raça, se não se discutir a questão da colonialidade, se não se discutir todas essas questões do poder branco heteropatriarcal, porque foi nesse lugar que surgiram as coisas, está aí a origem das coisas e é importante que a gente olhe para esses pontos, que a gente entenda como foi que tudo aconteceu para que a gente possa encontrar saídas, para que a gente possa saber por onde é que a gente pode caminhar para dar um fim à toda essa questão da imposição da sexualidade, do gênero, do próprio sexo e para que as mulheres, as pessoas transexuais, as pessoas transgênero, as pessoas LGBTs no geral possam viver a sua vida de uma maneira plena, de uma maneira saudável, sem serem atravessadas por essas questões e que os povos pretos, os povos indígenas possam retornar cada vez mais aos seus modos de vida e também usufruir de uma cultura plena, de uma cultura que falem mais sobre eles do que essa outra cultura que é imposta e que torna eles mais um alguém dependente, alguém que sempre tá ali "precisando" do outro. O vídeo é sobre isso, se vocês gostaram clique em gostei, se tiver alguma dúvida deixe o comentário aqui embaixo, são muitos temas, são muitas coisas para se discutir então a gente vai vendo pouquinho aqui no vídeo depois vai lendo outra coisinha, vai discutindo outras coisas e é esse o rolê, ninguém aprende tudo, ninguém sabe de tudo de uma vez só, o importante é ficar atenta a pensar de forma crítica e a buscar sempre! É isso aí!
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