Vladimir Safatle // Cinismo e falência da crítica

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Conferência do filósofo Vladimir Safatle sobre o cinismo no capitalismo contemporâneo -- tema de seu...
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Boa noite e bem-vindos ao espaço cultural CPF o espaço cultural CPF Apresenta esta noite no projeto sociedade contemporânea vida perigos e oportunidades o módulo a teoria pós-moderna a contemporaneidade e a vingança da história que tem como curador Professor Bento Prado Júnior convidado para a palestra de hoje é Vladimir safatle do departamento de filosofia da Universidade de São Paulo o tema da palestra é o cinismo contemporâneo o riso é originariamente reconciliador ao longo da história da filosofia todos lhe deram um lugar sem que ele deixasse feridas no espírito hoje cabe pensar ao inverso com a ajuda
da dialética negativa de Adorno e com a metapsicologia de Lacan não aver riso além da sua positividade classicamente recda algo de puramente negativo que só se manifesta plenamente no nosso mundo contemporâneo analisar a crise exige da filosofia tanto voltar-se criticamente so si mesma como lançar-se contra os seus limites para mergulhar em vários aspectos da nossa experiência atual a prática a concepção de guerra a articulação entre teologia e política as diferentes faes da nossa modernidades e suas Vertentes éticas e estéticas Pedimos que desliguem os telefones celulares os bips os pagers mesmo os vibrac porque está dando
interferência inclusive na nos aparelhos de recepção e vamos receber com aplausos o Professor Vladimir safatle por favor Nossa tô me sentindo realmente tem como diminuir um pouco a luz Ah tá Vixe tá bom bem primeiro eu gostaria de agradecer a presença de todos vocês assim Como Agradecer o convite que me foi feito pelo professor vento Prado para participar desse colóquio eh com um tema absolutamente interessante né sobre pós-modernidade a vingança da história né bem eh eu havia sugerido falar sobre um fenômeno que eu julgo Fundamental e importante para compreender alguns desafios mais absolutamente fundamentais pro
pensamento contemporâneo eh esse fenômeno é o cinismo né então o que eu gostaria de fazer hoje é primeiro tentar contextualizar um pouco a importância dessa questão e no segundo momento tentar no esforço de precisão delimitar melhor aquilo que nós poderíamos compreender como sendo cinismo né a pragmática da linguagem ordinária Ela utiliza cinismo e nasas acepções mais diversas então Isso dificulta muito a a compreensão do que tá realmente em jogo no interior do cinismo como um problema filosófico né o cinismo contemporâneo como problema filosófico Então é isso que eu gostaria de fazer na verdade eu gostaria
de colocar uma pergunta e tentar responder essa pergunta a pergunta é seria o cinismo o saldo final do dos processos de modernização né veja eh eu gostaria de lembrar algumas algumas colocações como por exemplo na Aurora da daquilo que a gente poderia chamar de pós-modernidade em meio a uma a uma uma polêmica a respeito da filosofia adorniana da música Jean François liotard ele afirmava eh eu cito lotar nós temos em relação a Adorno a vantagem de viver em um capitalismo mais enérgico mais cínico menos trágico ele coloca tudo em representação a representação se redca como
em BR logo se apresenta o trágico Dá Lugar Ao paródico bem Se entrar na diretamente na questão a respeito da pretensa obsolescência do pensamento adorano devido a esse novo diagnóstico histórico eu acredito que essa afirmação do lotar ela tinha ao menos o mérito de apresentar uma mutação maior nas práticas de poder e nos seus processos de legitimação que já então se fazia perceber né Essa mutação tava figurada na estranha passagem de um capitalismo trágico para um capitalismo cínico Mas o que o que esse dois termos poderiam querer significar Nesse contexto né Vejam uma resposta programática
e seria bem ao invés da tragédia de um sistema socioeconômico que a todo momento funcionava através do ocultamento do caráter fetichista dos seus processos de determinação de valor tragédia de um sistema que não pode assumir aquilo que ele realmente é ao fundar-se no recalcamento ideológico dos seus pressupostos bem ao invés disso nós teríamos o cinismo de práticas de poder capazes de revelar o segredo do seu funcionamento e continuar a funcionar como tal práticas de poder capazes de reduplicação tomando a todo momento uma distância Bastiana em relação àquilo que elas próprias enunciam tal como interna paródia
votar era ainda mais claro A esse respeito quando afirmava no mesmo texto né eu cito ao mesmo tempo que o capital mantém na vida e na arte a lei do valor como separação poupança corte seleção proteção privatização ao mesmo tempo ele mina por todos os lados o valor da Lei ele ele nos obriga a vê-la como arbitrária nos impede de crer nela ele é bufão a crítica não pode ir além dessa bufonia Veja a colocação ela não poderia ser mais direta né porque a força do capitalismo viria do fato dele não se não se levar
a sério já que ele minaria a todo momento o valor da lei que ele próprio anuncia o capitalismo não exigiria mais espécie alguma de crença cega nos conteúdos normativos que ele próprio apresenta ou nos Protocolos de que ele disponibiliza ou seja nós podemos tomar distância dos conteúdos normativos do universo ideológico capitalista porque o próprio discurso do Poder já ri de si mesmo e mais importante essa aparente ausência de legitimidade seria o verdadeiro núcleo da sua força sua crise de legitimidade seria o seu núcleo motor bem antes a gente ver como isso é possível não deixa
de ser irônico encontrar exatamente no Adorno a consciência desse cinismo constitutivo do regime contemporâneo de funcionamento da ideologia basta a gente lembrar por exemplo do que diz o Adorno em um texto consagrado à análise da visão como ideologia eu cito dentre os scripts analisados numerosos são esses que jogam deliberadamente com kit e dão uma piscadela de olhos em direção ao espectador como quem diz que eles mesmos não acreditam no que mostram que eles não são assim tão idiotas né bem ess seria o exemplo Supremo de uma ideologia que pode funcionar exatamente por não se tomar
a sério veja todos nós conhecemos as múltiplas figuras da ironia como arma suprema do esclarecimento contra a intolerância né um dos móbiles mais usados pela crítica esclarecida foi o riso né o riso como modo de desmascaramento das imposturas do poder desmascaramento da contradição performativa entre procedimentos de justificação e e a dimensão da ação ele esse riso como desmascaramento ele tá claramente presente já nos cínicos da Grécia Antiga vale a pena a gente pensar por exemplo no sarcasmo de Diógenes contra o que haveria de hipócrita na lógica que guiaria superstições a moral e a política o
mesmo sarcasmo contra a hipocrisia que o teria levado a afmar diante de dois guardas dos arquivos sagrados que estavam levando paraa prisão um ladrão do Tesouro público o cito de ó Eis aí grandes ladrões levando para a prisão um pequeno uma versão helênica da famosa pergunta brana né O que é roubar um banco diante do que significa fundar um banco né bem algo dessa ideia crítica do Riso como desmascaramento da hipocrisia já está presente na definição do Aristóteles base da teoria clássica do Riso cito Aristóteles a zombaria é um insulto gracioso se a gente ver
aqui entre outras coisas a noção do Riso como uma figura da crítica que procura desqualificar e desmascarar a aparência sustentada por aquele que é endado essa teoria clássica do Riso como desmascaramento da aparência pode nos explicar porque os vícios que nesse contexto aparecem como sendo os vícios risíveis são são geralmente a hipocrisia a vanglória e não a perversidade perversidade não é um não é um vício a ser ridicularizado mas ser diretamente combatido por porque hipocrisia e vanglória exprimem a inadequação entre as dimensões da aparência e as determinações essenciais né O que não é exatamente o
caso da perversidade agora mas a questão que eu gostaria de colocar eh o que acontece a ironia como figura da crítica quando o poder de uma certa forma começa a zombar de si mesmo eu diria que essa pergunta posta pelo lotar ao falar de um capital bufão já havia sido levantada pelo Adorno a ocasião de um dos seus estudos sobre o fascismo para ele o fascismo era de uma certa forma o riso que vem do Poder a gente pode dizer isso porque o caráter carnavalesco Como diria o btim da ideologia fascista caráter de paródia que
absorve ao mesmo tempo conteúdos ideológicos aparentemente contraditórios Como por exemplo o vínculo camponês à terra e o culto futurista indústria seria segundo o adoro esse assim seria o segredo da força do fascismo tudo era aparência posta como aparência e um fato de suma importância todos sabiam disso ninguém acreditava na mitologia do fascismo mas cria-se Ou seja a responsabilidade da crença era sempre enviada a um outro a uma espécie de sujeito suposto crer o fascismo seria assim a realização da distância irônica agindo no CNE do Poder seja aqui é impossível resistir à ideia de citar o
texto do Adorno na integralidade né onde ele trabalha essa questão eu cito Adorno da mesma forma com que as pessoas não acreditam no fundo dos seus corações que os judeus sejam demônio elas não acreditam completamente no Líder elas não se identificam realmente com ele mas atuam essa identificação representam seu próprio entusiasmo e dessa forma participam da performance do líder é através dessa performance que eles encontram uma balança entre seus impulsos institua continuamente mobiliz ados e o estágio histórico de esclarecimento que eles alcançaram e que não pode ser arbitrariamente revogado é provavelmente a desconfiança da ficção
da sua própria Psicologia de grupo que faz as massas fascistas tão impiedosas e inabaláveis se elas parassem para raciocinar por um segundo toda a performance iria pelos ares e eles seriam deixados em estado de pânico ou seja o fascismo não teria passado de um grande jogo de máscaras ou ainda de uma grande paródia carnavalesca então cada uma dessas ideias deve ser levada a sério no anterior dessa citação primeiro a noção de uma identificação irônica uma identificação irônica que leva os sujeitos a representarem o seu próprio entusiasmo um como si cínico que desarticula a distinção clássica
entre entusiasmo e desencanto e que não exige mais que os sujeitos se identifiquem simbolicamente com tipos ideais disponibilizados um pouco como se o poder que ri de si mesmo exigisse que os sujeitos iriz a todo momento seus papéis sociais segundo a simulação como formação de compromisso entre exigências valorativas esclarecidas e impulsos instin continuamente mobilizados ou seja como aquilo que permite a sujeitos esclarecidos agirem ironicamente como se não soubessem e terceiro uma certa Síndrome de pânico que apareceria no momento em que todo esse jogo de aparência ameaçasse arruinar mas a gente não poderia dizer que essa
análise da ideologia fascista parece estranhamente próxima de algo fundamental nas nossas sociedades pós ideológicas sociedades pretensamente marcadas pelo desengajamento em relação a Todo projeto utópico se assim for a semelhança de família entre o capitalismo bufão pós ideológico do lotar e o fascismo na sua versão adiana não seria mero acaso pois nos dois casos nós estaríamos diante de mecanismos de poder fundados em ideologias da ironiza dessa forma compreender os modos de funcionamento da ideologia assim como a força das suas práticas de poder significa atualmente compreender o cinismo e suas figuras or No entanto para aprofundar essa
figura cínica da ideologia que pode funcionar exatamente para não se levar a sério isso a fim de compreender melhor as molas que é sustentam a gente deveria colocar uma questão de esclarecimento Que tipo de problema é o cinismo ou ainda o que significa exatamente o cinismo Veja essa questão ela não é tão simples quanto possa parecer normalmente a resposta padrão seria o cinismo é um problema de ordem moral vinculado à distorção de procedimentos de justificação da ação o cínico cínico seria aquele que distorcer procedimentos de justificação ao tentar conformá-la enquanto uma dentre outras Máscaras da
imoralidade o cinismo não deveria nos colocar dificuldades suplementares né ele poderia ser isolado através do estabelecimento de uma ética do discurso capaz de fundamentar critérios normativos de enunciação e de transformar trais critérios em instrumentos de crítica sem grande relevância filosófica o cinismo seria assim um problema menor no entanto eu acho que a gente poderia fornecer uma visão mais complexa para problema do cinismo primeiro mais do que um problema de ordem moral Talvez seja mais produtivo compreendemos o cinismo como um regime de economia de discurso a vantagem nesse caso consiste em salientar que enquanto economia de
discurso o cinismo pode aparecer como posição discursiva em várias esferas da vida social e não apenas no campo dos julgamentos Morais né Por exemplo a gente po a gente pode não só pode mas a gente deve falar de uma estética cínica de uma política cínica de uma ideologia cínica e de uma sexualidade cínica entre outras coisas de fato acredito que só é possível compreender o desdobramento contemporâneo de várias esferas da vida social através do cinismo como economia de discurso por outro lado enquanto economia de discurso o cinismo aspira a legitimidade e procura colocar-se como padrão
racional de justificação da conduta esse acho um Ponto Central eu acho que ele foi bem salientado A partir do momento em que nós começamos a falar de razão cínica principalmente a partir do Livro dos slotter ja né Crítica da Razão cínica bem notemos que falar em razão cínica significa admitir que o cinismo se vê a si mesmo como uma figura da racionalidade e dos processos de racionalização pro cínico não é apenas racional ser cínico só é possível ser racional sendo cínico nesse sentido mais do que um problema moral o cinismo é um problema de funcionamento
de estruturas de racionalidade há uma racionalização cínica das esferas sociais de valores e pro cínico Esse é o único modo de racionalização possível se nós levarmos em conta a insistência com que usamos atualmente o adjetivo cínico em Campos cada vez mais amplos nós vamos ser obrigados a dizer que essa relevância parece ter crescido ultimamente isso nos coloca diante de uma hipótese maior a partir de um certo momento histórico os modos de ação das múltiplas esferas de valores da vida social na modernidade capitalista começaram a se realizar ou ao menos começaram a ser percebidas a partir
de uma racionalidade cínica não é claro que isso nos deixa diante de uma tarefa suplementar que é indicar as coordenadas históricas Que produziram tal situação veja não se trata apenas de indicar o momento em que as sociedades capitalistas começaram a passar por uma crise Geral de legitimação acho que o problema é ainda de outra ordem porque trata-se na verdade de compreender como elas foram capazes de se legitimar através de uma racionalidade cínica E com isso estabilizar uma situação que em outras circunstâncias seria uma típica e insustentável situação de crise acho que isso faz toda a
diferença né bem o primeiro passo para compreender o cinismo como um problema de funcionamento das estruturas de racionalidade passa por um esforço de precisão na pragmática da linguagem cotidiana o termo cinismo aparece muitas vezes designando ações que têm pouco em comum por exemplo o empresário que procura mascarar seus interesses particulares de classe invocando valores universais é normalmente chamado de cínico da mesma maneira queem esse caso é um caso real né que o ex-diretor do Banco Central que assume abertamente que a universalização constitucional do acesso à saúde é legítima Claro mas infelizmente deveria ser cortada da
Constituição por ser racionalmente impr praticava nos próximos decênios né agora no entanto Vejam a diferença entre os dois casos No primeiro caso o enunciado mascara a verdade presente no nível da enunciação no nível do do interesse do enunciador enquanto que no segundo não há operação alguma de mascaramento e nem precisaria porque o julgamento é absolutamente bem formado essas duas economias de discurso por sua vez não participam por exemplo Da Lógica própria aquele que age legitimando ironicamente sua conduta a partir de valores que ele mesmo julga falso porém necessários né Vocês têm esses exemplos clássicos exemplos
dos dos dos Padres esclarecidos do século X do século 18 principalmente né no qual o padre que tem o discurso absolutamente ateu esclarecido mas que num certo momento quando se se vê diante de alguém que me pergunta bem mas sendo assim por que que você não fala isso ao o povo ele fala não o povo não não tem como saber isso porque esse porque a unidade do Estado seria posta em cheque ou seja ele é capaz de falar como como um of clera e agir como uma falsa consciência né vej agora esses três casos são
distintos mas mesmo assim nós chamamos de cínicos né então acho importante fazer distinções porque distinções dessa natureza são importantes por demonstrar que a inversão cínica dos procedimentos de justificação racional não se confunde com uma simples operação astuta de má fé ou de hipocrisia por isso se a gente quiser apreender de maneira satisfatória o nosso objeto nós devemos começar estabelecendo distinções precisas entre por exemplo cinismo hipocrisia má fé e Outros Atos de fala que são construídos através de algum modo de distinção entre o enunci liter idade do enunciado e a posição do enunciador como por exemplo
a ironia a gente poderia mesmo chamar todos esses atos de fala de atos de de fala de duplo nível exatamente por se jogar por se arular a partir dessa distinção entre aquilo que tá enunciado e a posição do enunciador por exemplo alguém que manda tropas para invadir um país e justifica tal ação através de valores universais como para si e liberdade isso enquanto sua verdadeira intenção é animada por interesses geoeconômicos evidentes não está sendo exatamente cínico mas no máximo classicamente hipócrita n basta a gente lembrar aqui do que o Hegel dizia a respeito da hipocrisia
echle né bem que ela eu cito o Hegel demonstra seu respeito pelo dever e pela virtude tomando-lhes a aparência e utilizando-as como máscara pra sua própria consciência Assim como para a consciência alheia Ou seja a hipocrisia é uma das múltiplas Máscaras da insinceridade a insinceridade dos que escondem a particularidade do interesse através da universalidade do dever máscara que cai através de uma crítica capaz de desvelar os verdadeiros interesses por trás da aparência de un alidade confrontando assim um texto ideológico com um texto recalcado ao pontuar por exemplo nós sint tomais nos quais se lê a
contradição performativa entre procedimentos de justificação e o domínio da ação no entanto isso nada tem a ver com o cinismo sem distinções dessa natureza a gente acabaria por crer que o cinismo não passa de um problema de desrespeito aquilo que o John cle uma vez chamou de condições de sinceridade do de fala como se no fundo o sujeito agisse de outra forma simplesmente por seguir outro sistema de crenças do que aquele que ele proclama ou Deixa subentendido mas veja como a gente viu V na citação do heg esse mascaramento para o outro pode ser acompanhado
por uma espécie de não querer saber que indica uma certa forma de aut hipocrisia ou de mascaramento para si foi sar quem tematizou a exaustão e de maneira mais adequada esse mascaramento para si cujo nome correto é má fé estamos assim diante de duas máscaras da insinceridade a hipocrisia como insinceridade pro outro e a mafé como insinceridade para si a gente pode lembrar por exemplo do que o sart diz a respeito de conteúdos mentais inconscientes como conteúdos latentes de sonho crenças não conscientes acontecimentos traumáticos lembranças denegadas né eles são inicialmente segundo Sat o resultado de
um não querer saber que deve ser compreendido como figura da ma fé pois como Tais conteúdos mentais são produtos de um processo de recalcamento chega-se rapidamente a um certo paradoxo para que exista recalcado faz-se necessário um certo gênero de consciência do processo de recalcamento como dirá sart eu cito eu devo saber muito precisamente essa verdade a verdade dos conteúdos mentais inconscientes para escondê-la de mim mesmo de maneira cuidadosa isso não em dois momentos diferentes da temporalidade mas na estrutura unitária do mesmo projeto veja o assento vai aí para essa figura de um saber que esconde
para si mesmo as suas próprias operações no momento mesmo em que as implementa isso leva o sart afirmar que a ma fé uma posição evanescente uma certa arte de formar conceitos contraditórios quer dizer que unem uma ideia e A negação dessa ideia mas a mafé não quer nem coordená-los nem superá-los em uma síntese sustentar tal contradição é possível através de um deslizamento peto através do qual os dois polos contraditórios ou seja o saber e A negação do saber Nunca estão simultaneamente postos ou sempre estão postos apenas através do seu contrário essa divisão é sinal maior
do ato de mascaramento para si mesmo mascaramento que é uma forma de fuga de si a gente deve nos perguntar como a consciência operacionaliza tal divisão como sarta nos lembra a uma fé antes de mais nada uma fé ou seja trata-se de uma questão de crença trata-se de tirar todas as consequências desse ponto daí Por quê o problema essencial da má fé é um problema de crença Como podemos crer de uma fé em conceitos que forjamos expressamente para nos persuadir mas vale a pena a gente lembrar que é da própria natureza da crença operar sobre
o vazio da dúvida que insiste diante da certeza subjetiva se eu digo por exemplo eu creio que ela me ama escutamos sobre a sob a afirmação a certeza aterradora de que se trata apenas de uma crença de que nada me garante totalmente que ela me ama tomar consciência da crença é assim necessariamente destruir a imediaticidade da crença como diria Pascal toda a verdadeira crença não passa de uma aposta dessa forma a mafé ela parceria como uma fuga da Consciência em direção à crença uma fuga de quem usa a imediaticidade a fim de mascarar para si
mesmo o caráter frágil da aposta tal característica permite ao sart de insistir no fato de que a mafé não pode ser confundida com cinismo pois a mafé funciona antes de mais nada como estratégia de permanência na crença enquanto como a gente vai ver o cinismo não pode ser compreendido exatamente como uma questão de crença pois o cinismo Pode pôr os dois momentos que a ma fé não é capaz de articular o saber e A negação do Saber Esse é um dos céres da complexidade do sinismo bem hipocrisia mafé são duas máscaras da insinceridade mas o
que dizer da ironia e do sinismo seriam também Máscaras da insinceridade a gente primeiramente o caso da ironia bem haveria alguma coisa em comum entre os regimes distintos de ironia como o sarcasmo o chist a ironia melancólica entre outros bem a fim de estabelecer um traçado geral a gente poderia apelar a definição clássica de ironia fornecida pela retórica do Quintiliano a ironia é uma questão de pensar outra coisa do que se diz um processo de erosão do enunciado ela tira sua força da inscrição de uma inadequação entre as dimensões da literalidade do enunciado e da
intenção presente no nível da enunciação agora vale a pena a gente notar que contrariamente à hipocrisia e a mafé a ironia não proca esconder essa inadequação para funcionar ela deve mostrar que o sujeito nunca está lá onde o seu dizer aponta dessa forma ela pode se afirmar Não exatamente como uma operação de mascaramento mas como uma Sutil operação de revelação da inadequação entre enunciado e enunciação sem essa possibilidade de revelação da inadequação para o outro sem essa possibilidade que eu tenho de poder revelar pro outro essa inadequação a ironia seria um mero malentendido nesse sentido
hipocrisia hipocrisia e a mafé expulsam outro através do mascaramento a ironia chama o outro ela pede o reconhecimento do outro Ou seja a ironia é um modo muito particular de abertura ao reconhecimento intersubjetivo não se ri sozinho já dizia o Freud E mesmo quando se ri sozinho há sempre um outro que se coloca no horizonte para onde o meu riso se dirige o riso pode pede sempre a cumplicidade de um outro o que o schlegel já havia claramente percebido ao afirmar que eu cito o schist é o espírito de sociabilidade absoluta sociabilidade que acaba por
recuperar as ressonâncias da palavra Latina empregada por Cícero para designar humor que é urbanitas pois para além do vínculo social que dá corpo a ordem jurídica o riso funda e fornece as coordenadas de um espaço comum desses que partilham olhares simétricos a ironia demanda de reconhecimento ao outro então porque ela é fundamentalmente o modo indireto de Anunciação da Verdade ou seja o modo de enunciação da Verdade em condições de impossibilidade de uma posição direta da Verdade seja devido à censura ou ao despreparo intelectual do receptor ou por aí vai ela é exigência por modos indiretos
de que o outro reconheça a a verdade presente no nível da enunciação como se houvesse uma verdade transcendente ao enunciado nesse sentido a gente pode recorrer a uma fórmula fornecida pelo delus cito deluse chamamos de ironia movimento que consiste em ultrapassar a lei em direção a um princípio mais alto isso a fim de reconhecer a lei apenas um poder secundário Ou seja a ironia aponta para um princípio mais alto em relação à lei que pode ser anunciada e que regula os limites do enunci de onde se segue o papel central da ironia na estruturação dos
Protocolos de crítica porque ela é abertura para essa para Esse princípio mais elevado que não pode ser efetivado Nas condições Tais Quais as condições do enunciado né em questão agora no entanto a gente conhece ao menos desde do heg uma outra figura da ironia trata-se de uma ironia que continua a funcionar mesmo sem pressupor um princípio mais alto capaz de garantir os fundamentos da sua crítica essa ironia foi tematizada a exaustão entre outros pelo Kirk em um livro o conceito de ironia constantemente referido a Sócrates bem o kirar parte da definição de que Sócrates a
ironia Deixa de ser um momento de exposição da ideia que rompe o momento que rompe a imediaticidade da realidade em direção ao princípio mais alto na verdade ela se transforma com Sócrates em resultado de uma subjetividade que toma distância de toda a determinidade ela não é mais um caminho ela mais ela é uma meta sobre a matica socr ex que ela é movimento de perguntas que não são feitas tendo em vista a resposta mas perguntas que procuram exaurir o conteúdo aparente deixando atrás de si um vazio claro que através do Sócrates tem mente antes de
mais nada ironia romântica ironia que não se dirige contra aquele existente individual cont em uma cer época e so certas condiões Ou seja é a totalidade da existência que é observada a partir da ironia daí Porque essa ironia deve ser compreendida como aproveitando uma negatividade infinita absoluta como k e uma fórmula canônica a ironia é um jogo infinitamente leve com nada saar Que tal ironia aparece em realidades históricas em crise de legitimação mas que não tem a sua disposição ainda uma nova legalidade pro sujeito irônico de k a realidade perdeu toda a sua validade ela
se tornou para ele uma figura incompleta que incomoda ou constrange por toda parte o novo por outro lado ele ainda não possui apenas sabe que o presente não corresponde à ideia diante de uma realidade que não responde mais às expectativas de validade resta ao sujeito a ironiza absoluta das condutas ou seja resta ao sujeito mostrar a todo momento que essa realidade não pode ser tomada a sério devendo a todo momento ser invertida e pervertida ela deve ser tomada por aparência posta como simples aparência bem é como o desdobramento dessa ironiza absoluta das condutas que nós
devemos compreender o cinismo no entanto seria incorreto dizer simplesmente que o cinismo aparece como problema a partir do momento em que realidades sociais não respondem mais a expectativas normativas que aspiram validade Universal como se o cinismo fosse um simples reconhecimento do fracasso de processos de racionalização da realidade social ao contrário a ironiza própria ao cinismo vem da compreensão de que realidades e que pareciam não se conformar expectativas normativas podem ao contrário aparecer como realização última de de Tais expectativas nesse sentido o cinismo ele inverte os nossos modos de indexação entre critérios normativos e consequências da
Ação Sem que isso implique necessariamente uma contradição ou seja e uma contradição entre aquilo que faço e aquilo que eu digo veja alev Force um exemplo precioso eu vou dar um exemplo a respeito dessa no de cinismo como inversão dos modos de indexação trata-se do seu comentário sobre a arte de escrever doador Juliano na arte de escrever livro do Léo straus stra sublinhava como não Devíamos tomar ao pé da letra tudo o que tinham escrito os grandes autores do passado nem acreditar que eles tinham explicitado em seus escritos tudo que queriam dizer a arte antiga
redescoberta pelo l straus consistia em escrever o contrário do que se pensa tal como na ironia para poder proteger o escrito de alguma situação que impedia enunciação direta da Verdade Tal estratégia obedecia uma dupla função por um lado escapar a censura e por outro formar uma elite seriam os únicos que seriam capazes de entender verdadeiro signicado escrito vi um exemplo perfeito Dessa arte de escrever nos textos do Imperador Juliano Juliano é um Imperador numa situação muito particular é um Imperador que se encontra diante do seguinte paradoxo imperador romano se encontra diante do seguinte paradoxo ele
é um ateu convicto e esclarecido mas enquanto Imperador ele deve ser chefe da religião pagã de Estado então conservar ess religião popular é ainda segundo ele um modo de conservar a unidade do Estado contra a sedição Cristã que tá crescendo naquele momento histórico então a solução vai ser mostrar mas há uma elite capaz de bem entender que ele não escreve tudo o que pensa e ele não pensa tudo o que escreve pois como dirá o próprio Juliano Não devemos tudo dizer e mesmo sobre aquilo que podemos dizer fazse necessário esconder algumas coisas para grande massa
seus escritos sobre a religião serão assim paródias que devido ao caráter contraditório de suas construções denunciam seu próprio poder denunciou desculpa que o próprio poder critica ironicamente as ideias que ele divulga nesse sentido Juliano Não oculta a verdade ao contrário ele demonstra que a maneira correta de a verdade é através da ironiza Absoluta do que então fundamenta as esferas sociais de valores Ou seja a religião agora mas vale a pena a gente notar um ponto absolutamente Central aqui a posição da Verdade através da ironiza dos mitos religiosos não produz como a gente poderia esperar a
queda do Poder da religião devido a ao esforço de racionalização do projeto de esclarecimento ao contrário a posição dos mitos religiosos como aparência perpetua a necessidade funcional de partilha desses Mitos no interior da vida social o esclarecimento de Juliano tende-se tende a realizar-se como ironiza absoluta das condutas o Imperador age como se acreditasse mas a todo momento mostra que toma distância em relação à sua crença notemos ainda que realidades e ações que pareciam não se conformar a expectativas normativas de racionalidade esclarecida podem ao contrário aparecer como realização última de Tais expectativas o que mostra como
Juliano só pode ser racional sendo cínico nesse sentido a gente chegaria a uma situação tipicamente cínica e contemporânea se nós pensá pensássemos por exemplo e um momento histórico no qual a elite esclarecida seria do tamanho exato da população do império ou seja um momento que já teria disseminado o esclarecimento tal como no fascismo segundo o Adorno a paródia do Poder nunca terminaria primeiro porque haveria sempre um sujeito suposto crer alguém que sempre crê no meu lugar legitimando a necessidade da ideologia segundo porque os conteúdos ideológicos seriam postos como aparência que não seriam nada mais do
que aparência por isso imunes à crítica todos os sujeitos seriam esclarecidos mas agiriam como se não soubessem todos seriam ateus objetivamente dobrar os joelhos mesmo que T não fosse motivado por nenuma nos mitos socialmente parados nesse senoe das defes clssicas doiso falsa consciência esclarecida ou ainda ideologia reflexiva a noção de ideia reflexiva é astuta por descrever a possibilidade de uma posição ideológica que porta em si mesmo a sua própria negação já o termo aparentemente contraditório falsa consciência esclarecida nos remete a figura de uma consciência que desvelou reflexivamente os pressupostos que determinam sua ação alienada mas
mesmo assim é capaz de justificar racionalmente a necessidade de tal ação nesse ponto creio poder insistir em uma questão fundamental nós nos sentimos normalmente reconfortados com a promessa de que a verdade nos libertará ou seja de que a luz divinda com enunciação da Verdade será capaz de portar um acontecimento que reconfigura o campo da efetividade no entanto o cinismo nos coloca diante do estranho fenômeno da usura da verdade de verdade que que é Desprovida de força performativa uma verdade que bloqueia temporariamente toda a nova força performativa e uma fórmula feliz Slow ja nos lembra eu
cito há uma nudez que não desmascara mais e que não faz aparecer nenhum fato bruto sobre o terreno no qual poderíamos nos sustentar com Realismo Sereno mas continuamos a vamos continuar ainda com o exemplo do Imperador Juliano que eu possa terminar essa conferência notemos que não podemos falar aqui em transgressão de critérios normativos de enunciação e muito menos em contradição performativa Juliano Não diz outra coisa do que faz ao contrário ele justifica de maneira consistente o que faz e pode assim continuar a fazê-lo sem culpa ou seja de qualquer forma me parece que isso é
uma questão muito importante porque ao invés de tentar afastar o cinismo através de alguma forma de apelo à dimensão da Sinceridade ou da intencionalidade a gente deve compreender o cinismo como um problema de indexação como eu havia dito anteriormente nesse sentido as reflexões do delz sobre o humor não sobre o cinismo são fundamentais lembros que o delus quando lembramos do Del quando ele afirma eu cito cada vez que nos interrogam sobre uma significação respondemos através de uma designação mostramos o que o que o palavra significa uma mostração pura se assim for o humor esse mesmo
humor que já aparece no cinismo de Diógenes contra o Platão ao ao falar sobre indexar aquilo que o plat Tenta colocar como ideia abstrata seria fundado na demonstração do Absurdo das significações e do não sentido das designações um pouco como se hums mostrasse que o formalismo da lei que aspira a validade transcendental acaba sempre por legitimar designações não só contrárias mas contraditórias nesse sentido a gente poderia ver no cinismo contemporâneo a implementação desse humor que procura problematizar ao extremo a indexação entre significação e designação por isso a gente perde o foco da questão trazida pelo
cinismo se insistir compreendê como simples caso de contradição performativa né É sempre poss Veja ao contrário o cinismo nasce da tentativa de mostrar que condições transcendentais normativas de julgamento podem ser seguidas mas suas designações normais podem ser invertidas sem contradição entre ato e julgamento bem é sempre possível cont contra-argumentar dizendo que a simples definição de uma enunciação como cínica já pressupõe a identificação de contradições entre das condições transcendentais normativas e a posição de denunciação dizer que um ato é cínico já implica em reconhecimento da contradição entre fato e lei Mas nos parece que tal contradição
aparece porque sempre pressupomos mais do que as condições normativas são capazes de nos fornecer pressupomos por exemplo uma transparência entre consciência e razão prática que é fundada na pressuposição da Transparência entre intencionalidade e forma geral do ato de fala como se a forma vazia do ato pudesse determinar a priori a sua significação ou seja pressupomos uma imanência que anima por exemplo a formulação canônica do Kant a respeito da Lei moral eu cito Kant julgar o que deve ser feito a partir da Lei moral ou seja julgar qual designação pode ser indexada pela significação da Lei
não deve ser algo de uma dificuldade tal que o entendimento mais ordinário e menos exercido não saiba resolver facilmente mesmo sem nenhuma experiência do mundo ora cinismo incide exatamente nesse ponto a partir do momento em que se pressupõe tal transparência o cinismo transforma-se em problema insolúvel pois tudo se passa como se o ato cínico afirmasse Que tal transparência existe mas ela foi mal compreendida ou foi compreendida de maneira muito rápida muito ingênua faz-se necessário desdobrar as de ações né a lei é Clara diz o cí e se seguirmos seu espírito veremos que ela pode justificar
condutas que lhe pareciam Opostas Como dizia o sad podemos fundar até mesmo um estado de libertinos a partir de valores universais republicanos intersubjetivamente partilhados nesse sentido podemos finalizar dizendo que é ao menos algo de verdadeiro no cinismo a verdade é de que o formalismo da civilização Liberal capitalista forjou valores que podem conviver com determinações mu muitas vezes contraditórias a ideologia é uma questão de abstração ou para falar como Lacan um conjunto de significantes puros que por não se referirem diretamente a nada podem adequar-se ironicamente a qualquer determinação empírica daí por quê em uma época de
ironiza absoluta Não podemos mais esperar que o riso possa ainda ser uma arma contra o poder H muito o poder endeu a rir de si mesmo muito obrigado boa noite boa noite como é que você eh retomaria a a a leitura que o Freud faz em psicopatologia da da vida cotidiana dos ditos espirituosos eh que ele se atém na na se até a a a própria questão do enunciado enunciação E aí eu não sei se eu vou insistir à toa porque você já já esclareceu isso mas que o o efeito riso ele ele vem justamente
do do do do impacto entre duas enfim o o são vários processos você pode elucidar isso melhor mas eh ah e o o riso é liberado até como uma uma forma de de de de Catarse e se pegar por exemplo como você trouxe o Lacan como colocando como significante vazio né né um um conjunto de significantes ideologia como um conjunto de significantes vazios eh desse ponto de vista eu acho que nenhuma ideologia eh escapa ao ao ao riso enquanto arma eh porque a a contradição do do do do capitalismo tá nela mesma né quer dizer
eh eh tá tá na Assunção desse dessa contradição eu eu não sei se eu fui muito muito claro eu só queria que se você recolocar o Freud de uma forma mais tá tá bom eh bem eu diria o seguinte de fato há essa teoria do do Riso como uma descarga muito presente do Freud que eu acho que de uma certa forma eh tem uma uma proximidade com algo da teoria clássica do Riso por exemplo que a gente encontra no hobs na ideia do riso como uma uma maneira de desqualificar o outro né uma desqualificação contra
o outro que ao mesmo tempo pode aparecer como uma defesa contra si mes uma defesa de si mesmo contra si mesmo né ou seja uma defesa do sujeito contra uma espécie de eh de ameaça externa né então a ideia de uma descarga aparece aí claramente mas eu diria que há uma uma ideia que eu acho muito importante do do Freud que eu acho que poderia nos dar uma possibilidade de pensar alg as questões vinculadas à ironia e um riso que que não pudesse ser absorvido pelos pela ideologia do Poder Eh tá no texto de 27
sobre o humor né Eu acho que é um texto muito feliz porque o Freud ele articula a ideia da ironia melancólica né ou seja ele vai falar bem veja eh exemplos de humor exemplos de humor pro Freud eh você tem um sujeito que vai ser condenado à morte né Eh na numa semana e bem já chega segunda-feira ele olha então para fora e diz é a semana começou bem né ou seja e várias outras situações nas quais seja o eu ele se auto ironiza há uma autod derrisão do eu mas essa autod derrisão não não
é resultado de uma pressão do sádica do superor sobre o eu né na verdade a Salto derrisão ela de uma certa maneira é é uma estrutura de reconciliação própria eu por quê Porque a ideia de uma autod derrisão nesse no sentido do Freud acho que tem muito a ver com a ideia de há uma ironia que não não dissolve todos os objetos como no caso da ironia romântica né pelo menos numa certa leitura da ironia romântica de que o sujeito ele se ele se Abstrai de toda determinação empírica e o próprio schleger falava da ironia
como bufonia transcendental ou seja como se ele tomasse uma distância absoluta em relação a tudo mas há uma ironia que é resultado do contato com algo que é que resiste no próprio objeto n né Por exemplo quando no no nas últimas páginas de no caminho de suan do pust né o pust vai falar uma situação extremamente interessante do qual eh o protagonista se vê diante de de um objeto o qual ele procurou durante Tod todo o livro né odet qual ele procurou durante todo o livro e no final ele se para e pel pergunta mas
olha só que coisa engraçada eu passei anos e anos atrás de uma mulher que não era não era o meu tipo né então ele começa a pensar quer dizer o objeto começa de uma certa maneira a se a dissolver a sua a sua consistência fantasmática dig assim a se mostrar nas suas contingências a se mostrar as suas imperfeições e a partir e essa apreensão é irônica por quê Porque a a verdadeira ironia não é o fato de que eu eu me ganei eu P eu tomei um objeto por aquilo que ele não era a verdadeira
ironia no caso do do do isso tem muito a ver com a ideia da irônia melancólica do Freud é a compreensão de que o sujeito ele só poderia realizar o amor amando um objeto que que era inadequado aos seus fantasm né Ou seja que ele só poderia realizar o amor ao absorver o objeto daquilo que ele tem de mais resistente as projeções fantasmáticas né ou seja nesse sentido é um tipo de de ironia que eu acho que é que é muito distinto dessa ironiza absoluta das condutas que é eu diria que foi ironia que foi
apropriada pela ideologia do capitalismo né eh Enquanto você falava de repente eu pensei numa coisa e não é assim nada teórico faz parte um pouco daquilo que a gente viveu esses últimos meses né foram duas falas do Lula uma que tava no ele tava acho que no Gabão não tenho certeza eh quando ele falou pros jornalistas que ele tava ele foi para lá para saber como que um presidente ou um um governante poderia ficar 16 anos no poder e depois ainda se candidatar a reeleição e numa outra ocasião quando ele falou pros jornalistas descendo de
um avião que ele daria entrevista se eles concordassem em ver a a esse projeto da do jornalismo etc bom eh do meu ponto de vista isso seria uma brincadeira não sei se isso tá dentro da classificação de ironia ou e cinismo mas táia uma uma tipo de uma brincadeira ou uma ironia já os jornalistas acharam que aquilo era uma coisa séria né agora e eu fiquei pensando também se eles não estaria encaixado naquilo que você falou que eh muitas pessoas Concord que é fazem de conta que é sério mas sabendo que não é sério e
que se esse jogo de fazer que de fato ele falou que ele queria ver como seria de novo poderia se perpetuar no poder se isso não os jornalistas não saberiam que isso era uma brincadeira mas ao mesmo tempo levaram isso a sério por um motivo qualquer não sei se me fiz entender eu queria ouvir que você tem a falar é bem tipo de casa é sempre complicado ático né mas ao invés de analisar ess esses casos eu eu gostaria só de aproveitar algo que tá presente neles Talvez seja mais interessante né que é eh de
fato acho uma das coisas duas coisas são muito importantes para a gente perceber No que diz respeito à maneira como o poder se coloca hoje em dia né primeiro a figura de eh de um poder que se auto ironiza Ou seja que de uma certa a maneira se utiliza da ironia para conseguir e legitimar e se aproximar né em cima de tudo de se legitimar eu acho que é uma questão absolutamente fundamental né Que deve ser compreendida e deve ser levada a sério se a gente quiser compreender eh algumas eh alguns Alguns artifícios das práticas
de poder contemporâneas uma outra coisa que eu acho acho aí muito significativa também certo é um tipo de eh de posição pod autorreflexiva posição autorreflexiva do Poder Por exemplo quando Alemanha ela mandou tropas pro kovo e aquele aquela pessoa foi obrigada a fazer isso foi um antigo pacifista ficha e foi foi muito interessante ver o tipo de de articulação retórica para justificação da ação a invés de assumir a a de uma maneira ativa ele procurou por todos os lados mostrar o descontentamento do Poder com ação umauma coisa do tipo não me é nem um pouco
agradável fazer esse tipo de coisa não gostaria de estar nessa posição ã Eu também me sinto muitíssimo ou seja um poder que coloca mesmo em questão a sua própria sua suas próprias enunciações Mas eu sou obrigado a fazer né veja esse tipo de posição subjetiva seria impensável a a um a anos atrás né ao contrário né quer dizer então acho que esse tipo de de situação ela indica muito claramente como fica muito mais difícil você você criticar C um poder que enuncia suas suas injunções dessa maneira é muito mais difícil você fazer uma crítica alguém
que chega e fala não eu também também concordo com você A princípio eu também não faria isso né Eh eu também concordo com você o salário mínimo é muito baixo né mas fazer o quê mas Hum então acho que esse tipo de de estrutura retórica diz muito a respeito das práticas de legitimação do Poder hoje em dia né bem sem Pretender acrescentar nada a exposição mas apenas para satisfação pessoal eu gostaria de de perguntar se não é possível ao invés de você centralizar a questão do cinismo só do ponto de vista do enunciador não é
como uma incongruência entre o Ato da enunciação e o enunciado e ampliar um pouco o processo e eh colocar como uma consideração só simulada do destinatário da mensagem porque eh daí eu posso talvez manter essa mantendo essa congruência pensar em termos de que essa desconsideração essa essa consideração só simulada já esteja arraigada no no mecanismo ideológico do poder é só isso não eu acho que você tem toda a razão acho que de fato por isso que eu que eu insistiria na ideia de de de anular toda toda a dimensão de crença nas considerações sobre o
cinismo Né não se trata de tentar compreender como o sujeito acredita no que diz né E nem como o enunciador acredita no que o sujeito diz né ao contrário trata de entender como o o sujeito demonstra que não acredita no que que fala o o enun o receptor sabe que o sujeito demonstra que não acredita no que fala ele também se coloca na mesma posição mas mesmo assim o processo continua a funcionar C seja uma mesmo mesmo interior da do desencantamento absoluto a questão fundamental das ditas sociedades pós ideológicas eu diria que é um pouco
essa mesmo numa situação de desencantamento absoluto a os rituais ideológicos continuam a funcionar né aer tinha uma uma uma percepção muito clara do que era ideologia né e ele des vinculava a ideologia de crença isso era uma coisa absolutamente fundamental ele lembrava por exemplo do que o Pascal falava sobre sobre como você faz para se tornar um bom cristão né quer dizer veja se você não acredita isso pouco importa comece dobre os joelhos e comece a rezar vai chegar uma hora que você objetivamente vai estar rezando vai chegar uma hora que você vai começar a
acreditar por quê Porque a a ideologia é uma questão de rituais repetidos não uma questão de crenças subjetivas né então insistiria muito nessa ideia na ideia de que veja eh é muito é muito mais difícil por que que numa situação de crise de legitimidade como seria a situação contemporânea é é absolutamente fora de questão que isso que essa crise Produza uma uma uma uma revira volta institucional por uma razão muito simples porque é muito mais difícil você reordenar situações de CR quando você tem situações nas quais todos os sujeitos estão desengajados todos os sujeitos já
estão absolutamente desengajados que diz respeito aos discursos oficiais né mas no entanto o o o ritual de sociabilidade continua a funcionar né eu eu diria eh muito é uma coisa bastante interessante perceber que mesmo na nas esferas mais Eh mais centrais do núcleo ideológico como por exemplo a publicidade né você tem hoje uma proliferação de publicidades que se auto ironizam que ironizam o próprio discurso publicitário que ironizam a a aquilo que elas mesm apresentam como se falasse exatamente daquele exemplo adorni ano numa espécie de piscadela de olhos veja Nós também não somos tão ingos assim
né mas no entanto mesmo essa questão mas no entanto é a mesma história que continua sendo contada no entanto é a é a mesma estrutura que continua repetida mesmo que ela esteja absolutamente eh apodrecida nas suas bases de legitimação ela continua a funcionar e talvez de uma maneira ainda mais forte então insistiria por exemplo o fato do ador não ter percebido isso num sistema totalitário por excelência que era o fascismo demonstra que o que que o autoritarismo não é uma não é não necessariamente tá vinculada à crença quantas pessoas você acha que acreditavam nas eh
naquilo naquilo que osos sistemas totalitários estalinistas colocavam ao contrário tanto que a corrupção S era um processo generalizado Era exatamente pela pela pelo fato de ninguém se engajar é que o sistema podia funcionar até o a de infinito né então acho que esse é um elemento fundamental pra gente compreender eh práticas de poder na contemporaneidade bem não há mais questões acho que sehor precisa pegar o microfone já que o tema do seminário é vida perigos e oportunidades então foi colocado o perigo né Quais são as oportunidades que se abrem hum a população organizada quando descobre
fenômeno que estáo cinismo assumido veja eu acho que qualquer qualquer futuro para PR crítica passa necessariamente pela compreensão Clara e definida do que de como as práticas de poder realmente funcionam né acho que a crítica da ideologia sempre teve muito vinculada por exemplo a ideia de recalcamento a ideia de ocultamento a ideia de de uma certa maneira há um processo de determinação de valor que que ocorre às costas das da consciência e que deveria ser desvelado né e o desvelamento desse processo seria uma espécie de de possibilidade de uma tomada de consciência daquilo que que
realmente faz as molas eh das determinações de valor né Eu acho que esse tipo de crítica ela Dev um pouco de de de lugar Até porque não se trata mais de um sistema que que opera por ocultamento mas que opera por pela máxima visibilidade quer dizer pela pela máxima exposição né então isso nos nos Exige uma reformulação mesmo dos nossos Protocolos de crítica Que tipo de reformulação deve ser essa bem isso é alguma coisa que que que continua como tarefa aberta acho pensa pro pensamento contemporâneo né mas que de fato eh eu diria que há
um duplo risco que deve ser descartado de uma vez por todas O primeiro é o risco da da crítica clássica da ideologia né que acaba produzindo uma uma figura que não não é mais as figuras de prática de poder e segundo é a simples afirmação daquilo que se coloca como como prática de poder ou seja já que um dos debate era pós-modernidade ou ou vingança da história eu diria que eh aquilo que de uma maneira heteróclita foi se compreendido como pós-modernidade eh com uma espécie de momento de uma de de fim de ideologia eh é
o discurso mais ideológico que você possa imaginar por uma razão muito simples quer dizer tudo isso que eu tentei desdobrar aqui ou seja uma ideologia que funciona através da ironiza das condutas que que se funciona através da des dessa posição na qual eh os sujeitos podem se desengajar a todos os momentos de suas representações sociais ou seja numa espécie de flexibilização absoluta né como se estivesse diante de uma multiplicidade que corre por todos os lados veja esse é o discurso central das práticas de poder atual contemporâneas né então diria que a pós-modernidade acabou fornecendo eh
o catálogo manual de práticas do Poder da contemporaneidade né então acho que eh qualquer eh via de reformulação da crítica deve deve abrir mão desses desses dois polos ó não tem mais pergun então agradecemos a Professor Vladimir sa por este brilhantismo de enfrentar uma temática tão complexa como essa do cinismo Desde da época dos gregos Até nós né cinismo contemporâneo E lembramos a todos que dia 22 de setembro tem a virada ética da pós-modernidade com professor francês Jaci da Universidade Paris 8 Então esperamos todos vocês e às 21 H nós estamos tendo instrumental Campinas eh
Flávio carila O Quarteto na no Café Filosófico aguardamos todos lá também bem obrig Professor obrigado obrigado pela sua Claro pelo seu é um tema fantástico porque é interess dificílimo de falar sobre isso né Eu acho é é ainda tô tentando achar a fórmula ideal também interess não se eu consegui comos termos eso seja
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