[“Se visse toda sua vida, do início ao fim, mudaria alguma coisa? ”] Em 2016 era lançado um filme sobre uma linguista, que após contactar uma espécie alienígena. Tem visões futuras, de uma filha que ainda não gerou, e da sua dolorosa perda para uma doença rara.
Repleto de simbolismos, referências e muitos detalhes, este filme era A chegada. Uma das ficções científicas mais belas e intrigantes dos últimos tempos. Mas que pode deixar algumas dúvidas.
Principalmente sobre o tempo. Ao saber o trágico destino da filha, Louise conseguiria mudar seu futuro? Pra que serve o pássaro na gaiola?
Neste vídeo responderei de forma simples as principais dúvidas. Olá, sou Ranieri, e hoje você conhecerá todos os detalhes que perdeu em A Chegada. Então já deixe o like, confira a inscrição, e vamos para o vídeo!
Para o vídeo fazer sentido é importante relembrar a reviravolta. Após 12 naves alienígenas pousarem na terra. Acompanhamos os esforços da linguista Louise, e o matemático Ian, para se comunicar e descobrir suas intenções.
A medida que se aprofundam no idioma alienígena, Louise passa a ter visões, ou memórias futuras. De que teria uma filha com Ian e a perderia. Após manter o segredo por algum tempo, expõe a verdade ao parceiro.
Que por sua vez, destruído, abandona às duas por ser incapaz de lidar com a realidade. [“Quando eu falei isso pro seu pai ele ficou bem sangado, disse que eu fiz a escolha errada”] A abertura acompanha a filha até sua [___]. Por ser a primeira cena apresentada, o público assume pertencer ao passado de Louise.
Enquanto é o futuro. [“Eu pensava que este era o começo da sua história”] Estamos condicionados a pensar no tempo linearmente, passado, presente e futuro. Então o diretor faz questão de brincar com nossa percepção do tempo.
Enquanto expõe a verdade nos primeiros diálogos. [“A memória é uma coisa estranha, ela não funciona como eu imaginava, estamos tão presos ao tempo, a sua ordem”] A cena também prenuncia muito do que veremos adiante. Um telescópio mirando as estrelas, teremos seres vindos de lá.
É claro, o equipamento é presente de Ian, mas nós ainda não sabemos. [“Sabe, minha mente sempre esteve voltada para as estrelas, desde que me lembro. ”] Do outro lado a luminária sutilmente remete as naves alienígenas.
Enquanto a câmera movimenta de cima para baixo, como algo aterrizando no planeta. //Além da vidraça semelhante a onde fazem contato. As últimas palavras para a filha.
[“Volta pra mim, volta pra mim. ”] Também foram suas primeiras. [“Volta pra mim, volta pra mim.
”] Começando e terminando igual, como o nome da garota. [“Porque meu nome é Hannah? ] [“O seu nome é muito especial porque é um palíndromo.
Porque de trás pra frente é a mesma coisa”] Finaliza com Louise percorrendo um corredor circular, como a linguagem dos Heptapodes, sem começo e fim, pois voltamos agora ao início da história. Então acompanhamos a chegada das naves. [“Esse é de Hokkaido”] Mesmo local onde a segunda máquina de Contato foi construída.
[“Ilha de Hokkaido”] A referência ganha corpo ao lembrar ser outra ficção científica com uma protagonista efetuando contato alienígena. Quando o exército aborda Louise para ajudar a reconhecer uma mensagem. Sua sala possui uma homenagem ao linguista Noam Chomsky, conhecido como “pai da linguística moderna”.
Naquela noite é levada ao acampamento militar. Segundo o diretor, a concha foi baseada num asteroide que orbita nosso sistema solar. [“Eu baseei a nave num asteroide que está orbitando o sistema solar (Eunomia)”] Denis achou o asteroide tão sinistro e intrigante que além de sua forma, também deu a nave um aspecto rochoso.
Logo chega a hora de visitar os seres. Curiosamente em muitas cenas o traje é produzido com computação gráfica, para simular a ação da gravidade diferente. Caso se pergunte sobre a função do pássaro na gaiola.
Não está relacionado a comunicação. Na realidade serve avaliar a atmosfera dentro da nave. Semelhante ao que os mineiros faziam para testar túneis de mina.
Se gases perigosos estivessem presentes, matariam o canário antes dos mineiros, alertando para sair dos túneis imediatamente. Na segunda tentativa leva um quadro. Um paralelo muito legal com a alfabetização.
[“São palavras de alfabetização”] Tentando ensinar os heptapods da mesma forma que aprendemos. [“É como se não houvessem muitas maneiras de aprender uma língua,. .
No final do dia é como ensinar para crianças. ”] De volta ao acampamento, Louise conta uma história para defender sua abordagem. [“Um dos marinheiros apontou para os animais que pulavam e botavam os filhotes nas bolsas, e perguntou o que eram e os aborígenes disseram canguru, foi só mais tarde que descobriram que canguru significa eu não entendi”] Esse é na realidade um mito real e já desbancado sobre a origem da palavra.
[“Foi uma boa história, obrigado, não é verdade, mas ajudou a ilustrar meu ponto”] Talvez por isso seja tão convincente. O objetivo americano é descobrir o motivo da visita. Então Louise escreve a pergunta “Qual o seu propósito na terra?
”. [“Qual é o seu propósito na terra? ”] Nos rascunhos de Ian consta a fórmula da entropia de Shannon, usada para definir o grau médio de incerteza a respeito de fontes de informação.
Um easter egg muito legal, pois na física a entropia explica o porque não lembramos do futuro. [“Exite teoria que tem a ver com a relação entre memória e entropia”] Algo que não se aplica aos alienígenas e logo para memória de Louise, que logo lembrará do futuro. Se tiver curiosidade sobre entropia e tempo, recomendo assistir o vídeo de Tenet e Interestelar.
Na terceira tentativa, retira o traje e se apresenta. ["Vamos chamá-los de Abbott & Costello. ”] Essa é uma dupla de comediantes famosos por um número sobre dificuldades de comunicação.
[“’Quem’ é o primeiro ‘Qual’ é o segundo e ‘Não sei’ é o terceiro. ”] Mesma dificuldade retratada no filme. Coincidentemente ou não são nomes de Aliens na série Sherlock.
[“Nomeamos de Abbot & Costello”] A partir desse ponto Louise começa a ter visões com uma criança. Como nós espectadores estamos presos ao conceito de tempo linear, continuamos acreditando serem memórias passadas. Quando na realidade, são memórias futuras.
Isso é jogado na nossa cara desde o primeiro segundo de filme. [“A memória é uma coisa estranha, ela não funciona como eu imaginava, somos tão presos ao tempo, a sua ordem”] Esse termo, ‘Memórias futuras’ ficará claro em breve. A escrita dos seres é semasiográfica, ou seja, não representa sons como a nossa, e sim transmite significado.
E mais importante, são circulares, não possuem direção, sem começo, meio e fim. [“Como sua nave ou seus corpos…sua língua não tem uma direção para frente ou para trás”] Foi criada uma linguagem totalmente funcional para o filme, com centenas de logogramas. [“Eu não queria algo que pudesse se relacionar com qualquer linguagem humana”] Embora familiar por parecer manchas de café.
Logo tem a visão mais cruel, a perda da própria filha. [“Sabe, eu estava lendo sobre uma ideia. .
. que se você fizer uma imersão numa língua estrangeira. .
. você pode realmente reprogramar seu cérebro. ”] A ideia central se baseia na hipótese de Sapir-Whorf.
De que o idioma influencia diretamente nosso modo de pensar. Ok, então se aprofundado nessa língua alienígena Louise passa a pensar igual eles, se tornando capaz de acessar memórias futuras. Em termos práticos, imagine que a história da sua vida está nesse DVD.
E o idioma é um controle remoto que possibilita assistir qualquer ponto do DVD, inclusive pular direto para o final. [“Ortografia não linear. O que levanta a pergunta, é assim que eles pensam?
”] A pergunta que resta é: Poderia ela escolher não engravidar e evitar o sofrimento? Ou como no exemplo do DVD sua vida inteira já está escrita? Logo, falaremos sobre o livre arbítrio, e teremos a resposta definitiva.
Quando finalmente conseguem perguntar qual o propósito dos Heptapods. A resposta é: [“Oferecer arma”] Deixando os militares extremamente preocupados, e imediatamente países cortam a comunicação. Irônico, ao mesmo tempo que tentam se comunicar com os heptapods, são incapazes de comunicar-se entre si.
[“Quanto mais formas de comunicação, piores em comunicação ficamos, e esse é um dos tópicos do filme”] O próximo passo após a comunicação é a violência. Então a partir do momento que a China interpreta a mensagem como ameaça, declaram um ataque. Nada diferente da comunicação entre humanos.
Tentando esclarecer e impedir Ian e Louise fazem uma sessão extra. Possuindo informações do futuro o Hectapod tenta avisá-los sobre a bomba. Colocada por militares incentivados por vídeos de teoria da conspiração.
. Após acordar analisam os códigos. Enquanto afastam a nave a uma altura mais segura.
Confiando em uma previsão retorna a concha. Ficando finalmente cara a cara com a criatura. Que tem design propositalmente intimidador, incorporando animais como polvo, elefante.
Mas numa visão geral estranhamente semelhante a um ser humano. Inclusive seus pés têm anatomia parecida com uma mão. [Diretor: “Muito difícil criar algo que não tenha sido feito antes” Na conversa expões que o propósito é ajudar a humanidade.
Para em três mil anos serem ajudados por nós. Lembrando que o tempo para eles não é linear, então já sabem que precisaram da nossa ajuda. Louise tem mais uma visão, com um desenho da filha representando ela e Ian falando com os Heptapods.
E finalmente descobre ser o futuro. [“A arma abre o tempo”] A língua ser a arma se conecta ao livro de Louise. [“A linguagem é a primeira arma empunhada em um conflito.
”] Ao sair é recepcionada por Ian, protagonizando o erro do cobertor preso no microfone. Noutra memória descobrimos o nome da garota. [“Porque meu nome é Hannah?
”] [“porque é um palíndromo. ”] Curiosamente o sobrenome do ator Jeremy Renner também é um palíndromo. Louise então acessa novamente suas memórias futuras, encontrando seu livro “A linguagem universal”.
[“Eu consigo ler, eu sei o que é”] Isso é meio paradoxal. Louise agora sabe ler porque acessou sua memória futura, onde já escreveu um livro. Isso gera um looping, não é mais possível rastrear quando aprendeu a ler.
Conhecendo agora a língua amplamente, entende que não é arma mas sim um presente. Corta para uma celebração, essa é uma memória futura da doutora. Nela o general chinês afirma ser a responsável pela unificação entre as nações.
E graças a sua ligação no número particular, não atacou as conchas. [“Eu não sei seu número. - Agora sabe”] No presente agora em posse do número do General, faz a ligação.
Num raciocínio linear, isso ignora a causalidade, ou seja, o efeito vem antes da causa. Louise ligou pro general antes de obter o número dele. Confuso?
Pense no tempo aqui como um quebra-cabeças, não é porque a peça ainda não foi encaixada que seu lugar deixa de ser aquele. Independente da ordem que escolher montar, cada peça tem seu lugar, e a imagem final sempre será a mesma. Voltando a história, agora acompanhamos as duas cenas correndo simultâneas.
Louise no telefone com o general tentando convencê-lo, através das próprias palavras ditas por ele no futuro. [“As últimas palavras da minha esposa”] Apesar de não possuir legendas para a frase que o convenceu, o roteirista revelou ser: Na guerra não há vencedores, apenas viúvas. Após a ligação, as emissoras noticiam o recuo da China, e o compartilhamento de informações recebidas das naves entre as nações.
A missão dos Heptapods além de trazer o idioma, é promover comunicação. Os 12 locais onde as naves estacionaram e deixaram informações podem ser zonas de conflitos futuros. Por isso, partem somente após se comunicarem.
Interessante como não vemos deixar à terra, apenas desaparecer. É explicado pelo supervisor de efeitos especiais: “A espaçonave desaparece e se reúne com os outros onze em um local, e então se movem para o espaço sideral. ” A ideia de dissolver lentamente, como condensação, também serve para demonstrar a superioridade tecnológica.
Então acompanhamos a aproximação entre Ian e Louise, simultâneo a acontecimentos futuros, em ordem significativa, mas não cronológica. E aqui está o grande dilema, mesmo conhecendo o trágico futuro, você seguiria em frente? Louise aceitou e aproveitou cada momento.
[“Eu aceito e acolho cada momento dela”] Particularmente, como pai, não há dor maior do que imaginar perder um filho, enquanto não há maior felicidade do que possuir um. É um grande impasse. [“Se visse toda sua vida, do início ao fim, mudaria alguma coisa?
”] Essa é a interpretação que o filme propõe. Porém, na verdade, Louise não possuí escolha, tanto que não fez nenhuma, apenas acolhe seu destino. Pois, o conhecimento do futuro é incompatível com total livre arbítrio.
Nas palavras do autor do conto ao qual o filme se baseia: [“Você não poderia mudar nada, você não poderia mudar nenhum indesejável, essencialmente o futuro já aconteceu, você não pode mudar o futuro tanto quanto o passado”] [“Nós pensamos que o futuro é indeterminado, aberto e não fixo como o passado é, mas como eu disse, a física sugere que o futuro é tão fixo quanto o passado”] A menos que existam linhas do tempo paralelas, mas não entraremos nesse mérito. Ter certeza do que acontecerá e não poder alterar nada faz um paralelo com nossas vidas. [“A situação é meio parecida com a todos estamos, porque todos sabemos certas coisas sobre o futuro, todos sabemos que vamos morrer.
”] Trazendo uma bela mensagem, abrace cada momento com quem realmente importa. Embora o conto não deixe espaço para livre arbítrio, o roteirista preferiu deixar em aberto. [“Sou um pouco mais rebelde, na minha crença de que preciso de livre-arbítrio mesmo que seja uma ilusão, preciso acreditar nisso e na ideia de Louise ter uma escolha.
”] A visão poética do roteirista indica que o futuro pode influenciar o passado tanto quanto o passado influenciar o futuro. Nesta linha de pensamento, Louise sempre aproveitou cada momento com a filha por saber de sua perda. Voltando ao filme, Louise conseguiu lidar psicologicamente com a certeza da tragédia eminente, enquanto Ian não.
Isso reflete o Heptapod chamando a atenção de Louise, um paralelo as várias formas de comunicação, como uma simples batida. Também a distância entre eles separados por um vidro, com a comunicação precária que separaria o casal. O filme não é sobre linguagem e sim sobre os limites da linguagem.
Veja que perdendo a barreira de vidro Louise finalmente entendeu a mensagem dos Heptapods. E fim do filme. Mas ainda restam alguns pontos curiosos.
Sabe porque invertem a gravidade na nave? Essa foi apenas a solução conveniente para um problema de design. Como o diretor queria a nave nesse formato, precisaram criar uma forma de chegar até a sala.
E por que fizeram uma viagem tão longa para não pousar? Eram apenas mais alguns metros! Villeneuve esclareceu que além de intrigante, é como um aperto de mãos.
Eles estenderam o braço, agora precisamos dar o próximo passo. Algo que não comentei é que a hipótese de Sapir Worf foi desbancada pelo linguista da foto na sala de Louise. E na cena que Louise liga para o General, aceitando que lembra do número pego no futuro.
Por que Louise do futuro não lembra de uma ligação tão importante do passado? Pode ser um erro necessário para a narrativa. Ou explicado de duas formas.
Confusão. Sua mente ainda não consegue passear com total consciência pelas memórias, e possui algumas lacunas. Ou, o futuro influenciar o passado tanto quanto o passado influenciar o futuro.
Tudo acontece em bloco. Um livre arbítrio esquisito, você faz todas suas escolhas em simultâneo. E o presente é você percorrendo suas escolhas.
Parece a proposta do roteiro, mas não gosto dessa abordagem. Confira vídeos como esse de outros filmes como Interestelar, Contato, Tenet, link no comentário fixado, ou pesquise por seu filme preferido no canal. Grande abraço, até a próxima!