Tudo o que consideramos sólido pode mudar, sem nenhum aviso prévio. Tudo é incerto. Não sabemos se vamos acordar amanhã de manhã!
Entes queridos podem morrer. O sucesso pode se transformar em fracasso do dia para noite. Relacionamentos podem mudar repentinamente.
As estruturas familiares de nossas vidas, as coisas que supomos, os amanhãs imaginários, os planos e as esperanças a que nos agarramos, são realmente muito frágeis. Tudo é feito de cristal. E aí reside a nossa maior tristeza, mas também o nosso maior potencial de liberdade.
Como o Buda ensinou: tudo está morrendo desde o momento em que nasceu. O que nasce, deve morrer. O que está aqui, logo desaparecerá.
Em última análise, nada é controlável no mundo externo. Nada é garantido. O próprio terreno em que pisamos pode abrir-se a qualquer momento.
Não há nenhum lugar verdadeiramente seguro para ficar. O que pode ser confiável nesta vida? A única certeza que temos na vida é que a incerteza será nossa companheira constante.
A incerteza não é algo negativo – ela é o nosso caminho. No cerne da incerteza reside um poderoso ensinamento espiritual: desapegue-se. Isso nos faz sair das nossas próprias fantasias para vivermos na realidade deste momento sagrado, aqui e agora, para além da certeza, para além da dúvida.
Apenas aqui e agora. Neste momento, Aceite a Incerteza. Jeff Foster.
A tendência, especialmente no Ocidente, é afastar a incerteza. Então, buscamos nos distrair, entorpecer e pacificar a nós mesmos. Em vez de enfrentar os terrores inexplorados que espreitam nas profundezas, fixamos os olhos mais uma vez nas superfícies brilhantes.
Ligue a televisão. Vá ao mercado. Jogue um jogo.
Rápido, temos que voltar ao “normal”, a alguma segurança antiga. Rápido, agarre-se a algo sólido, administrável, tangível. Rápido, conserte alguma coisa.
Controle algo. Busque uma resposta. Tome um remédio.
Distraia-se – com substâncias, com religião, com banalidades, sempre mais, mais e mais experiências. Distraia-se! Trabalhe mais!
Compre mais! Diante da incerteza, procuramos qualquer coisa que entorpeça as nossas mentes ansiosas e divididas. Drgas, álcool, internet, sexo, ou até mesmo a espiritualidade.
Excluímos o terror de uma existência incontrolável concentrando-nos nas coisas da vida sobre as quais pensamos ter algum controle. Bloqueamos nossa dor e tentamos voltar ao “normal”. Mas a normalidade é o problema, não a solução.
Pare de fugir, pare de se esconder. Aceite a incerteza. Tudo acaba.
Tudo, e todos que amamos, estão nesta Terra apenas por um curto período. Queremos nos desviar desse belo fato. Tentamos não pensar nisso, chamamos esse assunto de “deprimente”, “negativo” ou “muito sombrio”.
“Relaxe”, dizemos, tentando desesperadamente banir os finais de nossas vidas, como se eles fossem inimigos. Nos distraímos com os problemas do dia, com banalidades, ou com “pensamentos positivos”, e assim, nos recusamos a enfrentar a Natureza e os seus modos. Lutamos ferozmente para controlar as nossas vidas, e nos esgotamos na tentativa de nos salvar de algo do qual não podemos ser salvos.
Na verdade, como todos os grandes professores espirituais nos lembram, a morte faz parte do grande ciclo da vida, e a impermanência está incorporada no próprio âmago da nossa experiência humana relativa. Assim disse o Buda: “Vocês devem se lembrar que o mundo todo está sendo consumido pelo fogo da impermanência”. Tudo está queimando, assim como ensinou o Buda.
Todos os dias, a morte dança ao nosso redor. Somos constantemente lembrados da natureza efêmera da matéria. Podemos fechar os olhos, mas a que preço?
Não é possível encontrar permanência na temporalidade. Tudo o que aparece, desaparece. Tudo o que está acontecendo em nossas vidas, vai passar.
Lembre-se: “tudo isso vai passar”. Realmente, tudo muda, e não temos nenhum controle sobre isso. Agora, temos que aprender a abraçar as coisas assim como elas são.
Nossos olhos estão abertos. Ensinamentos antigos estão vivos agora. Neste momento, a incerteza é a nossa única certeza.
Realmente, tudo é transitório. Tudo o que pode ser obtido, pode ser perdido. Tudo o que você ganhou hoje, pode ser tirado de você amanhã.
Tudo o que você acumulou, pode virar pó da noite para o dia. Tudo o que pode ser criado, também pode ser destruído. Tudo é transitório e, portanto, tudo é muito precioso.
Alegre-se, em algum momento você estará morto. Mas por enquanto, ainda temos este dia, esta chance, esta possibilidade, esta presença, este portal a partir do qual uma nova vida floresce. Sim, ainda podemos viver este momento.
Aqui e agora. Agora, temos que a abandonar as nossas fantasias sobre como as coisas deveriam ser. Apegar-nos a imagens ultrapassadas sobre a realidade só nos levará a uma grande tristeza.
Em um mundo tão imprevisível como este, por que as coisas continuariam a acontecer do jeito que imaginamos? Às vezes, podemos perder tudo apenas para nos lembrarmos da nossa humildade, para lembrarmos de que não estamos no controle, e de que cada momento é cheio de maravilhas e uma dança na incerteza. Você está aqui, neste caminho de devastação.
Mas ainda que as coisas possam desmoronar, quem você realmente é, não pode desmoronar. Então, o que há de errado em desmoronar? Por que não desmoronar?
Você é como o amplo espaço aberto, que não pode desmoronar, mas que pode permitir que todo o desmoronamento aconteça. Agora, permita a incerteza. Permita-se afundar na doce impermanência das coisas.
Afundar profundamente neste conhecimento de que tudo vai cair, tudo vai passar, tudo vai desmoronar, pode ser o grande portal para o despertar. Simplesmente paramos de considerar tudo como garantido. Paramos de viver no “amanhã” e viramos em direção a esse dia vivo.
Paramos de buscar a nossa felicidade no futuro, de nos apegarmos às promessas dos outros, e começamos a nos abrir para uma felicidade maior que está enraizada na presença e na verdade, que permite o vir, mas também o ir das coisas, que aceita as pequenas mortes conforme acontecem a cada dia, as decepções, as perdas, as expectativas destruídas, as despedidas. Quando aceitamos a incerteza, o Inesperado torna-se nosso amigo, um companheiro constante. Nós nos abrimos para a doçura amarga, para a fragilidade e a vulnerabilidade total, para a dádiva de cada momento, de cada encontro com um amigo, um amante, um estranho.
Cada momento se torna sagrado, santo, pois ele pode ser o último. Isso não é deprimente, mas libertador e nutritivo. Porque agora você está livre – livre para realmente viver, amar, rir e se entregar totalmente à existência.
Cada instante de contato com um companheiro, um amigo, uma mãe, um pai, um filho amado, é visto como infinito, eterno. Não há momentos insignificantes agora.