Vocês devem se lembrar que, em 2016, o então Ministro da Educação, Mendonça Filho, apresentou, por meio de uma medida provisória, uma tal de Reforma do Ensino Médio, que implementaria ali novas diretrizes para o ensino médio de todo o país. Imediatamente, houve uma reação imensa por parte dos professores, estudantes, especialistas e profissionais da educação. Por outro lado, o governo Temer fez um investimento sinistro em propaganda a favor do tal “Novo Ensino Médio”: comerciais, propagandas com artistas, até uma bolada pra youtuber propagar os “benefícios” da reforma.
Como vocês sabem, a alma do negócio é a propaganda e não o bom senso. Então, a reforma foi aprovada no Congresso Nacional. Bom, não era drama dos seus professores porque eles não gostavam da cara do Temer, não era exagero ou mimimi.
O vídeo de hoje é pra explicar por que que o Novo Ensino Médio é, simplesmente, a pior coisa que poderia acontecer com a nossa educação, que já não tava boa, né. Fala, Zé! Pra quem não me conhece, meu nome é Laura Sabino.
Pra quem já me conhece, meu nome é Laura Sabino também. E você já sabe, né? Inscreva-se no canal, ativa o sininho, compartilhe, comenta aqui no mínimo 3 vezes, isso tem funcionado bastante pra a gente furar os algoritmos e esse conteúdo daqui chegar cada vez a mais pessoas.
Lembrando que esse vídeo aqui e todos os outros desse canal só existem por causa dos apoiadores, então, fica aqui a minha gratidão a vocês. Sem mais delongas, bora pro vídeo. Tem uma coisa que eu percebo, né, quando alguém vai criticar a Reforma do Ensino Médio, elas sempre dizem o seguinte: “Quem elaborou o Novo Ensino Médio desconhece completamente a infraestrutura das escolas públicas e a realidade dos nossos alunos.
” Acontece que essa fala não poderia ser mais equivocada. A Reforma do Ensino Médio é um projeto extremamente bem construído e que as metas são bem claras. O primeiro passo é entender como nasce esse projeto.
No fatídico ano de 2013, o empresariado criou o Movimento Pela Base, um grupo não governamental que financiou intelectuais de direita pra elaborar uma nova base comum curricular e um projeto que redefiniria a educação no Brasil, projeto que logo acabou ganhando o nome de “Novo Ensino Médio”. E não é nenhuma teoria da conspiração isso daqui que eu tô falando, não, tá? Abertamente, a Fundação Lemann, o Instituto Natura, a Unibanco, o Itaú, Fundação Roberto Marinho, a Fundação Ayrton Senna, a Volkswagen, o Fundo de Participações 3G, Fundo Kroton, o Cedac, o Consed e vários outros financiaram e idealizaram essa reforma.
E os motivos vão ficar mais nítidos aqui ao longo do vídeo, né, eu espero. Na propaganda do governo, é vendido que a carga horária passou de 800 horas pra 1000 horas anuais, atingindo 3000 horas no final de três anos do ensino médio. Quem olha de fora, pode até pensar que isso é algo positivo, afinal de contas, parece que são mais aulas, né, os alunos estão estudando mais tempo, certo?
Errado! Acompanha aqui comigo: Até o ano passado, eram 800 horas anuais, vezes os três anos do ensino médio, ou seja, 2400 horas de aulas dos conhecimentos gerais. Agora, após a reforma, o tempo na escola passa pra 1000 horas anuais, vezes três, o que daria o total de 3000 horas de aulas, né?
Só que não, porque 40% dessa carga horária não é voltada para as disciplinas, inclusive, foi definido que a carga horária dos conhecimentos gerais não pode passar de 1800 horas totais ao final dos três anos. Ou seja, reduziu de 800 horas pra 600 horas por ano, e de 2400 horas para 1800 horas no total do ensino médio, reduzindo um total de 600 horas. Parece pouca coisa, mas é como se tirassem praticamente um ano letivo do ensino médio, se comparado ao modelo anterior.
“Mas, Laura, se vai diminuir tanto tempo de aula, como será feita essa divisão de carga horária entre as disciplinas? ” Bom, no terceiro parágrafo do artigo terceiro, é descrito que as únicas disciplinas obrigatórias que manterão a carga horária padrão são: Português, Matemática e Língua Inglesa. Elas também são as únicas disciplinas que não precisam ser aplicadas nos três anos do ensino médio.
Todo o resto, como Física, Biologia, Filosofia, Geografia, Artes, Sociologia, História, Química e Educação Física terão que disputar a carga horária. E você sabe qual é a recomendação do MEC pra que sejam os critérios pra fazer essa divisão? Nenhuma.
No texto, tá descrito que fica a critério da escola tomar essas decisões, tanto em que ano do ensino médio serão dadas essas disciplinas, quanto a carga horária que essas disciplinas vão ter. Ou seja, pode ser que, em uma escola, tenham 6 aulas de Filosofia no ano inteiro, ou apenas 10 aulas de Biologia, né. Nunca será tão fácil convencer a população de que vermífugo cura vírus ou que vacina instala chip.
“Mas, Laura, se a carga horária das disciplinas vai reduzir, o que os alunos vão fazer na escola nesse horário, né, já que ‘aumentou’ o tempo na escola? ” Isso nos leva ao próximo tópico: os itinerários formativos. Em tese, os estudantes terão 10 opções de itinerários formativos, que se relacionam com as matérias gerais, né, as Linguagens, Matemática e suas tecnologias, Ciências da Natureza, Ciências Humanas; e terá também a opção do ensino técnico profissionalizante.
Anotem isso, porque esse é um ponto-chave pro Novo Ensino Médio. Parece perfeito no comercial do Governo Federal, que vende que os alunos terão mais autonomia, mais liberdade de escolha. Mas, na prática, sequer existe uma boa definição do que são esses itinerários, né.
Elas tão descritas lá como uma coisa que possa ser disciplinas, projetos, oficinas ou núcleos de estudos, que vai ficar ali por conta da escola formular e escolher esses itinerários. Basicamente, jogou ali, ó, a bomba nas costas da escola, né. E esses itinerários, eles podem ser literalmente qualquer coisa.
Como, por exemplo, o pessoal quer se “aprofundar” nas áreas da Natureza? Ah, então eu vou criar aqui a oficina Reciclagem, Meio Ambiente e Fundamentos Biológicos, né, pronto. Aí, eu criei um itinerário técnico de Ciências da Natureza que ensina qualquer coisa, dado por qualquer pessoa, que não tem capacitação ou formação na área ou um curso sério pra apresentar, né.
Vocês sabem o que, pra mim, é uma das maiores mentiras sobre a educação que as pessoas já inventaram? É aquela que “quem faz o bom professor é o amor pelo ofício”. Eu acredito que, em todas as profissões, os profissionais que amam o seu trabalho se sobressaem.
Mas não basta amor, é preciso especialização. O ensino é uma prática social concreta que tem várias dimensões, requer didática, prática, teoria e boas capacitações. Amor, ele não basta sozinho.
Um cara, ele pode amar a Medicina e ter a melhor das intenções que, se ele operar alguém sem ter capacitação, ele vai causar um estrago imenso. E é o mesmo pra docência. Como vocês sabem, esse problema não nasce agora com a Reforma do Ensino Médio, ao contrário.
No Brasil, a formação dos professores e os investimentos em educação, eles nunca foram a prioridade, né. Essa ideia de “quem faz a diferença nas escolas são os alunos e os professores” ou que “um bom professor dá aula até com carvão” é difundido com naturalidade desde sempre. Mas não passa de uma falácia perigosa.
E aqui eu vou falar com vocês não como a Laura youtuber, eu vou falar com vocês como a Laura estudante de História que pretende dar aula, que sempre quis ser professora. Vocês acham que um jovem que sonha em ser professor é estimulado pra seguir essa carreira? Quando sequer é garantido a ele uma condição digna de vida, um salário digno, boas condições de trabalho e que, agora, uma pessoa com notório saber pode exercer a mesma profissão?
Cara, claro que não. A educação se torna cada vez mais um antro de pessoas que não sonharam em ser professoras, que não tão ali, sei lá, porque querem. Tão ali porque é um plano B, ou até D, ou, como as faculdades particulares gostam de frisar, né, “pra garantir uma renda extra”.
Aliás, já existem diversas empresas vendendo, por meio de cursos online, certificados de notório saber, inclusive, alguns cursos têm duração de 75 horas. Ou seja, em menos de uma semana, qualquer coach tá capacitado pra dar aula pros filhos dos pobres, né. Novas disciplinas, como “Projeto de Vida”, “Empreendedorismo”- eu tô usando muitas aspas, mas é porque eu tô com muito ódio-, serão componentes da parte diversificada do currículo, né, vão ocupar espaço das disciplinas convencionais.
Vocês percebem que, aqui, a galera que bancou o projeto já tá sendo beneficiada? Você imagina um Projeto de Vida bancado pelo Instituto Lemann pra ensinar os jovens periféricos que o fracasso deles é culpa da sua falta de esforço e de resiliência. Imagina uma Educação Financeira bancada pelo Instituto Unibanco [risada] e Itaú, vocês acham que a meta vai ser ensinar esses meninos as artimanhas do cartão de crédito, como não se endividarem, como não virar refém de banco?
Fica aí, fica aí minha reflexão pra vocês. E não pensem que as aberrações no currículo e aprofundamento das desigualdades causadas por essa reforma param por aqui, não. O critério de escolha dos itinerários nas escolas também é completamente desigual.
Mais uma vez, não existem critérios bem estabelecidos sobre isso, né. As orientações são que as escolas sigam os interesses da maioria dos estudantes, ou, simplesmente, faça de acordo com a infraestrutura e condições da escola. Basicamente: faz aí o que o dinheiro der, né.
Se a escola optar pelo itinerário técnico profissionalizante, ou, simplesmente, se sua escola só tiver essa opção, porque é pro que deu o dinheiro, você não vai ter como escolher outra aula. Outro ponto crucial é que não existe uma padronização nos cursos técnicos profissionalizantes. Ou seja, enquanto, na escola da favela, a gente vai ter o curso, sei lá, de panificação, em um bairro de classe média, os alunos terão um curso de edificação, por exemplo.
Não bastasse tudo isso, a qualidade desses cursos técnicos também não vai ser das melhores, vão ser também cursos técnicos precários, primeiro porque os cursos profissionalizantes, eles não cumprem os itinerários de carga horária e as exigências de um técnico integrado. Também tem nesse antro de precarização o Novotec, que são minicursos de curta duração na área das mídias digitais, como edição de vídeo, desenho 2D, 3D digital. E aí, uma fala do professor Fernando Cássio, que é da Federal do ABC, ele falou, em entrevista pra CNT uma coisa que me deixou muito preocupada: que esses cursos podem substituir a Unidade Curricular 2 do itinerário, que é, justamente, aquela parte que fala sobre origem da vida.
Então, além da origem da vida, fala sobre gravitação, a química da vida na terra; então tira isso e coloca, sei lá, pros meninos aprenderem a fazer animação. Já a Unidade Curricular 3, que trata de tecnologias de acessibilidade e inclusão, também pode ser substituída pelo curso de Excel aplicado à área administrativa. Ou seja, gente, os alunos de escola pública vão sair com uma formação ainda pior do ensino médio, com menos chances de conseguir disputar uma vaga na universidade e com uma formação técnica precária, que também não vai garantir a eles um bom posicionamento no mercado de trabalho.
Lembrando que essa reforma vem dentro do pacote, né, de outras reformas, como a Reforma Trabalhista, que destruiu a CLT, e a Reforma da Previdência. Trabalhador precarizado, sem formação, não reclama, exige menos e topa tudo. Ou seja, a Reforma do Ensino Médio é uma forma de preparar os jovens pra se tornarem adultos nesse mundo pós-reforma.
É essa a ideia do ensino médio: preparar os jovens pobres pra, desde cedo, serem os trabalhadores precarizados que ocupam cargos subalternos. Não tem erro ou ignorância, né, afinal de contas, nesse canal aqui, a gente nunca vai esquecer de quando o Ministro da Educação afirmou que “o ensino superior não é para todos”, ou quando o excelentíssimo presidente Bolsonaro disse que “pobre tem tara por ensino superior”. E, pelo amor de deus, percebam, tenham a noção de que eu não tô dizendo que todo mundo tem que fazer curso superior ou que nenhum curso técnico é bom.
Eu só tô mostrando que, no Novo Ensino Médio, será cada vez mais difícil que pobres tenham acesso às universidades ou que tenham elementos pra descobrir em qual área eles querem seguir, que eles gostam de fazer. Tem outro dado que eu acho importante trazer: 60% dos jovens no Brasil se desdobram entre trabalho e escola, e aumentar o tempo obrigatório nas escolas sem oferecer nenhum auxílio, o Estado vai tá ali expulsando esses alunos do ensino regular. Mas esses alunos foram esquecidos?
Vem sendo feita uma série de ataques e desmontes que desvirtuam o sentido original da EJA, Educação de Jovens e Adultos. A ideia é que esses estudantes migrem pra EJA no horário noturno ou, simplesmente, saiam da escola. Não é equívoco, é tática.
E, sinceramente, eu me segurei até agora no vídeo pra não ser aquela pessoa que vai falar obviedades, né, que não vai falar “desgoverno Bolsonaro”, que não vai repetir aquela frase do Darcy Ribeiro, que “a crise na educação brasileira não é uma crise, mas um projeto”. Mas é um projeto, galera. Vamo ter que repetir a frase aqui.
Conclusão desse vídeo, que já tá batendo- eu tô olhando, ó- uns 20 minutos de vídeo já: A Reforma do Ensino Médio, ela vai descaracterizar ainda mais o ensino escolar, é um ataque direto às escolas públicas, sobretudo às ciências humanas, e sobretudo também à ideia de uma formação crítica em que os alunos aprendam a refletir sobre a realidade em que estão inseridos. E eu gosto de fazer a seguinte brincadeira quando eu penso na Reforma do Ensino Médio: É como se os profissionais da educação, os intelectuais, os alunos da rede pública tivessem convivendo com uma goteira em cima da cama, e aí, o pessoal vira e fala assim: “A gente vai fazer uma reforma”, e aí, vem a Reforma do Ensino Médio e derruba o teto, tira a cama, e ainda joga bosta na nossa cara. Lembrando que esse ano eu pretendo fazer uma playlist aqui só sobre os problemas na educação, caso vocês gostem da ideia, comentem bastante aí embaixo.
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Enfim, gente, fico aqui, até o próximo vídeo, tamo juntos.