“VOCÊS RECOLHEREM MORADOR DE RUA?” l DA INVISIBILIDADE ao HIGIENISMO

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SUAS Conversas
DESCRIÇÃO DO VÍDEO: Quem trabalha no serviço de abordagem social está acostumado a receber ligações ...
Video Transcript:
Oi é da abordagem social é que tem um morador de rua aqui na frente da minha casa é vocês que recolhem sim sim entendo entendo é que tem uns aqui perto sempre ninguém faz nada moça sabe ninguém faz nada não ele só fica aí parado não faz nada fica vadiando aí parado Tá mas o que eu quero saber é se é vocês mesmo que recolhem toma Mas então não tem como vocês vem coletar ele sim para o colega são frequentes as ligações solicitando para recolher retirar e até coletar as pessoas em situação de rua quem
trabalha no serviço de abordagem social que diga vamos ver de onde isso vem eu sou Ana picolini e esse é o suas conversas [Música] [Música] Olá gente linda do suas tudo bem com vocês quem trabalha no serviço de abordagem social está acostumado a receber ligações solicitando o recolhimento dos moradores de rua procedimento que em muitas cidades ainda é chamado de denúncia são situações em que a comunidade liga dizendo que está fazendo contato para denunciar um morador de rua que está em frente a sua casa Geralmente as pessoas esperam que o serviço especializado de abordagem social
vai lá no local e retire a pessoa instantaneamente a intenção é que essas respostas pontuais e reativas possam ficar cada vez mais raras e sejam substituídas por ações mais planejadas conforme esse livrinho maravilhoso que eu vou deixar aqui para você baixar que é a publicação oficial sobre o serviço especializado de abordagem social o direcionamento é que essas costumeiras intervenções sejam substituídas por um trabalho mais proativo a concepção de abordagem social que encontramos nessas orientações técnicas se baseia na presença continuada proativa e ativa da equipe nesses espaços públicos circulando-nos itinerários mapeando territórios antecipando-se as demandas que
possam surgir nesse processo de circular pela cidade de ir ao encontro das pessoas em situação de rua vão se formando os vínculos que são a base do trabalho e vai acontecendo um atendimento qualificado no espaço da rua é esse atendimento qualificado que vai permitir que a gente dê respostas mas contextualizadas e que transcendam o Mero recolhimento das pessoas entrar em situação de rua normalmente é um processo demorado sair da situação de rua também por isso exige construção de vínculo de confiança Constância e persistência quando a comunidade vê a presença constante da equipe quando ela vê
essas ações proativas também vai percebendo que o trabalho já está sendo feito e que a saída das ruas não é um processo simples muitas dessas expectativas de tirar o sujeito da rua da frente da casa mesmo sem saber para onde ele vai desde que ele desapareça da frente da pessoa são expectativas que são fruto da história das pessoas em situação de rua no nosso país eu Convido você a fazer essa viagem histórica junto comigo mas antes da gente seguir ir para essa rota para o passado curte esse vídeo comenta se você achar interessante e compartilha
com seus amigos ah e também clica no Sininho para ativar as notificações de vídeos novos no século 19 e você já devem estar cansados de eu falar tanto do século 19 Mas enfim no século 19 os visitantes estrangeiros que chegavam a Bahia ficavam impressionados com a arquitetura das igrejas e casarões com a agitação da vida urbana e do Comércio fruto da riqueza da cana-de-açúcar mas também chamava a atenção do Viajante a grande quantidade de pedintes quesmolavam nas ruas de cidades como Salvador era comum essas pessoas ficarem na frente dos Conventos e igrejas pedindo esmolas e
pode se dizer que conforme fraga em geral expedientes desfrutavam de certa tolerância social eles davam o toque de Piedade as procisões e funerais várias molas era um ato de caridade cultivado diante de grandes acontecimentos como um batizado um casamento uma graça alcançada a cura de alguma doença na hora da morte era comum que os então chamados mendigos e ped em troca de esmolas carregassem o caixão dos ricos até o cemitério sendo este um dos últimos desejos expressados pelo morto na reportagem da revista da história viva de setembro de 2014 o Professor Walter Fraga escreve abre
aspas Rosa Angélica do Sacramento algum dia de sua morte ocorrida em 5 de agosto de 1829 declarou que pretendia ser sepultada sem a menor ponta e conduzida por quatro mendigos os mais necessitados e desprezíveis que existissem na vila de Cachoeira de Cielo outro exemplo citado pelo professor foi o de Antônio Pereira da Silva Capitão do primeiro Regimento de Milícias que declarou em seu Testamento o desejo de que no dia de seu sepultamento deveria repartir com mendigos e mendigas a importância de 100 mil réis que o fizessem com a maior descrição possível juntamentos deles à vista
dos mottins que se fazem nessas ocasiões Em geral os pedintes se aglomeravam nas portas das igrejas na Zona Portuária e nas praças e ruas mais movimentadas havia uma relação de proximidade entre os pedintes e as famílias de outras camadas sociais sendo que algumas famílias tinham os seus fregueses Como dizia ou seja davam roupas esmolas e comidas para pessoas que iam uma ou duas vezes por semana nas suas casas buscar essas doações esses mendigos de família entre aspas eram também chamados de Devotos assinalando aí o caráter religioso da esmola na verdade existiam basicamente três tipos de
pedintes o pedinte de porta de igreja o pedinte com Freguesia certa e o pedinte de porta em porta isso começa a mudar na segunda metade do século 19 quando a simbologia sagrada da esmola vai sendo substituída pela percepção de perigo e ameaça à ordem social Começam a surgir argumentos de que a caridade levava a ociosidade contrariando a ética do trabalho os pedintes então passaram a ser considerados classes perigosas e a vigilância é a repressão passaram a retirá-los de seus pontos estratégicos nas cidades Esse controle relacionava-se tanto a preocupação com tumultos brigas e assaltos quanto as
nascentes teorias higienistas considerando as aglomerações humanas como focos de transmissão de doenças essa nova forma de percepção que estará na base da fundação de instituições chamadas asilos de mendicidade um desses asilos foi fundado em Salvador no edifício Quinta dos Lázaros em 1876 a nova política tinha como Norte a retirada dos pedintes das ruas colocando-os fora da zona urbana também havia um viés repressivo aos que vagavam pelas ruas práticas chamada de vadiagem estes eram presos e afastados tidos como prejudiciais da ordem pública no entanto a política de enclausuramento tanto em cadeias quanto em asilos de meio
de cidade não foi efetiva já que a quantidade de pessoas esmolando nas ruas era muito maior do que a capacidade dessas instituições de recebê-las a mesma discussão sobre a abertura de um asilo de mendicidade ocorreu aqui no Rio Grande do Sul tendo dois asilos um em Pelotas em 1894 e outro em Porto Alegre em 1898 assim como na Europa a criação dos asilos de mendicidade coincide com o fim das relações de Servidão aqui essas instituições não surgir paralelamente ao final da escravidão de modo que os asilos de mendicidade passam a ser vistos como um lugar
para deixar escravos ou ex escravos idosos ou Inválidos assim a prática de recolher ou isolar as chamadas classes perigosas e a associação com caso de polícia tem a ver com a repressão a chamada vadiagem considerada um crime na época muito mais do que controlar a pobreza o foco das ações era controlar os pobres no entanto a história recente em especial a mobilização Nacional do movimento das pessoas em situação de rua que culminou na política nacional de atenção é esse segmento como a gente falou no vídeo anterior tem apontado caminhos relacionados ao protagonismo e a construção
coletiva tentando romper com a invisibilidade e com essa trajetória de higienismo não é desejável que pessoas em situação de rua permaneçam invisíveis como parte da paisagem Urbana mas também não é desejável que o olhar dado a elas sejam de retirar recolher ou coletá-las da rua como se essa fosse a mágica solução a criação de vínculo a construção de espaços de confiança o mapeamento da cidade e das trajetórias de rua o percurso e os itinerários e as aquisições materiais e relacionais que ocorrem nesse espaço tempo do atendimento na rua parece ser uma possibilidade de postura de
novas trajetórias e de novas respostas a essa situação de risco pessoal social por violação de direitos e você o que acha disso bem eu vou ficando por aqui espero que esse vídeo tenha contribuído com o seu trabalho no suas curta compartilhe com outros colegas e inscreva-se aqui no canal caso ainda não seja inscrito a gente se vê na próxima conversa [Música] [Música]
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