meu nome é Isabel Lima tenho 40 anos e hoje estou aqui para contar a história que marcou minha vida para sempre por mais de duas décadas Vivi Entre os Muros de um convento na Itália convencida de que meu sacrifício era a vontade de Deus mas o que vi e experimentei dentro daquelas paredes me levou a questionar tudo o que um dia acreditei cresci em uma família profundamente enraizada nas tradições em um Vilarejo onde a religião não era apenas uma crença mas o alicerce sobre o qual toda nossa existência era construída meu pai um homem de
postura rígida e princípios inabaláveis considerava a fé o Pilar da ordem e da disciplina dentro de casa desde a infância fui educada sob os dogmas rigorosos do catolicismo onde a devoção não era uma escolha pessoal mas uma obrigação inquestionável cada ação cada pensamento deveria estar em total conformidade os ensinamentos que nos eram passados e qualquer deslize era tratado como uma grave transgressão no entanto conforme os anos passaram minha mente inquieta começou a desafiar aquilo que até então eu havia aceitado sem hesitar eu fazia perguntas buscava respostas mas muitas vezes me deparava apenas com silêncios incômodos
ou olhares que me adverti a não insistir no assunto quando completei 19 anos minha vida tomou um rumo inesperado meu pai percebendo minha crescente necessidade de independência interpretou minha atitude como uma afronta inaceitável para ele uma mulher que desejava trilhar seu próprio caminho representava uma ameaça direta aos valores que ele tanto prezava convencido de que o mundo exterior era fonte de corrupção e perdição tomou uma decisão drástica sem me dar qualquer chance de escolha enviou ao convento de Santa Maria da Redenção em sua concepção aquele lugar seria o único capaz de preservar minha pureza e
me conduzir a um propósito Digno aos olhos de Deus ao atravessar os portões do convento senti que não estava apenas deixando minha casa para trás mas também uma parte essencial de quem eu era o ambiente ao meu redor parecia separado do resto do mundo por imponentes muros de pedra que pareciam absorver qualquer vestígio de vida do exterior a luz mal penetrava através das janelas estreitas projetando sombras alongadas pelos corredores frios e silenciosos havia um peso no ar não de serenidade mas de submissão assim que cheguei fui instruída a me desfazer de qualquer objeto que pudesse
me lembrar da minha vida anterior roupas adornos recordações nos despojam de tudo como se a apagar nosso passado fosse um requisito indispensável para a purificação da Alma as regras dentro do convento eram absolutas e sua obediência era exigida sem questionamentos falar sem permissão era terminantemente proibido O silêncio não era apenas um símbolo de respeito mas um instrumento para alcançar a completa entrega espiritual a rotina diária era exaustiva e imutável orações ao nascer do sol longas horas de trabalho manual estudos religiosos à tarde e penitências antes do repouso a submissão não era apenas esperada mas imposta
como a base da existência dentro daqueles Muros a figura que comandava o convento com autoridade inquestionável era a madre superiora sor giusepina sua presença inspirava um temor quase reverencial seu olhar cortante como uma lâmina e sua postura rígida deixavam claro que ali não havia espaço para dúvidas ou insubordinação desde o primeiro instante ela deixou claro que sua palavra Era a Lei e que desafiar suas ordens estava fora de questão no início tentei me adaptar acreditando que minha resignação me aproximaria de Deus mas logo uma inquietação começou a crescer dentro de mim algo no ambiente me
causava desconforto uma sensação de opressão que eu não conseguia compreender com o passar dos Dias perce percebi que não era a única a sentir isso muitas das irmãs viviam em um estado permanente de receio evitavam se olhar nos olhos falavam com a voz trêmula e andavam sempre cabis baixas como se carregassem um fardo invisível os silêncios prolongados as ausências nunca explicadas os murmúrios discretos que ecoavam pelos corredores durante a noite tudo aquilo me fez perceber que havia algo errado naquele lugar certa vez enquanto rezava na capela avistei uma jovem freira ajoelhada em um canto seu
peito subia e descia de forma descompassada suas mãos tremiam me aproximei com a intenção de perguntar se ela estava bem mas ao me notar levantou-se abruptamente e saiu às pressas sem nem sequer me encarar naquele instante entendi que um segredo obscuro pairava sobre o convento a partir de então passei a melhor o que acontecia ao meu redor olhares discretos frases interrompidas no meio Passos apressados em horários incomuns um dia enquanto ajudava a organizar a biblioteca ao lado de uma noviça chamada Kara algo aconteceu e fez meu sangue gelar diferente das outras Kara parecia sempre inquieta
como se vivesse sob constante vigilância em um momento de aparente tranquilidade ela se aproximou e com uma voz quase murmurou palavras que ficariam marcadas na minha memória Isabela esse lugar não é o que parece meu instinto me impeliu a exigir explicações mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa a madre superiora surgiu à porta no mesmo instante Kiara silenciou e abaixou a cabeça como se suas palavras nunca tivessem sido ditas Mas elas ecoavam dentro de mim o que ela queria dizer o que realmente se passava se aquele convento era um santuário de fé e Redenção
porque tantas irmãs viviam com medo naquela noite enquanto tentava dormir ouvi um sussurro vindo da cela ao lado aproximei-me da parede e encostei o ouvido era a voz de Quiara trêmula senhor ajuda-me a sair daqui meu coração disparou quis chamá-la dizer que não estava mas algo dentro de mim me impediu nos dias seguintes a tensão dentro de mim cresceu Parte de Mim queria acreditar que o convento era um local sagrado mas os sinais de que algo perturbador acontecia ali se tornavam cada vez mais evidentes então algo inesperado ocorreu durante uma das orações matinais percebi que
Kara não estava em seu lugar habitual procurei seu rosto entre as outras irmãs mas não a encontrei ao final da cerimônia perguntei a uma das Freiras onde ela estava sua reação me alarmou seus olhos refletiam pavor antes que ela desviasse o olhar evitando responder insisti com outra irmã mas antes que pudesse dizer qualquer coisa a madre superiora apareceu e anunciou friamente tiara foi transferida não há mais perguntas mas eu tinha muitas sua ausência era impossível de ignorar E o que mais me incomodava era o absoluto silêncio que a cercava era como se ela nunca tivesse
existido qualquer tentativa de obter respostas era recebida com olhares aterrorizados e silêncio absoluto Foi então que a madre superior apercebeu minha insistência e certa noite me convocou a seu escritório a sala era fria e austera adornada por imagens sagradas e um grande crucifixo pendurado na parede sem desviar os olhos dos papéis sobre sua mesa ela disse em um tom gélido irmã Isabela notei sua inquietação lembre-se de que a obediência é a base da nossa vida dedicada a Deus fiquei sem palavras seu Tom não deixava espaço para contestação aqui seguimos a vontade do senhor continuou Não
devemos nos distrair com assuntos que não nos dizem respeito Chiara foi transferida por razões que não precisam ser explicadas com concentre-se em sua fé saí daquela sala com o peito apertado algo estava errado eu sabia mas como descobrir a verdade sem chamar atenção desde então fingi submissão mas em segredo comecei a buscar respostas e então em uma noite escura encontrei a prova de que meus temores eram reais minhas mãos tremiam ao fechar o diário ali nas páginas envelhecidas pelo estava a confirmação dos meus piores temores o que acontecia naquele convento não era recente era algo
que se arrastava há anos talvez décadas oculto sob um véu de silêncio e terror respirei fundo tentando conter o pânico olhei ao redor certificando de que ninguém havia me seguido e escondi o caderno so minhas vestes antes de deixar o sótão com passos rápidos mas discretos Quando retornei à minha cela Esperei a noite cair para reler cada palavra com mais atenção a cada linha sentia meu peito apertar como se estivesse sendo esmagado por um peso invisível como um lugar sagrado poderia esconder algo tão perverso por ninguém fazia nada para impedir lembrei-me da minha infância da
voz Suave da minha mãe me falando sobre o amor de Deus recordei as palavras rígidas do meu pai ao me enviar para cá convencido de que encontraria meu propósito mas o que existia dentro destes muros não era amor era opressão era castigo era medo não preguei os olhos naquela noite fiquei acordada até o amanhecer segurando o diário contra meu peito como se aquilo fosse a última verdade em que eu ainda pudesse acreditar na manhã seguinte sentei-me à mesa do refeitório junto às outras irmãs mas agora O silêncio não me parecia mais um gesto de devoção
era um peso esmagador um lembrete Cruel de tudo o que era proibido dizer observei os rostos ao meu redor com um olhar renovado quantas ali conheciam a verdade quantas já haviam sofrido nas mãos desse sistema algumas tinham os olhos vermelhos como se tivessem chorado em segredo outras mantinham os ombros tensos os movimentos contidos as palavras medidas ao extremo o medo estava por toda parte e agora eu o enxergava com nitidez mais tarde enquanto organizava a despensa terminei ao lado de Rosa uma noviça reservada que raramente falava seus olhos carregavam a mesma sombra de medo que
eu começava a identificar nas demais Aproveitei a privacidade do momento e em um sussurro quase imperceptível perguntei você sabe o que aconteceu com Kiara sua reação foi imediata seu rosto endureceu e e ela negou rapidamente com a cabeça não faça perguntas Isabel murmurou a voz carregada de angústia Não cometa o mesmo erro dela um calafrio percorreu minha espinha o mesmo erro repeti engolindo em seco Rosa olhou ao redor como se temesse que alguém estivesse nos ouvindo Então se aproximou e sussurrou tão baixo que quase não a ouvi Kiara queria ir embora e quem tenta sair
desaparece Minha respiração ficou presa na garganta Para onde as levam perguntei sentindo meu coração martelar contra o peito Rosa desviou o olhar e Balançou a cabeça lentamente eu não sei mas ninguém nunca voltou antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa uma das Freiras entrou na despensa rosa se afastou de imediato voltando a sua tarefa como se nada tivesse acontecido mas eu fiquei ali paralisada pelo medo naquela noite não consegui dormir fiquei deitada na escuridão a mente fervilhando com perguntas sem respostas Poderiam me punir apenas por questionar os dias que se seguiram mudaram completamente minha
visão sobre o convento antes eu acreditava que sua rigidez era uma forma de devoção mas agora via com clareza era um sistema construído sobre o medo castigos cruéis eram aplicados por infrações insignificantes horas intermináveis ajoelhadas sobre Grã de arroz jejuns prolongados até a fraqueza extrema isolamento em celas escuras não demorou para que eu mesma fosse punida uma tarde por não terminar minha tarefa de limpeza no tempo estipulado fui forçada a permanecer ajoelhada em oração por 6 horas seguidas sem me mover o ardor nas minhas pernas se transformou em dor lancinante meu estômago vazio se contorcia
em espasmos ninguém interveio ninguém ousou olhar para mim e foi ali naquela posição de sofrimento e humilhação que uma pergunta começou a ecoar na minha mente era isso que Deus queria se Deus era amor por que me ensinaram a temê-lo em vez de confiar nele esse pensamento germinou dentro de mim e pouco tempo depois a confirmação de que algo terrível acontecia ali veio em uma noite que jamais esqueceria acordei assustada com um barulho no corredor Passos apressados sussurros tensos depois um ruído abafado como algo pesado sendo arrastado minha pulsação acelerou levantei-me devagar e me aproximei
da porta espiando pelo pequeno vão no breu do Corredor vi duas silhuetas movimentando-se furtivamente eram freiras arrastavam algo envolto em um manto Grosso meu corpo se petrificou eu não conseguia ver exatamente o que carregavam mas um pavor absoluto me invadiu meu instinto gritava para eu fazer alguma coisa mas minhas pernas não obedeciam instantes depois os passos Sumiram no silêncio da noite o convento voltou a sua Quietude sufocante voltei para minha cama e me cobri mas não havia mais dormir se eu ficasse ali em silêncio ignorando o que acontecia poderia ser a próxima a desaparecer as
horas se arrastaram até o amanhecer enquanto uma certeza tomava conta de mim eu precisava fugir e então quando menos esperava a oportunidade surgiu a porta da minha cela se abriu meu coração disparou não eraa uma freira não era a madre superior era Rosa seus olhos estavam arregalados suas mãos tremiam mas sua expressão era de pura determinação Isabel Precisamos sair daqui prendi a respiração como não temos tempo cortou ela eu sei um jeito a senti sem hesitar saímos em silêncio pelos corredores mergulhados na escuridão iluminados apenas pelas velas dispersas pelos Altares cada sombra Parecia um perigo
iminente cada ruído me fazia prender a respiração se nos descobrissem seria nosso fim Rosa Me guiou até uma pequena porta lateral escondida no final de um corredor esquecido A chave está com a madre superiora sussurrei o pânico apertando minha garganta ela retirou algo do hábito um molho de Chaves peguei quando recolhi as roupas na lavanderia engoli em seco cada segundo parecia uma eternidade Rosa testou a primeira chave nada a segunda Ainda não meu peito queimava de ansiedade Na terceira tentativa ouvimos o clique metálico a porta ranu ao se abrir trocamos um olhar e corremos o
vento frio da noite cortou meu rosto como uma lâmina os muros do convento se erguiam altos mas Rosa me levou até uma árvore cujos Galhos pendiam sobre a precisamos subir minhas mãos suavam meu corpo estava Fraco mas o medo era mais forte agarros à casca áspera e escalamos no Alto do Muro paramos por um breve instante diante de nós estava o mundo exterior não era um cenário grandioso apenas as ruas silenciosas de um Vilarejo adormecido mas para mim era Liberdade saltamos o impacto nos sacudiu mas não nos detivemos segurei a mão de Rosa corremos corremos
sem olhar para trás corremos como se nossas vidas dependessem disso porque dependiam não sei por quanto tempo seguimos fugindo minutos horas uma eternidade o chão friio castigava nossos pés descalços o ar gelado cortava a nossa pele mas não podíamos parar quando finalmente diminuímos o ritmo já estávamos além dos limites do Vilarejo o céu começava a clarear no horizonte atingindo a paisagem com tons suaves de laranja e rosa rosa caiu de joelhos [Música] ofegante eu me joguei ao seu lado sentindo cada músculo do meu corpo em Chamas pelo esforço tínhamos conseguido havíamos escapado mas e agora
o vento frio da manhã nos envolvia e pela primeira vez me dei conta do vazio ao meu redor eu era livre mas já não tinha um lar as lágrimas ardiam nos meus olhos o que fazemos agora rosa sussurrou com a voz fraca olhei para o horizonte para aquele mundo desconhecido à nossa frente o sol surgia timidamente trazendo uma promessa silenciosa de um novo começo Conheço um lugar murmurei tentando conter a incerteza na minha voz não sabia se ainda existia Se as pessoas que um dia nos acolheram continuavam lá mas era a nossa Única Esperança enxuguei
as lágrimas e apertei a mão de rosa com firmeza Deus nos guiará seguimos caminhando cada pessoa que passava por nós nos lançava olhares deos e desconfiança Éramos apenas duas mulheres magras de vestes sujas e rasgadas sem rumo sem certezas sem um futuro definido mas não paramos a lembrança da casa veio como um sopro do passado eu era criança quando minha mãe me levou até lá era um lar simples mas acolhedor onde Uma Família Cristã ajudava quem precisava se ainda estivessem lá talvez nos dessem abrigo ao avistá-la soube que era a mesma casa as paredes brancas
estavam mais desgastadas e o Jardim antes Florido agora estava tomado por ervas secas o tempo havia deixado suas marcas mas algo naquela casa ainda transmitia segurança Rosa hesitou quando parei diante da porta de madeira meu coração pulsava contra o peito engoli em seco e bati esperamos em silêncio passos do outro lado a porta rangeu a ao se abrir uma mulher de meia idade nos olhou com surpresa seu rosto era gentil emoldurado por cabelos presos em um coque desalinhado sim perguntou com doçura minha garganta estava seca meu nome é Isabel consegui dizer há muitos anos minha
mãe me trouxe aqui vocês ajudavam pessoas em dificuldades a expressão dela mudou um vinco surgiu entre suas sobrancelhas enquanto ela vasculhava a sua memória então sussurrou quase sem acreditar Isabel a filha de Teresa meu coração parou por um instante sim Respondi com a voz fraca seus olhos brilharam de emoção meu Deus exclamou antes de me puxar para um abraço caloroso entre querida aqui vocês estarão seguras e pela primeira vez em soube que era verdade os dias que se seguiram foram de adaptação meu corpo ainda estava fraco e minha mente assombrada pelos horrores do convento às
vezes acordava no meio da noite com o coração disparado esperando ouvir os passos severos da Madre superiora ou os sussurros assustados das Freiras nos corredores escuros mas ao abrir os olhos tudo o que via era a luz suave do abajur ao lado da cama o medo não desaparece de Uma Vez Rosa também enfrentava seus próprios Fantasmas passávamos horas sentadas no pátio no pequeno jardim ou na cozinha em silêncio não precisávamos de palavras sabíamos que estávamos nos reconstruindo uma ao lado da outra meu pai quando finalmente nos encontrou me observava com paciência nunca me pressionou a
falar sobre o que vivi mas certa tarde enquanto tomávamos café ele quebrou o silêncio filha você sentiu a presença de Deus naquele lugar sua pergunta me pegou desprevenida refleti por um momento antes de responder sim mas não da forma como me ensinaram a acreditar ele inclinou a cabeça esperando que eu continuasse quando estava trancada naquela cela pensei que tudo estava perdido achei que Deus havia me abandonado mas no instante em que eu estava prestes a desistir senti algo algo ele repetiu Com ternura não foi uma voz não foi um milagre visível foi paz foi como
se de repente eu soubesse que não estava sozinha seus olhos brilharam Deus nunca te deixou Isabel mas às vezes as pessoas distorcem a fé para controlar os outros a verdadeira fé não é medo é amor suas palavras ficaram gravadas no meu coração dia após dia rosa e eu começamos a reconstruir nossas vidas nos ofereceram roupas limpas refeições quentes e pouco a pouco voltamos a sentir que percamos a algum lugar eu ajudava meu pai na carpintaria e cada peça de madeira que eu moldava parecia restaurar uma parte de mimos Passou na cozinha da casa que nos
acolheu de vez em quando eu apegava sorrindo um gesto que antes parecia impossível mas a maior mudança aconteceu quando meu pai nos levou à igreja não era um lugar Sombrio como o convento era uma pequena construção de madeira iluminada pelo sol que atravessava os grandes Vitrais coloridos assim que entrei senti um aperto no peito mas não era medo era emoção lá dentro as pessoas cantavam com alegria oravam com sinceridade não havia imposição apenas gratidão o pastor nos recebeu com um sorriso acolhedor não perguntou nada apenas nos convidou a sentar e ouvir Deus nunca se afasta
de nós ele disse somos nós que às vezes nos afastamos dele mas seu amor é eterno Suas palavras me atingiram como um raio era como se estivesse falando diretamente comigo lágrimas rolaram pelo meu rosto mas dessa vez não eram de dor eram de cura meu pai segurou minha mão com carinho Rosa chorava em silêncio ao meu lado e então compreendi a fé não era uma prisão a fé era Liberdade com o tempo nossa história se espalhou pessoas começaram a nos procurar algumas queriam entender outras precisavam desabafar Foi numa noite depois de um encontro na igreja
que uma jovem se aproximou seus olhos estavam marejados suas mãos tremiam eu também sussurrou eu também vivi isso o mundo parou por um instante escapei anos atrás mas nunca tive coragem de falar até ouvir vocês rosa e eu trocamos olhares Não estávamos sozinhas e então entendemos nossa missão apenas começava Deus não nos salvou apenas para escapar do passado ele nos salvou para ajudar outras mulheres a encontrar a luz a água estava gelada mas nada disso importava no momento em que me submergiu como se tudo que pertencia ao passado começasse a se dissolver o medo a
dor a culpa tudo que o convento tentou apagar em mim Deus estava restaurando e quando emergi o som de aplausos e vozes jubilosas encheu o ar mas nada disso se comparava ao que eu sentia por dentro Liberdade paz um novo começo logo depois foi a vez de Rosa quando ela saiu da água me envolveu em um abraço apertado choramos juntas mas dessa vez nossas lágrimas não eram de Sofrimento eram Lágrimas de alegria porque depois de tanto tempo presas na escuridão finalmente havíamos sido redimidas naquela noite após a celebração nos sentamos no Alpendre da casa do
meu pai observando o céu estrelado o silêncio se Estendeu entre nós mas não era desconfortável era um silêncio de gratidão de entendimento então depois de um longo tempo Rosa sussurrou você acha que tudo isso aconteceu por um motivo ergui os olhos para o céu e respirei fundo sentindo a brisa noturna acariciar minha pele Sim ela sorriu suavemente como se estivesse esperando essa resposta eu também ficamos ali absorvendo a imensidão do universo acima de nós então Rosa pegou minha mão obrigada por não ter desistido sorri para ela sentindo meu coração aquecido Obrigada a você por ter
ficado ao meu lado fechamos os olhos e Oramos não pelo passado não pelo que perdemos mas por tudo o que Deus ainda tinha reservado para nós nosso caminho estava apenas começando Deus nos resgatou ele curou nossas feridas e agora nos chamava a viver em seu amor não havia mais medo não havia mais cor havia apenas graça havia apenas liberdade e nessa Liberdade encontramos Nossa verdadeira Redenção [Música]