No último vídeo da nossa série nós falamos sobre os modos articulatórios e como eles influenciam na produção dos sons do nosso idioma. Nós vimos, por exemplo, que os sons fricativos produzem ruído com a corrente de ar (ssssss) e que esse ruído é produzido no ponto articulatório, que nós vimos no primeiro vídeo da série. Mas, o que acontece quando dois sons diferentes possuem o mesmo ponto e o mesmo modo de articulação?
Por exemplo, S e Z? (ssssss zzzzz) O que nós podemos fazer para diferenciar um do outro? É exatamente sobre isso que nós vamos falar no nosso vídeo de hoje.
Então, já deixe o seu like aqui embaixo e vem comigo para o nosso vídeo de hoje. Vinheta E você está no Voice Lab! E estamos no terceiro vídeo da nossa série sobre Fonética Articulatória.
Se você perdeu os primeiros vídeos da série, o link para a playlist com todos os vídeos está aqui no card que aparece na tela. E se essa é a sua primeira vez por aqui, já clica no botão aqui embaixo e faz a sua inscrição porque assim você vai ficar por dentro de tudo o que acontece aqui no canal. Muito bem, além do ponto e do modo de articulação, existe um terceiro elemento que nós precisamos usar para conseguir classificar os sons da fala.
Esse elemento se chama: vozeamento. O vozeamento nada mais é do que a presença de voz durante a produção de um som. (cena: ué, agora eu já não entendi mais nada.
Tu está dizendo que tem som que tem voz junto? Mas para falar a gente não precisa usar a voz? Voz e fala, não é tudo a mesma coisa?
). Não! E essa é uma questão muito importante para quem quer se aprofundar nos estudos de voz e de comunicação.
No mundo das ciências vocais, voz e fala são dois objetos diferentes. É claro que elas são bastante próximas, mas ainda assim são diferentes. Para ficar fácil de entender essa diferença na prática, basta você pensar que uma vaca tem voz, por isso que ela muji, mas ela não fala.
Nesse exemplo, nós temos voz mas não temos fala. (cena: ahhh Rubens, mas aí você pegou um exemplo nada a ver. O que a vaca tem a ver com o ser humano?
). Está bem. Então vamos pensar em um outro exemplo: um bebezinho.
O bebê quando nasce ele não fala, você já sabe disso. Mas você também sabe que o bebê chora, o bebê dá risada, o bebê tosse quando fica doente. Todas essas coisas são exemplos de como o bebê usa a voz antes de aprender a falar.
Conforme o bebê cresce, ele começa a adquirir a fala e, por volta dos 4 ou 5 anos de idade, ele já consegue pronunciar todos os sons do idioma e falar corretamente (alerta: se você conhece alguma criança que já passou dessa idade e ainda não fala corretamente, procure um fonoaudiólogo para fazer uma avaliação, porque isso pode significar um atraso na aprendizagem da fala. Vou deixar o link de um material da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia com que responde várias dúvidas frequentes sobre essa questão do aprendizado da linguagem. O link está aqui embaixo na descrição, é só ir lá conferir).
Ok, você já entendeu que voz e fala são duas coisas diferentes. Mas como isso vai nos ajudar a entender os sons da fala dentro da fonética articulatória? Bem, basicamente, nós vamos dividir os sons em dois grupos: os sons vozeados e os sons não-vozeados.
Para a fonética articulatória, “ter voz” significa que as pregas vocais estão vibrando durante a produção do som. Não importa qual é o tipo de voz, só o que importa é saber se as pregas vocais estão vibrando ou não. Um som vozeado vai ser um som que tem vibração das pregas vocais e um som não-vozeado vai ser um som que não tem vibração das pregas vocais.
Algumas pessoas chamam os sons não-vozeados de “surdos” e os vozeados de “sonoro”. É só uma diferença de nomenclatura, o princípio continua sendo o mesmo. Na prática fica mais fácil de entender.
Se você fizer um som de S prolongado, você vai perceber que esse é um som não-vozeado. Ou seja, as pregas vocais não vibram nesse som (sssssssss). Agora, se você fizer o som de Z prolongado, você vai perceber que esse é um som que tem a vibração das pregas vocais (zzzzzzzzz).
Essa é a única diferença entre os sons de S e Z. Para que a gente consiga perceber isso na prática, vamos colocar os dedos em cima da laringe, e transitar do som de S para o som de Z, desse jeito (ssssss-zzzzzz-ssssss-zzzzzz). Perceba que quando você faz o som de Z, você sente a vibração das pregas vocais nos seus dedos (zzzzzzz) e no som de S você não sente essa vibração (ssssss).
Ou seja, o som de Z é um som vozeado e o som de S é um som não-vozeado. (imagem) Se você olhar na nossa tabela, você vai ver que além do ponto e do modo de articulação, nós também temos o vozeamento dos sons. No caso dessa tabela, os termos usados são Surdo e Sonoro ao invés de Vozeado e não-vozeado.
Então, veja só, nós temos diversos sons surdos e diversos sons sonoros no português. E perceba, também, que em alguns casos, a única diferença entre dois sons é o vozeamento. (volta vídeo) Isso significa que, na prática, nós podemos transformar um som surdo em um som sonoro simplesmente adicionando voz no som surdo.
E o contrário também, nós podemos transformar um som sonoro em um som surdo simplesmente removendo a voz do som sonoro. Se a gente pegar o som de F da palavra “faca”, que nós sabemos que é um som surdo (ffffffff), nós podemos adicionar voz nesse som (fffffffvvvvvv) e ao invés de “faca” nós vamos ter “vaca”. Criamos uma palavra com significado totalmente diferente simplesmente adicionando voz ao som de F.
O mesmo acontece com outras palavras, como “pode” e “bode”, “casa” e “caça”, “já e chá”, “gola e cola”, “tato e dado”, e assim por diante. Esses são os chamados pares mínimos. Aliás, comenta aqui embaixo se você quer que eu faça um vídeo falando especificamente de pares mínimos.
Agora você já sabe os três elementos básicos para conseguir classificar os sons de acordo com a fonética articulatória. Esses elementos são: o ponto articulatório, o modo de articulação e o vozeamento. Com esses três elementos você já pode começar a investigar os sons que você usa na fala.
No próximo vídeo da nossa série nós vamos sair da teoria e começar a conhecer na prática cada som do nosso idioma.