A resistência é sempre do analista, sempre não há muito tempo. Que que essa frase extremamente teórica tem a ver com o senso comum de que os psicanalistas agem estranho, são frios, esquisitos, imprevisíveis? Oi, eu sou a Alana, trabalho com psicanálise clínica e produzo alguns vídeos aqui no canal.
E hoje estou aqui modernizada de microfoninho e comemorando também os 3. 000 inscritos aqui, pessoal que vem acompanhando, comentando. É sempre muito legal ter vocês por aqui.
Bom, eh, os textos que eu vou trabalhar, que me fizeram, né, trazer esse tema aqui hoje, de uma maneira que eu achei que poderia ser possível e que me fizeram também entender um pouco melhor, foi o último texto das últimas páginas do seminário dois e também o texto nos escritos, a direção do tratamento e as origens de seu poder. Eu vou deixar depois aqui embaixo nos comentários para quem quiser ler na base, mas como eu sei que às vezes pode ser um pouco cansativo ficar lendo citações, eu preferi sintetizar e transmitir, como eu fiz no vídeo do inconsciente estruturado como uma linguagem que foi o preferido de você. Acho que para começar a pensar essa questão, a gente tem que pensar uma diferença conceitual aqui bem importante na teoria lacaniana, que é pequeno outro e grande outro.
São duas coisas diferentes que são diferenciadas através da teoria, um representado pelo O minúsculo e um representado pelo O maiúsculo na nossa língua portuguesa, né? E justamente o que explica essa estranheza e o que explica a frase da resistência ser sempre do analista é porque ele sabe, ela sabe que tá acontecendo ali um jogo e até uma cerimônia. É como o Lacan fala, olha, se não for para se para se jogar, por que que vocês estão se submetendo a essas cerimônias todas?
E qual que é essa cerimônia? É justamente o apagamento da analista como pequena outra. é justamente o fato em que a psicanálise lacaniana propõe uma radicalidade absoluta da pessoa que estiver ali da sua frente, que for o seu analista, ficar na posição de grande outro mais do que na de pequeno outro.
Vamos diferenciar então. O pequeno outro seria caracterizado por esse que lá que eu vou falar faz uma certa parceria, uma relação habitual. É aquela coisa do oi, tudo bem?
Tudo bem e você? Não é essa parceria que a gente faz com os pequenos outros da nossa vida? Um pequeno outro seria alguém com nome próprio, também pode ser alguém de carne e osso.
O pequeno outro é meus amigos, as pessoas que eu conheço. Por exemplo, minha amiga sabe a minha opinião política, então ela vai chegar para mim falando e fazendo parceria na minha opinião política. Eu mesmo vou a mudar o meu discurso dependendo de qual pequeno outro que eu tô falando, se é o médico, se é minha família.
Então esse é o pequeno outro. E o grande outro, como o nome pode dizer, é esse grande outro a nível de não ser muito bem controlado, de eu não conseguir saber muito bem o que que espera de mim, o que que eu espero. é meio que esse todo mundo que na psicanálise vai estar muito associada a um simbólico, mais do que essa relação ali de verdade na realidade, essa relação mais desse todo mundo que eu não sei muito bem o que quem que é, mas que também quer que eu seja muito bem-sucedido, enfim, é um grande outro que ele vai pegar paraas pessoas de em diferentes lugares.
E o Lacan vai dizer que é um grande outro que é essa posição que tem de mais inacessível, de radicalmente inacessível. Então, vejam só, a posição de analista tem que ter algo de radicalmente inacessível. E por que isso?
Porque os nossos eus são muito associados ao imaginário, ao ideal, né? a imagem que a gente vê no espelho, por isso Lac vai falar da do estádio do espelho. Então eu ele para Lacan não é assim um centrinho autoorganizado que quanto mais eu trabalhar aí sim ficar perfeito e a vida vai ser linda e é só eu me controlar e melhorar e pronto.
Então não é uma questão do analista treinar o seu próprio eu para ser um bom eu, para conseguir ouvir o outro sem seus interesses pessoais. Ele não parte dessa, desse pressuposto que o analista vai se tornar um um grande jedai, um grande mestre que vai conseguir não sabe, ser puro, ser neutro, não. E é por isso que a perspectiva é que você vá para essa posição de grande outro.
já tente esvaziar o pequeno outro, esvaziar o seu eu, porque o eu é justamente esse lugar do narcisismo, da expectativa, do sentimento. E a gente quer ali que a pessoa fique muito confortável e até eh aquela coisa meio de um sincerídio, de um associação livre. E para isso acontecer, eu preciso que o narcisismo, o eu do analista, esteja um pouco mais afastado.
Pelo menos é isso que o Lacan tá defendendo. Então é por isso que os analistas não respondem tanto desse lugar de parceria absoluta. Eles fazem algumas brincadeiras e algumas condições.
E por quê? Porque além de o analista, né, realizar essa purificação subjetiva, essa abnegação, esse apagamento, né, de si, isso vai ajudar e vai promover que surja ali e que possa ser construído esse o quê? O discurso inconsciente.
Que não é esse discurso do racional, do oito do bem, tudo bem em você. Se a gente ficar aqui, como que a gente vai criar uma coisa nova? Como que a gente vai dar um um espaço pro lapso, para falha, para troca de nome, para quando o inconsciente se manifestar para uma piadinha?
Eh, a gente tá aqui olhando justamente de para esse não saber, para essa falha, para esse curto circuito, para esse tilte, não dessa historinha toda bem contada de parceria e de que eu sei o que espera e é isso aí. Não, então essa é a proposta analítica. E lá que eu vê nisso, um momento mais fértil para que o inconsciente possa surgir, sem ali esse eu analítico da analista, balizando e controlando um pouco disso.
Então, voltando paraa nossa pergunta inicial, por que que a resistência sempre da na lista? porque ela tá advertida de alguma maneira, porque ela tá advertida de que a função dela é se entregar. Lacan vai falar até de de que o analista vai contar com a ajuda do morto, com essa função de uma mortificação, é se entregar e abrir um pouco mão justamente da de resistir.
E o que que é resistir? É quando aquela fala corta, quando aquela mensagem fora de sessão te afeta, te irrita. Mas ah, eu não posso ficar irritado, pode.
Mas é meio que assim, você tem que saber que esse é o melhor que acontece. a sua irritação e ficar bravo é o que tem pro almoço todo dia, basicamente. Então, assim, claro que a coisa flui, mas assim, vai acontecer algum momento, algum maldito, alguma coisa, justamente porque é uma relação radical, né?
Então as pessoas vão ficar meio tipo quê? Vou, não vou, quem que é essa pessoa? Posso confiar?
E se eu desmarcar? E se eu não falar? E então assim, nessa criação do novo, nessa saída do habitual e do arbitrário, a gente tem que tá meio ali prontas para um mau entendido.
E eu acho que a análise, eu acho não, né, se mostra muito que a análise começa depois desse mal entendido. Pô, eu não entendi isso que você me falou. Parece que eu tô aqui num confessionário.
Esse gelo, essa coisa com esse grande outro precisa quebrar em algum momento. Tipo, como assim? Você não vai me falar o que eu tenho que fazer?
Como assim? Como assim? Como assim?
assim. E aí, tipo, tá beleza, então já que você não vai me falar, então vou aqui eu falar alguma coisa para mim mesmo. Então, a resistência não é exatamente que seja sempre do analista, mas meio que a função do analista lidar com isso, porque o analista já tá divertido, que ele tem que ser morto, que tem que ser apagado, que é um ritual que é babado mesmo, que não é para levar pro teu pessoal, que é para dar espaço pro outro, que é sobre o outro, que é para não responder desse lugar de de um eu e de um narcisismo.
Agora, vocês pensam que é fácil? Comente aqui na legenda. Não é à toa que tem tantas histórias de transferências e transferências, porque eh é uma coisa aqui de ligação, de ligação e de apagação, de uma aposta grande assim, né, da pessoa do psicanalista, de abrir mão do seu eu, de pelo menos tentar lidar com isso, né, de saber exatamente aonde que bate a sua própria resistência, qual o tipo de coisa na clínica que pega mais.
Então é isso, me deixem aqui os comentários se gostaram, se fez sentido e vão aos textos base, aos aos textos fonte, porque tem muita coisa legal lá também, tá bom?