Olá, meus queridos irmãos, minhas queridas irmãs. É uma alegria estarmos juntos mais uma vez no nosso programa "Testemunho de Fé". Quem fala é o Padre Paulo Ricardo.
Quero convidar você a estar conosco para refletirmos a respeito do Evangelho deste domingo, que é o sétimo domingo do Tempo Comum. Nesse Evangelho, que é tirado de São Lucas, capítulo 6, versículos de 27 a 38, Jesus nos fala do amor ao inimigo. Veja só, o negócio de amar o inimigo é, digamos, uma das partes mais complicadas e desafiadoras da espiritualidade cristã.
Porque esse negócio de amar o inimigo, né, assim, tudo bem, vá lá que você não faça nada contra o seu inimigo; a gente ainda aceita, não é verdade? Porque, pensa bem: eu vou lá e não vou manifestar nenhuma hostilidade, não vou me vingar. O inimigo veio e me fez o mal, mas eu não vou querer vingança.
Eu simplesmente vou lá, apresento queixa, registro um BO, abro uma ação contra ele; não vou fazer justiça com minhas próprias mãos. Eu contenho, não preciso de violência, não preciso recorrer à justiça com as próprias mãos, começar a maldizer o inimigo, querer que caia um raio na cabeça dele, seu desgraçado, e começar a xingar. Não, isso daí, claro, é evidentemente pecado.
Acho que todo mundo é capaz de enxergar que, quando você começa a desejar o mal contra outra pessoa, você está pecando de malevolência, está pecando contra a benevolência. Nós temos que querer o bem dessas pessoas. Então, vamos supor um grande criminoso, um assassino, um serial killer que matou várias pessoas.
É claro que não vou aprovar o que essa pessoa fez, é claro que, pro bem da sociedade, essa pessoa tem que ir pra cadeia. Mas não é correto eu desejar, por exemplo, que ele vá pro inferno, eu desejar que ele contraia uma doença dolorosa, que seja torturado até a morte, etc. Essas coisas de vingança, eu acho que, pro comum das pessoas, todo mundo tá de acordo que isso é pecado.
Desejar o mal para uma pessoa é pecado. Mas o que Jesus nos fala aqui no Evangelho não é simplesmente não desejar o mal pro inimigo; é "amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam e rezai por aqueles que vos caluniam". Bom, isso aqui é um negócio completamente desafiador.
Não sabe nem por onde começar a explicar uma coisa dessas. Bom, pra gente começar, a gente precisa começar com Jesus. Por quê?
Porque Jesus nos amou quando nós éramos inimigos. São Paulo, na sua carta aos romanos, no capítulo 5, ele diz exatamente isso: "Se, quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com ele pela morte do seu Filho, quanto mais agora, estando já reconciliados, seremos salvos por sua vida". Quer dizer, com o pecado, nós todos somos inimigos de Deus.
Nós nascemos manchados pelo pecado original e, tão logo adquirimos o uso da razão, começamos a pecar. E os nossos pecados, dentro de nós, têm uma atitude em que, de alguma forma, nós nos colocamos como inimigos de Deus. É uma coisa que as pessoas não notam, não sabem; mas é importante você saber disso.
Se você está em pecado mortal, saiba: você não nota isso, você não vê isso dentro de você, mas dentro de você tem um ódio por Deus. Você é inimigo de Deus. Quando a pessoa morre, o corpo se separa da alma e, então, a alma, digamos assim, despojada do corpo, nua, a alma se enxerga e vê, então, essa inimizade que ela tem com Deus, e ela não quer ir com Deus no céu.
Ela vira as costas para Deus e vai pro inferno. É isso que as pessoas não enxergam: a gravidade de um pecado mortal. A pessoa diz assim: "Ah, Padre, imagina se Deus vai me condenar pro inferno por um pecadinho mortal que eu cometa".
Eu disse: olha, o problema principal não é nem Deus condenar você pro inferno por um pecadinho mortal. O problema principal é que com um, aspas, "pecadinho mortal", existe um pecado mortal diminuto. Bom, um pecadinho mortal, meu irmão, instala-se um ódio contra Deus no seu coração.
É claro que existem pecados mortais mais graves e pecados mortais menos graves. O inferno também tem andares; no mais profundo do inferno estão aqueles que odeiam mais a Deus, e os outros que odeiam menos a Deus estão em outros andares do inferno, por assim dizer. Mas acontece o seguinte: você pode odiar mais ou odiar menos; seja como for, o ódio contra Deus nos leva ao inferno.
E aqui que está a maravilha: quando nós éramos inimigos de Deus, Jesus veio ao nosso encontro e nos amou como inimigos. Veja, eu vou lá me confesso. Quando eu vou me confessar, Jesus não diz assim: "Não, não, você é meu inimigo".
Não, aqui não! Só quero perdoar os amigos? Não!
Jesus ama os inimigos. Então, a primeira coisa, a realidade primeira que nós temos dentro de nós é o fato de que nós, quando éramos inimigos, Jesus nos amou. E é assim que nós fomos amados.
Uma vez que você coloca isso, que você foi amado por Jesus quando você era inimigo dele, aqui você jogou uma luz imensa em todo esse Evangelho. Por quê? Porque Jesus está simplesmente dizendo o seguinte: "Ó, quando você era meu inimigo, eu te amei.
Agora que você tá junto comigo, agora que o seu coração tá junto com o meu coração, agora que você faz parte do meu corpo, agora que você é um cristão e está vivendo da minha vida, da minha vida sobrenatural, da minha vida divina, pois bem, o seu coração precisa começar a bater em sintonia com o meu coração. Você precisa viver as coisas que eu vivi". Então, é aqui que está a.
. . A raiz desse mandamento de Jesus, que olha para os seus discípulos, é importante enxergar que são aqueles que têm fé, aqueles que estão unidos com Jesus sobrenaturalmente.
São a eles que Ele diz: "Amai os vossos inimigos". Tudo bem, entendemos o conceito, mas não entendemos como é que nós vamos viver isso. Agora, precisamos dar um segundo passo: como é que eu faço para amar o inimigo, bem concretamente?
Veja o que acontece: em primeiro lugar, existe em nós uma dificuldade de amar o inimigo por um capital enraizado no nosso coração chamado soberba. Se nós fôssemos humildes, teríamos mais facilidade de amar os inimigos. Por quê?
Vamos lá, vamos colocar um caso concreto: alguém foi e passou a perna em você, traiu você, se comportou como um Judas, e você, que é uma pessoa que nunca cometeu um pecado daqueles, daquele tamanho, vamos supor. Vamos pegar um caso assim concreto: vamos supor uma esposa que foi traída pelo marido. Como ela nunca traiu o marido, ela sempre foi fiel, casta e nunca pensou nem passou na cabeça dela a hipótese de trair o marido.
Quando ela sabe que o marido a traiu, nossa, que ferida! Que coisa! Meu marido se comportou como sendo meu inimigo, meu traidor; ele traiu nossa família, fez algo muito mal.
E agora, onde que ela vai arranjar forças para perdoar seu marido? Bom, a primeira coisa é a humildade. O que quer dizer humildade?
Humildade quer dizer que nós nos colocamos de forma soberba acima do outro e chegamos a dizer: "Não, ele cometeu adultério, eu nunca cometi adultério. " Essa atitude já vai ser uma dificuldade enorme para você perdoar seu marido. Imagina: "Eu nunca cometeria adultério, mas Padre, é verdade, eu nunca cometeria adultério.
" Sim, mas, se você nunca cometeria adultério, saiba que não é por você, é por pura graça de Deus. Então, se Deus te deu essa graça de que você nunca foi tentado e nunca pensou minimamente em cometer adultério, você tem que pôr o joelho no chão, porque Deus foi mais misericordioso com você do que com seu marido. Vocês já pararam para pensar que grande misericórdia de Deus para conosco é o fato, por exemplo, da gente ter fé?
Quanta gente tem no mundo, pessoas capacitadas, cheias de talentos etc. , e não tem fé; os caras não conseguem crer, não conseguem ter fé. Mas não é a misericórdia de Deus que nós tenhamos fé?
Deus não exerceu para conosco a misericórdia enorme? Então, se você nunca matou ninguém, se você nunca roubou ninguém, se você nunca cometeu adultério, meu irmão, então Deus é muito bondoso com você. Se humilhe diante da poderosa mão de Deus e diga: "Meu Deus, a vossa graça me preservou do pecado.
" Eu olho para o pecador que cometeu adultério, que cometeu roubo, que cometeu os delitos mais tremendos e digo: "Se ele tivesse recebido a graça que eu recebi, seria um grande santo. " Veja o que eu tô tentando ensinar para você: que o primeiro passo para você perdoar os inimigos é você ser humilde, parar de olhar para os outros de cima para baixo e entender que existe uma miséria comum. Eu, Padre Paulo Ricardo, com a graça de Deus nunca cometi adultério na minha vida.
Agora, nunca tendo cometido esse pecado, eu olho para os adúlteros que atendo no confessionário e digo: "Senhor, vós sois tão bondoso comigo; a misericórdia de Deus comigo foi, digamos assim, maior do que aquele pobre pecador, porque Deus perdoou o pecador, depois de ter pecado adúltero, depois de ter pecado a mim, Ele perdoou impedindo que eu caísse. " A misericórdia é maior; quer dizer que eu sou. .
. Se a misericórdia é maior, a minha miséria é maior. De alguma forma, eu fui sustentado por uma graça de Deus de tal forma que, aos pés da cruz de Cristo, nós temos lá Nossa Senhora e Maria Madalena.
É muito fácil a gente enxergar como Deus foi misericordioso com Maria Madalena, porque ela é uma prostituta e, dela, Jesus expulsou sete demônios. Mas a gente tem dificuldade de enxergar como Jesus foi misericordioso com Nossa Senhora, porque a preservou de toda mancha e toda culpa. E Deus foi infinitamente misericordioso com a Virgem Maria.
Então, é por isso que a Virgem Maria é humilde; ela diz: "O Senhor olhou para a humildade de sua serva; o Senhor fez em mim maravilhas. " A humildade dela, a humildade de Maria, de admitir que santo é o nome de Deus. Deus fez maravilhas com ela porque ela é um nada e Deus fez maravilhas nela.
A primeira atitude para perdoar o inimigo é nós começarmos a olhar para as pessoas como nossos companheiros de naufrágio. Nós somos náufragos do pecado original e nós temos as nossas misérias, nós temos nossos pecados. E se não estamos cometendo os pecados graves que os nossos inimigos cometem contra nós, é uma misericórdia de Deus imensa.
Se você exercitar isso do Espírito Santo, isso que para nós, iniciantes, é um exercício, para os santos mais adiantados é uma coisa, digamos assim, mais bonita que floresce quando aparece o dom do conselho. É o dom do conselho que entra aqui nessa capacidade inicial de amar o inimigo. Veja, amar o inimigo é caridade; tá, eu sei disso.
Mas vejam, a primeira coisa: o dom do conselho é o dom do Espírito Santo que ilumina as coisas. Eu enxergo essa miséria comum, eu saio da soberba e começo a enxergar, eu paro de condenar. É por isso que a tradição da Igreja liga o dom do conselho com a bem-aventurança da misericórdia.
Então, vem o Espírito Santo e nos dá um coração misericordioso. O coração misericordioso é o coração, para nós, humanos, é o coração que vê em primeiríssimo lugar a comum miséria nossa e o amor misericordioso de Deus manifestado e derramado em todos os irmãos. Agora, vamos fazer um exercício bem prático, que é o que eu aconselho.
Para as pessoas no confessionário, quando elas estão com dificuldade de amar um inimigo: Ok, vamos supor que você está magoado com a pessoa. A pessoa te traiu, passou por sua perna e ofendeu você de uma forma tremenda. Você está com muita dificuldade de perdoar, você é tentado toda hora a desejar o mal para aquela pessoa e a não perdoar, a não amar.
Muito bem, vamos fazer um exercício prático: coloque-se diante do Trono de Jesus. Jesus veio para julgar, ok? Só que Jesus só vai usar, nesse julgamento, uma única medida: você e a fila dos outros pecadores.
Você é o primeiro da fila e, o segundo da fila, essa pessoa que você está com dificuldade de perdoar. O que Jesus fizer com você, vai fazer com ele. Você vai pedir misericórdia ou você vai pedir justiça?
Ou seja, Jesus veio para julgar, ele é o justo Juiz. E você está na fila; você é o primeiro da fila. Vai pedir misericórdia ou vai pedir justiça?
Eu nunca encontrei alguém que disse que ia pedir justiça para se lascar, só para poder também lascar o outro que vem logo em seguida. Todo mundo pede misericórdia: "Com a mesma medida com que medirdes sereis [Música] medidos". Então vejam que, na dificuldade que nós temos de amar o inimigo, existe uma realidade de fundo em que nós não nos reconhecemos unidos ao inimigo.
Nós nos achamos melhores do que ele; nós somamos um patamar acima. Ele está no patamar abaixo, nós somos maravilhosos, ele é pecador. Deus vai me levar pro céu; ele merece o inferno.
É uma presunção orgulhosa. Um exercício que nós podemos e devemos fazer, para quem está com dificuldade de perdoar os inimigos, é o seguinte: em primeiro lugar, rezar por essa pessoa. Nós precisamos rezar pelas pessoas que nós temos dificuldade de perdoar, temos dificuldade de amar, temos dificuldade de colocar debaixo da misericórdia de Deus e compreender que estamos no mesmo barco.
Se você quer que essa pessoa afunde, você vai afundar junto. Então reze por ela e faça assim: diga, "Jesus, eu quero receber em dobro tudo que eu desejo para essa pessoa". Deseje para essa pessoa o que você quer; você quer o céu?
Ou então faça o contrário. Seja mais caridoso ainda, seja mais generoso: deseje em dobro para a pessoa aquilo que você deseja para você. Você quer glória no céu?
Deseje o dobro para ela. Você quer o perdão de Deus? Deseje o dobro para ela.
Você quer conversão? Deseje o dobro para ela. Porque nós, quando somos chamados a amar os inimigos, não somos chamados a amar o inimigo enquanto inimigo, ou seja, nos seus pecados.
Nós somos chamados a amar os inimigos enquanto pessoas. O pecado, é claro, que a gente não vai amar. Amar o assassino não é amar o assassinato; amar o ladrão não é amar o roubo; amar o adúltero não é amar o adultério.
Nós amamos o adúltero quando desejamos a sua conversão e a sua salvação. Nós amamos o ladrão quando desejamos a sua conversão, que ele saia dessa realidade de ser ladrão, de roubar, e assim por diante. Então, amar as pessoas, amá-las diretamente, amá-las objetivamente.
E aqui vem o ponto final que eu gostaria de partilhar com vocês nessa reflexão: porque nós fomos amados por [Música] Jesus. Então, terminamos do jeito que nós começamos, ou seja, Jesus nos amou quando éramos inimigos. Quando nós éramos inimigos, Ele nos amou e se entregou por nós e morreu por nós.
Então, o amor de Cristo nos impele; o amor de Cristo nos impele a amarmos os outros, porque é a única forma que nós temos, de fato, de retribuir. A gente começa num esforço pessoal e vai pedindo a graça do Espírito Santo, porque é claro que esta capacidade de amar os inimigos é uma realidade infusa, derramada em nosso coração, que é a caridade. Então, a gente precisa da caridade para conseguirmos amar os inimigos, mas você começa primeiro pedindo.
Você começa se exercitando, se esforçando. Todas essas pequenas dicas que eu dei são muito importantes, mas, sobretudo, a motivação: você precisa amar o inimigo porque Jesus amou você quando você era inimigo. E a forma que você tem de amar Jesus de volta: "Jesus, eu quero!
Então, me dá o Espírito Santo, Senhor, para que eu possa amar o meu inimigo e assim retribuir o infinito amor com que me amastes. Vós sois capaz, poderoso, bondoso; vós podeis derramar nesse meu coração de pedra o Espírito Santo, para que eu receba o dom e a graça de amar e amar generosamente a todos, mas também os meus inimigos, já que vós me amastes, Senhor, quando eu era vosso inimigo". Deus abençoe você.
Reze pelas pessoas com as quais você está tendo dificuldade, está magoado, está guardando raiva, que de alguma forma se comportam como seu inimigo ou adversário. Por amor a Jesus, dê o passo interiormente no seu coração e ame Jesus concretamente na outra pessoa. Deus abençoe você.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.