[Música] Bom, o termo dízimo, seja no singular ou no plural, você vai encontrar 39 vezes na Bíblia. Obviamente a maioria delas no Antigo Testamento. Eh, e há muita controvérsia com respeito, talvez não controvérsia, mas há muitas maneiras de se interpretar esse assunto.
Vamos falar talvez das duas principais. Eu acredito que seja um problema grande na cabeça das pessoas que pensam assim: "Pô, eu vou numa igreja, mas o cara vai mandar o dízimo, mano. E aquele que diz, mas tá na Bíblia, tem que fazer".
A Bíblia nos conta que Abraão, quando voltou de uma guerra, entregou o dízimo ah do que havia conquistado, né? De Quedor Laomer, eh, para Melquizedec. Naquela época não tinha lei, não tinha nada dizendo que era obrigado a entregar, não tinha igreja.
Ele encontrou um sacerdote do Deus Altíssimo e deu a décima parte do que ele havia conquistado. Depois, Jacó, um pouco mais à frente, o seu neto, eh, acabou fazendo um voto com Deus quando ele fugia do seu irmão, né, Isaú, e disse: "Olha, tá aqui essa coluna que eu erigi e eu digo pro Senhor que o Senhor vai me abençoar e tudo que eu tiver, sempre que eu ganhar, eu vou te dar o dízimo. " Depois veio Moisés.
E quando veio Moisés, o dízimo foi institucionalizado pela lei, talvez até pela própria tradição do povo como um todo ou dos povos daquela época que ofereciam as suas divindades, as suas oferendas. Obviamente que o povo escolhido por Deus tinha um outro pressuposto, mas virou lei. Virou lei.
E você pega na Bíblia, o livro de Levítico, tem lei de oferta para tudo. Sacrifício por para o perdão, de pecado voluntário, de pecado involuntário. Eh, se a oferta era líquida, se era de cereais e como o povo deveria entregar, onde ele deveria entregar, quando deveria entregar.
Já no livro de Malaquias, você vai encontrar o profeta repreendendo no primeiro capítulo os sacerdotes que cuidavam mal daquilo que era entregue e tomavam para si, tipo os filhos de Eli, Rofnifineias, que roubavam do dízimo. Você acredita que tinha gente que fazia isso? Misericórdia.
E também pro povo que não entregava. O dízimo era a manutenção da tribo levítica, o dízimo era a manutenção do ofício sacerdotal e de tudo que o templo representava. já que o templo era o centro da vida do povo.
Ali estava a arca que representava o próprio Deus. Deus estava ali. Quando veio Jesus, ele trouxe uma outra interpretação.
Ele completou a interpretação da lei muito além dos escribas e dos fariseus. E ele disse pros fariseus: "Olha, vocês entregam o dízimo doendro, do cominho, da hortelã, mas vocês ferem outros princípios primordiais da lei. Vocês deveriam cumprir isso aqui sem deixar de entregar".
E aí vem as interpretações, a primeira delas de quem diz assim: "Tá vendo? É isso aí. O dízimo existia antes da lei, porque Abraão entregou, Jacó se comprometeu, depois ele virou lei e se você entrega, você é abençoado.
E se você não entrega, você é amaldiçoado. Tá lá, o devorador te devora. E depois veio Jesus e disse que a gente deveria dar.
Então nós damos o dízimo, sim, dos 10%, como está escrito na Bíblia. É uma interpretação, sabe? Nossas diferenças são hermenêuticas.
A Bíblia é a mesma. É o óculos que a gente usa para ler. As lentes que fazem com que chegue ao nosso cérebro a imagem é que pode distorcê-la ou não.
São diferenças hermenêuticas a maneira como nós enxergamos as coisas, o ângulo pelo qual nós olhamos. Há uma outra interpretação que pode dizer assim: "É uma crítica literária". Bom, Moisés escreveu Pentateuco e disse que o que Abraão entregou foi o dízimo, mas quando ele entregou, talvez a gente não sabe se tinha esse nome.
Alguém pode dizer que era a mesma tradição oral, mas uma crítica mais ferrenha ao texto pode dizer que quem deu esse nome foi Moisés, que tinha a cabeça da lei quando escreveu sobre Abraão. Alguém pode interpretar também dizendo: "Olha, Jesus não disse que o dízimo era obrigatório. Ele apenas disse aos fariseus que eles deveriam continuar entregando, mas não deveriam deixar de ter amor e praticar o restante da lei.
Afinal de contas, Jesus nunca trouxe obrigação. Ele trouxe um novo sentido da lei. Ele trouxe um complemento do significado da lei.
Não dá para encaixar a Jesus dizendo que você era obrigado a fazer aquilo. Ele não disse isso para nenhuma das outras coisas da lei. É interessante também perceber uma interpretação que diz: "Olha, mas Jesus, ele estava no meio, na transição da lei paraa graça.
A sua morte e sua ressurreição, a vinda do Espírito Santo, disparou a época da graça, mas naquele momento ele tava bem no meio. Ele mesmo ia ao templo nas orações diárias, ele mesmo cumpria a lei, mas ele era o próprio verbo e a própria lei encarnada. " Gente, tem muitas maneiras de você olhar eh esse mesmo assunto.
Eu costumo olhar da seguinte forma. E não vou dizer que eu sou único, não vou dizer que eu estou correto, estou dizendo que é do jeito que eu faço. Abraão entregou não por lei, entregou porque achou que ele deveria consagrar em gratidão a Deus algo que Deus havia lhe dado.
Muito legal. A lei trouxe como uma regra, como obrigação. E num tempo onde o espírito não habitava nas pessoas, era muito interessante ver uma lei externa para tentar eh conduzir e balizar um sentimento interno.
Mas isso não significa que o homem deveria entregar só por obrigação, mesmo tendo a lei. Você conhece o texto aonde um fariseu e um publicano estão orando no templo? E o fariseu diz: "Eu dou o dízimo de tudo que eu tenho, respeito as tuas leis e não sou como esse publicano.
" E Deus deveria falar para ele, é verdade, você dá o dízimo, você tá abençoado. E o publicano bateu no peito e disse: "Senhor, eu sou um pecador, me perdoa. " E Jesus disse que quem saiu justificado foi o publicano e não o fariseu, que dava o [Música] dízimo.
Jesus quando disse isso sobre o fariseu, ele não tava dizendo que ele era obrigado a entregar. E Jesus nunca colocou a obrigação em detrimento do sentimento. É muito importante perceber o Novo Testamento, Paulo, dizendo que Deus ama aquele que dá com alegria.
Porque não damos por constrangimento ou por nenhum outro motivo, não por obrigação e nem porque queremos alguma coisa? Eu sou mais tendencioso a não usar a lei. Eu acredito que Jesus disse sim que era importante e que nós deveríamos contribuir.
O nome para mim não importa, mas eu entendo que o pressuposto na cabeça das pessoas, quando você diz a palavra dízimo, ele já tem uma carga de peso véotestamentário que o nosso evangelicalismo de hoje torna tão forte. Eu tenho como opção não usar essa palavra. Não, eu não prego o dízimo.
Zé, mas e a alíquota 10%? Dízimo significa 10%. Se você não usa essa palavra, o que que você usa então?
Bom, eu digo para as pessoas darem as suas contribuições ou fazerem suas ofertas voluntárias. E Paulo disse: "Eu estou crucificado com Cristo e vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim". Eh, o escritor de Hebreus também diz que a gente deve entregar o nosso corpo como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, muito mais do que a décima parte, parece que é a vida inteira.
Ah, então você tá querendo dizer que as pessoas têm que entregar tudo? Não, não, não tô dizendo isso. Tô dizendo que a nossa vida pertence a Deus.
E quando a tua vida pertence a algo, parece que você não faz contas. O seu amor na lei da liberdade te leva a ter um compromisso de vida. É claro que você tem o seu orçamento e você deve ter uma prática de destinar um valor para isso.
E você pode me dizer: "Eu faço 10%. Eu vou te dizer: faça. Cuidado para você não fazer disso uma regrinha e achar que é por isso que você é abençoado.
Não é. Todo sacrifício no Antigo Testamento pré-figura o sacrifício de Cristo. Eu não sou mais abençoado pelo dinheiro que eu entrego, mas pelo que ele fez na cruz por mim.
Aliás, eu não entrego para que ele me faça algo. Eu entrego em amor e gratidão pelo que ele já fez por mim. Não, eu não entrego por aquilo que ele pode fazer, irmãos, por aquilo que ele fez.
Eu não dou para que Deus se aproxime e me contemple. Ele já se aproximou de mim na cruz. Se tornou homem como eu para viver a minha vida.
O que eu faço, eu faço por gratidão. Duas pessoas sentadas na igreja entregam o mesmo valor e podem ter pressupostos completamente diferentes. Uma entrega para ser abençoada e para ter mais dinheiro e a outra porque quer repartir o seu dinheiro.
Alguém é generoso e quer ser solidário e o outro é ganancioso e quer acumular. Ah, os dois são iguais, sentam na mesma igreja, levantam a mesma mão, fazem a mesma oração e entregam o mesmo valor. Mas eu digo a você que não é isso que torna uma pessoa mais abençoada.
Deus não leu o seu bolso. Não. Deus não é o leão do imposto de renda que quer olhar os 27,5% ou os 11, seja lá quanto for, para saber se ele libera a bênção do céu ou não.
Não faça para ser abençoado, para que a tua fé não seja uma ganância travestida de espiritualidade. E já vi muita gente dizendo assim: "Mas é importante ter um valor para se contribuir? " Porque afinal de contas, falando da maneira honesta e clara, a gente tem uma grande estrutura.
A gente tem que pagar contas, temos funcionários. De repente a gente saber o quanto a gente arrecada. É importante para essa administração.
E eu vou te dizer, verdade, concordo com você. Mas mesmo assim, posição minha própria, eu preferi não adotar a alíquota. Eu acho que Deus quer o nosso coração por inteiro.
Eu interpreto da maneira que depois de Cristo, ele quer a nossa vida e o nosso coração. Pode ser que tenha dia que eu entregue tudo. Pode ser que tenha dia que não seja só o meu dinheiro.
Eu dei a minha roupa, eu entregue sapatos, eu ajude pessoas. Eu trago cestas básicas, eu venho atender pessoas com a minha profissão, porque um médico e um dentista vão atender a comunidade. Isso também é a sua oferta.
Não se esqueça que no Antigo Testamento alimentavam viúvas, estrangeiros com os dízimos também. É interessante perceber como nós institucionalizamos para projetos pessoais e locais e demos a conotação à palavra dízimo, uma abrangência muito maior nessa nossa pós-modernidade maluca de interpretação das coisas. Então, se você me perguntar, mas para encerrar, você acha que as pessoas devem entregar na igreja para que ela possa se manter?
Sim. E você não acha que deveria ter um padrão para que a gente pudesse ter um orçamento? Sim.
Sim. Mas você não faz isso, Zé. Não, não, eu não faço isso.
Mas o nome dízimo, Zé, já tá consolidado. As pessoas sabem o que é. Você não usa esse nome?
É, eu não uso esse nome não. Não uso. Então, todo domingo você vai explicar que é voluntário, que é por amor.
É, dá mais trabalho. Eu tenho que todo domingo explicar isso. E sempre você vai ter que ficar falando do amor, da voluntariedade.
As pessoas não vão fazer porque elas têm essa obrigação, vão fazer porque elas têm a liberdade. É, é isso que, é isso mesmo que eu faço. E você não tem medo, Zé, de que a igreja fique sem?
E ela não fica sem às vezes? É, fica. Tem meses que a gente passa bem no gargalo mesmo.
Então você acabou escolhendo um caminho bem difícil. Sim. Mas sabe o que eu acho?
Que se eu tiver que colocar uma obrigação para um filho amar o seu próprio pai, é melhor não ter relação. Se eu tiver que colocar um decreto para que as pessoas entreguem, eu prefiro que elas não venham. Se elas tiverem que entregar porque têm medo de serem devoradas, eu prefiro que elas não entreguem.
E se elas vão entregar porque elas têm a ganância de ter alguma coisa a mais, eu acho que Deus também não quer. E vou te dizer que se eu tiver que baixar uma regra para que as pessoas participem da igreja, é melhor a gente fechar a igreja e fazer outra coisa. Mas eu tô tentando levar um povo a acreditar que se a gente ama de verdade e de verdade somos rendidos a Deus pelo que ele fez por nós, a gente tem um compromisso da lei da liberdade do amor dentro de nós que faz a gente colocar a nossa vida à disposição.
E não porque eu tenho uma regra, porque eu acho que o fim da lei é Cristo. Cada um tem uma maneira de interpretar. Eu não sou o mais correto do mundo, só tô dizendo para você o que eu faço.
E esse vetor não tem absolutamente a intenção de resolver o assunto sobre dízimo, mas eu prefiro a lei da liberdade do amor. Faça como você pensar, mas pelo menos é assim que a gente faz.