Descolonizando afetos: outras formas de amar, com Geni Núñez #aovivo

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Café Filosófico CPFL
O Café Filosófico CPFL é um espaço aberto para reflexão. As falas dos convidados e os comentários do...
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ah [Música] por e como construir Esperança Diante dos infortúnios da vida existir esperançar lutar Renascer dentro da própria vida a gente só consegue fazer se a gente escuta todos os pedaços da gente como educar em um mundo de tantas incertezas vamos olhar para cima e vamos tentar criar uma nova cartografia que mude o noss olhar infância e sobre adolescência contemporânea porque quando a gente muda o nosso olhar a gente muda quem nós somos o que as culturas indígenas podem nos ensinar sobre outras formas de entender a vida e os afetos dentro do nosso povo mais
do que ter uma outra fé a gente tem a um outro tempo o que o humor o riso são capazes de produzir em nós encontro conexão ludicidade como criadora de Campos de encontro e de de outras realidades que a gente não tá vendo e a possibilidade de dentro da tristeza nascer uma alegria diálogos pelo futuro tema desta série do Café Filosófico como é construída a nossa percepção sobre o tempo e como essa forma de entender o tempo da vida influencia Nossa forma de viver nossas relações de experimentar o amor o desejo na nossa cultura predomina
uma visão linear do tempo presente passado e futuro regem a compreensão da vida e das relações a cosmogonia do Povo Guarani mostra que é possível viver seguindo uma outra percepção de tempo e a partir desses outros olhares podemos vislumbrar outros caminhos de afeto para além daqueles que insistimos em percorrer bo noite minú eu queria iniciar com uma fala de um paig do Povo kaigang uma fala recolhida pela parenta Lúcia kaigang e a fala é assim o mundo dos brancos é quadrado eles moram em casas que parecem caixas trabalham dentro de outras caixas e para irem
de uma caixa a outra entram em caixas que andam eles VM tudo separado porque são o povo da das Caixas um ponto do meu trabalho que eu queria iniciar que é a ideia de descolonização o Fran fanon Que que foi um intelectual revolucionário martinicano ele dizia que a descolonização produz um estado de desordem de caos de bagunça de certa forma isso porque a colonização é a ordem então de certa forma a nossa expectativa é mesmo de que as nossas epistemologias as nossas cosmogonias possam causar uma desordem naquilo que tá ordenado como a norma né eh
e aí eu queria trazer também um um debate sobre a noção de monocultura que no meu trabalho tem sido bem importante e uma autora que é um grande nome nesse debate é a vandana chifa que recentemente lançou um livro aqui no Brasil que eu tive a honra de escrever a quarta capa e e ela comenta que em muitos lugares do planeta essas empresas do agronegócio e afins tem tentado impor uma um slogam que é o seguinte uma agricultura só para o mundo inteiro isso é monocultura é essa tentativa de colocar um único caminho uma única
verdade uma única vida que é essa ideia então de que só há um jeito de estar tá no mundo só um jeito de cultivar o território e a si mesmo só um jeito de amar então dentro desse livro Ela comenta de um momento em que ela encontrou e provou um arroz azul eu achei tão bonito né porque a colonização também afeta o nosso Imaginário quantos de nós aqui imaginávamos um arroz azul né então há um campo dessa monocultura que vai além da imposição do um na SOJA no milho e vai na na numa mesma imposição
de pensamento também de jeito de estar no mundo né quando eu entro nesse debate eu acho importante citar isso né E que o meu nome verdadeiro como a gente diz no nosso povo é jaret e eu digo isso porque ter o direito ao nosso nome nosso nome originário é algo que faz parte do que nós chamamos de um des batismo Guarani ou contra batismo Guarani e alguns de vocês já sabem mas a minha família como muitas outras famílias indígenas e não indígenas desse território sofreu a catequização e Evangelização E além disso eu fui professora de
estudos bíblicos nessa igreja então o que eu vou trazer para vocês também de debate teológico aqui vem desse lugar só que talvez não do jeito que imaginava e o que eu queria trazer também disso tem um trecho no livro de Mateus em que os apóstolos perguntam a Jesus tá no capítulo 14 eh como que eles vão saber quando que Jesus Irá retornar e aí ele responde quando todos os povos do mundo todo estiverem convertidos repito Esse é o sonho da monocultura o domínio absoluto a hegemonia absoluta do seu pensamento e eu tenho muito orgulho de
fazer parte de um povo que mesmo depois de 500 anos de colonização segue contra Colonial segue contra colonização e segue parte desse des batismo e dentro desse processo eu tenho chamado essa discussão de sistemas de monoculturas Então embora cada monocultura tenha a sua singularidade a algo em comum entre elas que é um dos pontos a impossibilidade de concomitância é por isso que ela é oposta da floresta que é caracterizada pela diversidade né então a monocultura ela não dá conta de aceitar que existam por exemplo múltiplos Deuses múltiplas espiritualidades se diz então que há um só
Deus verdadeiro na monogamia há também esse movimento e aí eu queria partilhar com vocês que uma das minhas bases das minhas fontes de pesquisa são as cartas jesuíticas há uma há uma análise que há muito tempo vem sendo feita por várias áreas por muitos pesquisadores e vários deles nos seus trabalhos diziam o seguinte Os Missionários esses têm praças T estátuas T nome de cidade né os estados TM nomes de Santo São Paulo Santa Catarina Espírito Santo mas os desobedientes Guarani serão esquecidos na história e de certa forma vocês estarem aqui comigo hoje desmente um pouco
isso nessas cartas jesuíticas eu encontro a primeira conexão histórica entre a imposição da catequização e a imposição da monogamia uma das autoras que me auxiliou a pensar isso foi a historiadora Vânia Moreira que ela diz que sem o batismo não seria possível todo o processo de catequização e Evangelização só que o batismo não aconte sem a monogamia E aí eu fiquei curiosa para entender porque que a monogamia tinha um papel tão central nesse projeto civilizatório Cristão e aí o que eu fui percebendo é que e vocês podem olhar depois né de que na Bíblia há
vários trechos em que esse Deus é ele é narrado né Ele é dito como um Deus que tem ciúme e ele tem ciúme quando o seu povo o trai então Então a gente vai ver até nos carros né Deus é fiel tem toda a imagem e é uma fidelidade portanto que se paa na não concomitância Como você prova que é fiel a Deus não adorando outros Deuses Então a primeira noção de adultério que eu encontrei na minha pesquisa foi de um Adultério espiritual aquele povo Que adorava outros Deuses era um povo adúltero e é a
partir do racismo religioso que a monogamia eh aparece no nosso território mas para além disso a palavra monogamia no sua etimologia né o mono tem a referência do um e o gamia a união o casamento Só que essa palavra ela tem se transformado historicamente né num sentido mais raiz monogâmica seria a pessoa que teria mono um casamento ao longo de toda a vida a gente sabe sabe que hoje em dia especialmente nas grandes cidades a maioria das pessoas adultas já tiveram mais de um vínculo afetivo sexual mas de um relacionamento amoroso nesses termos né então
já não seria mais mono ainda que se afirmem dessa forma o que permanece Então dessa transformação da ideia de monogamia historicamente a não concomitância até Conseguiu quebrar um pouquinho a ideia de não ser só uma pessoa a vida toda Só que não ao mesmo tempo e é sobre o tempo que eu vou falar então porque ele é me parece o grande nó de todo esse de todo esse debate um outro ponto que eu queria trazer disso é de que esse sistema de monocultura ele também tem um impacto na sexualidade como um todo então se tem
essa ideia eu vou falar um pouco de Platão que o dizia que era o maior Cristão que já existiu eh justamente né porque essa ideia de mentalidade que o amor romântico num num campo mais contemporâneo traz é uma ideia que é muito referenciada por esse amor platônico no livro Banquete Platão através do personagem aristófanes narra o mito do nascimento do Amor no início da humanidade os corpos eram fisicamente Unidos e Havia três sexos mas esses seres tinham tanto poder e vigor que desafiavam a supremacia dos Deus então Zeus os puniu dividindo-os para sempre alguns eram
totalmente mulher outros totalmente homem e alguns metade mulher e metade homem e então de há tanto tempo que o amor de um pelo outro está implantado nos homens restaurador da nossa antiga natureza em sua tentativa de fazer um só de dois e de curar a natureza humana procura cada um o o seu próprio complemento essa ideia de que No princípio Deus criou o homem pra mulher é uma mitologia heterossexual mas é também uma mitologia monogâmica porque não não criou como alguns dos setores mais conservadores dizem o famoso Ivo vocês já ouviram falar do Ivo eh
então que se Deus fosse a favor né da de outras expressões de sexualidade teria criado Adão Eva e Ivo então há um mito fundante dentro dessa cultura hegemônica de que no começo a heterossexualidade e a monogamia deram origem ao mundo não à toa quando o debate de não monogamia chega hoje ele é narrado como algo recente como algo da moda muitos dos trabalhos que eu pesquiso tem a palavra novo e nova no título inclusive isso para mim é uma violência também epistêmica e política contra nossos povos é algo que eu tenho chamado de Caravela epistêmica
que é esse movimento de se dizer que descobriu algo que já existia inclusive esse território então toda essa imposição de monoculturas Embora ela seja de fato uma imposição ela não se apresenta dessa forma eu acredito que não seria tão sedutor né se viesse Ó você é obrigado a seguir esse caminho então de que modo que vem muito mediado pela ideia de livre arbítrio Você tem o direito de escolher você é livre para escolher e eu acho muito curioso que essa noção de livre arbítrio ela diz né que as pessoas seriam livres para escolher essa monocultura
da Fé Mas aquelas que escolhem não ir por esse caminho são condenados ao inferno então é um livre arbítrio talvez não tão livre assim né da mesma forma com as outras monoculturas você é livre desde que você use a sua liberdade para dizer sim ainda nesse caminho tem dois termos que eu acho interessante de pontuar que é o liberdade e libertinagem não sei se já ouvira né então elas trazem uma facee eh de contraste para isso tudo então a pessoa livre a pessoa que quess a liberdade ela seria obediente já o libertino esse usa a
liberdade de um modo ruim né então pensar um pouco o quanto que em torno da sexualidade se criou uma grande obsessão um desses missionários em 1500 e que Segue até hoje né Eh o outro ponto que eu queria trazer dessa dessa questão é que quando a gente fala de descolonização muitas vezes vem esse imaginário de associar a algo ruim algo do mal né a uma violência explícita mas talvez seja sobretudo Em Nome do Amor que ela se Organize em nome da Salvação em nome do bem em nome do Progresso em nome do da família em
nome do respeito e então quando os missionários vieram para cá eles vieram para nos salvar nossos ancestrais e a gente diz de quê se esse pecado é inventado justamente para inventar também a culpa então nessas cartas até tem um trecho Que Me tocou muito que o Missionário dizia esses Guarani acreditam que em nada pecam e que portanto lhes é desnecessária a confissão isso é muito importante nesse caminho porque é a partir do momento que a gente internaliza essa moral que a gente começa a pedir perdão a pedir desculpa e a pedir autorização Outro ponto que
eu que eu queria trazer dessa questão é que na monocultura não há muita segurança embora seja exatamente isso que ela Prometa Por que que não há segurança porque o único lugar tranquilo e estável paraa monocultura é o domínio absoluto então Enquanto houver alguém que desobedeça dessa lógica haverá desconforto a gente pode olhar por exemplo para um homofóbico que a Sexualidade dele se positiva da negação das demais então a existência de outras possibilidades é para ele uma forma de ataque e por se sentir Atacado E aí sim ele nos ataca de maneira concreta não só imaginária
né então a monocultura ela cria esse esse campo de atuação em que a beleza do mundo o encanto do mundo e a diversidade se tornam nossos inimigos a monocultura ela se define contra nós de maneira que se posicionar de de forma contra Colonial é uma maneira da gente continuar existindo não é no sentido da gente Ter iniciado Essa guerra é no sentido da gente se defender da continuidade do estío que a monocultura traz pros nossos povos no próximo bloco nós Guarani não temos um tempo fixo de se [Música] relacionar uma única forma de enxergar a
vida o amor a relação com a natureza de entender Deus e praticar a fé a colonização dos povos na América e no mundo visava a construção de uma monocultura em todos os campos da vida toda diferença e pluralidade ser extintas nós concedemos livre e ampla licença ao Rei Afonso para invadir perseguir capturar e derrotar todos aqueles que são pagãos Inimigos de Cristo e reduzi-los à escravidão Perpétua vejam que a invasão do nosso território se fundamenta nessa monocultura da fé que diz então que aquele lugar onde há Inimigos de Cristo é um lugar onde não há
almas é o lugar onde há animais onde há bestas onde há selvagens então eu trago isso tudo porque a não monogamia ela foi vista e até hoje segue sendo como algo de povos primitivos de povos selvagens enquanto que a monogamia seria pertinente a sociedades civilizadas e evoluídas Então nesse projeto civilizatório para que nós nos tornássemos humanos era necessário que nós nos tornássemos cristãos E aí até queria trazer um trecho para vocês né Eh do quanto que a palavra humano e animal é preciso que a gente tenha uma certa desconfiança com elas porque elas não descrevem
simplesmente a realidade elas inventam de maneira política esses regimes né então tem uma carta do missionário Luis Gonzaga jeger de 1940 que ele dizia que os missionários da companhia encaminhavam esses enjeitados daza para fazer destes animais verdadeiros homens para fazer destes bárbaros cristãos e é por isso que me dizem que nós povos indígenas também somos humanos eu digo assim eu fique até querendo me ofender porque a gente sabe que o clube da humanidade como diz noss nosso mesten é um CL Vip que cabe muito pouca gente e aí éo curioso importa o quanto de violência
o humano Cometa isso é nomeado como como diz humano eu acho ótimo né porque é uma comprovação inversa dessa violência né então a gente vai ver que os nossos ancestrais não eram considerados como humanos mas hoje a gente diz isso é um elogio da mesma maneira que ser comparado aos demais bichos é visto nessa lógica Colonial como uma ofensa para se xingar alguém se diz né se aciona aquilo que o Fran espon chama de um vocabulário zoológico do racismo Então se aciona todo o imaginário de outros bichos para dizer você não é tão humano assim
você se aproxima dos demais bichos e a gente diz a gente sabe que é é dito de forma violenta mas para nós é uma honra porque os demais seres são nossos parentes e assim que nós nos relacionamos com eles e eu digo isso porque nessas cartas Os Missionários tentavam enar aquilo que eles chamavam de pessoa oficial dessas relações para tentar impor o casamento por meio disso e uma das maneiras deles tentarem fazer isso foi encontrar um termo né que tem essa proximidade de tradução com companheiro companheira né E eles ficaram muito frustrados Quando viram que
o termo em Guarani remir remire era utilizado também pro Rio pro vento pra chuva então quando a gente fala sobre as redes de afeto e de vínculo é de tirar o humano do centro não de ter dois ou três no lugar muitas pessoas pensam que monogamia é sobre quantidade de vínculos né como eu vinha falando mas uma das grandes uns grandes Marcos da minha pesquisa foi quando nossos pajés também falam isso nossos chamor que a gente chama dear quer que dizem que nós Guarani não temos um tempo fixo de se relacionar então essa carta de
1633 do Diogo ferrira ele diz o seguinte os Guarani vivem juntos quanto tempo querem não parece a esses índios em seu natural que conheçam a perpetuidade do matrimônio então a monogamia é muito mais definida por uma certa forma de lidar com o tempo do que pela quantidade de vínculos e é por isso que nosso povo é contra o mar temporal em sua Ampla dimensão o Marco temporal é uma tese jurídica que diz que os povos originários têm direito de ocupar apenas as terras que já ocupavam ou disputavam até 5 de outubro de 1988 data de
promulgação da Constituição Federal em setembro de 2023 Os ministros do Supremo Tribunal Federal consideraram esse entendimento inconstitucional mas no mesmo momento o congresso aprovou o projeto de lei que estabelece o Marco temporal a forma como o texto da Lei entende o direito à posse da terra e sua exploração continua gerando conflito entre os poderes e protestos dos povos indígenas o estado brasileiro desde que o Marchal Rondon criou o serviço de proteção ao Índio ele ficou implicado com essa com essa questão de ter que dar conta do que que o estado a república brasileira faz com
os índios então assim nó somos um problema administrativo pro estado brasileiro a constituição garante que nós indígenas somos partes da sociedade brasileira e que temos direito de usufruto exclusivo das terras tradicionalmente ocupadas e que fazem parte da manutenção do nosso modo de existir do nosso bem viver ou seja sem terra não há vida para os indígenas nós temos feito essa resistência pelo direito ao território não porque o território é Nossa posse mas porque nós somos a terra como diz nosso parente caset upin é uma relação de envolvimento e não de desenvolvimento e eu até achava
muito curioso que os Os Missionários diziam né que as nossas lideranças Guarani vou até ler um trechinho para vocês inu era um PA Soberbo e sensual de duvidosa sinceridade e um feiticeiro eloquente então esses termos de feitiçaria de bruxaria de associação com demônio tudo isso tá num campo da moral também que diz que aquela pessoa que ousa demandar o direito ao próprio corpo é alguém mal é alguém em quem não se pode confiar é alguém com quem não se pode estar junto no mundo né e agora eu queria eh seguir para ilustrar para vocês um
pouquinho do o que que essa discussão tem a ver com o tempo uma das grandes influências do cristianismo é o platonismo e no platonismo há essa divisão de dois mundos um seria perfeito e o outro seria imperfeito dentro dessa teorização o tempo ele aparece tem até uma frase que tá no livro de timeu que é mais ou menos assim do do Platão o tempo é a imitação móvel da eternidade o tempo seria então uma cópia mal feita da eternidade dentro dessa Lógica tudo aquilo que é perfeito é fixo eterno e imutável se vocês olharem esses
três critérios de fixidez de imutabilidade e de permanência desclassificam a vida porque ela é justamente o oposto disso então dentro do nosso povo mais do que ter uma outra fé a gente tem a um outro tempo como psicóloga algo que eu percebo é que as grandes psicopatologias desse tempo como a depressão e a ansiedade são muito informadas por um certo tempo há nesses dois adoecimentos uma relação entorpecida ou atrasada ou adiantada com o tempo em que aquilo que não aconteceu se torna às vezes maior e mais mais pesado do que aquilo que de fato eh
tá tá posto a alegria é uma grande inimiga desse processo colonial e eu digo isso porque você já devem ter ouvido aquela expressão né foi dessa para uma melhor o tempo Colonial é um tempo é um tempo progressivo um tempo linear então é como se essa vida que é inferior Fosse Só Um Degrau pra vida que realmente importa que é a vida futura nesse sentido tudo aquilo relacionado ao corpo a Sexualidade se torna o inimigo dessa dessa Redenção dessa evolução né por isso que nossos povos também são povos que lidam com o trabalho de uma
outra forma nossos povos têm sido chamados né de preguiçosos por esses discursos racistas porque a gente não é acostumada a vender o tempo ainda mais ter o tempo roubado como é por exemplo a violência brutal da escravização em que aí sim um preguiçoso se apropria do trabalho alheio né então tem essa ideia de que você precisa prometer um tempo que você ainda não viveu porque a passagem do tempo é perigosa eu acho até curioso que o ritual de casamento monogâmico convida as testemunhas que paraa Olha tá todo mundo vendo aqui você prometeu né então tem
toda uma um um um contexto né que associa a mudança ao engano à traição e à mentira se você disse que era algo e mudou de ideia se Você desejou e esse desejo mudou se você pensou que ia fazer algo e fez outra forma você é alguém que se aproxima do tempo e não da eternidade é alguém que se aproxima da terra e não do céu dentro do nosso do nosso povo a gente entende que o tempo ele circula ele se movimenta para além dessa linearidade E aí eu queria dizer para vocês né um um
um poema que escrevi esses tempos sobre essas questões é assim um perfume é menos cheiroso porque seu aroma não dura eternamente uma música é menos bonita porque dura apenas alguns minutos o sabor de um alimento é menos gostoso porque a acaba o pôr do sol é menos deslumbrante porque dá lugar à noite um amor não valeu a pena porque se transformou o critério de eternidade desclassifica a vida ao mesmo tempo que a finitude nos desafia ela também que nos presenta e nos apresenta o Eterno Retorno que nos permite sentir novamente o perfume das Flores ouvir
mais uma vez a mesma música outras versões do mesmo som entar outros cantos talvez todo o amor seja mesmo a segunda terceira quarta Vista tem sempre um outro que o antecedeu Há sempre um cheiro um gosto um sabor e um encanto antes e depois parar de brigar com o tempo é tentar deixar de vingar-se de si e de ressentir-se com o que foi que a Raiva o medo a frustração não se tornem bombas autodestrutivas mas que sejam transmutadas em palavra escuta pintura dança lágrima abra essa questão da da eternidade traz um outro elemento que é
uma dificuldade que a gente tem de lidar com a sazonalidade eu tenho utilizado essa palavra para dizer que talvez a gente não seja assim tão distante das demais dos demais seres quanto a gente pensa E aí eu até brinco que uma folha que um dia foi ver de é marrom não não tem falta de responsabilidade afetiva por isso no próximo bloco a recompensa da monogamia é colocada nesses valores se você abdicar da sua sexualidade você vai ser recompensado com permanência com amor com carinho com cuidado acontece que essa promessa muitas vezes não é [Música] cumprida
mesmo sabendo de Nossa finitude almejamos a imortalidade mesmo conhecendo a possibilidade de transformação do nosso desejo buscamos relacionamentos que nos façam felizes para sempre mudar fluir se transformar estar vivo é experimentar o movimento dos afetos e muitas vezes vivemos isso em conflito com o nosso desejo de permanência de continuidade de eternidade que dores e frustrações causam em nós essa nossa relação paradoxal com o tempo a nossa vontade de eternizar o presente ou controlar o futuro meu amor não é Platônico se o planeta é a grande caverna Então eu celebro as minhas sombras se o Crepúsculo
se mostra para mim dessa maneira não tenho por ter arrogância de achar que ele é imperfeito pois há um Crepúsculo outro que não vejo que seria muito melhor como diz pessoa a beleza bastante em estar aqui e não em outra parte qualquer aquilo que existe aqui e agora é mais bonito Vivo e cheiroso gostoso e vibrante que qualquer coisa que não existe senão por propaganda ou por ameaça não tem ideal de perfeição nem céu nem vida futura que consiga ofuscar a beleza dessa vida de agora e desse amor que nós sentimos a fé naquilo que
não se vê pode até me ameaçar Pode me condenar aos seus infernos pode barg ghar pode fazer o que for e eu continuo acreditando no que é crível não preciso desse incrível ideal distante não quero um amor platônico quero um terreno mesmo um mundano já tá ótimo eu trago esses poemas pessoal porque eu entendo que o jeito de falar também é o conteúdo e dentro do nosso povo tem várias referências ao quanto que a metáfora não é um jeito de dizer as coisas é o jeito de dizer as coisas é a partir da poesia que
a gente consegue lembrar que talvez não sobre nem falte nada aquilo que a gente é e tá no mundo eu lembro que quando era criança tinha muito essas histórias da Tartaruga e do jabuti como seres lentos vocês já devem ter visto né e vejam que se a gente Remove a comparação o jabuti a tartaruga eles não são nem lentos e nem estão atrasados de nada esse é o esse é o ritmo deles Então a partir do momento que a gente descentraliza a referência de outros seres a gente também consegue talvez ter uma relação mais Generosa
comigo em alguns Campos da psicanálise que é um um dos estudos com os quais eu dialogo né ainda parece muito fortemente que essa ideia do desenvolvimento para quem é da área deve saber que há até disciplinas com esse nome né a psicologia do desenvolvimento não à toa essa nomeação faz parte também de uma certa linha de de evolução do humano né então um dos livros de Freud o totem Tabu é um livro em que ilustra algo que em muitas áreas da psicologia para além da psicanálise também para além da Psicologia é algo que se apresenta
dito de modo resumido nesse livro o Freud diz que os povos primitivos os povos indígenas seriam a infância do humano ao passo em que os civilizado seriam a fase adulta a fase madura então nessa linha temporal do humano nós estaríamos Associados à infância e por que que nós seríamos Associados à infância Porque nós não teríamos essa relação de evolução com o tempo né em outros debates o próprio sexo é utilizado como esse marcador evolutivo você já devem ter ouvido a expressão preliminares né é como se fosse então uma etapa daquilo que realmente importa que vai
chegar ao passo em que muitas vezes essas preliminares já são o próprio vínculo já são o próprio contato né então esse movimento de dizer que uma sexualidade que não é genital zada por exemplo é uma sexualidade infantil ou perversa polimorfa há vários termos né que aparecem mostram né Há um debate sobre a bissexualidade também que em alguns casos é vista como uma condição que os humanos todos teriam só que uma condição de passagem para uma escolha vejam então que a tomada de decisão por um binarismo é o que caracteriza a ideia de alguém maduro não
à toa pessoas bissexuais não monossexual escutam muito esse tipo de narrativa você precisa crescer sair do Muro né você tá confuso também na não monogamia há essa ideia de que nos filmes e séries da indústria cultural hegemônica a gente vê muito disso de que que a pessoa é obrigada a escolher é como se a concomitância fosse uma impossibilidade e ela nem passa por um Imaginário dessas Produções né E aí às vezes tem essa esse retorno das pessoas que dizem Ah mas não dá para ter tudo e aí eu digo para você então sexo é tudo
né a a vida toda é resumida nessa questão porque essa obsessão em torno da sexualidade ela volta né para uma uma visão que eu queria partilhar também de uma imagem que é muito presente nesse Campo que é do do caminho estreito e do caminho largo o caminho estreito seria aquele cheio de agruras e dificuldades e renúncias mas ao final dele haveria recompensa que seria a vida eterna portanto a recompensa da monogamia é colocada nesses valores se você abdicar da sua sexualidade você vai ser recompensado com permanência com amor com com carinho com cuidado acontece que
essa promessa muitas vezes não é cumprida ainda que a pessoa siga esse roteiro por outro lado há um ressentimento de certa forma quando muitas dessas pessoas veem outras formas de relação e ficam pensando como assim essa gente Eh vive de um jeito a não abrir mão de algo que eu renunciei a minha vida toda então é como se a gente estivesse eh roubando nesse jogo né E aí a gente PMA que essas relações Podem sim ser espaços de vínculo de cuidado de Amparo de patilha de uma uma forma de seguir in comunidade no mundo né
quando você admira a beleza de alguém é necessariamente porque não acha bela a outra pessoa quando você admira a sabedoria de alguém é necessariamente porque acha pouco inteligente quem ama quando deseja outro alguém é necessariamente porque não deseja quem ama nem todo brilho alheio enforma Nossa opacidade nem todo encanto alheio comprova nosso desencanto nem tudo gira em torno de nós você só ficaria feliz se a chuva regasse apenas você que só você o sol trouxesse luz e calor que o ar só circulasse na sua respiração que queremos quando demandamos exclusividade na alegria e no prazer
que alta autoestima é essa que só encontra paz e serenidade na exclusividade por desejar uma primavera de uma flor só um enxame de uma só abelha a lição dos nossos parentes Rio Terra vento pássaros é de que a saúde está na floresta e não na monocultura [Música] Outro ponto que eu queria trazer e aqui cita o parente Jessen baniwa que ele diz que é muito comum que essa referência do Sobrenatural esteja presente no superhumano né a gente vê isso nos filmes né com super capacidades sempre além do corpo né E aí a gente diz que
em muitos dos nossos povos a ideia de Sobrenatural não existe porque não há nada sobre a natureza algo que Seja superior a ela e aí há esse movimento de dizer o seguinte né Eh então quem criou né esse movimento é uma das das referências a essa a essa monocultura da Fé do Deus Criador né então quando niet fala por exemplo da morte de Deus é no sentido de que talvez apenas mediante a morte desse Deus seja possível a gente criar também se Deus existe e ele é o criador E o restante são só as criaturas
então a gente estaria i predestinado o lugar da arte da invenção ficaria muito prejudicado nisso tudo né Então essa possibilidade de invenção retorna aquilo que se aproxima da Infância e da brincadeira então hoje eu digo né de maneira eh um pouco atrasada ou não né no tempo espiralar pro pro pro Freud que pra gente é uma honra ser comparado com as crianças né a gente sabe que foi dito então então pejorativo mas para gente é uma honra no próximo bloco quão insuportável pode ser para muitas pessoas ouvi o seguinte e se as gente as pessoas
Os seres não tiver nenhuma perspectiva de [Música] melhora do Gênese ao apocalipse do nosso Nascimento a nossa morte do que deixamos de ser para o que aind ainda Queremos ser a nossa vida e o nosso Imaginário são regidos por uma ideia de tempo linear de antes e depois de presente passado e futuro e se essa régua de medir a vida fosse entortada que novas experiências e percepções poderíamos ter há para todas as coisas um tempo indeterminado E se o tempo de nascer for o mesmo de morrer se o tempo de adoecer for o mesmo de
sarar se o tempo de construir for o mesmo de demolir se o tempo para rir e chorar for simultâneo e se no mesmo tempo a juntarmos as pedras e as atirarmos e se ao mesmo tempo que nos abraçarmos também nos apartos se o tempo de perder for o mesmo do encontrar e se as rédias do afeto do sonho do destino não estiem nas nossas mãos nem essa de ninguém se oivo não obedecer ao terraplanismo humano que atribui a ele uma conspiração autocentrada se no caderno das estrelas não houver uma linha sequer sobre nós nem sobre
as minhocas nem sobre as capivaras Valeria menos a vida e se abraçarmos o fato de que nem tudo que plantamos colhemos mas que há muitos presentes na vida que recebemos sem o plantil e que o tempo é espiralar com comitante que toda escolha binara é uma armadilha se gostamos da montanha é porque o rio não foi suficientemente lindo não há para todas as coisas um tempo determinado não há para nós salvação nem condenação não somos protagonistas do mundo mas mesmo assim podemos aproveitar sua festa qu adjuvantes ao lado de incríveis seres como joaninhas Vagalumes e
formigas no nosso povo há narrativas de que antes desse mundo existiram vários outros e que depois desse também continuarão existindo Outros Mundos e que inclusive ao mesmo tempo desse já Existem muitos mundos eu digo isso porque há dentro do nosso povo essa narrativa de que esse mundo vai acabar a gente pode olhar para isso de uma maneira catastrofica e pensar então né tem todo um debate agora sobre o fim do mundo e é um debate que por vezes centraliza o humano de novo porque eu até Digo o mundo não acaba sem a gente é a
gente que acaba sem o mundo então acho um pouco a autoestima em dia assim de dizer que é o fim do mundo quando o humano Deixa de existir né a outra questão que eu queria trazer sobre o tempo é de que o Aristóteles ele tem um uma reflexão pautada em algo que ele chama de Deus como o primeiro motor imóvel no sentido de ser aquilo que move tudo e a todos e não é movido por ninguém de novo a referência da eternidade com a fixidez né mas toda vez que a gente usa a ideia de
presente passado e futuro de certa forma estamos acionando um tempo criacionista vocês percebem há alguém então que teria dado o start do tempo no passado alguém iniciou o tempo e por isso então esse tempo precisaria de um criador que lhe dê início dentro do nosso povo o que a gente vai trazer É não mais Talvez um tempo espiralar porque a espiral ainda traz uma ideia de imagem de contorno que a gente não sabe se é essa Pode ser que seja pode ser que não seja a única né então dentro dessa visão de presente passado e
futuro é como se o único tempo que a gente pudesse tá fosse o do Futuro Talvez o do presente mas um convite mais radical a meu ver do que esse é pensar como é que a gente muda o passado uma das maneiras talvez de olhar para isso seja de que a nossa memória ela é viva e ela está também em movimento então a mesma história que a gente viveu Anos Atrás a gente pode contar de outro jeitos à luz de outras experiências é como se outros olhares fossem trazido para mesma situação né então a mesma
experiência ela é muito plural A partir dessa percepção mas o caminho que dentro da filosofia de niet aparece para essa Reconciliação com o passado de certa forma é justamente não acreditar em passado presente e futuro o Michel Foucault tem uma noção de descontinuidade que eu acho muito interessante Então dentro desse Campo da não monogamia por exemplo por vezes há uma expectativa de evolução Um dia vou deixar de sentir ciúme Um dia vou deixar de me incomodar com Tais e tais coisas a gente não sabe não sabe se vai sentir da mesma forma de outro jeito
mas o que o que há de perturbador nisso é de que há muitas Idas e Vindas dentro desse próprio processo então a gente às vezes retorna a algo que a gente imaginava já superado e e brinca como criança de novo e sente como mais velho então esse tempo é algo que dentro da nossa perspectiva é como se todas as pessoas tivessem todas as cidades do mundo porque de alguma forma sem essa essa origem e sem esse Gênese Apocalipse né Eh a vida fica muito mais interessante um outro questionamento que eu queria trazer é do quão
insuportável pode ser para muitas pessoas ouvi o seguinte e se a gente as pessoas Os seres não tiver nenhuma perspectiva de melhora não tem progresso não tem desenvolvimento não tem futuro vejam que essa pergunta ela pode ser um jeito da gente olhar pro agora e pensar o seguinte tem uma música do do Caetano que chama 7000 vezes eu acho muito bonita porque a partir do nosso gosto pela vida a gente não se importa de repetir tomar água de novo encontrar de novo abraçar de novo cantar dançar de novo então se a nossa única maneira de
ter o envolvimento com a vida é através do Futuro Talvez isso aponte a fragilidade do nosso gosto com o presente com aquilo que passou então essa é uma uma forma de convidar também eh de que Como Nossos povos não acreditam nessa vida Futura o nosso compromisso com essa que tá agora é é imenso né A forma como a gente lida então Eh passa por esse respeito profundo à vida de que outras formas a gente pode se sentir Amado amparado eh acompanhado no mundo sem que para isso a gente exija do outro uma promessa de um
tempo que ele mesmo não viveu onde é que pega esse medo tão grande que a gente tem de ir vivendo ao passo em que a vida Acontece Então essa promessa de um de um futuro né ela faz parte de um ideal salvacionista eu até digo que se os missionários acreditassem na validade das nossas cosmogonias eles não teriam por nos salvar e nós sabemos que eles não vieram para cá para ser salvos por nós né então esse movimento de afirmar outras possibilidad de existência envolve uma tarefa de criação e de invenção que vai além da gente
seguir aquilo que um outro disse que era melhor e mais importante pra nossa vida e o convite também que eu faço para vocês é olhar com certa desconfiança para aquilo que se apresenta por esses valores morais porque eu até brinco assim que se tivesse uma manchete dizendo mulher adulta beija outra mulher adulta e um terceiro se incomoda não é tão sensacionalista quanto dizer fulana atraiu C clana né porque é como se então a ideia de traição trouxesse no seu bojo todo esse esquema moral que coloca como algo mortal né dentro dessa lógica simbólica você ter
direito ao próprio corpo e um dos pecados que os missionários inventaram é o pecado do nomadismo tem uma frase inclusive que se se eu se eu não me engano é do Padre Anchieta que ele dizia o seguinte é impossível catequisar um povo em movimento e eu concordo porque é em movimento que a gente se transforma em movimento que aquela ideia que a gente tem sobre si mesmo se balança né uma das frases mais comuns nesse campo é do Eu não conseguiria que eu acho um tempo verbal muito interessante porque é um futuro do pretérito né
O que teria acontecido no futuro se o Passou entra todo um um campo né Eh e que isso fecha e embota muitas vezes a possibilidade de que o nosso corpo nos Surpreenda nosso corpo mente nos Surpreenda nisso tudo né e eu queria eh e encerrando com esse poema que o título dele É impecável Impecável tudo em linha reta tudo combinado previsto e controlado dizia nunca ter sentido nenhum uma inveja não se permitia nenhuma Gula e engolia só a ira preguiça jamais Luxúria nem pensar de tanto temer o fogo congelou seus desejos e com vergonha do
orgulho rebaixou suas alegrias e o sorriso alheio lhe ofendia mas nós pecadores que você tanto repudia e tanto deseja te convidamos a brincar conosco nesse lamaçal talvez tenha chegado a hora de não ser mais tão Impecável a nossa percepção do tempo como linear o nosso modo de dividi-lo entre passado presente e futuro impacta em diferentes dinâmicas de nossas vidas inclusive no jeito como construímos as relações amorosas conhecer a cosmogonia Guarani sobre o tempo é conhecer outras formas de entender as relações e viver os afetos este programa termina aqui mas no canal do Café Filosófico no
YouTube continua essa reflexão sobre como sair da monocultura dos afetos para um reflorestamento do nosso imaginário inscreva-se no canal do Café Filosófico CPFL no YouTube e siga nossas redes sociais para mais reflexões Ana mapu que também pesquisa não monogamia só que no povo dela no povo mapu né um dos relatos que ela traz é de crianças que diziam o seguinte e eu não sei que significa abandono não sei o que que é isso são crianças que tiveram a sua vida amparada por muitos vínculos amorosos [Música]
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