Eh, boa tarde a todos! Sejam muito bem-vindos para mais um Caravelas Podcast. Hoje, eu tenho o prazer de receber o Lucas Lancaster e o Mateus, que trabalha com ele, né? O Lucas Lancaster é bem conhecido aí dos meios católicos, tem um trabalho importante de apologética sobre a Idade Média, é escritor, e antes de começarmos a conversa, vamos aqui aos senadores, né? Temos aqui o nosso Método de Estudo, Método Ler Sempre, à venda. Temos o curso Bway de idioma. Você que não sabe inglês tá perdendo tempo, faça logo o curso Bway! A Escola da Verdade
História tá com as inscrições suspensas, mas nós vamos, eh, voltar. No Caravelas, a nossa editora acabou de lançar, terça-feira, essa campanha para esses dois livros: *Revolução Sanguinária*, do Madelan, e *Os Intelectuais da Revolução Francesa*, do Mornet. Nós estamos aí numa campanha e quem aderir a ela até o dia 16 vai ter 40% de desconto para os dois volumes. O custo é de apenas R$ 169 e vai ganhar como bônus um curso de História da França. Então, não perca essa oportunidade! Depois do dia 16, essa promoção não vai ter mais nesse preço, e depois, quando encerrar
a campanha de vez, não vai ter mais o bônus do curso. Os livros vão ser vendidos eh de forma autônoma. Então, não perca a oportunidade de adquirir dois volumes excelentes sobre a Revolução eh Francesa. Bom, tem mais um... já foi, agora aquele da Lenda Negra, né? Ah, agora da Lenda Negra! E vocês comentam muito bem. A gente vai ter um curso novo no nosso canal, né? Professor, dia 15, no canal do Professor Lucas Lancaster. Se você puder explicar para a audiência do que se trata. Sim, em primeiro lugar, obrigado pelo convite, Professor. Uma alegria estar
aqui. A partir do dia 15, das 16h às 18h, nós faremos, no nosso canal Lucas Lancaster, um breve curso sobre alguns dos temas que mais surgem a respeito da Idade Média, geralmente para depreciar esse período, geralmente fruto de mal-entendidos ou mesmo de distorções propositais a respeito da Idade Média. Nós iremos abordar quatro desses temas, tentando mostrar, eh, de modo claro, dentro da limitação do nosso tempo, mas de um modo bastante objetivo, alguns aspectos a respeito desses temas que são negligenciados e desmentir alguns mitos bastante correntes a respeito desse período tão longo da história do Ocidente.
Nós falaremos da suposta obscurantismo medieval, da Inquisição medieval, da posição da mulher na sociedade medieval, se ela era realmente uma criatura de segunda classe, como se supõe, e as Cruzadas. Então, será um breve curso para lançar luz sobre a Idade Média, né? Trazer um pouco de objetividade sobre esse período tão deturpado. Ótimo, muito bom! Então, vamos seguir aqui a nossa pauta, né? Um dos mitos muito recorrentes, né, alimentados pelo protestantismo, é que a Igreja nasceu com Constantino, né? Então, aí estão essa pergunta: a Igreja nasceu católica? E o que dizer da Igreja de Constantino? Bom,
naturalmente, quando o protestantismo surge, ele surge como uma ruptura com a Igreja então existente. Então, era necessário identificar algum momento histórico em que o cristianismo teria se deturpado a ponto de ser necessário um movimento de reforma que retornasse às origens que supostamente foram perdidas. Isso foi se consolidando a partir dos apologetas protestantes do século XIX. A ideia de que essa ruptura, essa mudança, essa deformação do cristianismo original, que depois até se chamaria de cristianismo primitivo, uma expressão que eu não gosto, Igreja Primitiva, teria sido eh durante essa reviravolta. Existe até essa expressão, reviravolta, como se
no começo do século I, o momento em que o imperador Constantino se converteu ao cristianismo e eh, passou a tornar o cristianismo religião lícita do Império Romano, e começou a favorecer a Igreja. Os protestantes identificaram ali um momento em que teria havido essa corrupção, e a Igreja original, aquele conjunto de comunidades originais, primitivas, que eram ainda fiéis à doutrina evangélica original, teria se transformado numa Igreja Romana, numa Igreja centralizada na autoridade do Bispo de Roma, do Papa, justamente por causa da conversão do Império Romano. O Império Romano teria adotado o cristianismo, e como não por
uma adoção autêntica, mas como uma incorporação com finalidades políticas, né? Até se diz que Constantino não teria se convertido. Na verdade, ele teria adotado o cristianismo pensando em benefícios políticos para si, e como consequência, a Igreja teria sido romanizada. Não que o Império Romano tivesse sido cristianizado como foi, mas que a Igreja teria sido romanizada, incorporando elementos pagãos próprios do Império Romano, da civilização clássica, enfim, e se tornado o catolicismo romano medieval. E que ao longo dos séculos medievais, essa decadência só foi se aprofundando. É claro! Porque se teria havido uma mudança tão brutal, uma
mudança tão negativa, brutal, no século VI, e a Igreja teria rompido com as suas origens evangélicas, era natural que à medida que o tempo fosse passando, essa paganização só fosse se aprofundando. Então, a ideia de que a partir daquele momento a Igreja que se chamaria católica ou Romana teria passado a incorporar elementos de paganismo que não existiriam antes, no qual eles identificam, né? Alguns aspectos que eles chamam de paganismo, e que não são, como a devoção a Nossa Senhora, a devoção aos santos, a própria liturgia católica, tudo aquilo que é bem próprio das devoções católicas
e daquilo que é mais próprio do culto. Exterior católico, tudo isso teria sido fruto de uma série de outras doutrinas próprias do catolicismo. Teriam sido o fruto de uma paganização a partir do Imperador Constantino. Claro que existem aqueles, aquela visão mais, diríamos assim, mais tosca de alguns protestantes, de que creem de fato que Constantino criou uma igreja, né? De que a Igreja Católica foi criada ali por Constantino. Outros, já mais sutis, percebendo o absurdo disso, porque observando ali a vida de Constantino, o Reinado de Constantino, se vê que não houve uma mudança tão brutal no
tempo dele, identificaram, na verdade, que Constantino foi o ponto de partida pelo qual o paganismo teria penetrado dentro do cristianismo e surgido em decorrência à Igreja Católica. Na verdade, isso é um recurso, foi, na verdade, uma estratégia retórica, um argumento para justificar a ruptura. Porque é natural, se se está rompendo com a Igreja Católica estabelecida, é porque se identifica algum erro na Igreja Católica. E quando começou esse erro? Em que momento a Igreja Católica deixou de ser aceitável? Aí se identifica ali no século IV. Mas a verdade é que, objetivamente, não existe nada na doutrina
católica que passou a existir com Constantino que não existisse antes. Não houve, objetivamente, essa mudança; não é possível rastreá-la na história. A própria ideia de a Igreja Romana ter assumido isso, na minha opinião, é uma grande prova da ignorância de quem alega isso a respeito da época de Constantino. De que a Igreja Romana se tornou a principal igreja dentro das igrejas, né, dentre das dioceses, por causa da conversão de Constantino, sendo que a capital do império foi transferida. Exatamente esse é o ponto principal. Se Constantino tivesse algum interesse, como até tinha, não ele, mas até
seu filho, principalmente Constâncio I, se os imperadores tivessem algum interesse em controlar a Igreja, alçando a condição de primeiro bispo algum bispo de alguma cidade, não seria de Roma, seria de Constantinopla. Exatamente, a capital mudou. Ele não gostava de Roma; ele viveu em Roma nos primeiros anos do seu reinado, mas não gostava de Roma. Roma lembrava alguns episódios nefastos da vida dele, crimes que ele cometeu. Decidiu mudar a cidade, abandonou a capital, abandonou Roma. Então, se houvesse algum interesse da parte dele de controlar a Igreja, alçando algum bispo à condição de primeiro dentre os demais,
não seria o de Roma. A sede de Roma foi reconhecida como a primeira das dioceses; o Papa foi conhecido como reconhecido como o primeiro dos bispos à revelia da vontade política imperial. Mas não teve nada a ver uma coisa com a outra. Objetivamente, há várias provas antes da autoridade papal. Se quiser, pode citar aí os exemplos. Existem numerosas provas tanto da autoridade papal antes do século I, em termos doutrinários, mas também em termos práticos, de papas intervindo. Ou de papas, principalmente no século XI, é porque, é óbvio, quanto mais nos afastamos do tempo, mais os
registros são menores. Mas nós já vemos, no século II, registros de qualquer coisa que estou falando. Quanto mais distantes, menores são os registros. Até porque, na Igreja, é assim: quando, tradicionalmente, na história da Igreja, por uma coisa ser posta por escrito quer dizer que ela já era aceitada como tradição antes. Exatamente, ela não; a escrita confirmava a tradição, não o contrário. Então, o momento em que uma coisa é posta por escrito na Igreja, né, que, a partir daquele momento, passou-se a pensar daquele jeito, não está simplesmente reconhecendo algo que é mais antigo. Isso se percebe
na liturgia também. Enfim, principalmente no século XI. Mas antes, a gente já vê, até pela quantidade maior de documentos, os papas intervindo em questões que eram alheias a simplesmente a diocese de Roma. E já desde o século II, nós vemos numerosos escritores eclesiásticos invocando a autoridade e a primazia da Igreja Romana em razão da dignidade da sua fundação, quanto à Igreja fundada por São Pedro e por São Paulo. No século I, o que se fez foi simplesmente reconhecer essa tradição imemorial. Um cânon bastante relevante no século I a respeito disso foi um cânon de um
concílio que não foi reconhecido como ecumênico, foi um concílio regional, mas de grande relevância: o Concílio de Sardica, reunido em 344, no bojo da crise ariana. Estavam lá os grandes nomes da Igreja na época: Santo Atanásio, O de Córdoba, enfim. E um dos cânones é que todos os clérigos de todas as igrejas poderão recorrer ao bispo de Roma como instância última de apelação. Ou seja, era um reconhecimento ali já expresso de uma realidade que já existia antes, que era a jurisdição universal do Papa enquanto cabeça da Igreja, à qual todas as igrejas poderiam recorrer. E,
se observarmos, Constantino não fez objetivamente nada para promover o bispo de Roma, a não ser, talvez, construir as basílicas romanas e dar o Palácio de Latrão pro Papa. A única coisa que ele fez. E, depois, abandonou Roma. Ele não fez objetivamente nada pelo primado papal e nenhum imperador, na verdade, fez nada pelo primado papal. Nós vemos sucessivos imperadores romanos e depois bizantinos entrando em conflito com os papas por questões doutrinárias. O Imperador Constâncio I, depois o Imperador Valente. Todos eles entram em confronto doutrinariamente com o Papa. Então, não havia nenhum interesse das autoridades políticas de
qualquer época em... tornar o Papa o primeiro dos bispos. Ele só foi assim reconhecido por causa de uma tradição imemorial que não estava embasada em nenhuma suposta autoridade política da cidade de Roma, que, no mais, foi até mesmo abandonada enquanto capital. O professor acredita que há também uma falta de conhecimento do que deve ser uma autoridade política, porque os protestantes criticam Constantino por ter favorecido a Igreja, sendo que isso é justamente o que um governante deve fazer. Então, o que o senhor acha disso? Porque se eles tivessem uma visão correta a respeito disso, certamente não
veriam problema no favorecimento que Constantino dava à Igreja. É interessante esse ponto que você coloca, porque é fruto de uma visão bastante liberal a respeito do que deve ser o Estado e o que deve ser a religião. Geralmente, se critica isso até em católicos; católicos mais modernosos criticaram Constantino pela união entre Igreja e Estado no tempo do Império Romano. Enfim, a gente vê numerosas obras assim, bastante conhecidas de história da Igreja, alguns autores que falam que foi muito bom ter trazido a paz à Igreja. Ele fez muitas coisas pela Igreja, mas houve ali uma união
indevida entre Igreja e Estado. Então, também tem isso. Sim, Constantino e Teodósio teriam sido ruins porque houve uma união entre Igreja e Estado. Mas desejar o contrário seria aplicar a eles uma cosmovisão liberal, nascida de uma mentalidade anticristã originada na modernidade, em um tempo em que as coisas não funcionavam dessa forma. Inclusive, esse é um ponto interessante, porque é verdade que os imperadores romanos, em determinados momentos, e principalmente os bizantinos depois, tentaram manipular a Igreja de acordo com seus interesses. Constantino, já como o primeiro imperador cristão, teve uma postura mais comedida em relação a isso
do que seu filho, Constâncio I. Por exemplo, Constantino se meteu em assuntos da Igreja, sim, mas em geral se conteve; já o seu filho, Constâncio I, além de interferir em assuntos jurisdicionais da Igreja como Constantino fizera indevidamente, ainda tentou interferir em assuntos de doutrina, favorecendo o partido herético ariano. Isso eu identifico no meu livro "Santo Atanásio e a Crise Ariana". Eu vejo isso como um resquício dos primeiros imperadores cristãos daquela cosmovisão pagã antiga, que submetia a religião civil à autoridade política romana. Esses primeiros imperadores cristãos ainda tinham resquícios muito grandes de paganismo na sua forma
de ver o mundo. A Igreja teve que opor uma resistência dura a isso desde o princípio. Então, ela sempre foi muito sábia. Claro, nem sempre os homens da Igreja souberam discernir, mas ao longo da história o discernimento dela foi sempre muito claro. Uma coisa é a devida união entre a Igreja e o Estado, com o Estado favorecendo a Igreja, favorecendo a evangelização, favorecendo o progresso da religião; outra coisa é o Estado querendo controlar os assuntos próprios da Igreja. O que o liberal moderno faz é pegar as duas coisas, achar que tudo é ruim e descartar,
sendo que o indevido é justamente o Estado tentando interferir nos assuntos próprios da Igreja. É claro que no dia a dia concreto, nos assuntos que se colocam objetivamente para se discutir, essa distinção nem foi fácil de ser alcançada. Até onde a autoridade do imperador, depois dos príncipes, dos reis, pode chegar dentro da Igreja? Até onde a autoridade da Igreja, junto aos assuntos políticos, pode chegar? Sempre houve sérios conflitos, mas a Igreja sempre conseguiu, ou em regra ela conseguiu, colocar com bastante firmeza, principalmente nos primeiros séculos, limites além dos quais a autoridade imperial não poderia passar.
Esse vai ser o grande mérito da Igreja no Ocidente. A Igreja no Oriente já não vai conseguir isso a longo prazo. Nos primeiros séculos da Idade Média, a Igreja oriental vai colocar homens importantes, grandes santos, que vão colocando grandes barreiras a essas tentativas dos imperadores bizantinos de se intrometerem nos assuntos da Igreja, principalmente nos assuntos doutrinários. Isso porque os imperadores bizantinos favoreceram heresias, favoreceram o monofisismo, depois o monotelismo, favoreceram a iconoclastia. Sempre houve, no Império Bizantino, bispos dispostos a obedecer docilmente às instâncias do imperador e mudar a doutrina, mas houve também aqueles que resistiram e
encontraram no Papa, no Ocidente, um auxílio para essa resistência. O Papa sempre representou, no Ocidente, fora do Império Bizantino, um limite para essas tentativas dos imperadores de se meterem em doutrina. Com o tempo, a Igreja oriental não vai conseguir mais colocar limites suficientes, e essa é claramente uma das razões do cisma do Oriente: a excessiva ligação, não a submissão, da Igreja bizantina à autoridade imperial, que tinha pretensões universalistas de controlar tudo, inclusive assuntos religiosos, o que obviamente não poderia se conciliar com a pretensão de universalidade e soberania da Igreja, que os Papas representavam no Ocidente.
Então, esse problema sempre colocou a Igreja. No Ocidente, em regra, ela sempre conseguiu se desembaraçar nessas tentativas dos monarcas de se meterem nos seus assuntos. Perfeito. Vamos agora para o tema do Mito da Idade das Trevas. Sempre se fala que é a idade dos ignorantes, que a Igreja tinha o monopólio do saber, que não havia, era uma massa de ignorantes, só a cúpula da Igreja que sabia das coisas, impunha os seus dogmas e uma visão obscurantista de... Mundo. Esse é que os livros falam. Trocando em miúdos, então, gostaria que você argumentasse contra a Idade Média,
se da idade dos ignorantes à ideia. O mito é esse que você colocou, né? De que as trevas da Idade Média seriam programadas, né? É como se o clero deixasse as pessoas na ignorância de propósito para melhor controlar. Exatamente. Essa, na verdade, é uma doutrina que Voltaire recomendava às autoridades, né? Voltaire recomendava que... Voltaire recomendava mentir também. "Minta, minta!" É sim, mas isso é um dos... geralmente, né, se invoca Voltaire como um dos grandes nomes da liberdade, né, e das luzes. Ele que financiou o tráfico de escravos, né, defendia muito a liberdade. Eles amam, hoje
em dia, aquela frase dele, né, que "eu posso não concordar com nenhuma palavra que você diz, mas defenderia até a morte o seu direito de dizê-la". Né? Desde que você não seja católico, aí ele era contra. E Voltaire dizia isso: que as massas devem ser mantidas na ignorância para serem melhor conduzidas. E são esses os homens que construíram a ideia da Idade Média, a Idade das Trevas. Então, a ideia é que, então, só para concluir essa questão do mito, né, de que a ação medieval ocidental vivesse no obscurantismo promovido propositalmente pelo clero para melhor controlar
as massas. Ou seja, a Igreja seria a causa do obscurantismo. Só que, se nós retornarmos ao início da Idade Média, o que se vê é que a Idade Média, ela já surge, o início da época que convencionou-se chamar de Idade Média já é uma época de decadência intelectual e cultural. Os últimos dois ou três séculos do Império Romano foram um tempo de, sei lá, de estertor do Império Romano. A partir do século I, o Império Romano começou a passar por crises de toda ordem, inclusive uma decadência cultural muito grande. Houve algumas tentativas, algumas até bem-sucedidas,
pelo menos temporariamente, de manter a civilização romana viva. O Imperador Diocleciano representou isso. Claro, Diocleciano não é um homem que nós devemos admirar enquanto cristãos, mas Diocleciano representou isso: uma tentativa sólida de reorganizar o Império Romano. Depois, Constantino foi a mesma coisa. A Igreja, longe de prejudicar o Império Romano, como os ingleses passaram a sustentar desde o século XVI, né, com Edward Gibbon, né, como é que é a história do declínio do Império Romano, né? O Gibbon, embora um autor que tem grandes momentos, ele se tornou um fanático do Império Romano, falando que foi a
maior idade de todos os tempos. É um evento... isso, mas isso é bem próprio da mentalidade moderna, né? Essa idealização do passado, o mundo greco-romano, os renascentistas também idealizavam, eram obcecados, né? Mas, enfim, então surgiu essa ideia de que a Igreja teria promovido a queda do Império Romano. Ao contrário, a Igreja deu uma sobrevida. Estou falando isso porque o Império Romano caiu. Ele não caiu por causa das invasões bárbaras. As invasões bárbaras foram um dos fatores que jogaram no chão a civilização, que já estava em frangalhos em termos culturais. Os últimos dois séculos do Império
Romano eram bastante decadentes. E esse ponto é interessante. Primeiro que o termo invasão bárbara é meio complexo; teve migração e invasão bárbara. Segundo é que muitos bárbaros, quiseram manter o Império Romano, adotaram hábitos latinos, quiseram manter as tradições romanas. Então, é uma lenda que chegaram os bárbaros, destruíram tudo e puseram tudo abaixo. Não, pelo contrário. Muitos, né, não todos, queriam manter, né? E ninguém entendeu no século V ainda que o Império Romano tivesse caído. Demorou-se pelo menos 100, 150 anos para se perceber que aquela ideia de Império Romano não existia mais. Claro, não é o
mundo de hoje, internet de comunicação ultra rápida. As coisas demoravam para passar no tempo, né? Não era assim. Eu digo até mesmo de como a ideia romana era tão sólida. Ah sim, quanto à ideia. Digo que a ideia era tão sólida que até para os próprios bárbaros não entrava na cabeça de ninguém que o Império Romano tivesse deixado de existir e surgisse outra coisa. Então, demorou, né? Os reis bárbaros, os ostrogodos, os visigodos, os francos, eles se consideravam, pelo menos nominalmente, eles gostavam de dizer que eram representantes do imperador bizantino, porque era uma honra, porque
o nível civilizacional era muito grande. Só tipo de exemplo: quando Roma foi invadida uma certa vez, os bárbaros não ocuparam a casa dos nobres; dormiram na rua, em tendas, como eles eram bem selvagens mesmo. Eles não entendiam o que era casa, o que eram aquelas construções. Então, eles dormiram tudo na rua, armaram cabanas lá e ficaram dormindo na menta. É porque estavam habituados, né? Estavam habituados. Então, eles viam aquilo lá como uma coisa excepcional, uma coisa grandiosa. Eles não estavam querendo destruir tudo. "Ah, meu mundo é melhor!" Não, não é isso. Não, de jeito nenhum.
Desculpe, se torna, né? Exatamente. Se bem que alguns acabaram por herdar, né? Herdar as estruturas imperiais, né? Herdaram. Só alguns que tinham ambição de destruir, né? Os vândalos. Odiavam. Os vândalos entraram lá para destruir tudo. Vândalos e alanos eram destruidores, né? Já outros não. Outros eram bastante até pacíficos. Os burgúndios, os francos não eram dos... Enfim, mas o que eu estou falando é isso: porque o Império Romano não caiu de um dia para a noite, né? Os bárbaros não entraram e destruíram. Tudo. Não, o Império Romano já vivia um processo de decadência e decadência cultural
tremenda. E tudo, até e tudo de bom que todas as mentes mais lúcidas, as melhores mentes que ainda existiam naquele mundo decadente, entravam justamente nos quadros da Igreja, não apenas se convertendo, mas tornando-se clérigos, tornando-se bispos. Então, quando começa a Idade Média, né? Quando a gente pega aquela marca lá, 476, enfim, a transição não foi abrupta. É, ó, é. Mas tudo bem, 476, virado do século V para o século VI, a Igreja é a única instituição que se mantém de pé, e o mundo ao redor dela está devastado culturalmente, não por causa dela, e ela
assume as rédeas daquela civilização. Ela é a única instituição organizada e que mantém, minimamente, seus quadros para fazer frente às necessidades da época, as necessidades mais básicas. As autoridades, como todas, debandaram. Os bárbaros não estavam longe de ter uma organização política minimamente estabelecida. Bem estabelecida. E os bispos, além de pastores de almas, eram chamados a quê? A ser também governantes civis, a defender as cidades, a reconstruir muralhas, a cuidar do campo, a dizer a justiça. Então, o mundo que nasce na... Quando se considera ali que começou a Idade Média, é um mundo por si só
decadente, independentemente da Igreja. E o que há de bom que havia, que a Antiguidade havia legado em termos culturais, tanto da Antiguidade clássica quanto da própria dignidade cristã, é a Igreja que preserva, porque é somente nela e nos seus quadros, e são as únicas pessoas que se preocupam minimamente com assuntos de ordem superior. O fato é que, para tornar uma história bastante longa em uma história curta, ao longo dos chamados tempos bárbaros, séculos VI, VII e VIII, é a Igreja, tanto principalmente pelos mosteiros, mas os bispos também, bispos que, no mais das contas, eram saídos
dos mosteiros, né? A Igreja que preservou o legado da Antiguidade. O legado da Antiguidade! E a tarefa que devia ser feita ali, naquele momento, era justamente essa: era de preservação. Não é uma época, sei lá, de grandes lampejos culturais. Claro que houve grandes, né? E no século V, por exemplo, Boécio. No século VI, São Gregório Magno, Cassiodoro, Santo Isidoro, maior. Talvez seja o maior, né? O Santo, São Tomás da Espanha. Depois, São Beda e depois a Renascença Carolíngia. Mas ali era, sobretudo, o processo de preservação, inclusive da Bíblia, hein? Porque os... Por favor, na Bíblia,
tal, mas quem manteve a Bíblia, via, foi a Igreja Católica. É difícil, é difícil na história falar e se, né? E se não tivesse acontecido? Imaginar, mas nesse caso é bem evidente o que aconteceria: sem a Igreja para sustentar a civilização, né? Colapsar. Não existiria, não tinha civilização mais. Então, os primeiros... A ideia de Idade das Trevas é porque às vezes o pessoal fala: "Ah, isso é falso! Idade das Trevas?" Mais ou menos. Essa expressão século obscuro foi criada por um grande historiador da Igreja, que é o cardeal Barão, mas só para designar a Idade
Média inteira. Mas para designar os primeiros séculos dela, um invento, né? Então, é porque realmente foi uma época de grande decadência em todos os aspectos: políticos, morais. Uma época de muita superstição, e a Igreja ali se esforçando. Tinha as ordálias, o juízo de Deus. Os bárbaros estavam em processo de conversão, isso aí. Então, tinham disputas com bases em ordálias, né? Então, tinha muita superstição. Isso aí foi uma das coisas que mais foi difícil de arrancar: os julgamentos de Deus, juízes de Deus, né? Então, os costumes eram muito brutais, e a Igreja, é porque é muito
perceptível isso, a Igreja, ela não apenas precisa catequizar os bárbaros, ela também precisa civilizá-los. Então, depois da ação, primeiro ela converte os francos, depois os burgúndios, os irlandeses, os anglo-saxões, os suevos, os visigodos, os germânicos, enfim, converte todos, mas ao mesmo tempo ela tem que civilizá-los também, ordenar os seus costumes à religião que eles, que eles aparentemente receberam. Dá um direito para esse povo, aí nasceu todo um direito medieval, né? Então, de fato, o cardeal Barão fala século obscuro, só que corresponde a esses primeiros séculos da Idade Média que, por sua vez, não foram desprovidos
de luzes. Ao contrário! A luz que existia estava nos quadros da Igreja, e essa luz que vai sendo transmitida de geração em geração para irromper, fulgurante, no século X. No século XI, a essa altura, bom, aí já avançamos bastante na história. Já para esse segundo momento da Idade Média, da Cristandade, já se vê como é que esse discurso da Igreja, que mantém as pessoas na ignorância, é uma coisa que absolutamente não se sustenta, né? Porque eu até acho que é uma comparação interessante. Régine Pernault, ela fala aqui, ela conta eu acho um episódio muito interessante.
Régine Pernault tem muitas anedotas, né, que ela vivenciou, e ela conta, eu acho que é no "Mito da Idade Média", acho que é o "Mito da Idade Média". Ela conta que estava uma vez num encontro de um círculo de intelectuais católicos, católicos em Paris, e de... até a rua lá. Não me lembro qual. E ela fala que o tema que foi proposto à discussão lá era: "Havia civilização na Idade Média?" Nossa, entre católicos, no círculo católico, devia ser anos 60, 70, uma coisa assim: "Havia civilização na Idade Média?" E ela até fala, e não era
brincadeira, eles estavam discutindo sério, eles não estavam brincando. Aí ela fala: "Bom, eu espero..." como é que é a expressão que ela usa, é muito engraçada, mas me escapa, para o conforto moral deles. Nenhum deles tem que passar para voltar para casa em frente de Notre Dame de Paris. É verdade que aí o argumento se desfaz como um castelo de cartas, né? É, mas veja o que é essa cosmovisão: ela é tão arregada, né, que um francês que tem aquelas belezas ainda de pé, apesar de todo o vandalismo, apesar de tudo que foi feito, e
eles ainda conseguem refletir a respeito disso. Não vem a contradição, né? É inacreditável! A pessoa anda em Paris, vê Notre Dame, vê a Sainte-Chapelle e fica defendendo o mito das Trevas. Inacreditável! É engraçado que até a própria catedral eles conseguiram tornar mais obscura, pelo menos na cultura popular, quando se fala em igrejas góticas, pensa-se em igrejas escuras. Não é, é trevas, né? Uma contradição em termos, porque o gótico é justamente a luz, né? Luz gótica é a luz. Então, assim, até mesmo as evidências físicas são deturpadas, né? E são vistas de uma forma... Houve um
grande trabalho contra a arte gótica no Renascimento, né? Ah, eles odiavam! Odiavam! Curiosamente, os românticos passaram a levantar a bola do gótico, e o Goethe também, né? O Goethe era um fã do gótico. A expressão gótica vem dos comandos Vasar, italiano, né? Fala... É muito interessante isso, porque acho interessante essa ideia da origem do gótico. A origem da expressão foi Vasar, né? Um renascentista do século XVI. Ele dizia que essa obsessão classicista, né, essa emulação louca por tudo que era da antiguidade... Porque a Idade Média amava a antiguidade também, só que é aquela máxima de
Bernardo de Chartres, né? Nós somos anões nos ombros de gigantes. Mas, por estarmos nos ombros deles, nós podemos ir mais longe. Claro! Então, se basear em Aristóteles e Platão... O renascentista não! O renascentista quer imitar o antigo, fez o romano, o grego. E, aliás, não é nem o romano e o grego. O que eles querem imitar é o tempo de Péricles, uma época muito bem delimitada da história ateniense que não corresponde à antiguidade como um todo. Mas, enfim, eles acham que naquele momento se alcançou a perfeição em termos civilizacionais plástico e tudo deve ser imitado.
Então tudo que se afasta desse modelo é bárbaro, é ruim. E Vasar, ele desenvolveu essa ideia de que os visigodos, que saquearam Roma em 410, né? 410 foi um grande marco do fim da antiguidade, um dos marcos, né? E foram estes mesmos que atravessaram os Alpes e desenvolveram essa arte lá na França. Ou seja, é a arte dos godos, é a arte gótica, é a arte que é oposta à arte romana tradicional. Então, por isso que o renascentista detestava os classicistas, né? Porque uma coisa é admirar a cultura clássica, outra coisa é esse classicismo. O
gótico, né? Chegou-se a destruir vitrais por causa do ódio à cor, substituindo por vidros brancos, né? Então, eu falei disso da catedral por causa da pessoa que sustenta que a Idade Média, sei lá, que no século XI, vivia na ignorância, né? Nas trevas. E se se coloca diante dessa pessoa uma catedral de Chartres, o mito se desmonta imediatamente. Acabou, né? Contrafatos não há argumentos. Uma outra coisa que é omitida, né, é a igreja como mãe da caridade, né? Então, ele sempre omite que a igreja que fez as escolas, fomentou os hospitais, etc. Se puder comentar
um pouco disso... Essa foi uma... A igreja, como eu falei, quando o Império Romano entra em decadência, antes mesmo da queda, a igreja, pelas contingências, né? Ela é chamada a assumir todas as necessidades da civilização. O papel do bispo no século V, no século VI, era tremendo! Ele não era um simples pastor de almas, era muito mais. Então, tudo ficava a cargo da Igreja. Muitos bispos foram governantes civis, tinha cidades comandadas por bispos. Colônia, na Alemanha, é um exemplo! Sim, sim! Porque a igreja era chamada a fazer coisas que as autoridades não tinham condição de
fazer. E isso correspondia necessariamente à vocação dela enquanto mãe dos povos, de ela própria promover aquilo que era a necessidade, não apenas espiritual, mas material, dos seus filhos que viviam ali, seu entorno. Os mosteiros, já os primeiros mosteiros medievais, tinham regras muito claras da quantidade dos bens e dos víveres do mosteiro que deveriam ser destinados à caridade. Isso foi uma coisa natural, que foi fruto, na verdade, da própria essência da caridade evangélica, né? Não foi feito um programa: "Ah, vamos cuidar dos pobres." Não! Foi uma necessidade que existia e cuja solução foi brotando de geração
em geração para ser atendida. E foram surgindo muitas ordens dedicadas ao cuidado dos pobres e todos os gêneros de pobres, tanto os pobres espirituais quanto os pobres que não têm liberdade. A Ordem Mercedária, por exemplo, que foi fundada no final do século XII justamente para recuperar os cativos que eram feitos pelos muçulmanos e que, segundo os cálculos mais conservadores, teriam libertado pelo menos 600.000 prisioneiros muçulmanos ao longo de sua história. Olha, é muita gente! Que obra é! E muitas vezes entregando-se, né? Se entregando, se trocando. Sim, entregava-se como refém, né? É como você é refém.
E todas as obras, assim, não tem nem como dar exemplos porque todas as obras de caridade em termos de hospitais, em termos de leprosários, de asilos para todo tipo de enfermidade, de casa de cegos, de até de casa de recuperação... De prostituta, foram fundadas pelos homens da Igreja, pelo clero e pelos fiéis. Impulsionados, os fiéis ricos, pelo desejo de colaborar, na ânsia de fazer o bem, santificar, enfim. Até sei lá, até o século XVI, todas as grandes obras de caridade e educacionais, também nos países católicos, eram da Igreja. É somente no século XVI, ali no
momento daqueles Reis já influenciados pela mentalidade iluminista, que quererão afastar a Igreja dessas obras que ela possuía, para que o Estado assuma essas funções. Essas funções são uma espécie de caridade pública, né? Que é a filantropia. Mas até o século XVIII, em todo lugar, nos países católicos, era a Igreja que promovia. Até hoje, na África, a Igreja é responsável por não sei quantas dezenas, centenas de hospitais. É um trabalho que vem sendo feito até hoje, né? Então, geralmente se aponta isso ao longo da história: também as riquezas da Igreja, uma boa parte das riquezas eram
destinadas para sustentar as imensas obras de caridade que ela possuía, né? E quando se fala de escola, isso é óbvio, porque a Igreja foi, durante séculos, a única instituição que se preparou, que se preocupou com questões de cultura, com assuntos pedagógicos, com assuntos educacionais. As escolas surgiram dos mosteiros, depois das catedrais, e as universidades, que são uma fase posterior das escolas episcopais, também são originadas da Igreja. Por quê? Porque a Igreja era a única que se ocupava desse tipo de assunto. No século X, ainda uma época bastante barbarizada, ainda bastante conflituosa, né? A Igreja até
empreendeu uma intensa obra de pacificação. No século X, se viam aquelas escolas, aquelas escolas monásticas surgindo e florescendo, e ao redor ninguém queria saber daquele tipo de coisa, mas a Igreja sim. E ela foi inculcando esse amor às coisas do Espírito, a coisas superiores. Foi a Igreja que embelezou isso tudo. É omitido, né? Esquece-se o trabalho dos hospitais. Se tiver curiosidade, coloca lá "Hotel de Bone" para ver a maravilha que era um hospital medieval. Sim, é o hotel de Casa de Deus, né? É o correspondente medieval para as santas casas. Santas casas surgiram na Idade
Média, né? Em Florença, se não me engano, aí Portugal fez um rearranjo no estatuto e criou a obra de caridade mais difundida no mundo na época. Que são a Santa Casa de Misericórdia. A Santa Casa de Misericórdia de Lisboa foi fundada em 1496, século XV, século XV, com a rainha Leonor de Lencastre, mulher de Dom João II, né? E com o bispo que era a rainha-mãe já na ocasião, né? Dom Manuel já era filho de Dom Manuel. Não, Dom João II era primo de Dom Manuel. Não digo que ela era rainha, era o título de
rainha-mãe, perdão, mas é que o Dom não era f... não era, me confundia, porque quando o Rei morre, a rainha vira título de rainha-mãe. Então não estou confundindo. Bom, porque o título em Portugal, quando morria, era viúva, mas já era no tempo de Dom Manuel. Acho que era no tempo de Dom Manuel. Aí, quando o Brasil começou, já começaram as Santas Casas de Misericórdia, né? Sim, bom, mas vamos para outro tópico: o mito das Cruzadas. Qual é o mito das Cruzadas? Bom, que as Cruzadas, isso é ridículo, é ridículo, que as Cruzadas foram uma antecipação
do colonialismo europeu, né? Até que o professor Marcelo Andrade diria disso. Gostaria de saber. Não, essa eu estou vendo agora, não sabia dessa coisa. Eu aprendi com o professor e vai estar no curso "Lendas Medievais". Não, mas sabe qual o problema? Se vê no século X historiadores franceses dizendo isso para justificar o império ultramarino francês do século XIX. Tentam identificar na Cruzada uma antecipação disso. Ah, tá! Então a gente está fazendo o que nossos antepassados já fizeram. Não tem nada a ver, completamente. É uma coisa que não tem nada a ver com o tempo, as
visões, os objetivos. Eu nem sei, não dá nem para começar como combater uma lorota dessas. Então contextualiza para nós. Então, por falar em história, em 2020, vocês lembram daqueles protestos, o movimento Black Lives Matter? Ah, sei! Eles estavam destruindo estátuas, né? Isso, colocando um monte abaixo, e estavam atacando aquela estátua bonita de São Luís, na Missouri, é São Luís, Missouri, é, tem mais de um estado lá nos Estados Unidos, mas eu acho que tem uma estátua bonita dele equestre. É uma das mais bonitas estátuas dele que eu já vi, conseguiram pô-la abaixo. Não, queriam pô-la
abaixo, e a justificativa era justamente que foi um rei europeu que atacou a Tunísia, né? Então imagina uma coisa grave. É o que eles querem, né? Um rei europeu que morreu fazendo guerra na África é o melhor exemplo que têm, né? Ah, eles só esqueceram um detalhe, né? Que o norte da África era branco, eram brancos, né? Árabes, né? É árabe. A África subsaariana que é, né? Então já começa a confusão. Eu lembro até de um vídeo, né? O padre tentando defender a estátua, né? E o padre tentando dialogar com os manifestantes, né? E eles
gritando. E o padre: "vocês conhecem a história das Cruzadas?" Aí a mulher: "Tunísia é África, Tunísia é África!" Aí é, bom, mas tem a leitura marxista também. Não, professor, que também vai identificar essa antecipação do colonialismo? Ah, eu nunca vi de Marxismo, porque teve até aquele jornalista que teve um react, o senhor fez um react, e que falou que viu em São Luís uma espécie de racismo. Ah, ele... foi... ele fala que, porque foi feito um exame com a mandíbula de São Luís uns anos atrás para tentar identificar do que ele morreu, porque sempre houve
dúvida sobre qual era a doença. Por que teve essa curiosidade? Quem teve essa iniciativa? Ah, não me lembro exatamente, coisa de acadêmico, é curioso. Não sabia disso. Sempre houve dúvida se foi tifo, se foi alguma dessas doenças de exército. E aí eu vi o... qual era o site? Já lembra? Era o Wall? Era o Wall? Não, não, eu acho que não. Era um blog dentro do Wall, era História do Wall, uma coisa assim, tá na história. Aí tinha um doutor da vida falando que São Luís estava fazendo o diagnóstico, né? Porque ele contraiu essa doença.
Ele estava falando que ele contraiu essa doença porque ele não comeu frutas cítricas, que tinham em abundância lá. Em abundância, mas ele não comeu porque ele era racista, ele não ia querer comer as coisas que... eu não acredito. Ah, não, aí é demais, né? Como é que uma pessoa dá uma declaração tão estúpida como essa? Gente! Não, mas ele fez uma forçação no sentido de que essa doença é agravada pela falta de tal vitamina. Uau! Os navegadores tinham falta de vitamina C? Eu acho que... não sei se era... como que chama essa doença mesmo? Escorbuto!
Escorbuto, acho que é escorbuto mesmo. E falta de vitamina C, se ele tivesse comido as frutas, ele talvez não tivesse morrido. E por que ele não comia as frutas? Porque ele era racista, né? Ele não falou racista, não, mas deu a entender. Ele só comia... não comia frutas africanas, comia comida africana, mas ele passava fome. Então, não é? Pois é, mas São Luís... ele não comia frutas por causa de penitência. Inclusive, fruta era uma das penitências dele. Ele gostava muito de fruta e comia pouco, né? Ou seja, foi muito apropriada essa interpretação, né? Um homem
do século XI, racista, né? Um racismo que é uma ideia bastante oitocentista, né? O racismo é uma invenção moderna, né? Racismo, tal como nós entendemos. Depois teve uma forte associação com Darwin, né? Darwin favoreceu muito o racismo, né? Ninguém gosta de falar, mas é outra história. Mas, enfim, então agora, chegando à pergunta: bom, as cruzadas foram um movimento desencadeado em 1095 pelo Papa Urbano I, com a intenção, atendendo, na verdade, ao apelo do Imperador Bizantino. O Império Bizantino, ele estava sendo... já há umas duas décadas, ele estava correndo sério risco de padecer ante os avanços
dos turcos. Seus lúcidos, depois de muitos séculos de avanço árabe, se havia estabelecido uma espécie de status quo no Oriente Médio. Não havia até muito problema para os peregrinos cristãos de irem até a Terra Santa durante os domínios árabes nos últimos séculos. No começo do século X, houve, na verdade, uma política de um califa do Egito que destruiu o Santo Sepulcro, perseguiu os cristãos, mas isso foi remediado depois. Voltou atrás, as peregrinações voltaram. Então, havia até então um certo entendimento, porque as pessoas também têm essa ideia falsa, né, de que cristãos e muçulmanos guerrearam o
tempo todo, em todas as épocas. Isso não existe, né? Não teve paz? Não teve acordo aqui e ali? É lógico que sempre tem acordo, não havia convivência, né? Mas com os turcos, quando eles chegaram, não havia convivência, não havia acordo, não havia possibilidade. Eles chegaram, lançaram-se, em primeiro lugar, contra os próprios árabes. Eles eram convertidos há pouco tempo, né? E lançaram-se contra os próprios árabes. Depois se lançaram contra o Império Bizantino, trucidaram o exército bizantino na batalha de Manzikert, no centro da Ásia Menor. O Imperador Bizantino, desesperado, pela época era São Gregório VII, queria organizar
uma cruzada, mas não pôde por causa da Guerra das Investiduras. Os assuntos na Europa eram mais... efervescentes. E foi o seu segundo sucessor, né? Urbano I foi sucedido por Vítor I. Urbano II... Gregório VII foi sucedido por Vítor I, que foi sucedido por Urbano I, que recebeu um novo apelo do Imperador, dessa vez o Imperador Aleixo, implorando que ele enviasse uma cavalaria de elite, uns 200 ou 300 cavaleiros, que o ajudasse. Ele invocou a fraternidade cristã, invocou a necessidade que se tinha de defender o mundo cristão do avanço turco. E, o tempo inteiro, chegava Urbano
II às notícias do que os turcos faziam com os peregrinos cristãos no Oriente. E eu acho que é necessário também sempre levar em conta quem é este homem que convocou a cruzada, que era o Papa Urbano I. Urbano I era um homem de grande santidade, era um homem cujos assuntos da Igreja era a única coisa que o preocupava, interessava para ele. Inclusive, a cruzada, quando ele convocou, era para ele um assunto espiritual de altíssima importância. Então, quando ele estava em placência, quando ele recebeu o apelo de Aleixo, em um concílio que ele estava reunindo em
Palestrina, ele recebeu o apelo e começou a meditar. O que ele faria com aquilo? Porque ele precisava fazer alguma coisa, né? Ele conversou com... O Bispo de Pui, além de mostrar que já havia ido como peregrino, conversou também com o Conde de Tulu, um dos grandes nobres da cristandade da época, e decidiu fazer o apelo de Clermont, famoso apelo de Clermont, convocando à Cruzada, a primeira, e dando início à era das Cruzadas. Então, o que, inclusive, ele colocou como uma condição para os benefícios espirituais dessa peregrinação, porque a própria ideia de cruzada não existia na
época — o nome "cruzada" é moderno. Na época, você falava de peregrinação, de travessia para a Terra Santa; a ideia era de peregrinação armada, de tomar a cruz. Inclusive, ele encerrou seu sermão, sua pregação, dizendo com aquela palavra do evangelho: "quem não toma a sua cruz e me segue não é digno de mim". Então, era uma conclamação para que os católicos tomassem a cruz e fossem libertar o Santo Sepulcro, libertar os cristãos que eram oprimidos pelos turcos e auxiliar o Império Bizantino a se defender dos avanços turcos. E aí, com seu prestígio pessoal, e a
cristandade já estava razoavelmente consolidada naquele momento, deu início àquele imenso movimento que durou dois séculos e cujo espírito sobreviveu em muito à perda de São João d'Acre, no final do século 13. A ideia de cruzada permaneceu até a modernidade, como uma referência. Então, a ideia de fazer uma nova cruzada, de convocar uma nova, sempre permaneceu. Mas, durante esses dois séculos, ao longo dessas várias expedições, foram muitas, mas normalmente se agrupa em oito principais — ou nove, mas eu prefiro oito. O que se vê ali é a cristandade do Ocidente realizando uma grande obra, com os
grandes guerreiros, desde os imperadores e os reis até mais simples camponeses, tomando a cruz para a realização de uma obra que para eles era considerada vital. É sempre necessário distinguir o que eventualmente se manifestou realmente na prática, porque é claro: imagine colocar essas multidões humanas imensas em marcha, em meses de caminhada, percorrendo 5, 6, 7 mil quilômetros; é um desafio logístico. Então, é claro que o que há de pior do ser humano vai se manifestar aí também, é óbvio e evidente. E é óbvio também que, nessa empreitada, vão se meter pessoas que não prestam, vão
haver abusos; é normal do espírito humano. Normal, né? Então, onde tem ser humano, aí está a condição humana. Agora, a própria ideia de cruzada é uma ideia sobrenatural, é uma ideia mais radical, enraizada no próprio ideal cristão do sacrifício. Os cruzados entregavam-se e partiam, às vezes, sabendo que poderiam não voltar. A maior parte não voltou; não havia esperança de voltar, era uma peregrinação só de ida, muitas vezes só de ida. Sim, eram poucos os que voltavam. Houve, é claro, aqueles que lá se estabeleceram, que se tornaram senhores e nobres; lá foram criados os Estados latinos
para manter a Terra Santa. Houve aqueles que estavam muito mais preocupados em manter os seus estados e enriquecer. É claro que houve massacres por parte dos cruzados; alguns contingentes, por vezes, de cruzados promoveram isso. É óbvio que teve, como eu sempre digo, heróis e vilões nas Cruzadas, mas a cruzada que foi, teve a questão militar como um próprio bordão de refrear o avanço dos islâmicos. Fala um pouco do Saladino, aquela grande figura, e também do Balduino. Bom, são duas figuras notáveis. Saladino, pelo que eu já li dele — eu nunca li a biografia dele propriamente
dita —, já li sobre a sua participação nas Cruzadas. Eu vejo que há hoje, talvez, um movimento de querer desacreditar a pessoa dele, sei lá, como se ele tivesse sido demonizado. Falam assim: "Ah, eles elogiam muito Saladino, então vamos desmontar". Ah, entendi, só para ser do contra. Isso tem, né? Somente porque ele sempre foi um mito para o mundo árabe; até pouco tempo sempre se falava "Ah, Saladino, o novo Saladino" para conquistar a Europa. Isso é muito usado, né? Mas o que se vê nele é que ele realmente empregava, no exercício do poder, métodos que
eram os que ele estava acostumado. Essa também é uma diferença muito grande. Só que eu não vou fugir da pergunta, não vou voltar, só que eu acho que é necessário pontuar isso. Quando se observam, por exemplo, as duas figuras, Balduino e Saladino, os dois vêm de realidades políticas muito diferentes. Observemos, por exemplo, o que era a Europa feudal. Aquela inumeráveis famílias sucedendo-se no governo dos seus respectivos senhorios, condados, reinos, sem contestação durante séculos. O feudalismo não é uma estrutura bastante organizada e estável, né? Existe uma estabilidade política na Europa feudal, que absolutamente não existia no
mundo muçulmano. Os cruzados transplantaram o feudalismo francês para a Terra Santa. Estabeleceram ali estados bastante semelhantes, que viviam justamente como os estados feudais da Europa. Então, havia ali uma organização feudal de transplante, mas existia. Enquanto isso, o mundo muçulmano estava sempre ao jogo dos grandes caudilhos, né? Muitas vezes surgia uma grande autoridade muçulmana que unificava várias cidades, vários emirados diferentes e podia fazer frente aos cristãos. Em outros momentos, os muçulmanos se obrigavam entre si. Ver quando as cruzadas, quando a primeira cruzada chegou, o Oriente Médio muçulmano estava absolutamente fragmentado. Os cruzados da primeira cruzada enfrentaram
um mundo muçulmano desunido, e nas primeiras décadas do século XI a mesma coisa. O mundo muçulmano continuou bastante desunido, quando na Síria começou a assumir uma certa preponderância política e militar um personagem que se destacava dos outros e conseguia ser um caudilho militar de maior envergadura do que os demais, que era Zeng. Depois, seu filho Nur ad-Din. Aí os muçulmanos puderam fazer frente aos cruzados. Saladino é um desses que sai de baixo, né? Ele não era... Como que Saladino entra na história? Saladino era sobrinho de um general do sultão de Alepo, Naldin. Naldin enviou esse
general — e agora me foge o nome — para cuidar de certos assuntos no Egito, até para anexar o Egito ao senhorio sultanato da Síria de Alepo. Saladino era sobrinho desse general e vai realizando ali uma série de peripécias até se tornar senhor do Egito. Quando Nur ad-Din morre na Síria, ele vai para a Síria, anexa a Síria também e consegue construir um estado unificado na Síria e no Egito. Tudo gira em torno da pessoa dele, algo que não acontecia tanto nos estados cruzados. Os estados cruzados, enquanto tudo ia acontecendo, iam se sucedendo os reis,
iam se sucedendo os senhores, porque ali havia, não é? Na Europa feudal havia muito mais o centralismo das grandes famílias do que dos grandes personagens. Então Saladino desponta. Ele sai de muito baixo e vai sim cometendo uma série de atrocidades para se impor. Isso era praticamente uma coisa que era uma exigência entre os... É algo que não acontecia em regra na Europa feudal por causa das tradições feudais. Não adianta ser uma pessoa, ela vai e mata o seu senhor; não vai tomar o lugar dele, né? Isso não acontecia na Europa, mas no mundo muçulmano sim.
Então era um laço muito mais de submissão do que de aliança, e também tinha a questão moral muito forte, de submeter essas coisas à virtude. No mundo islâmico, a força... Não, eu digo que no mundo árabe era submissão pura e simples, pura pelo temor, pela força, né? Isso é até hoje, né? Se impõe uma ditadura e acabou. Então, Saladino era um líder carismático, muito hábil política e militarmente, um grande general que tinha até certas virtudes humanas e que poderia ter arrasado com os estados cruzados se também não tivesse despontado uma personalidade proeminente, que era o
Rei Balduíno, o leproso. Balduíno sucedeu ao seu pai, o Rei Uric I, quando da morte dele em 1174. Era muito jovem, tinha 13 anos e, desde jovem, foi diagnosticado com lepra, mas isso não foi para ele nenhum empecilho para que atendesse às tarefas hercúleas que se colocavam para ele, que era principalmente impedir a retomada dos territórios cristãos pelos muçulmanos, agora unificados sob Saladino. Os muçulmanos da Síria e do Egito; ele freou Saladino, venceu mais de uma vez Saladino. A batalha mais célebre foi a batalha de Montgisard. Ele já leproso, dizia-se que por vezes ele não
conseguia montar a cavalo por causa da doença. Ele era, por vezes, carregado no campo de batalha numa maca, simplesmente para que sua presença animasse as tropas, né? Mas ele não usava máscara. Não era aquele filme? Ah, foi o filme que criou a lenda, acho. Foi o filme que criou a lenda. Aquele filme eu acho que tem uma pintura, tem uma pintura também, mas é muito posterior. Mas acho que essa pintura foi feita a partir do filme. Ah, é... Acho que fizeram uma romantização, mas eu acho que aquela máscara é do filme. Eu posso estar falando
bobagem, mas eu acho que surgiu ali. Ele não usava máscara, não; ele costumava usar faixas no corpo e ele freou Saladino tanto quanto pôde. Eles próprios se respeitavam, né? Saladino respeitava, respeita. Ele respeitava Saladino, Saladino não respeitava. Houve um entendimento entre eles, uma trégua que foi firmada entre eles por um tempo, porque também essas tréguas aconteciam, né? Igual eu falei até na Península Ibérica. Quando você pensa na Reconquista, quer dizer que foram 800 anos de guerra, o tempo teve as tréguas e tal. Vi que até cavaleiros serviram aos muçulmanos, cavaleiros muçulmanos serviram aos católicos. Sim,
mas hoje o povo é muito dado às simplificações, né? Então as pessoas não entendem isso. Mas eles se respeitavam. Mas assim, se for para eu dizer qual é aquele que conseguiu se impor de fato, eu digo até por causa das suas condições, das suas condições físicas e das suas condições políticas. Os estados cruzados que ele foi chamado a governar estavam bastante divididos por causa das ambições dos pequenos senhores, principalmente o reinado de Chatila. Enquanto Saladino tinha aqueles turcos, aqueles sírios e aqueles egípcios nas suas mãos, era um território muito maior, um exército muito maior. Mas
morto Balduíno, o trono de Jerusalém passou primeiro por seu sobrinho Balduíno V e depois Balduíno V morreu. A mãe de Balduíno V, irmã de Balduíno, Sibila, tinha por esposo um homem deplorável, que era Guido de Lusignan, que precipitou os estados cruzados na ruína e levou à batalha de Hattin, à queda de Jerusalém por Saladino em 1187. Saladino esteve perto do triunfo. Completo! Saladino arrasou. Os Estados cruzados restaram apenas algumas fortalezas, subpós dos cruzados, né? Antioquia, Tiro e Trípoli, e algumas fortalezas hospitalares no interior. Ele poderia ter expulsado definitivamente os cristãos se não tivesse vindo a
terceira cruzada, sobretudo Ricardo Coração de Leão, que não conseguiu recuperar Jerusalém, mas conseguiu reconstruir uma boa parte dos Estados cruzados no litoral da Palestina e do Norte e do Sul da Síria e estabelecer com Saladino um entendimento pelo qual os cristãos poderiam visitar Jerusalém sem risco, como peregrinos. Sem problema! Muito bom, vamos para outro tema: O Mito do Protestantismo, Bíblia para o povo contra a tirania da Igreja Católica. E aí, depois você quiser falar do seu pastor preferido, né? Rodrigo Silva, fica à vontade. Bom, eu vou responder isso sobre o Rodrigo Silva. Não, assim, a
questão do Rodrigo Silva é culpa dele, né? Ah, as pessoas acham, as pessoas acham que tem alguma implicância, alguma coisa assim, só que essa história toda começou porque eu pedi pro Lucas assistir um vídeo e botava gravando, e foram as pessoas, nos comentários lá desse vídeo, que até acham que é uma coisa forçada, que houve deboche e tal, mas foi uma coisa absolutamente espontânea e natural. Muito assim, eu coloquei o computador na frente do Lucas e, diante daquelas barbaridades que o Rodrigo Silva fala, não tem como. Não tem como! Você viu, né? Eu vi. É
igual quando a gente faz react pela primeira vez, vê o filme, não vê o vídeo pela primeira vez. É normal você ter uma reação espontânea: rir, chorar. E aquele vídeo, ele é cheio de cortes, mas não tinham sido nós a fazermos os cortes. Era um próprio canal protestante que tinha separado aqueles trechos. Era, assim, era então. Então era uma sucessão de absurdos que eu estava vendo ali. Então, aí depois eu fiz um vídeo, não sei se você chegou a ver; eu fiz, eu reagi a esse vídeo de novo, só que de uma hora, né? Fiz
um vídeo longo explicando porque o povo achou que realmente eu estava ali querendo debochar. Eu nem vi a primeira vez que eu vi, né? E depois eu fiz esse segundo vídeo, depois um outro. Aí eu fiz um, e esse foi um dele falando que, no catecismo, tá, que o papa, que o anticristo vai ser um papa, né? Aí eu fiz um react disso também. Mas então, assim, não tem nenhum problema, porque tem outros aí que dizem enormidades até piores, eu acho, que ele diz, né? Acho que o Nicodemos também diz uma do Nicodemos, não acompanha
essa altura. O Nicodemos fala, só escuto. Não, ele também se mistura, porque veja, Marcelo, acho que as pessoas não conseguem distinguir uma coisa da outra. Eu não tô fazendo esses reacts para contestar a doutrina protestante, assim, eu sei que eles pensam isso. Não adianta eu ficar... Por que que eu ia gravar um vídeo? É jogar pérolas. Ficar falando: "Ah, não, eles pensam assim, mas a Igreja Católica não." Não é isso! Se trata de absurdos históricos que eles falam, exatamente, que falam que Basílica era templo de adoração de Deus, que Constantino disse que viu Mitra no
céu, que Constantino transformou o cristianismo em religião oficial do Império Romano, que basílicas eram templos, que Constantino tornou o Panteão uma igreja cheia de santos. Então são questões objetivas, né? E até falar: "Ah, por que que não chama ele para debater?" Mas não tem como debater isso, mas isso não se debate. Essas coisas não se debatem, né? Não se debatem essas coisas. São pontualmente absurdos que não foram daquele jeito. Então, enfim, é só para pontuar isso logo, né? E então, são questões históricas e tem coisas na história que não dá para debater. Ou foi ou
não foi. Você até falou isso no vídeo, né? Ou aconteceu ou não aconteceu. Cabe interpretação, né? E também o Rodrigo Silva tem certa proeminência porque ele já participou de muitos programas de televisão e eu via, né? Eu via muitos católicos comentando nos vídeos dele falando: "Não, eu sou católico, mas gosto muito do seu trabalho, acompanho e tal." E eu falei com o Lucas: "Olha, a gente tem que mostrar para as pessoas que esse senhor não sabe do que está falando." Uhum. Esse senhor se diz arqueólogo e não sabe o que é uma basílica romana e
não sabe o que é o Panteão. Então, acho que cabe essa retificação também, né? Como o senhor também, né, professor, tendo um canal de educação, existe uma certa responsabilidade de mostrar para os alunos o que se pode ouvir e o que não se pode ouvir, né? É, mas não é isso mesmo! São pessoas que se apresentam como autoridades em determinado assunto e que cometem erros crassos, pueris, em temas que não poderiam errar porque, afinal, ele se apresenta como um historiador e tal, não se apresenta como um especialista no mundo moderno, mundo contemporâneo, né? Sim, é
verdade, é complicado, né? É exatamente. Mas enfim, isso aí do protestantismo, então, quer comentar um pouco dessa história que a Igreja Católica escondeu a Bíblia do povo, e aí o protestantismo ajudou a resgatar a Bíblia para a população em geral? Padre Leonel Franca, ele faz umas considerações bastante interessantes sobre a sola scriptura, né? Ele fala o seguinte: o protestantismo surgiu em uma época, e na época em que ele surgiu, já se estava razoavelmente habituado, pelo menos entre as classes letradas, com a realidade chamada prensa. Então, para o protestante, como ele... Surgiu já no contexto da
tipografia. É para ele difícil imaginar um mundo em que isso não existia. Só que a Igreja Católica viveu 1.400, 1.450 anos sem que essa realidade não tivesse se tornado imprensa em 1455, né? Ou seja, 1.450 anos, 20 anos sem imprensa. Então, assim, a ideia do livro físico que nós podemos adquirir com uma facilidade tremenda hoje, nós podemos abrir a Bíblia na internet aqui, agora. Tem lá, tem até um site da Bíblia Católica, que tem, acho que, 30 versões da Bíblia. Você pode comparar. Gente, isso é absolutamente impensável alguns anos atrás. A internet só permitiu isso.
Agora, a mesma coisa em relação ao livro há mais tempo, mas tão impensável quanto, né? Então, quando o protestantismo nasceu, a Bíblia já estava disponível fisicamente, com uma facilidade tremendamente superior à de todos os séculos anteriores. Então, a Igreja não escondia a Bíblia do povo, simplesmente não era possível que as pessoas tivessem acesso. Imagina o custo para fazer uma Bíblia: tinha que ter um copista, porque aquilo lá tinha que ser copiado à mão. Não existia papel, a Bíblia era fininha, não era um volume pequeno, né? Era muito trabalho, muito caro. Não tinha como disponibilizar para
todo mundo. Aquilo, o livro, era uma coisa preciosíssima em termos de valor. E eu não sei se é lendo, eu já vi isso que as pessoas acorrentavam. Você já chegou a ver livro acorrentado? Já vi essa história. Eu já vi essa história também, nunca vi em lugar nenhum, na verdade. Mas o livro realmente era uma coisa valiosíssima e foi a Igreja justamente que incutiu o amor ao livro, né? O amor àquele próprio objeto. Quanto tempo um monge copista demorava para copiar uma Bíblia? O fato é que não existiam apenas livros separados; não se copiava um
volume. Os protestantes acham que as Escrituras são um livro físico, né? Livro, livro, livro. E aí já estava tudo lá. As Escrituras eram muitos livros. Eu não sei quanto tempo demorava para elaborar ou copiar todos, mas sei que eram anos, certamente muitos anos. Imagina, um monge que ficava ali talvez um ano inteiro copiando um único livro, né? Imagina isso! Não imagina a caligrafia que surgiu principalmente a partir do Renascimento. Aquela caligrafia lindíssima, aquelas regras, né? As próprias iluminuras. Enfim, tudo aquilo era feito com bastante esmero, com bastante cuidado e devoção, porque se sabia que se
estava transmitindo ali algo muito precioso. Então, não podia copiar de qualquer jeito. Era interessante essa sabedoria, a preocupação de, sabe-se que o conteúdo ali é muito importante, né? É muito precioso o que está escrito ali. Então, vamos até fisicamente colocar esse conteúdo em um objeto valioso, um objeto precioso. Sim, então não se tratava de esconder a Bíblia; tratava-se de que a maior parte das pessoas não tinha condição de ter. Esse é um ponto. Padre Leonel Franco até fala, como é que é? Lutero, quando os protestantes falam que eles não levaram nada da Igreja Católica. Na
verdade, Lutero levou uma coisa que ele achou jogada no convento: pegou a Bíblia e levou embora. Mas estava lá no convento. Ele levou uma coisa do convento dele, que não foi... Ah, é nesse livro, Padre Leonel Franco, "A Igreja, a Reforma e a Civilização". Ele está contando que está numa polêmica com um protestante que respondeu à inquirição de quem deu a Bíblia para os protestantes, né? Para Lutero, uma coisa assim. E esse sujeito respondeu que a Bíblia havia sido preservada pelos protestantes de todas as épocas. Não, uma piada pronta, né? Piada, esses flatos votos, né?
Essas frases de efeito no protestantismo. Padre Leonel Franco fala: "Não, na verdade, Lutero pegou a Bíblia do convento e foi embora do mosteiro dele". Então, essa é a questão: não se tinha. Agora, também não vamos radicalizar. A Igreja nunca entendeu que se deveria dar a Bíblia para qualquer pessoa ler e interpretar. Não, isso ela nunca entendeu assim, né? A Bíblia nunca foi pensada como um livro que cada um deve ler para extrair verdades de fé de acordo com a inspiração que o Espírito Santo lhe der. Ah, tá, né? Então, não. A Igreja sempre entendeu que
a interpretação dos Santos Padres, sobretudo dos Santos Padres, é necessária para uma reta leitura da Bíblia. Até de acordo com aqueles quatro critérios, né? Aqueles quatro prismas de interpretação que eram tão fortes nos exegetas medievais: o sentido literal, o moral, o anagógico e o alegórico. Enfim, uma pessoa que, por vezes, não tem... Às vezes a pessoa sabe ler, mas não tem uma série de conhecimentos que são necessários para a interpretação. Lembra daquele caso do pastor que adulterou? Ah, e você vê hoje em dia. Pode contar o caso. Então, não, você não viu esse caso? É
um caso famoso que deu no Fantástico uns anos atrás. Estou sabendo: o pastor, ele... não sei, acho que era um porteiro... estava lendo Salmos. Ele abriu uma igrejinha, ele abriu uma igreja na... Ele disse que, um dia, uma das fiéis dele chegou, a fiel e o marido, falando que a mulher tinha sonhado que ela tinha engravidado dele. Aí o pastor falou... Não, um casal chegou falando que a mulher tinha sonhado que teria engravidado do pastor. Aí o pastor: "Vamos rezar, vamos orar." Aí eles se colocaram em oração. Ele leu uma palavra de uma passagem de
Oséias. Não estava escrito "os" estava escrito "adúltera" e "adúltera" recebe a sua irmã, que é a adúltera. Uma coisa assim. Aí ele entendeu que era para ele adulterar. Adultera, é inacreditável! E engravidou a mulher, né? E deu entrevista no Fantástico. Aí o repórter mostrou para ele na hora. Ele... Pou... Enfim, então, aí dá margem para essas pessoas despreparadas. Aí, vira anedota. É claro que é um exemplo esdrúxulo, mas a igreja sempre foi sábia ao entender que a escritura não é para ser vulgarizada, é claro que não. Mas, ao mesmo tempo, o conhecimento da escritura não
era vedado na Idade Média. Por exemplo, a fé do medieval era profundamente escriturística, que nós vemos nas catedrais, naquelas cenas que todo mundo reconhecia. E isso sim, aquelas cenas todo mundo conhecia nos pórticos, nos vitrais. São representações bastante precisas, numerosas e detalhadas dos episódios do Antigo e do Novo Testamento, porque as pessoas conheciam. Os sacerdotes, os pregadores narravam a história, contavam e tinham a preocupação de aliar o sentido literal. Por exemplo, tem lá, não sei, tem lá um vitral com a história do filho pródigo, mas a igreja sabe que existe essa parábola que Jesus contou
do filho pródigo. Mas, ao mesmo tempo, não é a história do filho pródigo, é um resumo da própria história da humanidade, desde a queda até a redenção. Então, o que a igreja fazia? Colocava lá no vitral a cena narrada por Cristo no Evangelho no meio, e ao lado as cenas do Antigo e do Novo Testamento que estavam se realizando em cada passagem daquela parábola, né? Então, sei lá, o pai, o filho que pede a herança do pai, vai embora, é uma metáfora para o pecado original. O pai recebendo o filho, cobrindo-o com um casaco e
matando para ele um vitelo, é uma representação da crucifixão de Cristo. Enfim, a igreja tinha a preocupação de narrar a história da escritura, principalmente do Evangelho, mas de todo, principalmente do Antigo Testamento também, que naquilo apontava para a vinda de Cristo. Mas, principalmente do Evangelho e dando o sentido moral e espiritual daqueles acontecimentos para que as pessoas de fato adequassem a sua vida àquilo. Não simplesmente as pessoas sabiam, as pessoas conheciam aquelas histórias, mas, mais do que isso, elas entendiam que precisavam viver daquele modo. E isso é muito mais eficaz, na minha humilde opinião, do
que dar a Bíblia para todo mundo ler, né? Então, é isso que a igreja fazia. Ah, isso significa que a igreja vedava a leitura da Bíblia? Não. Primeiro, havia essa questão de que não havia como dar acesso físico, não tinha como todo mundo ler. E, mesmo, vejam, uma outra coisa também é sobre essa questão da dificuldade de acesso à escritura. Por vezes, em uma escola, havia só um exemplar de um livro da Bíblia. Por exemplo, tinha só um exemplar do Evangelho de São Mateus. O mestre lia e os discípulos tinham que ouvir e que se
virassem. Gravaram, exatamente, memorizando. Havia técnicas de memorização na Idade Média, sim. Tem um livro sobre isso, né? Tem, depois, mesmo no Renascimento, mesmo na Idade Moderna, teve o "Método" de memorização, "Palácio da Memória". Aham. É, sim, sim, conhecido, né? Seria muito interessante se a gente pudesse comparar um aluno de uma escola episcopal com um aluno, sei lá, da academia de hoje. Que que você acha de teologia? Nossa, a diferença é astronômica. Quem vai conhecer mais as escrituras é porque foi o que você falou: só tinha um livro numa escola. Às vezes, aquele tópico, aquele ponto,
era apresentado só agora. A pessoa às vezes nunca mais ia ver na vida. Então, o único jeito dela ter acesso era memorizar. Ela tinha que ter algum método, não ia ter como a biblioteca pegar o seu exemplar. Não dá, não tem como saber que a qualquer momento eu posso consultar? Esse é um erro, né? Um anacronismo você pegar uma realidade do mundo moderno e tentar transpor para outras épocas. Outras épocas têm outras dificuldades, outras coisas que não existem hoje, né? Então, a gente tem que entrar dentro dessa realidade para entender o que aconteceu, né? É
isso. Muito bom, professor. Só comentar uma coisa. E essa cena que o Lucas ilustrou do vitral, né? Do filho pródigo, com exemplo, mas é justamente o que nós fizemos naquele projeto que nós comentamos com o senhor, né? Em busca da civilização católica. E acredito que a audiência talvez tenha interesse em ficar sabendo. Nós fomos à França gravar um... Pode explicar? Fica à vontade, se você quiser explicar, Lucas. Nós passamos o mês de abril em 10, 10, 12 cidades francesas, né? 11, 11 cidades francesas, filmando nas principais catedrais do Norte da França um curso que nós
chamamos de "Em busca da civilização católica". Porque nós percebemos que a compreensão do que foi a civilização medieval, com toda sua riqueza, com tudo aquilo que ela era e que lhe era próprio, ainda está preservada na catedral, tanto na arquitetura, mas, sobretudo, na pintura, nos vitrais, nas esculturas. Enfim, então, nós estivemos em várias igrejas, né? Várias catedrais, além de algumas outras igrejas em Paris. Qual foi a sua preferida? Ah, eu... Bom, não, difícil essa pergunta para mim... Entre Amiens e Bourges. Ah, para mim, eu gosto da Chartres e Strasbourg. É... Nós tivemos nelas. Também, mas
a entre aia em Burj, para mim e você. Ah, eu fiquei especialmente impactado por Sanden. Não é a... não é a maior. Sei lá onde começou, né? É, não é a mais impressionante, mas para mim foi mais marcante. Então, nós fomos em todas, em várias dessas catedrais para mostrar ao público brasileiro o que era essa civilização medieval e mostrar como aquilo que é mais próprio de uma civilização católica autêntica estava lá e está ainda esculpido lá nos seus mais variados aspectos. Então, nós fizemos um financiamento coletivo. Desde dezembro, desde janeiro, dezembro a março, nós conseguimos
levantar o valor necessário para irmos e fomos nós dois e o Gabriel, que também é da nossa equipe. Ficamos lá mais de 20 dias gravando assim, intensamente, todos os dias, a exceção dos domingos, era de manhãzinha até de noite. Já está tudo gravado e estamos na fase de edição, que é uma fase difícil, né? Edição é... originalmente, a gente teria, não é assim, mas não é isso aqui, não é... mas não é isso aqui. Esse é o mito, a gente vai mostrar a história. É... tem... esse outro documentário já, esse curso já é outra coisa,
já é uma coisa mais positiva, né? E a gente previa, sei lá, que seriam oito aulas, mas na verdade foram 15, né? Tudo bastante articulado. Bem, conseguimos gravar, a gente previa agora quantas cenas... que a gente tinha previsto umas 300, 225 gravamos, 267. Não previmos 267, gravamos 265. Foi a graça de Deus mesmo, a gente conseguiu gravar 99% do que a gente previu. Ah, que bom! Ótimo, e deu tudo certo. E daqui a alguns meses, né, já estará pronto para aqueles que não contribuíram durante o financiamento coletivo. Então, se quiserem ficar aí antenados, quando tiverem
interesse, basta entrar no meu canal no YouTube, também na minha Lucas Lancer, e também no meu perfil no Instagram, Lucas R Lancast, que lá, quando vier a gente vai divulgar, né? E essa cena, né, que Mateus fez alusão e que eu disse, é uma das que a gente fez, né? A gente foi escolhendo alguns exemplos bastante representativos daquilo que a gente queria mostrar e fomos explicando, né? Os vitrais, aquele esporte que os repletos de escutas, a pessoa V acha que não tem sentido nada daquilo, mas tudo aquilo tem um significado milimetricamente cognoscível. Então, a gente
fez esse esforço para depois... antes, né, houve muita preparação, antes de estudo da minha parte, de preparação técnica para eles. Enfim, acho que vai ser bastante proveitoso para quem assistir. Muito bom! Então vamos para nosso último tema, rapidinho, falar um pouco dos mitos da Revolução Francesa: liberdade, igualdade, fraternidade, essa tríade fabulosa, né? Maravilhosa! É, volto aqui a comentar que nós estamos aqui numa campanha de lançamento desses dois livros, que é Revolução Sanguinária, do Madelan, um livro excelente, o original em francês, nós traduzimos para o português, e do Morn, que é sobre os intelectuais, né? Estamos
numa promoção, um desconto de 40%, por até o dia 16, apenas R$ 166,90 para os dois livros, e ainda ganho o curso da história da França como bônus. Não perca essa oportunidade! Eu tenho também alguns livros para sugerir a publicação depois. Eu vou falar depois, a gente faz sobre a Revolução Francesa também, porque esse é um tema que precisa ser conhecido. E acho que é um dos temas... e eu acho que talvez não haja acontecimento ou, sei lá, processo histórico a respeito do qual foi mais escrito do que a Revolução Francesa, né? Tanto para elogiar
como para... mais para elogiar, né? Assim, é verdade! Eu acho que em muitos lugares, na própria França, né? Que eu tenho alguns livros que eu comprei recentes, eu vejo que já existe um movimento de identificar o que de fato foi aquilo. Porque uma coisa que me chama muita atenção na Revolução Francesa é o vandalismo, né? O vandalismo da revolução. Tem até dois vídeos no canal sobre as profanações de Sanden, né? E a Revolução Francesa... ela não apenas tentou matar os vivos, mas também tentou matar os mortos. Tentaram destruir a Notre Dame de Paris, só não
conseguiram porque alguém lembrou que não tinha onde colocar os escombros. Então, aí desistiram, mas a fachada foi toda vilipendiada. A fachada de Notre Dame de Paris é quase toda a reconstituição do século XIX, fora a profanação que fizeram dentro, né? Então, todas as igrejas, os palácios... não! Todas têm a sua cicatriz, toda tem a sua marca, e não dá para realmente saber. Tem um historiador, Mich Pichou, ele no seu livro "Levant Lis de la Révolution", ele fala uma coisa interessante logo no prólogo: se nós vemos o que a França tem hoje ainda de acervo preservado,
acervo cultural de todas as épocas anteriores, e considerarmos o que a Revolução destruiu, até a rica Itália pareceria pobre, considerando que a França era antes, era antes, né? O galo de destruição em termos do que ela era em termos de legado cultural de todas as épocas. E se a gente pegar Napoleão como consequência da Revolução Francesa, Napoleão também fez uma destruição enorme na Itália, na Espanha. Tem um monte... você visita muitos locais da Espanha, tá lá assim... depois de Napoleão, ficou passado seu grau de destruição e de vandalismo, foi uma coisa IMP... os espanhóis também
deram um problema para ele, né? Deram bastante... e a Itália... ele roubou, né? Chegou lá e pegou. As obras de arte e levou pra França. Na it levou embora, né? Sem mais nem menos, né? É, mas então a Revolução Francesa me chama muita atenção nisso também, né? Não se trata simplesmente de matar o rei que está vivo, mas também de todos os reis que estão mortos e se puder destruir tudo. Não se trata de matar as pessoas que estão supostamente oprimindo a nação. Hoje nós temos que destruir todo o legado cultural que foi construído por
essa opressão. Então, eu acho que é bastante significativo em termos do que é a mentalidade contemporânea moderna, né? E que continua reverberando, por exemplo, esse Black Lives Matter querendo pôr as estátuas abaixo. É ainda um ressoar disso nos nossos dias, né? Esse ódio ao passado, essa tentativa de destruir o que veio antes para colocar alguma coisa melhor, supostamente melhor, no lugar. E bom, a Revolução Francesa é uma tentativa de se construir na marra, a partir da destruição e do derramamento de sangue indiscriminado. Tentar construir, tentar colocar na realidade algumas doutrinas forjadas por alguns ideólogos enlouquecidos,
né? Como principalmente esse senhor aí da frente, né? Então, é impressionante mesmo a tentativa de se destruir tudo, de se matar quem for preciso matar para se colocar na prática uma quimera ideológica. A Revolução Francesa foi isso, né? E essa tríade, né? Liberdade, igualdade e fraternidade, nada mais é do que uma inversão completa. E que para algumas pessoas pode parecer, né? Um cristão poderia defender essas três ideias: liberdade, igualdade e fraternidade, mas não entendem o que está subjacente por trás disso, né? A liberdade nascida da Revolução Francesa é uma liberdade essencialmente anticristã e antinatural, colocando
o ser humano como... colocando a liberdade como uma finalidade, como a finalidade do ser humano, e não como um meio para se alcançar a finalidade que é a contemplação da humanidade escrava dos seus vícios, né? Quem não serve à virtude vira escravo dos seus vícios. A fraternidade entregou o dogma da liberdade e vendeu a escravidão, né? E a igualdade é a tentativa... É porque é sempre necessário pontuar, né? Porque existem igualdades que são justas e igualdades que são injustas. Porque o homem é um semelhante. A essência, a natureza nossa é igual, somos diferentes nos acidentes,
né? Assim como existem desigualdades que são injustas, mas também há desigualdades que são outras da natureza, que ninguém tem culpa... Eu não tenho cabelo, eu tenho, então é uma desigualdade, sim, exatamente, né? Mas então a Revolução Francesa é uma tentativa enlouquecida de se tentar aplicar uma série de princípios que não correspondem à própria realidade das coisas, né? E basta e assim, observe-se o que foi feito para tentar colocar isso em prática, para se perceber que existe um problema de raiz. E a Revolução Francesa, eu acho que ela pode ser chamada... Claro que esse conceito é
bastante contemporâneo, mas talvez seja o que mais se aproxima de um genocídio, que é o que aconteceu na Vendée. É uma tentativa... É claro que ali não há componente étnico, né? Mas o que mais se aproxima da tentativa de exterminar um povo que está causando algum tipo de problema... Sim, foi exatamente isso. E chegou esse momento em Paris que se matava 3.000 pessoas por dia na guilhotina. Talvez nos dias mais... Você aproveitava a pele humana para fazer casaco. Usava colete de pele humana, não. Fizeram cume para tratar a pele humana. Olha, assim, a coisa... Então,
eu acho que conhecer a Revolução Francesa ajuda a desmontar uma série de coisas que foram inoculadas na nossa cabeça e que vêm dela, né? Porque todos nós fomos educados na escola entendendo que a Revolução Francesa foi uma coisa muito boa, que acabou com as trevas... Alguns... Porque alguns recuam as trevas até o século X... O século X, exatamente. Então a Revolução Francesa acabou com a... Na faculdade de direito se ensina muito isso também. Ah, eles falam: a Revolução Francesa teve uns abusozinhos... Passa rápido e fala: mas o resto foi uma maravilha, efeitos maravilhosos para a
sociedade. Passam rápido nos crimes, né? Então, conhecer a Revolução Francesa é importante não tanto para entender o que aconteceu na França lá no final do século XVIII, mas porque é de lá que vieram essas ideias que o mundo em que nós estamos vivendo hoje... É o mundo da Revolução Francesa. Até o metro, né? A medida veio da Revolução Francesa. A sorte que não pegou os meses, né? Nem a semana de dez dias. Imagina, nossa! É cada uma, né? Mas os heróis continuam, né? Continuam os heróis. Continua... Eduardo, temos perguntas hoje? É o Mateus? Ah, é!
Desculpa, verdade! Não, tranquilo. E no Super Chat aqui tem duas perguntas. O Everton Perim perguntou por você, Lucas, e ele disse que já leu que São Luís foi o primeiro a introduzir a presunção de inocência no processo criminal. Ele perguntou se você pode confirmar se isso é verdade e explicar como foi esse processo. Bom, a ideia de preso, esse nome não existe, né? Não existia antes, é um nome bem contemporâneo. Agora, São Luís, ele nas suas... nas suas grandes ordenanças de 1254, depois reformada pela de 1256, ele instituiu... ele declarou, definiu algo que se aproximaria
do que hoje chamamos de presunção de inocência, que é se no caso de dúvida não considerar que o réu é inocente. Mas isso, na verdade, é fruto de uma... de algo que já era dito pelos Papas desde o século X. Sei se há realmente uma relação direta, mas há um precedente no século XI que é o seguinte: no século XI houve uma ânsia persecutória aos heréticos muito grande por parte das autoridades políticas, né? Que até levaria à Inquisição. E houve um caso em 1161 em, em... me foge a cidade, uma cidade no norte da França,
foi... rans, foi Hans, foram presos alguns heréticos, mas havia ali dúvida sobre quais seriam culpados. E não teria como saber quais eram e quais não eram. O Papa Alexandre I exigiu que fossem todos soltos porque era melhor que os culpados não fossem punidos do que os inocentes fossem culpabilizados juntos. Aí a gente vê uma... já é o princípio sendo empregado, né? Já é essa ideia de presunção de inocência. Já não tem certeza que a pessoa cometeu ou aquele grupo ali. Não dá para individualizar a ação para saber quem foi e quem não foi. Então, eu
acho que São Luís não inventou a roda quando declarou isso. Na verdade, ele simplesmente reconheceu como uma norma jurídica algo que já era praticado por todo governante que era minimamente justo. Uma curiosidade: a Revolução Francesa inverteu isso com a Lei dos Suspeitos, e a Revolução Cubana também com a lei da presunção de culpabilidade. Como era mesmo essa lei dos suspeitos? Não me recordo. Essa lei dos suspeitos permitia que os comissários revolucionários pudessem prender alguém mediante mera suspeita ou acusação de vizinho. Então, um vizinho, não é como o outro, lá antirrevolucionário. Se os comissários falassem "acho
que não", e alguém reclamou do preço do pão, pronto, vai pra guilhotina, acabou! Não tinha direito à defesa. Era a Lei do Suspeito que não previa direito à defesa, e a Lei Cubana de 1960 e 1961 era inspirada na lei francesa da Lei dos Suspeitos. Os comissários cubanos também iam e prendiam. O lazy fat cat perguntou se os senhores sabem sobre a história de São Tomé. Existem fontes que até estadistas no Brasil escreveram várias coisas. Ele perguntou para comentar o que vocês acham disso. Eu conheço, mas não tenho condição de opinar. Bom, pelo que os
padres, né, eles faziam menção a São Tomé, sim, né? Inclusive, o Peru era chamado também de trilha de São Tomé. Inclusive, tinha... não, trilha do P, mas desde o Peru também tem, tem... os índios aqui do Brasil. É porque você falou os padres? Não, os índios! Perdão, é... os índios faziam referência a uma figura que depois os padres jesuítas interpretaram como sendo Tomé. Aí tinha Paumé, Lomé, Tomé, eram variações do mesmo tema que tinha até no Peru. Essa visão. Então, eu acredito que tem muita fonte sobre isso, né? Uhum. O Gabriel falou de um último
tópico aqui, se o senhor quiser comentar. Ah, que você quer comentar sobre isso: a igreja ser contra a ciência. Bom, podemos... no final das contas, a origem disso é Galileu, né? Eu acho que é o grande mito a que o povo se refere. Eu acho que a origem disso é Galileu. Porque, se nós retrocedermos, aquilo que a gente já falou, se observamos na Idade Média o cultivo da ciência, a escola de Chartres, muito preocupada com a ciência da natureza, com as matemáticas... nos séculos XI e XIV principalmente, havia uma grande preocupação com a ótica, depois
o método científico, tudo isso. Então, e sempre os clérigos, né, preocupados com... eram sempre eles que estavam à frente das grandes descobertas. Mas eu acho que o caso Galileu pesou para julgar que a igreja seria, por princípio, contra a ciência e que ela teria impedido o desenvolvimento da ciência. Qual é o mito? O mito é o seguinte: Galileu defendeu o heliocentrismo e a Igreja Católica o condenou por causa disso. Essa é a ideia. Logo, a igreja é contra a ciência. Ó que silogismo perfeito, né? É, mas não! Pois é, mas nem a premissa é absolutamente
verdadeira. Galileu ele pode defender essa tese durante muito tempo, inclusive ele tinha uma... bastante... ele tinha bastante entrada no clero, bastante contato com os homens da igreja. Ele conhecia o Papa Paulo V, que gostava dele. Depois o Cardeal Urbano VIII, primeiro Paulo V que teve contato com ele, depois Urbano VIII o favorecia. O próprio São Roberto Belarmino, que era inquisidor, tentou poupá-lo de todas as formas. Então, era um homem que tinha entrada na igreja. Como que o problema de Galileu começou? O problema começou quando ele defendeu o heliocentrismo, que não é uma ideia dele. Copérnico
já defendia... enfim, outros já defenderam. Na verdade, isso era discutido. Esse heliocentrismo já era discutido nas universidades medievais, já como hipótese. Se não me engano, Nicolau de Oresme já tinha discutido sobre isso no século XI. Se não me engano, acho que Nicolau de Cusa também falou disso. Enfim, Galileu defendia essa ideia do heliocentrismo também, só que surgiu um padre, Ludovico de Carpi, que escreveu um livro tentando refutar o heliocentrismo a partir de passagens da Escritura, na qual realmente dá-se a supor que o sol gira com as passagens do Antigo Testamento. E Galileu respondeu se metendo
a teólogo, né, dizendo que a Escritura deveria ser lida com outra lente, um sentido simbólico e tal. Então ele começou a meter-se em assuntos que não eram da alçada dele. Foram surgindo... e era um homem bastante polêmico também, era um homem bastante agitado, bastante inquieto, e a igreja não... O perturbava, só que ele começou a dizer naquele famoso livro seu: "Eh, o Diálogo, Diálogo sobre dois grandes sistemas de mundo." Ele ali apresentou o heliocentrismo não como uma teoria, mas como algo que se impunha à realidade, que não admitia contestação. Sendo que ele não podia provar
cientificamente o que estava falando, era uma teoria. Ali, a Igreja falou que ele já não poderia enveredar por esse caminho porque ele não poderia sustentar essa doutrina como se ela fosse uma verdade, como se aquilo fosse uma verdade comprovada cientificamente, sendo que ele não tinha as provas. Aí que a Igreja entrou, né? Eh, a Inquisição entrou. A Inquisição... existe até mesmo uma teoria, não sei se você já chegou a ler sobre isso, Marcelo, que Galileu, na verdade, ele foi poupado, sim, porque, na verdade, ele teria defendido... era uma coisa pior. Não me lembro, ele chegou
a ser investigado na Inquisição por astrologia, não por astronomia, astrologia não. Mas não é isso, não! Depois não. E sim, depois por materialismo e algumas outras coisas. Exatamente. Pelo visto, ele sustentava uma doutrina a respeito dos átomos que tendia a negar a transubstanciação. Mas, no caso, se ele realmente negava a transubstanciação, a heresia dele era muito pior. Então teriam... O condenado por algo que não era tão grave. Sim, essa é uma teoria do italiano lá que comenta sobre isso. Seja como for, ele foi condenado porque estava impondo, defendendo o heliocentrismo como se fosse uma verdade
comprovada e não como uma teoria, dentre outras, e foi condenado. Mas não foi. Tem gente que fala que ele foi queimado. Ele foi recebido pelo Arcebispo de Siena, que era amigo dele. Ele tinha muitos contatos na Igreja. Ele foi condenado, mas teve prisão ciliar, podia receber visita. Não vi, ficou o resto da vida fazendo experimentos científicos. Depois ele ficou cego e acabou morrendo. Ele foi condenado em 1633 e morreu em 1642. Mas ele teve a prisão domiciliar, depois acabou ficando doente e cego, então o prejuízo prático para ele foi muito pouco, sim. Então, até aquela
fala dele é lendária, aquela de que "é isso, é isso", "ela se move e tal". É isso, é lendário. Eh, então eu acho que a origem desse mito da Igreja ser contra a ciência vem disso, que é uma história bastante mal contada. Nós sabemos a verdade, mas é mal contada e não se configura na prática. A Igreja, ela nunca se opôs ao conhecimento. Contrário, ela fomentou, né? Tanto é que tinha o Observatório do Vaticano, que dava estudo de astronomia e tal. Mesmo aquele... eh, grande estudo de Saturno teve apoio da Igreja. O descobridor dos anéis
de Saturno, Cassini, tinha apoio da Igreja para fazer observação astronômica. Então, tudo é mentira, né? Esse negócio de que é contra ciência. E o que ela se opôs, naturalmente, foi ao cientificismo do século XIX, né? Que tenta reduzir tudo a uma compreensão materialista e experimental, empírica da vida. E é claro que a Igreja vai se opor. Ah, então se ela é a Igreja, ela é anticientífica por isso! Então, ok. Contra isso, ela realmente se opõe. Agora, ao conhecimento, em si, não. O amor que os medievais tinham pela natureza é impressionante, né? Tinha até aquela ideia
de que existem dois livros pelos quais se conhece a Deus: o livro da Escritura e o livro da natureza. Nunca eles podiam se opor. São Alberto Magno foi um grande estudioso da natureza, São Beda lá atrás, né, e tantos outros. Mas é importante também fazer uma retificação, né? Ou seja, eu vejo que tem muitos apologetas hoje em dia que tentam mostrar como que a Igreja está conforme a ciência, e isso também é um problema, né? Ou seja, é verdade. O problema é o termo ciência, né? Ler a teologia sobre a ciência moderna. Que ciência moderna,
né? É, mas é isso, né? Porque tem gente... o modernismo fazia isso, né? A tentativa de submeter a fé às novas descobertas científicas, como é hoje em dia, né? Ah, não acredito em milagre porque a ciência não provou o milagre. Mesmo que a ciência prove, o povo não acredita! É exato! Como o Sudário de Turim é... já, por exemplo, que concilia, tenta conciliar a criação com a evolução, né? Eh, vi, teve recentemente isso, né? Enfim. Então, eh, problema... Tem tempo para mais alguma ou não? Eu acho que esse é um tópico interessante para tratar, não
é? Hã, tem mais alguma pergunta? 5 horas, a gente tem que encerrar. Eh, que horas são? 5 para? C? Não. Tem só um comentário aqui, um elogio. Ricardo agradeceu, eh, só cumprimentar, parabenizar pelo belo trabalho. Eh, bom, tem um último tópico aqui. Eh, afinal, a missa tridentina surgiu no século XV. É um tema que já foi tratado. Eu tenho um vídeo sobre isso, recomendo que assista. Mas não, a missa tridentina não foi inventada no século X. Ela, São Pio V, a pedido do Concílio de Trento, simplesmente deu normatividade à missa Romana, que era celebrada desde
sempre, e cuja tradição remonta aos próprios apóstolos, né? A missa que nós conhecemos como tridentina não é uma invenção do Concílio de Trento. Ela é a missa Romana que foi sendo construída ao longo dos séculos, crescendo como um organismo que vai se desenvolvendo organicamente, não? É como um embrião que se torna um bebê que se torna um homem. Eh, mas não, a missa tridentina não é uma invenção do século X, como alguns dizem. Perfeito! Então tá bom. Muito obrigado pela presença de vocês! Obrigado, Lucas! Obrigado, Mateus. Muito boa conversa! Agradeço a todos aí que nos
acompanharam. Muito obrigado a todos. Obrigado, pessoal! Boa tarde!