Vamos conversar, chat. Agora é mais uma parte da live que é mais uma trocação de ideia de um tema que há muito tempo eu queria falar, mas eu senti que não tava muito pronto ainda. E aí a Sued escreveu um roteiro muito legal, que eu acho que inclusive até merece um pouco de aprofundamento.
Daria um baita vídeo ensaio quando eu voltar com o canal canal de ensaios. Talvez eu pense em expandir esse tema aqui que é masculinismo na internet. Vai ser mais uma conversa aqui entre nós dois, eu e o chat, né?
a essa entidade chamada chat, ah, sobre esse fenômeno que todo mundo vê, mas nem todo mundo entende. Então, vamos lá, vamos começar de um de um ponto comum aqui. Machismo e misogenia existem.
Eu sei que é, eu tô começando novamente com a régua baixa, mas é bom a gente começar pelo menos do básico, né? Machismo e misoginia existem, diferente do que a direita diz. E não só existem, são estruturais.
São estruturas que definem como homem e mulher na sociedade devem agir de uma maneira idealizada. Esses papéis são internalizados e a gente reproduz em vários lugares. A gente reproduz na nossa família, a gente reproduz na escola, a gente reproduz no trabalho, a gente reproduz no dia a dia.
Uma das coisas que tá aparecendo agora no capitalismo tardio é um tipo de machismo identitário. é um machismo identitário, que não é só o machismo que existe, mas é o machismo que é feito por pessoas que têm orgulho de se autodeclarar machistas, ou seja, pessoas que se identificam com esse masculinismo, se identificam com misoginia, como parte da sua identidade e não apenas que repercutem ela. Pessoas que reafirmam o seu papel de gênero idealizado de forma violenta.
E isso tem crescido vertiginosamente na internet. a ideia de que o homem bom é o homem bruto, é o homem provedor, é o homem forte, etc, etc. É o homem que vai perguntar o seu exame de sangue para ver quanto de testosterona você tem.
Coisa que já, sem ironia nenhuma, já fizeram comigo, eu acho assim doentil para dizer o mínimo. E como as coisas são dialéticas, né, ao mesmo tempo que você reforça o papel do homem, você também faz a mesma coisa com o papel da mulher. Afinal de contas, a mulher ela é entendida, segundo esse ponto de vista, como o oposto do homem.
Mulher é tudo que o homem não é. Se ser homem é ser provedor e bruto, a mulher certa é a mulher que não é provedora e é delicada. Vocês estão entendendo onde eu tô querendo chegar?
E não só delicada, mas submissa. Eu falei sobre o catolicismo conservador e sobre padres falando que tá na Bíblia que a mulher tem que se submeter e ponto final. Também tá na Bíblia que você tem que lavar sua cabeça com azeite.
Eu não vejo ninguém fazendo, mas enfim. Qual que é o o problema, né? Muitos, né?
Eu não sei porque que eu sempre começo com qual que é o problema, muitos problemas. Mas tem um problema que talvez seja um pouco invisível aqui, que é tem gente enchendo o toba de dinheiro por causa disso. Deixa eu mostrar uma notícia para vocês.
Machosfera brasileira, canais misógenos do YouTube transformam ódio em lucro com anúncios, doações e vendas online. Influenciadores da machosfera movimentam milhares de reais na plataforma com conteúdo que promove ódio contra mulheres. Segundo pesquisa realizada pela NetLab, que é um uma organização que faz pesquisas de internet muito muito importantes, muito úteis e que a gente da soberana usa bastante para analisar dado da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Então fica a dica aí, se você estuda internet, NetLab é uma boa referência. Vamos lá. Abre aspas.
quando criou o blog Escreva Lola e Escreva em 2008, eu lembro dessa época, a professora da Universidade Federal do Ceará, UFC, e blogueira feminista, não imaginava que dava visibilidade a casos de machismo e misoginia a colocaria no centro de uma campanha sistemática de ódio online. Muito menos que anos depois, esse mesmo discurso violento se tornaria altamente lucrativo. Abre aspas.
Desde a primeira semana do blog tinha comentários misógenos, mas não necessariamente ameaças. Fecha aspas, relata Lola, que criou seu blog para ter liberdade editorial para falar sobre feminismo, cinema, literatura, política, entre outros temas. O o que que eu quero trazer aqui desse caso da Lola, do escreva Lola e Escreva?
Como todo grupo que ascendeu hoje com a extrema direita, o masculinismo já existia. Então o que a gente tá trazendo aqui é não é uma invenção do capitalismo tardio ideias masculinistas. A questão é que isso era relegado a um grupo de excêntricos no Orcut, que nem seguidor do Olavo de Carvalho, que existia, mas era um era coisa de de gente underground.
Antivacina já existia, terra planista já existia, essa galera já existia. Só que era um negócio, era um negócio lá que ficava dormente na internet com meia dico falando só entre si. Abre aspas.
Com o avanço da internet, esses grupos masculinistas ampliaram e diversificaram o discurso de ódio contra mulheres e conquistaram legiões de seguidores. Hoje conseguem monetizar vídeos e transforma a misogenia em um negócio rentável, movimentando milhares de reais com conteúdos que pregam o controle sobre mulheres, deslegitimam o feminismo e reforçam um estereótipo de gênero. Atualmente, 137 canais de YouTube no Brasil publicam conteúdo explicitamente misógeno, somando mais de 105.
000 vídeos e cerca de 152. 000 inscritos. Ainda é pouco, 152.
000 1000 inscritos é pouco. Só o meu canal aqui tá 450. 000, né?
Isso aqui é 152. 000 no total, mas gente já é 152. 000 a mais do que deveria.
Devia ser zero isso aqui. E não é assim misogenia só nas entrelinhas. É explicitamente misógeno.
Ou seja, nesse nível já tem gente que consegue pagar as contas sendo misógeno na internet. E isso aqui é bizarro. Isso é novo também.
Os dados são de uma pesquisa realizada pelo NetLab da Universidade Federal do Rio de Janeiro para o Ministério da Mulher. Ela foi divulgada em dezembro do ano passado. Em alguns casos, os influenciadores chegaram a cobrar 1000 por consultas individuais que abordam desde treinamento emocional até conteúdos que naturalizam violência psicológica e humilhação.
No caso da venda de e-books e anunciados, os preços variam de R$7,90 até R$ 397. Ou seja, esses grupos movimentam grana. E por que que o YouTube não derruba?
Porque dá lucro. Vocês entendem o alinhamento automático dessas redes com extrema direita? Gente, se o YouTube banir isso aqui, é 152.
000 inscritos a menos que estão assistindo propaganda e dando dinheiro pro YouTube. É por isso que as bigtechs aparentam se alinhar sempre com a extrema direita. Não é nem por ideologia, é porque dá grana, é porque é lucrativo.
O ódio é lucrativo, racismo é lucrativo para essas pessoas, misoginia é lucrativo, revisionismo histórico é lucrativo. É só ver o Brasil paralelo. Se banirem o Brasil paralelo, é milhões e milhões e milhões a menos na conta do Google e da Meta.
Então não vai acontecer, tá? Vamos lá. O que eu quero debater aqui com vocês, por isso que eu falei que era mais uma conversa.
Por que que isso aqui tá crescendo? Eu falei de novo, isso já existia, era coisa de maluco do Ercut. Por que que agora tem gente conseguindo pagar as contas odiando mulher em público?
Assim no parece que a gente rodou a roda da história para trás. Eu quero trazer alguns pontos que podem ajudar a nossa reflexão a respeito disso aqui, tá? Primeiro, o capitalismo é feito de contradições e essas contradições ficam mais explícitas e evidentes quando a gente tá em um momento de crise.
Eu falei sobre isso na minha participação no inteligência limitada. Grande diferença do Lula 1 pro Lula 3 é que nós estávamos num capitalismo em expansão no um e agora estamos num capitalismo em recessão no três. Vamos fazer um apanhado histórico.
Depois da revolução industrial, as mulheres passaram a trabalhar nas fábricas. Gente, nunca existiu um movimento de massas exigindo que as mulheres tivessem o direito de trabalhar. Vou repetir, nunca existiu um movimento de massas no qual as mulheres lutassem pelo direito de trabalhar.
As mulheres sempre trabalharam. Mulher que não trabalhava era mulher da aristocracia e da burguesia malem. Tá mais ou menos, depende.
Mulher da classe trabalhadora sempre trabalhou, ou sendo remunerada ou não sendo remunerada. E desde o começo da revolução industrial, as mulheres sempre estiveram nas fábricas, tá? O Engels era casado com uma operária da fábrica do pai dele, para vocês terem uma ideia, que era uma irlandesa.
Ao mesmo tempo que as mulheres continuavam sendo pressionadas a se submeter ao marido, elas estavam ganhando salário. Mesmo que fosse menor que dos homens, elas tiveram um lampejo de independência financeira. O que acontecia?
O capitalismo tinha crises cíclicas. Em momento de crise, os capitalistas preferiam empregar mulheres e crianças, porque era mais barato. A mão de obra de mulher e de criança era mais barata, fazendo com que a taxa de desempregados de homens fosse maior.
O que aconteceu? Muitos homens revoltados com o seu próprio sofrimento, com desemprego, não se revoltavam contra o capitalismo, mas sim contra o trabalho feminino. Eram homens advogando paraa volta ao lar, porque lugar de mulher era em casa cuidando dos filhos, porque na verdade as mulheres estavam na cabeça desses caras tomando espaço no mercado de trabalho.
E de uma certa forma a oposição ao trabalho infantil veio por motivos errados. Não era porque criança não devia trabalhar, mas porque eles estavam roubando o trabalho, entende? Isso vem também do o ideal de homem burguês é o ideal do homem provedor.
E em momentos de crises, muitos homens começavam a ser sustentados pela esposa, porque ele simplesmente não conseguia trabalho. Então pensa, ao mesmo tempo que as mulheres eram relegadas ao lar, o capitalismo precisava empregar a mão de obra das mulheres, porque a produção da população masculina não era suficiente simplesmente. Então o capitalismo sempre, desde o começo, super explorou as mulheres.
Acabou a bateria da minha luz. super exp hiper explorou as mulheres. Elas eram o elo mais explorado no começo.
Na casa exercendo trabalho reprodutivo, não remunerado, e no mercado de trabalho recebendo abaixo do valor dos homens. Essa contradição em momentos, digamos assim, de não crise, ela é latente. Só que quando tem a crise, ela fica explícita.
Os papéis tradicionais ficam de cabeça para baixo. Quando a gente tem um momento de crise, essa idealização de mulher em casa, cuidando do filho, homem indo pro trabalho, provedor, criando a família ideal, ela não existe no momento de crise. A lógica fica toda invertida.
O homem fica desempregado, a mulher tem que sair todos os dias para trabalhar ganhando uma merreca. Às vezes os filhos têm que também e aí quando ela volta em casa, quem faz todo o trabalho doméstico é ela, porque isso é coisa de mulher. Você entende como esse papel fica todo invertido, fica todo de cabeça para baixo.
Isso entrou muito no seio da luta trabalhadora. Os sindicatos no começo resistiam a aceitar a mulher, muito por entender que o problema era o trabalho feminino. Da mesma maneira que eles entendiam no começo que o problema era a máquina e que se não tivesse máquina o trabalho ia voltar a ser como era antes.
É sentir a dor real e não entender da onde ela tá vindo. E o Marx e o Engels, em muitos textos defendem o direito das mulheres trabalhadoras e de igualdade salarial. Mas em muitos textos, o mais explícito é a origem da família da propriedade privada do estado, no qual o Engels diz que a primeira relação de classe foi a submissão da mulher ao homem.
Para vocês verem como os caras estavam em outro patamar de pensamento. Isso inclusive ao mesmo tempo que ainda existia muita misogenia nos movimentos sindicais e nos partidos. Enfim, eu usei esse exemplo histórico para falar de uma coisa que continua acontecendo.
O capitalismo se apropria do machismo de forma contraditória. Se vocês acham que isso aqui que eu tô falando é uma coisa que ficou no passado, que é uma coisa que os defensores do capitalismo, né, os liberais costumam dizer muito: "Ah, o começo da revolução industrial de fato era muito brutal, mas agora isso melhorou. Então vamos lá, vamos ver se melhorou mesmo.
A crise tem rosto de mulher, elas são as mais afetadas pela precarização no país. Em meio ao retrocesso socioeconômico e político que assola o Brasil, as mulheres são as mais atingidas. Abre aspas.
Thaís Lapa, docente da Universidade Federal de Santa Catarina e pesquisadora na área de gênero e trabalho, explica que existe uma desigualdade estrutural das condições de trabalho e nas formas de contratação, devido à segregação de gênero que leva as mulheres a estarem mais presentes em trabalhos precários e insalubres. Para ela, a situação está ainda pior após a aprovação da reforma trabalhista e da terceirização irrestrita, que cria um marco de instabilidade aguda para as mulheres. Lapa ressalta ainda que a necessidade de fazer o recorte de raça em relação à inserção das mulheres no mercado de trabalho, já que a proporção de mulheres negras desempregada é maior e devido ao racismo estrutural estão em empregos mais vulneráveis.
Conforme o estudo de desigualdades sociais por cor ou raça no Brasil do IBGE, homens brancos ganham mais do que o dobro da média salarial de mulheres negras e mulheres brancas ganham 70% a mais do que mulheres negras. Sem fazer o recorte de raça por enquanto, só pra gente focar aqui, crises relegam as mulheres à informalidade e ao trabalho precarizado, tá? De maneira extremada.
Elas são as mais afetadas pelos momentos de crise do capital. Aumenta ainda mais a super exploração, que é a norma. Em momentos de não crise já é super exploração.
Vocês estão entendendo? Só que essa contradição é sentida pelos homens diferente. Lembra que a gente tá falando de masculinismo?
Se a gente tem papéis sociais constituídos no qual o homem deve ser o provedor, em momento de crise, isso simplesmente é irreal. O desemprego faz com que muitos homens simplesmente não consigam ser provedores de nenhuma. E aí o que que muitos homens fazem?
Percebem que a sociedade patriarcal é uma justificativa ideológica para manutenção de um sistema que explora todo mundo? Não, eles negam isso. Defendem que o problema é cultura w, defendem que tá que eles estão sendo emasculados pela cultura contemporânea, pelos gays, pelas mulheres, pelo feminismo.
Dizem que os homens estão sendo diminuídos por uma agenda feminista, globalista, gayisista, etc, etc. São homens que não estão conseguindo cumprir a sua etapa, entre muitas aspas, natural. Etapa que eles acham que é natural, nascer, ter infância, adolescência, casar e fazer uma família.
Essa imagem idealizada de família que a extrema direita diz defender não existe, principalmente em momento de crise. O homem provedor, a mãe em casa cuidando dos filhos, ah, sendo só cuidadora do lado, isso na prática não existe. Em momento de crise é homem desempregado, mulher em subemprego.
E aí essa causa real tem uma interpretação equivocada, principalmente porque pros homens a mulher ainda é vista com propriedade, tá? As próprias taxas de feminicídio demonstram isso na prática. mulheres que divorciam, arrumam outro relacionamento e são assassinadas, porque nos olhos do ex a propriedade dele foi violada.
E aí essa conspiração de que na verdade o que tá acontecendo a causa de todo o seu sofrimento é uma agenda feminista gayisista, é o que captura e dá sentido para esse mundo. Então o cara vê que ele tá incapaz de constituir essas etapas naturais da vida e bota culpa disso em uma causa falsa. Só que essa causa falsa dá uma razão para aquilo.
Parece que faz sentido. Além de que isso dá um senso de comunidade. Machismo e misoginia vira identidade dentro desses grupos, tá?
E de novo, vou repetir pela última vez, existia isso antes, só que depois da crise, quando isso explode por causas materiais que a gente já demonstrou, aí essas comunidades começam a se formar e esse tipo de comportamento começa a virar marca de identidade própria. E aí o que acontece quando a esquerda não tá suficientemente organizada? para conseguir fazer com que essa raiva se volte contra o sistema e não contra outros trabalhadores.
A extrema direita faz isso, capturar no sentido, né? Não dar as causas reais. A extrema direita captura essa raiva e dá uma razão para ela que é falsa e que principalmente protege o sistema.
E para menino adolescente, isso é um pouco mais perigoso, porque o ponto é o seguinte, o crescimento desses canais de machismo identitário faz com que esses jovens que já são alfabetizados digitalmente desde a infância tenham contato quase que por acidente. E eles são cooptados para dentro disso por motivos completamente banais, gente, banais. Por que que eu tô falando isso?
Vocês viram aquela série adolescência, né, que como tudo no capitalismo foi um boom por duas semanas e depois todo mundo esqueceu. A série é muito boa, de verdade, não é só virtude técnica de ser plano sequência e tal, mas eu acho que ela é muito certeira em representar como esse masculinismo acontece na prática. Eu realmente gostei da série, tá?
Achei ela muito boa. Por que que para adolescente isso tudo é mais perigoso? Porque adolescente é imaturo, gente.
Adolescente é imaturo. Tá com os hormônios assim tourando, tá construindo a própria personalidade, se sente impotente e tudo parece o fim do mundo. Adolescente sente tudo com muita força.
Adolescente se apaixona por uma coleguinha, é rejeitado e nossa, o negócio assim, apocalipse, um ecatombe acontece na vida dele. E aí, por conta desse motivo que para pros adultos que estão tendo que trabalhar e pagar conta é banal tipo não conseguir ficar com quem você quer, o que é assim é trivial para quem tem 30 mais pros adolescentes, isso é o fim do mundo. E aí somado essa esse sentimento de rejeição junto com o contato com esse masculinismo de internet é a fórmula do desastre.
Esses meninos são tragados para dentro disso por conta desse sofrimento imaturo. E aí acabam constituindo uma identidade em reação a terem sido rejeitados. Porque as mulheres de hoje em dia não são mais como eram antigamente, porque o feminismo arruinou as mulheres.
Tô colocando tudo entre aspas aqui, tá? O feminismo arruinou as mulheres. Agora, ou as mulheres são interesseiras e tem vida muito fácil e só querem saber de homens brutos e de homens que fazem academia, etc.
E aí o o ideal na cabeça desses meninos é a mulher que é submissa e que aceita tudo que ele faz e bom mesmo era antigamente, tá? Vocês lembram do calvo do Campare? É o calvo do camparismo cultural.
Então, ou esses meninos entram numa veia de serem violentos, brutos, ficarem viciados em pegar peso na academia para ficar monstrão, para aumentar o seu valor sexual de mercado, começar a tomar testosterona ou tomar anabolizante com 15 anos de idade, ficar com as costas cheias de espinha, ter parada cardíaca com 27, esse é um lado. O outro é entrar num pessimismo brutal, que é chegar assim numa numa questão de, ah, eu sou de uma categoria inferior de homem, as mulheres são todas interesseiras e fúteis e eu tomei a pílula vermelha e tô enxergando a verdade. Aí é que a gente vê o profundo sofrimento psicológico desses meninos.
E esses meninos que estão em sofrimento psicológico, independente de você concordar ou não, tá? Eles estão, é fato, eles são acolhidos por esses grupos masculinistas. Esses grupos masculinistas acolhem de um jeito deturpado, muito deturpado, tá?
Acolhem de um jeito venha para esse grupo, porque todo mundo aqui dentro desse grupo sabe que a gente é tudo lixo e aí eles transformam esse sofrimento psicológico em uma de uma dissociação da realidade. Essa dissociação da realidade é o que causa aqueles atentados bizarros que acontecem nos Estados Unidos e que estão começando a acontecer aqui no Brasil também. Deixa eu mostrar uma notícia para vocês que eu tava na escola quando aconteceu.
Massacre de realengos 10 anos do ataque, a escola que deixou 12 mortos e chocou o Brasil. Eu tava no ensino médio. Eu tava no terceiro ano do ensino médio.
Abre aspas. Se depender do jornalista Wagner Fernandes, da cineasta Bianca Lente, o massacre de realengo não será esquecido. Os dois trabalham em projetos para manter viva a memória das 12 crianças assassinadas.
Ao pesquisar sobre a tragédia, a cineasta ficou impactada ao saber que o assassino mirava na cabeça das meninas que ele considerava bonitas e de quem se ressentia por ter sido menosprezado sexual e afetivamente. Isso aqui é de 2011. 2011 no Brasil.
Abre aspas. Hoje é espaço para quem valoriza, incentiva ou planeja crimes contra mulheres e comunidade em comunidades virtuais da internet. Os chamados chans da Deep Web.
Parênteses. O tempo todo eu vejo Chan sendo colocado como se fosse da Deep Web. Gente, Shan não é deep web.
Shan é surface web. E por que que eu tô fazendo essa distinção? Porque é mais perigoso assim.
Deep web, você precisa de browser específico para acessar o Chan. Você pode digitar agora o Chan mais famoso que é o Forchan. Escreve forshan.
org. Você consegue entrar agora no seu browser, no seu Chrome do seu celular. O problema é esse.
Então não, X não é de P web Web. Continuando aqui, abre aspas. o mais famoso Chan do Brasil.
Um dos temas mais recorrentes é a feminização da sociedade. Os homens estariam sendo relegados a posições socialmente inferiores. Lembra do que eu falei sobre a hemasculação da estrutura?
Os homens estão sendo emasculados por uma suposta agenda woke que na verdade é o conflito entre uma idealização do que ser masculino e o capitalismo tardio. Dentro desses chances, membros que se dispõem a chegar às vias de fato cometendo crimes de ódio, são enaltecidos e viram santos. Não à toa.
O atirador de realengo é considerado um ídolo pelos usuéros desse fórum de discussão fecha aspas. Agora já tem 14 anos esse atentado aqui. É, o Forchan caiu agora por porque ele foi hackeado, mas dava antes dele ser hackeado dava para entrar tranquilo.
Então pensa, isso aqui aconteceu naquela época que essa galera se organizava principalmente em Facebook, mais ou menos, em Chan e principalmente tem um fórum que pouca gente aí vai lembrar que era um que fez o papel do Forchan no Brasil mais do que os próprios Chans. Dentro do portal Wall tinha fóruns. Um dos fóruns era all jogos.
Os fóruns de jogos tinham essa função, jogos, só que tinha uma sala lá que era vale tudo, VT. O VT, VT, que agora vai, muita gente vai lembrar quando eu falo desse jeito, VTL, era praticamente o Chan brasileiro, era um fórum onde esses jovens, majoritariamente homens, confraternizavam com, no começo, uma misoginia e um racismo recreativos, assim, era tudo pela piada, mas misoginia e racismo recreativos. E falando sobre cultura pop, geralmente, né?
Rapidamente o VT começou a virar um puxadinho do Chan e virou antro de bolsonarista e ele foi banido pela Wall. Quando ele começou a virar o espaço de bolsonaristas jovens começarem a falar Bolsomito 2018, que era quando ele ele ia ser eleito. Aí eles baniram a Wall, fechou o fórum.
Mas é lá que muito disso aqui se gestou, tá? Lá era onde isso aqui gestou, eles usavam salas de TeamSpeak. E como é que era o nome do outro?
Tinha um outro software de voz, esqueci o nome do outro software de voz, ventrilo. Ventrilo, era isso. E eu lembro disso porque eu usava para conversar com os meus amigos para jogar Starcraft, sabe?
E a gente já sabia que essa galera do VT se reunia nesses espaços, principalmente o TeamSpeak, para ficar falando sobre essas coisas. Enfim, né? Voltando, o que acontece é que esses grupos de extrema direita estão recrutando esses meninos para virar uma espécie de exército masculinista que muitas vezes vão as vias de fato.
Então o cara que vira masculinista, ele não faz isso necessariamente mirando na extrema direita, mas como a extrema direita odeia mulheres e reforça papéis de gênero idealizados e o masculinismo também faz isso, a conexão é imediata. Esses lugares viram escolas para grupos extremistas de direita. O cara entra porque ele ficou frustrado, porque a menina rejeitou ele na escola e termina virando um terrorista etncionalista, tá?
E aí esses homens frustrados, sem perspectiva, desempregados, nem nem não conseguem estudar, não conseguem um emprego, não conseguem ter uma autonomia, vão se multiplicando em tempo de crise e viram alvos fáceis para serem predados para esses grupos. Mais uma vez, o fascismo, como sempre apresentando solução falsa para problema real. E aí, vamos ter um papo franco aqui.
Se por um acaso você é desses espaços e caiu nesse vídeo, primeiro de tudo, o feminismo e as mulheres não são responsáveis pela sua situação. Não são responsáveis, sobretudo as mulheres não são responsáveis pelo desemprego, pelo amor de Deus. Inclusive, elas são as maiores vítimas desse desemprego.
Recebem os menores salários, minha outra luz morreu, recebem os menores salários e fazem jornada dupla quase sempre. O sistema precisa de desemprego e utiliza as divisões de gênero para reforçar isso, para manter a taxa de lucro elevada. Você homem que tá deprimido, se sentindo fracassado por não ser fodão, por não ser provedor, você já parou para pensar que talvez seja o sistema que exige isso de você, que é o problema?
Você já parou para pensar que a pressão sobre você de ser o das galáxias, ter sei lá quantos por cento de testosterona, puxar 100 kg no ferro, ter um pau de 38 cm duro no frio? Assim, você já parou para pensar que a raiz do seu sofrimento pode ser essa exigência real? Vamos lá.
O Ministério da Saúde fez uma pesquisa interessante aqui, ó. Barreiras culturais contribuem paraa maior taxa de suicídio e doenças não transmissíveis entre os homens. A gente sabe que homem morre mais cedo que mulher.
Abre aspas. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a OMS, as expectativas sociais em relação aos homens de serem provedores de suas famílias, terem condutas de risco, serem sexualmente dominantes, evitarem discutir suas emoções ou procurar ajuda, estão contribuindo para maiores taxas de suicídio, homicídio, vícios e acidentes de trânsito, bem como surgimento de doenças crônicas não transmissíveis. O relatório masculinidades e saúde na região das Américas, produzido pela agência, destaca que modos tradicionais de ser homem entendem as práticas de cuidado, de busca por ajuda como símbolos de fragilidade e fraqueza, o que induz os homens a procurarem menos serviços de saúde.
Todo mundo que tá aí no chat conhece um homem que só põe os pés em um hospital se for se perder a perna. E e olhe lá, perde a perna e fala assim: "Se amanhã ainda tiver ruim, eu vou". É isso.
Então, homem trabalhador que tá assistindo a live, a solução pro problema de vocês não é reforçar o que tá adoecendo vocês, tá? É o reforço dessas expectativas que tá adoecendo vocês. E adolescentes que tão vendo a solução pro pé na bunda que você tomou da menina da sua sala não é se juntar com gente que vai fazer você ser um pau no cu.
Você foi rejeitado pela morena da sua sala e aí você vai se juntar com gente que vai transformar você em um insuportável e aí você vai ser rejeitado para sempre. É isso que vai acontecer. Esses papéis de gêneros exigidos pelo capitalismo não são reais.
São maneiras de explorar o trabalho de homens e de mulheres ao extremo, de criar exército industrial de reserva, de desvalorizar mão de obra. Trabalho feminino em casa é para economizar bilhões em assistência para idoso em restaurante popular, em creche, em lavanderia. E aí você fica acreditando que ser provedor e machuda para ninguém.
Você acaba se e se sentindo um merda. E pior de tudo, eu quero que você olhe nos meus olhos quando eu falar isso. Você está sendo manipulado por picareta de extrema direita que quer tirar o teu dinheiro.
Você de bolha masculinista, que tá se sentindo frustrado, que odeia a mulher, você está sendo manipulado para que esses caras que vendem curso, ebook e fazem vídeo monetizado tirem a sua grana. É isso que você quer? Você quer ser feito de otário por gente?
oportunista. Você tá sendo ensinado que emancipação feminina é ruim para pelas pessoas que te exploram. As pessoas que te exploram tão falando que emancipação de mulher é ruim e elas querem usar você e as mulheres para deixar o teu salário muito baixo.
Você tá sendo feito de otário, tá se deprimindo enquanto um monte de ganha milhões em cima da sua frustração. Então, por favor, não seja um vacilão. O youtuber masculinista lucra com o seu sofrimento, tá?
Todos os dias um otário e um malandro abrem o YouTube. Vocês sabem muito bem quem é quem. Agora, a solução paraos seus problemas não é reforçar o que tá te deixando doente, é combater o que tá te deixando doente.
É perceber que homens e mulheres são vítimas do mesmo sistema. é perceber que esses papéis são incutidos na sua cabeça para te explorar, para manter você na sua posição. Funcionam como uma espécie de grilhões invisíveis que ajudam a você se manter no seu lugar e a você a reforçar o lugar que as mulheres são mantidas no capitalismo.
Você tá sendo feito de boi de piranha, de burguês, que quer explorar você e os demais. Não seja um vacilão, tá bom? É isso.
Duas luzes a menos. Duas. Duas.
É, duas. Eu esqueci de pôr para carregar, tá, gente? Eu não gosto assim, fica muito escuro.
Essas luzes não podem ficar na tomada, podem, mas fica muito fio aqui. Então eu costumo pôr bateria para dar um para não ficar tanto fio no chão. Aí sem o fio eu consigo limpar mais fácil e tal.
Aí eu sempre boto as baterias para carregar depois que a live acaba, mas eu esqueci. Então um beijo para vocês. Godines do comunismo.
Aqui terminando a live. Fiquem bem. M.