Se você pudesse perguntar para Albert Einstein: “Você acredita em Deus? ” O que você acha que ele responderia? Bom, por sorte, uma pessoa já fez essa pergunta para o grande gênio, mas, a resposta foi diferente do que todos estavam imaginando.
Albert Einstein respondeu que sim, acreditava em Deus, ou melhor, no Deus de Spinoza. Mas o que é esse Deus de Spinoza que Einstein acreditava? Como uma simples resposta de Albert Einstein ajudou a espalhar para o mundo o pensamento de um dos mais importantes filósofos de todos os tempos?
A filosofia de Spinoza se propôs a abordar uma das questões mais profundas que a humanidade já enfrentou: o que é Deus? Bom, hoje, nós vamos tentar entender. Oi, eu sou o Tinôco e sejam todos muito bem-vindos a mais um episódio do filosofando.
E no vídeo de hoje, um dos episódios que vocês mais me pediram: o Deus de Espinosa. Bom, eu sei que esse tema pode ser um pouco sensível de ser falado, mas a verdade é que o Deus de Spinoza é uma das formas mais bonitas de enxergar o mundo ao nosso redor. Esse vídeo, obviamente, não tem o menor intuito questionar qualquer religião, muito menos a fé particular de qualquer pessoa.
Nosso único intuito aqui é explicar para vocês de forma coesa e interessante o pensamento de Spinoza sobre esse tema. E é bom deixar claro que nada nesse vídeo é uma opinião minha, esta é simplesmente a minha interpretação das palavras de Spinoza. Então, sinta-se livre para usar os comentários para concordar ou discordar das palavras ditas aqui.
E lembrando também que as fontes estão aqui na descrição do vídeo, caso você tenha interesse. Bom, como sempre, para a gente entender um pouco mais da filosofia por trás de Deus de Spinoza, nós precisamos tirar um pouco o foco de Deus e dar um pouco mais de foco para Spinoza. Baruch Espinosa nasceu em 1632 em Amsterdã, na atual Holanda.
E, bom, você deve imaginar que o mundo naquela época era completamente diferente do mundo atual. No campo filosófico, o empirismo se difundia com Thomas Hobbes, enquanto o racionalismo estava ganhando forças graças a nomes como René Descartes. Esses dois carinhas influenciaram e muito o pensamento do jovem Espinosa.
O racionalismo entende que o ser humano é capaz de encontrar a verdade através do racional, ou seja, da lógica. E essas verdades devem ser aplicadas universalmente, já que, se elas funcionam em qualquer lugar, logo, elas necessariamente são verdades. E para chegar nessas verdades, muitos racionalistas, como, por exemplo, o próprio Descartes, utilizam do chamado “método dedutivo”.
Foi usando dessa fórmula e do racionalismo que Descartes concluiu que se eu “Penso, logo existo”. Foi assim também que Hobbes chegou a conclusão que “O homem é o lobo do homem”. E foi com essa mesma fórmula que Espinosa criou o seu conceito de Deus.
Agora, nós precisamos afastar um pouco mais a nossa lente e entender um pouco mais o contexto político e social da época. Nesse momento, ali em 1600, a Europa vivia um momento meio conturbado… igual em 1500, 1400, 1300. A família de Espinosa era portuguesa, mas, eles tiveram que fugir do país por conta da perseguição da Inquisição Portuguesa, que também era conhecida como “Tribunal do Santo Ofício”.
Eles basicamente tinham como único intuito perseguir todo mundo que não fazia parte da Igreja Católica. E, em Portugal, isso valia especialmente para os praticantes do judaísmo, que era o caso da família de Espinosa. Essa perseguição fez com que muitos judeus tivessem que se refugiar em outros países.
Muitos vieram para o Brasil, outros foram para os Estados Unidos, outros para Inglaterra e, no caso da família de Espinosa, eles foram para a Holanda, onde não existia a Inquisição Portuguesa. Isso deixou Espinosa e sua família longe dos domínios da Igreja Católica, já que a Holanda sempre foi muito tolerante com os judeus e até hoje existe essa conexão entre as duas partes. Mas enfim, por ter crescido dentro de uma família muito religiosa, desde muito novo, Espinosa já tinha na sua cabeça a sua própria concepção de Deus.
E que assim, era bem diferente do que todo mundo acreditava. Naquela época, as pessoas acreditavam que Deus e a natureza estavam separados e não podiam se misturar. Afinal de contas, o primeiro é o Criador e o segundo é a criação.
Na própria Bíblia, o mundo é retratado como uma criação de Deus, tendo sido criado em 7 dias: a luz, o céu, a terra, os corpos celestes e os animais. Tudo isso é uma criação… do Criador. Mas, esse conceito nunca fez muito sentido na cabeça do Espinosa, e tudo isso fez com que o jovem Baruch começasse a questionar.
E é aí que mora o problema. Ele meio que estava em 1600, se você questionasse qualquer coisa naquela época, era direto para fogueira. Diversas personalidades históricas foram perseguidas nesse período, como Galileu Galilei, Nicolau Copérnico, Johannes Kepler… e parecia que Espinosa estava louquinho para entrar nessa lista.
Espinosa começou a compartilhar seus questionamentos com outros membros da comunidade, falava uma coisinha pra um, outra coisinha pra outro. Mas a fofoca começou a se espalhar, não tem como, já dizia Rousseau: “O homem nasce bom e a fofoca o corrompe. ” Então o papinho de que Espinosa estava questionando Deus começou a se espalhar e, com isso, ele começou a receber fortes críticas e até mesmo ameaças.
Até que ele foi acusado de um dos maiores crimes que você poderia cometer em 1600: o ateísmo! Com isso, a Sinagoga Portuguesa de Amsterdã determinou que Spinoza sofresse o mais alto grau de punição dentro do judaísmo: o chérem, no qual a pessoa é completamente excluída da comunidade. Esse evento é equivalente à excomunhão no catolicismo, por exemplo.
Aqui, é bom deixar claro que Espinosa não foi perseguido pela Igreja Católica. Como eu disse, ele foi punido pela própria Sinagoga de Amsterdã, ou seja, Espinosa foi um judeu perseguido pelos próprios judeus. E assim, depois disso, Espinosa resolve chutar o balde.
Primeiro, ele resolve trocar de nome. Trocando seu nome hebraico para uma versão latina. Saindo de Baruch Espinosa para Benedictus Spinoza.
Parece até o nome de um feitiço do Harry Potter, Benedictus Spinoza! E quando você vira latino, irmão, nada mais te segura. Ele começou a se dedicar ao estudo de grandes pensadores, como, por exemplo, Sócrates, Descartes, Cícero e Sêneca, além de ciências como a matemática e a óptica.
Isso é curioso porque, durante um tempo, ele chegou a trabalhar como polidor de lentes, ao mesmo tempo em que ele tentava mostrar para as pessoas uma visão diferente do mundo, ou seja, uma visão, com outras lentes. Spinoza nunca conseguiu parar em uma cidade só. Isso porque ele era perseguido em toda cidade que ele morava.
Então, entre todo aquele processo de mudança, de ter que empacotar tudo e contratar caminhão e aí quebra porta retrato e tem que contratar internet e meu Deus! Spinoza começou a escrever a sua principal obra: “Ética - Demonstrada à maneira dos geômetras. ” Mas, ela não chegou a ser publicada por ele em vida, sendo disponibilizada ao público somente depois de sua morte, em 1677.
E essa obra só foi publicada de maneira póstuma por uma decisão do próprio Spinoza. Ele jamais veria sua obra circulando livremente pelo mundo, especialmente porque sabia que o livro não seria muito bem recebido, como de fato não foi. Na verdade, todos os seus trabalhos foram colocados na lista de livros proibidos pela Igreja.
Durante toda sua vida, Spinoza agiu de acordo com o que acreditava, sempre questionando, como todo bom filósofo, os dogmas religiosos e as regras morais impostas pela sociedade. Ele ainda criticou como os governantes da sua época usavam esses dogmas e essas regras como uma ferramenta de controle de massa. Apesar da sua obra não ter sido muito bem recebida pelo público em geral, houveram filósofos e intelectuais que receberam muito bem as ideias expostas por ele no livro Ética.
E é nesse livro que Spinoza se dedica para definir o seu conceito de Deus, desenvolvendo o que nós conhecemos como o “Deus de Spinoza”. “Moisés disse a Deus: Qual é o seu nome? E assim, Deus responde a Moisés: Eu sou.
” Não, essa resposta não está incompleta. Esse trecho foi tirado da bíblia no livro Êxodo 3:13 (capítulo 3, versículo 13). E essa resposta talvez seja a melhor maneira de entendermos tudo o que é o Deus de Spinoza.
No mundo em que vivemos existe uma infinidade de religiões diferentes. Cada cultura desenvolveu a sua própria imagem de Deus. E isso é facilmente entendido quando nós saímos de nossas bolhas e damos uma volta ao mundo para entendermos o que as outras pessoas acreditam.
Nas religiões asiáticas, por exemplo, os deuses possuem traços e características orientais, como o formato dos olhos. Nas religiões africanas, as divindades são representadas com a pele escura. Assim como os Deuses nórdicos, que são, em sua maioria, loiros de olho claro.
Essa semelhança entre a imagem do homem e a imagem de Deus leva Spinoza a questionar: será que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança ou o homem criou Deus à sua imagem e semelhança? Apesar de haver muitas diferenças entre as características físicas das representações de Deus em cada religião, na maioria das vezes, as divindades são representações antropomórficas, ou seja, possuem traços humanos. Como tendo um corpo físico consciente, bem humanizado, com pensamentos e sentimentos.
Com isso, Spinoza argumenta que se um triângulo tivesse a oportunidade e a capacidade de definir Deus, ele o faria dizendo que Deus tem três lados e a soma de seus ângulos internos resultam em 180°. O que acontece é que Spinoza entende que Deus não é um ser separado do mundo, do universo, um ser que criou isso e observa de longe julgando tudo isso. Spinoza argumenta que Deus não é essa entidade criadora do universo e da natureza que fez tudo em 7 dias.
Para ele, Deus é a Natureza. Ele não somente é o Criador, como também é a própria Criação. Para Spinoza, Deus e Natureza são apenas dois nomes que representam a mesma coisa.
E é isso que ele tenta explicar quando diz que “Deus é causa imanente, e não transitiva, de todas as coisas. ” Tá vendo! ?
É por isso que ninguém entende o que esses caras falam! Com essa frase, ele quer dizer que Deus não cria o mundo por vontade própria e vai embora para outro lugar. Ele é o Mundo e se manifesta através Dele.
E olhando para essa concepção, podemos dizer que meio que está todo mundo tentando dizer a mesma coisa. Tanto um cristão, quanto um ateu, quanto um cientista tentam entender a natureza e o universo, observando desde os maiores astros até as menores partes de um átomo. Portanto, para Spinoza, ao estudar e tentar entender o mundo, nós estamos olhando diretamente para as manifestações de Deus e as maneiras pelas quais Ele é e se afirma na existência.
Foi por essa definição tão diferente de Deus, que Spinoza, no século XVII, foi rotulado como ateu pelos seus contemporâneos, mesmo que em nenhuma parte de sua obra, Spinoza argumente contra a existência de Deus. Na verdade, essa visão de Deus como um ser imanente da natureza é uma visão panteísta e não atéia. A ideia de que Deus é toda a existência, ou seja, Ele simplesmente é, é uma possível interpretação do trecho da própria Bíblia que eu disse no começo do capítulo.
O que faz sentido, já que Spinoza conhece e estudou a Bíblia por muitos anos. Quando Deus responde a Moisés: “Eu sou”, a resposta não está incompleta, muito pelo contrário, ela está completíssima. Deus não se define como algo em específico, Ele apenas é.
E se aprofundando ainda mais no conceito de Deus, Spinoza argumenta que Ele possui infinitos atributos e que, entre eles, nós conhecemos apenas dois: a essência e a potência. Essência é aquilo que é inerente a algo. O que uma coisa é em sua natureza mais profunda.
Essência é exatamente o que é essencial para a existência de algo. Por exemplo, a essência do ser humano é ter corpo, mente, emoções e tudo aquilo que constitui o ser humano. Mas a essência não garante a nossa existência.
Esse papel é justamente da potência, que diz respeito, exatamente, à capacidade de um ser agir ou causar mudanças ao mundo. Ela é a concretização da existência. No caso do ser humano, a nossa potência é a nossa capacidade de agir, pensar, sentir e interagir com o mundo ao nosso redor.
Então, a essência é o elemento básico de tudo o que pode existir. Mas a existência só se torna real com a potência. E para Spinoza, tudo que existe faz parte de uma mesma essência: a essência de Deus.
Se algo existe, este algo necessariamente faz parte de Deus, pois Ele é infinito e nada pode existir além Dele. E é a Sua potência que afirma a existência de tudo. Spinoza já dizia: “Tudo o que existe, existe em Deus, e sem Deus, nada pode existir nem ser concebido.
” Com tudo isso, nós podemos chegar facilmente à conclusão de que a humanidade faz parte de Deus. É esse pensamento que, anos mais tarde, inspira Schopenhauer e, por incrível que pareça, Nietzsche, com o seu conceito de “vontade de potência”. Por isso eu digo que todos estamos tentando dizer a mesma coisa.
O Deus de Spinoza tenta nos mostrar que nós fazemos parte de um todo, assim como a ciência nos mostrou que as moléculas do meu e do seu corpo, vêm das estrelas que explodiram e espalharam a sua matéria pelo universo. Como já dizia Carl Sagan: "Nós somos poeira das estrelas. " E, talvez, seja por esse motivo que as ideias de Spinoza eram tão admiradas por um cientista do calibre de Albert Einstein.
Porque Spinoza funciona como uma ponte entre a ciência e a religião. Enquanto a ciência está voltada para o mundo físico, ou seja, para o nosso corpo, a religião está voltada para o mundo metafísico, ou seja, a nossa alma. Desde a Grécia Antiga o homem tenta entender um pouco mais sobre si mesmo.
Sócrates já dizia: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo. ” E foi olhando cada vez mais para si, que os gregos entenderam que existe uma diferença entre o corpo e a alma. Em algumas traduções, mente e alma são tidas como a mesma coisa.
Então, talvez eu use essas duas palavras diferentes aqui, mas elas simbolizam a mesma coisa. Quando você analisa a nossa existência parece que nós podemos viver em dois planos diferentes: o mundo físico, em que nosso corpo interage e o mundo metafísico, em que nossa mente interage. Platão definiu a mente como o “o piloto do navio”, enquanto o nosso corpo é o próprio navio.
Aristóteles definia o corpo como um mero instrumento da mente. Anos depois, Descartes propõe que a alma ou a mente é apenas um guia do corpo. E esse mesmo pensamento também é pregado pelo cristianismo, que vê o corpo como a “morada da alma”.
E Spinoza não ia ficar de fora, ele também tenta fazer a sua definição do que é o corpo e a mente. Chamando o corpo de “extensão”, enquanto a mente é o “pensamento”. Mas o ponto que diferencia o pensamento de Spinoza do pensamento da Igreja é que, para ele, a interpretação da Igreja de que Deus é um grande juiz que nos assiste, seriam usadas pela própria Igreja como armas políticas, que basicamente teria o papel de explorar as nossas inseguranças e o medo da morte para controlar as nossas vidas.
Dando assim, uma importância maior para a nossa alma do que para nosso corpo. Afinal de contas, quando você vai para o beleléu, seu corpo fica a 7 palmos debaixo do chão, enquanto a sua alma vai pro céu, no caso da minha oh… Spinoza argumenta que não existe superioridade da nossa mente sobre o nosso corpo. Os dois são a mesma coisa e fazem parte do mesmo ser.
Tudo o que a nossa mente absorve vem do nosso corpo. E tudo o que nosso corpo faz vem da nossa mente. Spinoza usa um conceito micro para explicar uma visão macro.
Se Deus é a própria natureza, logo, Deus também é o nosso próprio corpo e nossa mente. Assim, nós também seríamos expressões do divino. Com isso, nós voltamos a ideia inicial de que tudo é Deus.
E como Ele é tudo, Ele meio que só pode ser perfeito, porque, se Ele é tudo, Ele é uma única coisa, que é tudo e tudo é… perfeito. E tudo isso justifica também as “ações” de Deus. Já que Ele age apenas de uma única forma: aquela que reflete a Sua perfeição.
Sendo tudo da forma que deveria ser, não podendo ser diferente do que é. E isso vale também para nós. Segundo Spinoza, não existem pecados, tampouco um conceito de certo ou errado, já que tudo está em Deus.
Nós somos da única forma que poderíamos ser. E como tudo está pré-determinado pela existência de Deus, a ideia de liberdade para ele se torna diferente, pois a liberdade é fazer tudo aquilo que nós já fomos pré-determinados a fazer. O problema é que essas afirmações podem gerar dilemas morais sérios, pois efetuar a nossa potência é fazer tudo aquilo que podemos e a humanidade é capaz de fazer as coisas mais absurdas possíveis, como a gente já fez durante toda a nossa história.
Mas atividades, como, por exemplo, matar uma outra pessoa, não estariam amplificando a nossa potência. Segundo Spinoza, nós estaríamos usando a nossa força e o poder para impedir outra pessoa de afirmar a sua própria potência. Viver seria então como tocar em uma orquestra.
Você pode muito bem tocar o seu instrumento da forma que você quiser, mas, caso escolha tocar em harmonia com os outros instrumentos, a música ressoará entre todos, amplificando ao máximo, a nossa potência. Bom, esse foi o vídeo, eu espero que você tenha gostado. Se você gostou, deixa o seu like, se inscreve no canal aqui em baixo e comente alguma sugestão para um próximo vídeo, quem sabe um filosofando.
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